O segredo que neste é guardado

Levantou do chão coberta de pó e fuligem. Terminou de se limpar com a varinha e fez o mesmo com o tapete branco felpudo.

- Confesso que eu não saberia como limpar. – sua tia Aline estava encostada no batente da porta da sala vestindo um longo robe púrpura. Pelo fato de não serem realmente da mesma família (era apenas tia de consideração, amiga da família) Aline não tinha absolutamente nenhuma semelhança com Bia ou com Bellatrix, que por sua vez eram muito parecidas. Era morena também, mas com o cabelo liso e na altura dos ombros. Tinha a pele branca, bem clara e olhos azuis profundos. Sempre ajudou Bia em tudo que precisasse, desde o primeiro dia de aula, à primeira decepção amorosa. Foi uma verdadeira mãe durante toda a vida de Beatriz. Olhou carinhosamente para Bia e continuou – Vejo que adiantou dois dias seu retorno. Desistiu de ir pra Hogwarts?

- Não tia. É que falta pegar algumas coisas e resolver um problema. – Bia se largou no sofá, estava exausta.

- E esse problema tem algo relacionado com um certo amigo, para o qual você não disse tudo que deveria? – Bia sentia-se feliz de não ter de dar explicações para Aline sempre. Na realidade, na maioria das situações, ela sabe exatamente o que está acontecendo. Por esse motivo, Bia apenas assentiu com a cabeça. Aline continuou – Bom, é só você falar com calma e devagar. Ele entenderá. Sempre entendeu todas as coisas que você faz. – Bia fez um sinal com a cabeça, parecendo descrente – O.k, ele pode não ter entendido todas as coisas, mas com certeza sempre te apoiou, não é? - Bia sorriu. – Mas é melhor dormir, amanhã seu dia é longo e já está tarde. Boa noite querida. – dizendo isso, deu um beijo na testa da menina e saiu.

Bia se levantou e foi para o quarto, mas não dormiu. Pegou um caderno grosso, encima do guarda-roupa. Dentro dele havia vários papéis e cartas, e entre eles, Bia puxou uma. Talvez a mais simples, mas a que lhe inspirava lágrimas. Era uma carta de seu amigo Lincoln, e ela não cansava de ler. Mas havia um trecho que a emocionava muito:

“Você me apoiou sempre, e eu nunca esquecerei disso. Eu ouvi você chorar, e chorar demais. Mas sempre te fiz sorrir, e você sempre me fez feliz. Guardarei seus inimigos pra sempre, e te protegerei da tempestade, assim como você fez por mim. Nada abalará a nossa amizade”.

Ao ler isso, Bia sentiu-se insegura. Sabia que ele sempre foi um grande amigo, o melhor do mundo, sempre sincero e companheiro. Mas não tinha certeza que a amizade resistiria a um segredo guardado por tanto tempo.

Fechou o caderno e se deitou, sem ao menos se trocar. Ficou ali pensando, e acabou adormecendo em meio aos seus devaneios.

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