Encontros
Capitulo 25 - Encontros
A porta da Sede da Ordem da Fênix se abriu silenciosa. Parecia que um furacão havia passado por ali. Todos pareciam correr em todas as direções. O que quer que tivesse acontecido havia causado um caos incomum.
Ninguém pareceu notar a presença de três homens à porta. Todos estavam tão concentrados em seus pensamentos e ações que os homens passavam despercebidos. Um vulto ruivo surgiu por uma porta e caminhava apressado em direção à outra.
- Gina! - chamou-a um dos homens, fazendo com que toda a Ordem parasse e olhasse para ele - O que está acontecendo aqui?
- Harry! - gritou Gina correndo até ele e se jogando em seus braços.
- O que foi? - Harry correspondeu ao abraço.
- Onde é que você estava? - perguntou Gina, preocupada, soltando-o - Estávamos loucos de preocupação.
- Ah... - Harry riu baixinho - Eu fui com o Malfoy ver aquela informação do Tom. - ele apontou para Draco e, em seguida, para Snape.
- Snape?! - perguntaram todos, perplexos.
Dezenas de varinhas foram erguidas e raios de feitiços voaram. Harry enlaçou Gina pela cintura com o braço esquerdo, mantendo-a protegida ao seu lado, e ergueu a mão direita. Uma barreira vermelha flamejante surgiu envolvendo o casal, Draco e Snape, que se surpreenderam tanto com o ataque quanto com a inexperada defesa. Os feitiços bateram fortes na barreira que sequer tremeu.
- Harry?! - Gina olhou-o perplexa.
- O que ele faz aqui?! - bradou Sirius, os olhos fixos em Snape.
- Black?! - perguntou Snape, surpreso - Está vivo.
- Para seu total desprazer. - disse Sirius entre dentes.
- Posso cancelar a barreira ou vocês ainda vão me atacar? - a voz de Harry saiu fria e seca.
- Não estamos te atacando, Harry! - falou Remo.
- Estamos atacando ele! - Moody apoiava-se na bengala, a varinha firme na mão.
- Ele está comigo. - disse Harry, forte, a barreira sumindo - Ataquem-no e estarão atacando a mim.
- Harry? - Gina tocou o rosto dele e atraiu seu olhar - O que está acontecendo?
- Snape está do nosso lado. - respondeu Harry, alto para que todos ouvissem – É fiel à Dumbledore e à Ordem.
Um silêncio estranho pairou sobre todos. Sirius gargalhou e atraiu todos os olhares.
- Snape é fiel à Dumbledore... e o matou?! – perguntou o que todos se questionavam.
- É uma história um tanto longa. – Harry soltou Gina e estava mais sério do que nunca – Snape explicará tudo.
“Eu?!” – Snape olhou para Harry intrigado.
- Explica você, Harry. – pediu Gina, estranhando a seriedade do namorado, abraçando o braço dele com força.
- Ele pode explicar melhor, Gina. – Harry forçou um sorriso para Gina, que não se convenceu, soltando-se do abraço dela.
- Você está bem? – Hermione se aproximava, preocupada.
- Sim. – Harry fitou a amiga – Só preciso ficar um pouco sozinho. – ele se virou para Gina e beijou-lhe na testa, sussurrando em seguida – Proteja Snape.
Ela assentiu com um movimento rápido da cabeça. Ele sorriu sincero e se afastou.
- Vão para a sala de reuniões. – pediu Harry.
Todos se dirigiram para a porta que dava acesso ao subsolo, onde havia as salas de reuniões. Sirius e Remo ficaram para trás. Gina ainda olhava Harry, que a fitava de volta com o mesmo sorriso sincero. Rony caminhou até Hermione e a tomou pela mão, despertando-a de seus pensamentos e adentrando pela porta aberta. Draco enfiou as mãos nos bolsos e seguiu-os.
- Harry... – chamou-o Sirius.
- Está tudo bem, Sirius. – Harry olhou o padrinho sem perder o sorriso.
Sirius teve de se concentrar em suas ações para que pudesse disfarçar o arrepio. Os olhos de Harry estavam diferentes. Estavam como os de Lílian, como da última vez que vira os olhos da amiga. Harry desviou o olhar. Remo caminhou silencioso até Sirius e tocou em seu ombro. Olharam-se e saíram.
- Vão. – Harry olhou Snape e ordenou - “Não revele nada sobre mim. Sobre o que eu sou.”
O homem assentiu.
- Senhorita Weasley? – chamou Snape – Podemos ir?
Gina olhou Snape nos olhos. O homem sentiu seu corpo gelar. O olhar dela era frio como o gelo eterno.
- Siga-me. – ela fitou Harry pela última vez e correspondeu ao sorriso sincero dele.
Ela caminhou pelo corredor, sem esperar por Snape. Ele seguiu-a a distância. Contudo, parou à porta e virou-se para olhar Harry, que fitava o chão.
“Sim, Potter, você precisa ficar sozinho.” – Snape respirou fundo, imaginando a confusão que se instalara na mente de Harry, e atravessou a porta, que se fechou silenciosa.
Harry não esperou nem mais um segundo. Saiu da casa o mais rápido que podia, sem correr, parando no meio da rua para pensar aonde iria.
Sentia-se perdido. Por algum tempo havia conseguido pensar com clareza. Ele era uma horcruxe. Pronto. Era isso. Teria que morrer no final. Ou não? Haveria outra maneira? Outro caminho?
As dúvidas agora o impossibilitavam de pensar com clareza. Tinha que ir a qualquer lugar onde pudesse ficar em paz. Imaginou-se em Hogwarts. Mas não daria certo. Havia os alunos que certamente não o deixariam em paz, não o deixariam sozinho.
Sozinho.
Era assim que estava. Sempre estivera sozinho antes de Hogwarts e ganhara a ilusão de não estar mais sozinho depois de Hogwarts. Ilusão. Era apenas isso: ilusão de não estar sozinho. Agora a ilusão se desvanecera e a realidade ficava clara até mesmo para sua mente, que mal conseguia raciocinar em meio ao turbilhão de pensamentos, dúvidas e informações que o envolvia.
Estava sozinho agora.
Estaria sozinho até o final.
Um rugido explodiu na mente atordoada de Harry e todo o seu corpo ardeu como se tivesse mergulhado no magma sem se concentrar o necessário para não se ferir.
Não!
Não estava sozinho. Não mais!
Harry sorriu verdadeiramente feliz. Não estava sozinho. Havia alguém, um ser vivo, que estava com ele, que estaria com ele até o fim.
Ele soube onde teria o que procurava, onde poderia pensar, organizar os pensamentos, sanar as dúvidas e refletir sobre as informações. Soube onde teria o que realmente precisava.
Paz!
Com a certeza de que nada estava perdido e a esperança de que tudo poderia melhorar, Harry Potter, o-menino-que-sobreviveu, O Eleito, Anima, O Herdeiro Luz sumiu com um rodopio vermelho flamejante.
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Toda a alegria, felicidade, esperança, todos os bons sentimentos haviam evaporado e se transformado numa nuvem densa e instável de tensão e irritação. Era quase insuportável. Toda a sede da Ordem da Fênix estava mergulhada em caos. Não era o mesmo caos físico que a tomara durante toda a manha. Era um caos de sentimentos e emoções. Todos pareciam estar no limite de suas capacidades de autocontrole.
O ambiente estava tão tenso durante o almoço que poucos tocaram na refeição. A maioria dos membros sequer apareceu. Os poucos que tocavam na refeição não eram os privilegiados onde o caos não caíra com tanta força. Pelo contrário, três desses poucos comiam para afugentar o caos, recobrar as forças e pensar, organizar o, aparentemente, invencível caos.
“Aonde ele foi?” – perguntava Gina com a voz algumas oitavas acima do normal.
“Ele disse que precisava ficar sozinho.” – respondeu Hermione o mais calma que pôde, afinal, também se preocupava.
“Confiem no Harry.” – falou Rony, firme e confiante – “Ele não vai cometer nenhuma idiotice. É esperto, sabe que sem a gente não é tão forte quanto poderia ser.”
“Eu vi na mente do Draco o que o Harry fez durante a conversa com o Snape.” – disse Hermione, completando preocupada e curiosa - “Só que não consegui ver a conversa inteira.”
“Não?!” – Rony engasgou com a comida.
- Ronald! – arfou Molly pega pelo susto quando o filho tossiu alto e descontrolado em meio ao silêncio completo.
- Desculpa. – pediu Rony depois de engolir dois copos cheios de suco de abóbora.
“Como assim não?!” – ele encarou Hermione, que se sentava oposta a ele.
“Não sei.” – ela não retribuiu o olhar do namorado, concentrando-se em comer e ordenar os próprios pensamentos – “Algo me bloqueia.”
“O que poderia te bloquear?” – perguntou Rony, boquiaberto de irritação e incredulidade.
“Cala a boca, Ronald!” – grunhiu Gina, que tremeu e abaixou o olhar para o prato – “O que você acha que é, Mione?” – a ruiva completou suave e calma, pois percebera que amiga estava abalada com aquilo.
“Não tenho ideia, Gina.” – Hermione bufou – “Parece ser o...” – ela se interrompeu e balançou a cabeça, como se tentasse eliminar o pensamento.
“Parece ser quem, Hermione?” – perguntou Gina mais séria, Rony ergueu a cabeça.
“O Harry.” – a voz de Hermione saiu fraca.
Rony somente não engasgou feio porque estava com a boca vazia, mas engasgou bonito com o ar, assustando novamente sua mãe.
- Ronald! O que te deu, hein?! – esperneou Molly.
- Desculpa! – pediu Rony sem jeito, mas irritado.
“O Harry?!” – perguntou ele, incrédulo – “Por que ele protegeria a mente do Malfoy?”
“Se eu soubesse não estaria tão preocupada.” – bufou Hermione.
“Vamos ficar calmos, ok?” – suspirou Gina– “Daqui a pouco ele volta e nós poderemos conversar com ele sobre isto.”
Eles assentiram e voltaram suas atenções para a refeição mal iniciada. Gina percebeu um movimento ao seu lado e virou-se para ver. Sirius havia sentado na cadeira vizinha.
- Cadê o Harry? – sua voz era pura preocupação.
- Não sabemos.– suspirou Gina.
- Não se preocupe. – Rony inclinou-se para frente e sorriu – Harry não fará nenhuma besteira.
Gina sorriu e assentiu com a cabeça. Sirius encostou-se na cadeira e suspirou, fechando os olhos. Harry lhe preocupava mais do que aos outros, pois ele vira algo que os outros não viram. Ele viu os olhos de Lílian, olhos que já haviam abandonado a esperança de vida, de sobrevivência; olhos que abraçavam uma morte eminente. Algo de muito sério havia acontecido a Harry, algo que Snape não contara, algo que até mesmo Gina, Rony e Hermione desconheciam. Algo que Sirius jurou descobrir.
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A cozinha estava praticamente vazia e ainda era tensa. Snape sentava-se silencioso no lugar mais afastado, com Draco ao seu lado. Os Weasley tomavam o lado oposto, mais quietos que o normal. Fred e Jorge não tiravam os olhos dos dois sonserinos. Remo e Tonks olhavam-se frequentemente, sem que seus olhares se encontrassem, tentando, inutilmente, dizer qualquer coisa.
A porta abriu-se com um rangido. Contudo, ninguém pareceu se importar. O recém-chegado caminhou até a mesa e se sentou na cadeira vazia ao lado de Rony e oposto à Gina.
- Olá. – disse ele, fazendo todos pularem em seus lugares e olharem-no surpresos.
- Harry! – arfou Molly com as mãos sobre o peito.
- Maluco. – Rony deu um soco contido no ombro do amigo – Precisava fazer isto?
- Foi sem intenção. – defendeu-se Harry, massageando o ombro dolorido.
- Com fome, querido? – Molly assumiu sua típica expressão maternal.
- Sim. – Harry sorriu para ela.
Um sorriso um tanto quanto vazio na perspectiva de Sirius, que fitava o afilhado desde quando sua presença fora anunciada.
- Vou pegar algo para você. – Molly se levantou e caminhou até o armário.
- Onde você estava? – perguntou Sirius.
- Por ai. – Harry deu de ombros, sem olhar o padrinho.
- Ficamos preocupados com você. – sussurrou Gina.
- Eu disse que precisava ficar sozinho. – Harry fitou-a – Como foi a reunião?
- Para dizer o mínimo: bombástica. – falou Rony, sério.
- É... eu já imaginava. – Harry respirou fundo – Da pra sentir a tensão no ar.
- Ninguém depositou muita confiança nas palavras de Snape. – informou Hermione.
- Obrigado. – Harry agradeceu à Molly quando ela trouxe um prato de comida.
- A Mione se recusou a mapear a mente dele. – Rony disse, seco.
- Não é porque eu posso fazer isto que sempre farei, Ronald. – Hermione sentiu-se ofendida – Não seria certo.
- Concordo com a Hermione. – assentiu Harry – E não é preciso, para nós, entrar na mente dele para distinguir a mentira de uma verdade.
- O problema, Harry, são os outros. – falou Gina, séria – Ninguém, além de nós, consegue furar o bloqueio do Snape. É difícil para todos acreditar.
- É difícil, mas não impossível. – Harry começou a comer.
- Como você pôde, Harry? – perguntou Sirius.
- Como pude o que? – Harry não ergueu o olhar.
- Acreditar nele. – Sirius abaixou o tom da voz.
- Ele diz a verdade, Sirius. – Harry deu de ombros – Não há motivo viável para não acreditar nele.
- Ele matou Dumbledore! – arfou Sirius, atraindo os olhares de Snape e de Draco que, até então, estavam alheios a toda a conversa.
- Creio já ter explicado o ocorrido, Black. – disse Snape, seco.
- Não é o bastante. – disse Sirius entre dentes, encarando-o.
- É o bastante para Potter, não é? – disse Snape, com um sorriso desdenhoso – Deve ser o bastante para você.
Sirius esmurrou a mesa, erguendo-se.
- Sirius!
O maroto olhou para o lado, para Harry, que o encarava sério.
- Pare com isto. – sibilou Harry.
Sirius arrepiou-se. Os olhos de Harry haviam voltado ao brilho natural, ou quase. Ele ainda podia ver – distinguir - no fundo dos olhos do afilhado, os olhos de Lílian.
- Snape está do nosso lado e isto já foi não só explicado como provado. – continuou Harry – Um conflito interno nos arruinará. Guarde suas desavenças para serem resolvidas quando a guerra acabar, quando a união de suas forças não for mais necessária. – Harry retirou os olhos de Sirius e fitou Snape – “Não sou tão paciente quanto aparento. Compartilho dos mesmos sentimentos de Sirius e, ao contrario dele, não há ninguém para me controlar. Resumindo, fique na sua e não atormente ninguém.” – grunhiu Harry.
Snape abanou a mão com descaso. Harry, no entanto, sabia que ele cumpriria o que lhe fora dito.
- Calma, Sirius. – pediu Gina, segurando o braço dele.
Sirius sentou-se quase em estado de choque. Todas aquelas palavras ditas por Harry e aquele olhar oculto nas profundezas verdes de seus olhos haviam apunhalado-o fundo.
- Desculpa. – Sirius balançou a cabeça e fitou Harry, que falara muito baixo.
- Tudo bem... – o maroto forçou um sorriso – Eu mereci.
Harry sorriu também e voltou a comer. O silêncio pairou novamente. A tensão era mais palpável do que nunca. Assim que terminavam de comer, os poucos que continuavam na cozinha se levantavam e saiam calados. Restaram apenas Snape, Draco, Sirius e o quarteto. Todos completamente saciados.
- Preciso falar com o Owen. – falou Harry em tom normal, quase com indiferença.
- Falar o que? – Rony ergueu uma sobrancelha.
- Sobre uma horcruxe. – disse Harry casual, como se o assunto fosse tão comum quanto à claridade do sol.
- Você sabe onde está? –Hermione sorriu entusiasmada.
- Sei. – Harry encostou-se à cadeira e cruzou os braços, fechando os olhos e respirando profundamente.
- Onde? – Gina intrigou-se com as atitudes e palavras dele.
- Hogwarts. – disse ele vago, quem quer que o visse diria que dormia.
- Hogwarts?! – todos, exceto os sonserinos afastados, exclamaram em retorno.
- O diadema perdido de Rowena Ravenclaw. – disse Harry antes que alguém perguntasse.
- Eu li sobre o diadema. – disse Hermione, completando sob o olhar interrogativo dos outros – Em “Hogwarts, Uma História”.
- Podia ter falado sobre ele. – falou Rony, carrancudo – Teria nos poupado.
- Poupado do que? – perguntou Hermione, emburrada.
- Poupado o Rony de matar os poucos neurônios que lhe restava tentando descobrir qual era a última horcruxe. – disse Gina, aos risos.
- Hey! – bufou Rony.
Os outros riram, até mesmo Harry. Sirius depositou total atenção sobre a reação do afilhado, analisando sua risada. Definiu-a como normal, com as emoções alegres de sempre. Sirius deu um sorriso torto ao concluir que Harry era tão bom oclumente que podia camuflar seus sentimentos em seus atos. Entretanto, não podia modificar o olhar, o olhar de Lílian.
- Certo, então. – Rony cruzou os braços, enraivecido – Vamos falar com o Owen.
- Ele virá mais tarde. – informou Hermione, os olhos fixos em Harry – Moody convocou uma reunião com todos os membros da Ordem para começar a nos preparar para a batalha.
- Isto aqui vai fica arrebatado de gente. – assinalou Gina.
- Vai ser um longo dia. – suspirou Harry.
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Assim que o relógio do hall badalou as três horas, a campainha não parou mais de tocar. Dezenas de membros entravam a cada minuto. Todos os cômodos ficaram lotados em poucos minutos.
- Todos para a sala de reuniões número três. – ordenou Moody, encerrando as conversas.
A sede parecia um formigueiro, onde as formigas disparavam ágeis pelos caminhos pré-determinados que os conduzissem para o local ordenado. Nunca antes todos os membros da Ordem estiveram reunidos. A sala de reuniões fora magicamente ampliada para que suportasse a presença de todos os membros. Dezenas se sentavam apertados em torno da mesa e outras dezenas se apertavam de pé em volta.
A reunião fora lenta, tensa e cansativa. Todos sentiam a pressão que o assunto em pauta lhes atribuía: a batalha final. Era fato que ninguém tinha certeza de que a próxima batalha seria a última. Contudo, todos queriam se esforçar ao máximo para que assim fosse.
Esquemas táticos foram esquematizados. A defesa de Hogwarts fora completamente reformulada, visando à segurança da estrutura do castelo e de suas centenas de habitantes. Ordens foram dadas e recebidas. Mensageiros seriam enviados a outras partes do país em busca de reforço. Tudo fora traçado, estipulado e idealizado. Tudo estava pronto. Todos estavam prontos.
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O sol já havia se posto há muito quando a reunião se encerrou. Os membros saíram lentos e cansados da sala, aparatando da rua para os lugares que deviam ir. A sala que outrora estava abarrotada de gente, agora era habitada por pouco mais de uma dúzia de pessoas.
- Owen! – Harry chamou o amigo.
- Fala, Harry! – Owen se aproximou e estendeu a mão.
- Tudo bem? – Harry deu um sorriso, apertando a mão do outro.
- Tranquilo. – sorriu Owen – E você?
- Na mesma. – Harry deu de ombros – Preciso falar com você.
- Diga. – Owen ficou um pouco mais sério.
Harry os conduziu para um canto inabitado da sala, onde não poderiam ser ouvidos.
- Tenho uma informação para você, sobre uma horcruxe. – falou Harry, sério – Mas se não quiser ir atrás desta, eu vou.
- Que nada! – Owen abanou a mão com descaso – Pode falar.
- Há uma horcruxe em Hogwarts.
- Hogwarts? – perguntou Owen, surpreso.
- Sempre houve esta suspeita, não? – estipulou Harry – Hogwarts é o lugar mais importante para Tom. É lógico haver alguma horcruxe lá.
- Mas pensei que a horcruxe já havia sido destruída. – informou Owen.
- O diário não estava escondido em Hogwarts, ele foi para lá por intermédio de Lúcio Malfoy. A horcruxe escondida em Hogwarts é o diadema de Ravenclaw.
- Puxa! – Owen encolheu os ombros – Sarah vai ficar triste.
- Eu sei. – suspirou Harry, a amiga pertencia à Corvinal e tinha o legitimo espírito de sua casa.
- Ela vai querer ajudar, mesmo assim. – Owen deu de ombros – Vamos amanhã bem cedo fazer uma busca.
- Não precisa. Eu sei exatamente onde está. – Harry deu um sorriso torto.
- Onde? – Owen sorriu com a perspectiva de menos trabalho.
- Na Sala Precisa. – Harry sorriu e explicou para o amigo como entrar na sala certa.
- Tudo bem então. – assentiu Owen, minutos depois.
- Avise-me quando tudo estiver feito.
- Claro. – sorriu Owen – Até amanha. – ele se afastou – Tchau! – acenou para Rony, Gina e Hermione que se sentavam à mesa e saiu.
Harry enfiou as mãos nos bolsos da calça. Não precisava mais se preocupar com a horcruxe. Pelo menos não mais com aquela. Ele percorreu o aposento com os olhos. Moody, Lupin, Sirius e Tonks mantinham uma conversa sussurrante na ponta da mesa. Rony, Gina e Hermione discutiam entre si, tentando formular seus próprios movimentos na batalha. Os Weasleys agora se levantavam e se retiravam. Arthur consolando uma Molly preocupada, Fred e Jorge fazendo poucas piadinhas com Carlinhos. Havia outro homem em pé no lado oposto da sala, quieto e isolado, os olhos fixos em Harry.
O homem não era total desconhecido. Em algum lugar no fundo de sua memória, Harry reconhecia-o. O homem acordou Harry de seus pensamentos ao se aproximar.
- É um prazer revê-lo, Harry Potter. – o homem estendeu a mão.
- Desculpe-me, mas eu não me recordo do senhor. – Harry cumprimentou o homem, que sorriu.
- Não esperava que realmente se lembrasse. – o homem assentiu com um sorriso fraco – Estivemos juntos em situações não muito felizes. – Harry viu uma sombra passar pelos olhos do homem – Sou Amos Diggory.
Harry sentiu o sangue paralisar nas veias. Diggory. Cedrico Digorry. Aquele homem era o pai do sétimoanista da Lufa-Lufa que fora morto por Voldemort na noite de seu retorno.
- Ah... – exclamou Harry.
- Fico feliz pelo senhor estar bem, Sr. Potter. – sorriu Amos, educado – Todos ficaram muito preocupados com a falta de informações sobre o senhor.
- Não havia motivos para se preocupar. – disse Harry, sem jeito.
- Já vi que não. – assentiu Amos – Espero que na batalha tenhamos mais sorte.
Harry percebeu o tom sombrio, e até mesmo inconsciente, da fala de Amos.
- Farei de tudo para que todos fiquem sãos e salvos. – afirmou Harry, convicto.
- Ninguém está cobrando-lhe nada, Sr. Potter. – falou Amos, rápido, com receio de ter sido mal compreendido.
- Não preciso que me cobrem Sr. Digorry. – falou Harry, sério – Eu sei o que tenho que fazer.
- Não me entenda mal, Sr. Potter. – Amos apressou-se em dizer, completamente desajeitado – Não tive a intenção de lhe passar tal impressão.
Harry suspirou. A lembrança da morte de Cedrico ressuscitada aos seus olhos havia abalado-o a ponto de não conseguir controlar o humor.
- Harry... – Gina apareceu sorridente ao seu lado, abraçando seu braço – Tudo bem? – perguntou casualmente, mas Harry percebeu a preocupação.
- Sim. – respondeu simples.
- Senhorita Weasley. – Amos estendeu a mão.
- Senhor Digorry. – Gina sorriu educada e apertou a mão do homem.
- Desculpe-me, Sr. Potter, por ter lhe causado alguma irritação. – Amos virou-se para Harry.
- Não aconteceu nada, Sr. Diggory. – assentiu Harry – Sou eu quem deve pedir desculpas.
- Que isto, garoto! – Amos sorriu e abanou as mãos com descaso.
Gina abraçou mais firme o braço de Harry, movimento que não passou despercebido ao homem.
- Não quero importuná-los mais. – Amos deu um passo para trás – Até breve. – inclinou a cabeça e se virou, saindo da sala sem falar com mais ninguém.
- Coitado, Harry. – disse Gina, risonha – Você o deixou completamente perdido.
Harry suspirou e abraçou Gina em silêncio. Ela aninhou-se em seu peito quente e sorriu.
- Sinto sua falta. – sussurrou ele, rouco no ouvido dela.
- Eu também. – ela tremeu com a respiração quente dele em seu pescoço frio.
- Hey, casal! – chamou Rony, separando-os – Vamos comer!
Harry olhou pela sala mais uma vez. Apenas Hermione e Rony ainda estavam ali.
- Só ficarei realmente surpresa algum dia quando você desenvolver qualquer noção de sentimentos, Ronald! – bradou Hermione, irritada.
- Relaxa, Mione. – Gina sorriu para a amiga – Já estamos acostumados a sermos interrompidos pelo legume ai.
- HEY! – exclamou Rony.
- Vamos. – disse Harry, risonho, saindo com o braço em torno de Gina.
Hermione seguiu-os sem dizer nenhuma palavra ao namorado.
- Mas que coisa... – bufou Rony e, metendo as mãos nos bolsos, saiu.
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Harry andava por um corredor frio e escuro, ele observava o corredor até perceber que não estava sozinho, um garoto alto de cabelos castanhos escuros e olhos cinzas sorria para ele. Reconheceu o garoto instantaneamente, era seu companheiro de escola no Torneio Tribruxo.
Harry andava, mas nunca se aproximada do garoto sorridente. Uma grande angustia começou em seu interior. O garoto perdeu o sorriso e desfigurou-se, transformando-se em outra pessoa, Lord Voldemort. Este deixava sua risada ecoar pelo corredor, deixando Harry ainda mais angustiado. Então Voldemort parou de rir, apontou a varinha para o peito de Harry e disse:
- Morra insolente, Avada Kedavra!!!
Um lampejo verde saiu da varinha do Lorde das Trevas e voou na direção dele, que permanecia imóvel, mesmo tentando se mover. Harry estava desarmado, não podia se mover e estava morrendo de angustia por dentro, até que o raio verde lhe atingiu.
- NÃO! – sua voz cortou o silêncio com um grito ensurdecedor.
Harry sentou-se na cama com um pulo. Seu peito subia e descia no ritmo descontrolado de sua respiração arfante. A roupa estava grudada em seu corpo, assim como os cabelos rebeldes e ligeiramente cumpridos em seu rosto e nuca.
- Harry? – perguntou Rony na cama ao lado.
Harry olhou para o amigo, a respiração descontrolada demais para permiti-lo falar.
- Harry?! – a porta se abriu e Gina entrou correndo.
Ela pulou por sobre a cama de Rony e atirou-se contra Harry, abraçando-o forte. Mais duas pessoas entraram. Hermione ficou de pé atrás de Rony, os olhos analisando Harry com preocupação. Sirius arfava ao lado dela, o susto deixando-o desnorteado.
Inúmeras outras pessoas pararam à porta. Molly possuía seu semblante mais maternal possível e Arthur mantinha-se silencioso, os braços sobre os ombros da esposa. Remo e Tonks olhavam-se mudos e preocupados. Mais afastado, oculto pelas sombras do corredor, os olhos negros de Snape brilhavam intrigados.
- Harry?! – Gina afrouxou o abraço, as mãos tomando o rosto quente e suado do namorado, os olhos opacos de preocupação.
- Estou bem. – disse Harry, sussurrante e lento, a respiração ainda não contida.
- O que houve? – perguntou ela, preocupada.
- Um... pesadelo. – ele ergueu as mãos e retirou as mãos geladas dela de seu rosto com calma e carinho, os olhos verdes intensos sobre os cor-de-mel.
- Harry? – Sirius aproximou-se e se ajoelhou ao lado da cama do afilhado – O que aconteceu?
- Tive um pesadelo... foi somente isto. – respondeu Harry um pouco mais alto, a respiração finalmente se acalmando.
- Harry... – começou Hermione.
- Não, Hermione! – disse Harry, feroz, e todos sentiram a temperatura oscilar.
Ele suspirou e se desvencilhou das mãos de Gina, levantando-se no lado oposto a Sirius. O olhar dele era duro, depositado firme sobre Hermione, que emudecera.
- Eu estou bem. – disse a todos, retirando os olhos da amiga e repassando-os por sobre os demais presentes – Não precisam se preocupar. – ele caminhou até uma porta que levava a um banheiro – Boa noite. – desejou e atravessou a porta.
Todos ficaram mudos com as palavras e atitudes dele.
- O que será que aconteceu? – perguntou Tonks à Remo, enquanto se dirigiam aos seus aposentos.
- Ele teve um pesadelo, você ouviu. – respondeu ele, entretanto, não parecia muito convencido.
- Há algo que pudemos fazer, queridos? – perguntou Molly, carinhosa.
- Não, mãe. – respondeu Gina, entristecida.
- Vamos, Molly. – Arthur puxou a mulher para fora e fechou a porta.
Quando o corredor ficou vazio, Snape saiu das sombras e dirigiu-se ao seu quarto.
“Ele não devia ter sonhos assim... não mais.” – pensou ele– “O que diabos você tem, Potter?” – completou ao entrar no quarto.
Assim que a porta foi fechada, Hermione desabou sobre o colchão de Rony, as mãos cobrindo o rosto. Rony esticou os braços fortes e abraçou-a, aninhando-a em seu peito definido. Gina subiu as pernas na cama e abraçou-as, o rosto depositado sobre os joelhos.
- O que aconteceu? – a voz de Hermione soou abafada, a pergunta claramente dirigida a Rony.
- Eu acordei de repente. – contou ele – Estava muito quente. Percebi que ele estava se agitando, parecia estar mesmo tendo um pesadelo. Um pesadelo como antigamente. – terminou, sombrio.
- Isto não poderia ter acontecido. – Hermione afastou-se de Rony com agilidade, o rosto lívido de incredulidade – Tom não pode romper as barreiras dele, não pode!
- Eu sei, Mione. – Rony tentou acalmá-la.
- Então, por que diabos ele teve um pesadelo com o Tom?! – foi Gina quem perguntou, a voz alterada de ira.
- Não acho que foi com o Tom, Gina. – suspirou Rony.
- Não?! – perguntaram Hermione e Gina, juntas.
- Não... – Rony fez uma careta de frustração – Só não entendo o motivo desse pesadelo.
- Por que você acha que não foi com o Tom? – Hermione segurou Rony pela camisa, irritada pela demora dele em lhe dar as informações que necessitava.
- Eu o ouvi dizer o nome do Diggory. – falou Rony – Ele chamou pelo Cedrico.
- Ah, não! – Gina enfiou o rosto entre os joelhos.
- Aquele homem que conversou com o Harry... – Hermione olhou para a amiga.
- Era o pai do Cedrico. – completou Gina.
- O que isto tem a ver? – perguntou Rony, calmo e evidentemente perdido.
- Talvez o pai tenha trazido a lembrança da morte do Cedrico à tona na mente de Harry. – Hermione soltou-o e se aproximou, deixando-se ser abraçada.
- Faz quase um ano que ele não sonhava. – Gina ergueu o rosto, os olhos fixos na porta do banheiro – Por que aconteceu de novo, e somente agora?
A porta do banheiro se abriu devagar. Harry saiu quieto, o olhar baixo. Os cabelos estavam completamente molhados e suas roupas eram diferentes. Ele tinha tomado um bom banho. Cruzou o quarto e sentou-se à cabeceira da cama, de frente para Gina. Suspirou e ergueu os olhos, fitando Hermione.
- Desculpe-me... – começou ele – Não queria falar nada com toda aquela gente. Só traria preocupações para eles.
- Podia ter falado de outro jeito. – Hermione parecia claramente magoada, apontando para a própria cabeça.
- Eu sei. – suspirou Harry – Mas se eu fizesse assim, os outros não me deixariam em paz.
- Tudo bem, Harry. - Gina se aproximou dele e inclinou-se sobre seu peito quente.
Ele envolveu-a com os braços, depositando a cabeça sobre seus cabelos e respirando seu aroma floral.
- Quer contar? – perguntou Rony.
Harry suspirou longamente, entretanto, não abandonou sua posição.
- Sonhei com o Cedrico Diggory. – disse vago, fitando o vazio por sobre os cabelos de Gina.
Esperaram que ele dissesse algo mais.
- E? – Gina o encorajou.
- É o mesmo sonho que tive há dois anos. – disse ele – A única diferença é que antes... eram minha mãe e meu pai.
- Eu me lembro. – assentiu Rony – Você comentou na época. Disse que já havia sonhado com sua mãe da mesma maneira.
- Uhum. – suspirou Harry, fechando os olhos e inspirando forte o perfume de Gina.
- Estranho... – comentou Hermione – Você sonhar com isto depois de tantos anos.
- E com o Cedrico, ainda por cima. – acrescentou Rony.
- Exatamente o mesmo sonho. – suspirou Harry e todos perceberam que ele apenas pensava em voz alta – O mesmo corredor... A mesma angústia... A mesma risada do Tom... A mesma mald... – a voz dele morreu.
Gina sentiu o corpo de Harry tremer e, pela primeira vez desde a separação, sentiu-o frio. Abraçou-o com força pela cintura.
- Acho... – falou Harry, mais alto, dirigindo-se aos outros – que eles tem alguma ligação. – ele apertou o abraço em Gina – Não tem como não haver. Era tudo tão igual.
Gina sentiu-o tremer novamente. Ela se desvencilhou do abraço dele e tomou seu rosto com as mãos geladas. Fitou-o profundamente e o beijou. Hermione se aninhou no peito de Rony, que a abraçou com mais força, e ambos desviaram o olhar do casal, tentando dar-lhes alguma privacidade.
Pouco depois, ouviram o casal suspirar e, assim, voltaram seus olhares para eles. Harry estava abraçando Gina novamente, mais carinhoso que antes, o rosto mergulhado nos cabelos ruivos. Gina sorria levemente, o rosto aninhado no peito forte dele.
- Mione... – Harry ergueu o rosto e fitou a amiga com uma expressão indecifrável – Ajude-me a compreender meus sonhos?
- Claro. – Hermione sorriu reconfortante – Desbloqueie sua mente para que eu possa vê-los.
Harry assentiu e fechou os olhos. Gina fitou Rony e depois Hermione, que também fechara os olhos. Alguns minutos de silêncio se passaram. Rony sentiu o corpo de Hermione estremecer e a abraçou com mais força, depositando um beijo sobre sua cabeça. Quando Harry suspirou, Gina o abraçou com mais força e viu Hermione abrir os olhos. A morena suspirou e se aninhou em Rony, fechando novamente os olhos para pensar.
- Aparentemente... – começou ela pouco depois – não há nada que ligue os sonhos.
Rony bufou frustrado e Gina fechou a cara.
- Aparentemente. – Hermione sorriu, os olhos em Gina – Só aparentemente!
Gina olhou a amiga com incompreensão.
- Não sei por que, Harry, – Hermione desviou os olhos da ruiva e fitou Harry – você teve esses sonhos. É a única coisa que não compreendo.
- Mas, e a ligação? – Rony pressionou-a em seu peito, pedindo atenção.
- Ah, é. – sorriu Hermione, obviamente esquecida de tal informação – A ligação que eu encontrei é que... – ela encarou Harry com seriedade – os três: sua mãe, seu pai e o Cedrico; foram mortos pelo Tom.
- O que liga os sonhos é que todos foram mortos pelo Tom? – perguntou Gina sem entender.
- Todos os que tinham real ligação com Harry. – assentiu Hermione.
- Então não vou sonhar mais. – disse Harry, aliviado – Não há mais ninguém que seja importante para mim que foi morto pelo próprio Tom.
Eles ficaram em silêncio por algum tempo.
- Que horas são? – perguntou Rony.
- Quando nós acordamos era pouco mais de quatro da manhã. – respondeu Hermione.
Somente a informação do horário excessivamente cedo fez com que todos os quatro bocejassem longamente.
- Certo. – Hermione se soltou do abraço de Rony – Vou dormir.
Ela se inclinou sobre Rony e o beijou com carinho.
- Boa noite. – murmurou ele com um sorriso bobo.
- Vamos, Gina. – chamou Hermione, olhando-a.
- Ah. – gemeu Gina, entristecida – Não posso ficar aqui? – ela fez biquinho – Ta tão quentinho. – e aninhou-se mais no corpo de Harry.
Ele riu divertido e a abraçou com mais carinho, mergulhando o rosto em seus cabelos.
- Deixa de embolação, Gina. – bufou Rony – Você pode ficar o dia inteiro grudada no Harry. Deixa o coitado dormir, pelo menos. – Rony ajeitou-se para voltar a dormir.
Gina suspirou e se desvencilhou dos braços de Harry. Ele a puxou para um beijo apaixonado, a mão firme em sua nuca. Rony e Hermione tremeram. A temperatura variou estranhamente, indo e vindo de congelante à escaldante.
- Controlem-se, por favor! – bufou Rony.
Harry riu, a boca ainda fixa na de Gina. Ela abriu as mãos sobre o peito dele e pressionou para se afastar, um sorriso maroto nos lábios vermelhos.
- Boa noite. – sussurrou ela e deu-lhe um selinho.
- Boa noite. – desejou ele, vendo-a se erguer e se afastar.
- Boa noite, Harry. – disse Hermione, sorridente.
- Noite, Mione. – acenou ele.
Gina piscou para o namorado e fechou a porta depois que Hermione passou. Rony virou-se para Harry, emburrado.
- Será que pode se conter?! – perguntou ele, irritado.
- Vai dormir, Rony. – exclamou Harry, risonho, deitando-se e dando as costas para o amigo.
Harry sorriu com os sons intermináveis de Rony bufando. Ainda sorrindo, Harry fechou os olhos e mergulhou em um profundo sono, sem sonhos.
=-=-=
- Dia, Harry! – Owen entrou pela porta da cozinha, um sorriso cansado nos lábios.
- Owen! – Harry se levantou e caminhou até o amigo, que desabou sobre a cadeira mais próxima – Está bem?
- Sim. – Owen respirou uma grande quantidade de ar – Foi difícil. – afirmou e caiu na risada – Espero que nenhum dos donos daqueles objetos tente encontrá-los novamente.
- Por quê? – perguntou Harry, maroto, sentando-se na cadeira ao lado.
- Alguns foram... – Owen parou e olhou para todos que o encaravam.
Sirius e Remo haviam interrompido uma conversa sussurrante que mantinham. Rony, Hermione e Gina fitavam-nos sorridentes.
- Digamos que... – retomou Owen – eles sofreram um acidente.
Todos que os olhavam riram e voltaram às suas ações anteriores.
- Como estão as coisas por aqui? – Owen abaixou a voz.
- Tensas. – suspirou Harry – Todos sabem que o amanhã é tudo o que temos certeza.
- Não fale assim, Harry. – Owen deu alguns tapinhas no ombro do amigo – Nós vamos ganhar. Tenha esperança.
- Esperança. – repetiu Harry, desanimado.
- Harry... – Owen ergueu uma sobrancelha – O que te perturba?
- Não é nada, Owen. – Harry forçou um sorriso – Não se preocupe comigo. – assentiu e riu levemente – Como a Sarah está?
- Cansada. – Owen percebeu a mudança de assunto e não se opôs – E triste também. O diadema era realmente bonito.
- Imagino. – concordou Harry – Onde estão os restos?
- Entreguei ao meu pai, para fazer o mesmo que fez com o medalhão. – respondeu Owen.
- O que ele fez? – Harry ficou curioso.
- Não sei. – Owen deu de ombros – Ele não falou e não me importa. São os restos, não são? Não prestam para nada.
- É.
A porta se abriu e Moody entrou.
- Reunião. – informou e saiu sem esperar reações ou respostas.
- Mais?! – exclamou Rony.
- Pelo jeito. – Sirius sorriu cansado, levantando-se.
=-=-=
O dia foi cansativo. No entanto, rendera mais do que o anterior. Tudo estava pronto. Todos estavam tecnicamente preparados. As estratégias estavam prontas e começavam a ser executadas. Centenas de bruxos se dirigiam à Hogwarts. Durante toda a noite, aurores e membros da Ordem da Fênix iriam para a escola e cumpririam suas ordens.
Na sede da Ordem, poucas pessoas ainda restavam. Sirius, Remo e Tonks estavam arrumando seus últimos pertences. Os Weasleys já estavam prontos, sentados todos em uma sala, aguardando.
Pouco depois, estavam todos reunidos.
- E Harry? – perguntou Sirius à Molly.
- Ainda não voltou. – respondeu ela, aflita.
- Eles pediram para não esperar. – Tonks tocou o ombro de Sirius – Vamos.
Sirius assentiu. Arthur levantou-se e depositou uma caixa de sapatos sobre a mesa. Todos a tocaram e, em um segundo, a sede estava completamente vazia.
=-=-=
Não sabiam onde estavam. E pouco lhes interessava.
- Todos estão prontos. – disse Rony, fitando Terra.
“Ou pensam que estão.” - afirmou Ária, calma.
- Farão o que puderem. – assentiu Hermione – Mas tudo depende de nós.
“O fim está próximo.” – anunciou Fuoco, os olhos vermelhos fixos em Harry.
- Eles cairão. – disse Harry, forte e convicto – E nunca mais se reerguerão.
Gina sorriu com a determinação do namorado, sendo imitada por Hermione. Rony bateu a mão em punho na palma da outra mão, o olhar ansioso.
“Estaremos prontos.” – falou Acqua – “Ficaremos por perto, aguardando vossos chamados.”
- Até amanha. – o quarteto fizeram longas reverencias e aparataram.
Ária e Terra se despediram e desapareceram com, respectivamente, uma ventania e um terremoto. Fuoco e Acqua se encararam.
“O que está nos escondendo?” – questionou Acqua.
“Tu mesma disse que temia o fim.” – disse Fuoco, vago – “Eu não o temo. Eu já o conheço.”
“Fuoco!” – chamou-o ela antes de uma labareda de fogo surgir e o dragão desaparecer.
Acqua tremeu. O sentimento que mais odiava assombrando-a.
“O que quiseste dizer com isto, Fuoco?” – urrou ela, banindo o medo e desaparecendo com uma explosão de água.
=-=-=
Todos os alunos de Hogwarts haviam sido recolhidos em suas casas. Os diretores das respectivas casas davam avisos e conselhos. Aurores patrulhavam os terrenos. Centauros cavalgavam pela floresta. Lycans uivavam através da escuridão da noite.
O quarteto aparatou em meio aos terrenos. Os aurores próximos sacaram as varinhas, prontos para morrerem lutando.
- Não sejam tolos. – gritou Rony – Somos nós.
- Desculpem-nos. – pediu um dos aurores, guardando a varinha.
- Até parece que algum comensal consegue aparatar em Hogwarts. – sussurrou Gina, irritada.
Eles caminharam para dentro do castelo, rumando para o Salão Principal. Ao pisarem dentro do Salão, sentiram o impacto da tensão e do medo. Os alunos da AD estavam presentes, conversando com os aurores como se não fossem meros estudantes. Os aurores os respeitavam, pois haviam batalhado lado a lado em Hogsmeade. Os lideres da Ordem da Fênix estavam próximos uns dos outros em torno da mesa dos professores.
- Como estão as coisas por aqui? – perguntou Harry à Moody, assim que se aproximaram.
- Os alunos estão seguros em suas casas. Muitos querem lutar e Minerva teme isto. – respondeu o ex-auror.
- Ainda acho que os alunos devem ser mandados para suas casas. – informou Hermione, cruzando os braços – É perigoso demais mantê-los aqui.
- Hogwarts não é mais segura. – assentiu Gina, acompanhando o raciocínio da amiga – Tom virá para cá com força total. Se os aurores e a Ordem não segurarem seu exército, acontecerá uma chacina.
- Mas nós temos... – começou Sirius, tentando animá-los.
- Não poderão contar conosco. – Harry cortou-o – Nós cuidaremos de Tom e o impediremos de conjurar seu exército sombrio. Somente isto.
- Ele ainda tem sua legião de comensais e de lobisomens. – advertiu Rony – Eles serão por conta de vocês.
- Dos lobisomens... – um homem alto se aproximou, cuspindo rudemente a última palavra – nós cuidaremos.
Remo virou-se para o homem e pousou a mão direita em punho sobre o peito esquerdo. O homem retribuiu o cumprimento.
- Sou o Alfa. – o homem se apresentou ao quarteto.
- É um prazer. – sorriu Harry.
- Para minha alcatéia aqueles lobisomens... – ele cuspiu com brutalidade a mesma palavra – serão mera diversão.
- Nunca é bom subestimar os inimigos. – advertiu Hermione, contida.
- Não estamos subestimando-os. – sorriu o Alfa, os caninos cintilando – Estamos sendo realistas.
- Qual é a posição de Agouro?– perguntou Tonks para Moody.
- O nobre centauro pediu para avisar que sua raça estará pronta ao amanhecer. – respondeu o Alfa, calmamente.
- Obrigado. – agradeceu Moody.
O Alfa inclinou a cabeça para o quarteto e se despediu de Remo com o mesmo ato de cumprimento. Virou-se e saiu ágil. Os líderes da Ordem voltaram à conversa. O salão esvaziou-se antes mesmo que eles notassem a passagem do tempo.
- Vou me deitar. – Rony bocejou – Boa noite. – ele começou a se afastar.
- Esta é a nossa deixa. – Remo bocejou também e puxou Tonks para seguirem Rony.
- Até amanhã. – informou Moody, segurando o ímpeto de bocejar.
- Boa noite. – desejou Hermione ao ex-auror e seguiu os amigos.
Harry e Gina saíram de mãos dadas. Sirius pousou a mão no ombro do afilhado. Remo e Tonks se despediram de todos e seguiram para seus aposentos. Sirius abraçou Harry com força e afastou-se calado.
- O que o Sirius tem? – perguntou Harry.
- Sei não. – Gina se espreguiçou.
- Estou caindo de sono. – Rony bocejou novamente – Até amanha. – ele puxou Hermione para um beijo terno.
- Boa noite. – Hermione sorriu para eles – Vou acompanhar o Rony até o quarto dele.
Eles se afastaram semi-abraçados. Quando o corredor ficou vazio, Harry e Gina riram alegres.
- A Hermione nem para disfarçar.– disse Gina, risonha.
- Ela é inteligente. – Harry segurou-a delicadamente pelo queijo, puxando-a para mais perto – Deu-me uma idéia. – seus olhos cintilaram.
Gina sorriu marota e se inclinou para beijá-lo.
=-=-=
Ele podia senti-la em seus braços. A respiração suave e quase silenciosa. O corpo frio e macio. Era ótimo poder dormir abraçado a ela, sentir seu aroma floral inundando-o, arrepiar-se pelo contraste alarmante de temperatura corporal. Era tão reconfortante. Era como ter paz. A paz que desejava ter no fim. Sabia que ela estava ali, dormindo em seus braços, segura. Apesar de estar quase adormecendo, de estar caindo na inconsciência, sabia que ela estava ali. Tinha certeza disto.
A certeza, porém, se desfez em rápidos segundos. Ele lutou contra a inconsciência, lutou para manter-se consciente de que ela estava ali. Não queria ter duvidas de sua presença ou segurança. A inconsciência, pouco a pouco, foi vencendo-o. Ele não ouvia mais sua respiração, não sentia seu aroma nem seu corpo frio. Sentia apenas uma coisa. Algo que o apavorou mais do que a morte. Sentiu angústia.
Ele tinha uma mera lembrança de como sentia frio antes da consciência vencê-lo. Agora, o frio que sentia era totalmente diferente. Era um frio sombrio e tenebroso. Tinha também a mera lembrança de estar abraçado a alguém. Agora, seus braços caíam inertes ao lado do corpo. Abriu os olhos, relutante.
Sorriu, apesar da agonia crescente. Ela estava ali, não havia porque temer ou duvidar. Estava apenas a alguns passos, alguns passos através do corredor escuro. Ela retribuiu o sorriso, os olhos brilhando carinhosos. Ele deu um passo à frente. A angústia pareceu tomar forma física e apunhalou-o como uma adaga no peito. Ele não se movera. Sentira a perna se mover e, no entanto, não havia movido sequer um centímetro.
Olhou-a novamente. Ela ainda sorria. Era como se não tivesse noção do que acontecia a ele.
- Gina. – chamou-a, suplicante.
Queria que ela viesse ao seu encontro, que lhe poupasse a agonia de tentar se mover e não conseguir. Ela não se moveu, sequer alterou a expressão. O sorriso continuava firme e os olhos brilhando carinhosamente.
Tentou outra vez, avançando uma perna. Sua garganta contraiu-se, impedindo sua respiração. A angústia comprimia-o, dominadora e descontrolada. Sentiu o ímpeto de sair, de voltar os passos, de fugir. Contudo, não podia fazê-lo. Não podia deixá-la ali, sozinha em um corredor escuro. Seu instinto de proteção para com ela era mais forte que qualquer ímpeto de fuga.
- Gina... venha! – suplicou com a voz falhando – Preciso de você. – confessou.
A reação dela foi exatamente o que ele não queria, o que não esperava. Ela riu. No entanto, não era sua risada cristalina como a água caindo em uma cachoeira, não era carinhosa nem reconfortante. Era uma risada fria e sombria. A bela face transfigurou-se em uma máscara de sarcasmo e diversão, uma diversão maligna o suficiente para deixá-la sombria.
- Precisa de mim?! – a voz dela saiu cortante e puramente sarcástica.
Ela gargalhou mais intensamente. Sua expressão mudou novamente. A máscara agora era de puro ódio.
- Precisa mesmo de mim?! – bradou ela, violenta – Não me pareceu que precisava quando me mandou para a morte.
- Morte?! – gritou ele, aturdido.
Ela não estava morta. Ela estava ali, na sua frente, não poderia estar morta.
- Bem vindo... – Gina abriu os braços, um sorriso cruel deformando seu rosto – ao corredor final.
- Corredor final?
- Você morreu... – disse Gina, a voz adocicada de prazer, e completou com repugnância – Potter.
- Gina... – ele balançou a cabeça.
Não podia ser verdade.
- Você me mandou para os braços do Tom, para a morte. – os olhos de Gina brilharam apavorantes – Ele mandou eu te esperar. – ela sorriu ainda mais cruel – E eu também quis esperar.
- Gina... não! – bradou ele, a angústia cortando-o como adaga.
- Eu te odeio. – a voz de Gina foi um sussurro quase inaudível, mas fora carregado de toda a frieza e ódio que ela poderia sentir.
- Não... – ele ergueu as mãos e pressionou-as na cabeça.
- Antes que eu me esqueça... – Gina riu antes de continuar – ele quer ver isto.
Ele fitou-a atordoado. Ela riu mais uma vez. A risada tornou-se cada vez mais fria e cruel. Ganhou outro timbre e, seu corpo, outra forma.
- Adeus, Potter. – gargalhou Lord Voldemort.
Novamente a risada e o corpo mudaram. Era Gina novamente.
- Te vejo no inferno, Potter. – ela ergueu a varinha, o olhar vidrado e deliciado sobre ele – Avada Kedavra!
Ele não queria se mover. Gina odiava-o, o queria morto. Não queria se mover. Morreria por ela. Pela mulher que amava e que amaria por toda a eternidade, mesmo que a passasse no inferno.
Antes que o feitiço lhe atingisse, viu o rosto de Gina transfigurar-se, abandonar a máscara de ódio para assumir uma de pavor. Viu-a abrir a boca e gritar, muda, seu nome. Viu em seus olhos o pedido de desculpas.
Ela não queria matá-lo. Não o odiava.
Contudo, a Maldição da Morte estava próxima demais.
O brilho verde opaco cegou-o. O resto perdeu-se na escuridão. Restou apenas uma coisa. A única coisa que ele temia mais que a própria morte.
Angústia.
=-=-=
- Harry! Acorde Harry! Por favor... acorde!
- Ah! – ele se levantou, os olhos arregalados de espanto.
- Harry?
Ele olhou para a fonte da voz preocupada e deparou-se com uma Gina assustada.
- Tudo bem? – ela tentou se aproximar dele.
- Não! – ele pulou da cama, afastando-se rápido, os olhos apavorados – Não se aproxime.
- Harry?! – Gina arqueou uma sobrancelha.
Ele deu-lhe as costas e caminhou até a janela, abraçando-se. Ela pôde ver pelo reflexo da janela a expressão de dor e de pavor dele. Algo de muito ruim havia tomado Harry em seus sonhos. Gina ergueu-se e caminhou lentamente até ele.
- Harry... – sussurrou.
Ele não se moveu. Os olhos estavam fechados, comprimidos, os lábios apertados em uma linha tensa. As mãos tremiam.
- O que aconteceu? – ela parou ao lado dele, desejosa por abraçá-lo e acalentá-lo.
Ele permaneceu mudo, os olhos comprimidos e os lábios apertados. Gina cedeu ao seu desejo e abraçou-o forte. Harry não retribuiu, parecia uma pedra, uma pedra fria. E foi a frieza de seu corpo que fez Gina soltá-lo e tomar seu rosto entre as mãos.
- Olhe para mim. – pediu.
Ele abriu os olhos e fitou-a. Ela tremeu. Os olhos verdes estavam opacos, sem brilho, pareciam mortos.
- O que aconteceu? – perguntou, temerosa.
Ele balançou a cabeça e fechou os olhos novamente. Não queria falar sobre aquilo.
- Harry... – ela o abraçou novamente.
O corpo dele ainda era frio e imóvel. Quando ele se moveu, foi para fazer algo que ela não esperava. Ele ergueu as mãos e fechou-as nos punhos dela, afastando-as de si. Deu alguns passos para trás, os olhos fixos no chão, a expressão vazia. Ela tentou se aproximar novamente.
- Não... Gina. – pediu ele, baixinho.
Ela parou. Não compreendia as atitudes dele. Ele havia sonhado e estava transtornado. Por que não queria que ela o ajudasse, que o confortasse?
O tempo passou. Um espaço maior que o físico entre eles. O silêncio pesando como nunca antes.
Gina sentiu-se apavorada. Não tinha como ajudar Harry, ele não deixava, não queria. Ela não podia fazer nada. Sentiu-se impotente. Sentiu uma ferida abrir-se em seu peito.
- Eu... – a voz fraca de Harry a despertou, ele fitava o chão – Você sabe que... – ele respirou fundo várias vezes – Tudo que eu quero é a sua segurança...
- Eu sei, Harry. – assentiu ela, a distância entre eles parecia aumentar e ela não compreendia isto.
- Eu não... não quero que vá para a batalha. – informou ele, a voz ficando mais forte e firme, os olhos ainda no chão.
- Como? – ela preferiu pensar que aquilo era uma ilusão.
- Não quero que participe da batalha... é perigoso demais.
A boca dela se abriu com espanto. Ela balançou a cabeça, as mãos erguidas na altura do peito.
- Delírio. – sussurrou ela, inconformada – Você está delirando.
Ela riu, uma risada sem emoções.
- Gina... – ele chamou-a.
- Cala a boca, Harry! – bradou ela, o rosto lívido, as mãos em punho.
Ele suspirou. Sabia que seria difícil. Contudo, tinha de fazê-lo. Não cumpriria o destino imposto pelo sonho. Não levaria Gina para a morte.
- Você vai morrer se for. – Harry forçou-se a revelar o que ele não queria aceitar.
Gina ficou em choque.
- Como é?
- Eu sonhei novamente... – ele se abraçou inconsciente – O mesmo corredor... a mesma angústia. – ele pressionou os lábios – Só que... – fitou Gina – era você.
Ela balançou a cabeça e deu um passo na direção dele.
- Foi somente um sonho. – disse.
- Não. – ele deu um passo para trás, afastando-se – Não foi.
- Pare, Harry. – pediu ela, os olhos marejando.
- É para o seu próprio bem, Gina. – argumentou ele, desviando os olhos dos dela.
O silêncio tomou o quarto. Foi um silêncio tão pesado que ele ergueu o olhar para fita-la. Ela não estava longe, pelo contrário, estava a poucos centímetros dele. O punho fortemente pressionado cortou o ar. Segundos depois, Harry se viu no chão, com Gina sobre si desferindo socos fortes e descoordenados sobre sua face.
- Gina... pare! – pediu ele, erguendo os braços para se proteger.
- Seu idiota! – ela venceu a proteção dele e continuou a socá-lo.
Harry bufou e segurou-a pelos pulsos. Forçou o corpo para se erguer e, com toda a força que possuía, levou-a ao chão, segurando firmemente seus braços acima de sua cabeça e mantendo seu corpo preso abaixo do seu próprio. Gina se debateu, tentando se soltar. Os olhos cheios de lágrimas e o rosto vermelho de raiva.
- Pare, Gina! – ele quase gritou.
Ela parou e o olhou. Ele podia sentir a ardência dos ferimentos que ela lhe causara, o sangue escorrendo em algumas partes do rosto. Ela fechou os olhos e as lágrimas rolaram. Harry soltou os braços dela e a puxou, sentando-os e abraçando-a. Ela o envolveu com os braços trêmulos e, ao mesmo tempo, firmes, como se temesse uma nova fuga dele.
- Por que... fez isto? – murmurou ela, a voz abafada pelo peito dele – Eu sei que é perigoso... Mas eu sou forte... – ela gemeu e completou amargurada – Por que não confia ou acredita em mim?
- Gina... – ele abraçou-a com mais força, sentindo a mágoa dela – Perdoe-me. – suplicou – É que... – ele suspirou sobre os cabelos dela – Você é tudo o que eu tenho... Minha vida é sua, meu coração é seu. – desabafou – Não vou suportar se algo te acontecer.
Ela tremeu e soluçou. Ele apertou-a ainda mais contra seu corpo.
- No meu sonho... – começou ele – você me odiava. – engoliu em seco antes de continuar – Disse isto com todas as palavras. E... no final... – tremeu – me matou.
Gina abraçou-o com mais força, as unhas arranhando-o. Ele afagou seus cabelos ruivos e respirou seu aroma floral.
- Tente entender, Gina... – pediu ele.
- Você sabe... – sussurrou ela – que separados somos mais fracos. – desvencilhou-se dos braços dele, mas não se afastou – Não posso abandoná-los. Não posso fugir da batalha.
- Não é abandono... nem fuga. – argumentou ele, o medo de perdê-la aflorando-se – É só...
- Shi. – ela tocou os lábios dele com os dedos frios – Eu não vou, Harry. – disse ela, convicta – Não importa o que aconteça no final. Eu não vou abandonar Rony e Hermione... eu não vou abandonar você.
Ele fechou os olhos e tremeu.
- Não tenha medo, Harry. – pediu Gina, as mãos descrevendo as linhas do rosto dele e curando os ferimentos que lhe causara – Confie em mim. Confie em nós.
Harry abriu os olhos e fitou-a. O olhar dela era tão confiante e reconfortante. Como poderia temer ao lado dela, sob aquele olhar? Ele assentiu e puxou-a novamente contra seu peito.
- Promete que... – começou ele – se não houver mais esperanças... – engoliu em seco - Se eu cair... você não vai bater de frente com Tom... não vai...
- Se você cair, Harry... – ela se afastou novamente, fitando-o – Não terei motivos para continuar vivendo.
- Gina... por favor. – ele segurou as mãos dela entre as suas – Prometa-me que não vai fazer isto. Eu não terei paz se pensar que você... – a voz dele morreu.
Ela suspirou e se aproximou novamente. Beijou-o, calma e suavemente.
- Não pense nisto, ok? – pediu ela, depois de se separar dele.
Harry suspirou e assentiu. Ergueram-se e voltaram para a cama. Ele a abraçou forte por trás e beijou-lhe a nuca.
- Eu te amo. – murmurou.
- Eu também. – ela sorriu e se aninhou ainda mais.
A noite foi calma e tranquila para ambos. Nenhum sonho ou vislumbre passou pela mente de Harry. Um sorriso ficou estampado em seu rosto durante toda a noite enquanto tinha a certeza, mesmo na inconsciência, de que Gina estava ali. Segura.
=-=-=
Era hora de o sol surgir no horizonte. Porém, ele não o fez. Uma grossa camada de nuvens bloqueava qualquer luminosidade do astro rei. A aparência nada pacifica do céu trouxe apreensão aos novos habitantes de Hogwarts. O Salão Principal já estava lotado de batalhões de aurores e membros da Ordem. Alguns retornavam das patrulhas noturnas, outros se preparavam para as patrulhas matutinas. O clima era de tensão e expectativa.
- Dia!– desejou Rony ao sentar-se oposto a Harry com Hermione ao seu lado.
- Dia. – disseram Harry e Gina.
Rony encarou Hermione, que lhe devolveu o questionamento no olhar.
- Aconteceu alguma coisa? – sussurrou Hermione.
Harry suspirou. Gina segurou a mão do namorado sobre a mesa, lançou-lhe um olhar terno e um sorriso carinhoso.
- Harry teve um pesadelo. – respondeu Gina, fitando o irmão e a amiga.
- Outro?! – exclamou Rony.
Hermione deu uma cotovelada nas costelas do namorado, a expressão séria. Rony engoliu um gemido e massageou o lado do corpo, enquanto seu café da manhã se materializava.
- Mas agora está tudo bem. – informou Gina com um sorriso.
Harry concordou com as palavras de Gina com aceno da cabeça.
- Como foi a noite de vocês? – perguntou ele com um sorriso divertido, os olhos fixos em Hermione.
- Bem tranquila... e a de vocês? – respondeu ela, o rosto corado e o olhar fuzilante.
Gina chutou-a por debaixo da mesa. Rony ergueu os olhos de sua refeição e fitou Hermione com dúvida.
- O que você falou? – perguntou.
- Nada não. – Hermione forçou um sorriso, depositando um beijo sobre os lábios do namorado – Come ai, Rony.
Harry abafou uma risada. Gina sorriu largamente, os olhos sobre o namorado.
“Finalmente...” – suspirou ela – “Um projeto de risada... ele deve estar melhor”.
Os quatro se alimentaram em silêncio. Harry e Gina terminaram antes e ficaram analisando os movimentos do salão. Ela colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou o rosto nas mãos. Ele aproximou-se mais dela e cruzou o braço em suas costas, depositando a mão em sua cintura, o queixo em seu ombro.
- Potter! – Moody aproximou-se devagar.
- Sim?! – Harry ergueu a cabeça na direção do bruxo sem se afastar de Gina.
- Os centauros querem falar com você. – informou o bruxo.
- Já volto. – sussurrou Harry aos companheiros e deu um beijo rápido em Gina.
Ele seguiu Moody através do salão e do Saguão de Entrada. Nos jardins haviam grupos de três aurores ou membros da Ordem fazendo patrulhas. Moody guiou Harry na direção da Floresta Proibida, a alguns metros da cabana de Hagrid. Ao se aproximarem da orla da Floresta, foram surpreendidos pela visão de dezenas de centauros armados com aljavas cheias de flechas e arcos reluzentes.
- Bom dia. – desejou Harry fazendo uma leve reverencia.
- Não se curve perante nós. – pediu Agouro com uma mão erguida – Os centauros foram seguidores de Merlim no passado e agora te seguimos. – e, ao terminar, inclinou-se.
Os outros centauros imitaram seu líder. Harry, que já havia passado por uma situação parecida, não pôde impedir o choque. Dezenas de centauros, criaturas mais sábias que os humanos, curvando-se perante ele era algo que nunca havia sonhado.
- Estamos prontos para a batalha. – Agouro endireitou o tronco e bateu no chão com a pata.
Os centauros ergueram os arcos e gritaram. Todos pareciam estar animados.
- Obrigado, Agouro. – agradeceu Harry – Vossa ajuda será de estrema valia.
- Parte dos nossos permaneceram na floresta, protegendo-a. – Agouro apontou para um grupo de centauros que se inclinou e galopou floresta a dentro – Nós permaneceremos nos terrenos de Hogwarts. – ele abriu os braços, indicando os outros centauros – E auxiliaremos no que nos for possível.
- Obrigado novamente. – Harry sorriu.
- Já sabem o que tem de fazer! – gritou Agouro.
Os centauros inclinaram-se para Harry e galoparam em várias direções, formando pequenos grupos.
- Obrigado. – agradeceu Harry mais uma vez e se inclinou para o centauro, que retribuiu o gesto antes de cavalgar para longe.
- Quem diria... – Moody bateu a bengala no chão – os centauros superaram os preconceitos para com os bruxos e estão nos ajudando.
- Eles não sentem preconceitos, Moody. – afirmou Harry – Somos nós, os bruxos, que nos achamos superiores às outras raças. – ele começou a andar, com Moody seguindo-o – Veja a fonte do Átrio do Ministério da Magia. – ele fez uma careta de repugnância – É completamente...
- Entendo o que quer dizer. – assentiu Moody.
Eles retornaram ao castelo.
- Harry! – uma mulher acenou para ele.
- Até mais tarde, Potter. – Moody tomou outro caminhou.
- Dia Sarah! – ele caminhou até a mulher e a abraçou.
- Tudo bem? – perguntou Sarah em tom preocupado.
- Tranquilo. – respondeu ele com um sorriso – Cadê o Owen?!
- Foi buscar o Cassius. – um sorriso cintilante ordenou os lábios dela.
- É ótimo saber que eles estão em paz, não é? – Harry sorriu.
- É perfeito, Harry. – admitiu ela – Você não tem ideia de como o Owen sofria.
- Cassius também. – assentiu ele.
- Que bom que vocês voltaram. – Sarah abraçou-o novamente.
Ele correspondeu ao abraço. Sentia pela mulher um carinho fraternal, assim como sentia por Sirius um amor paternal.
- Sarah! – o maroto surgiu às escadas.
- Tio! – ela soltou Harry e caminhou de encontro ao homem.
- Não te esperava aqui tão cedo. – Sirius abraçou-a com carinho.
- Precisam de todos que puderem. – ela sorriu – Eu não vou fugir da batalha.
- Uma Black nata! – Sirius riu, soltando-a - Eis o orgulho dos Black. – ele olhou para Harry, apontando para a sobrinha.
Sarah girou os olhos, mas sorriu com o elogio.
- Bom dia. – desejou Harry ao padrinho.
- Dia! – Sirius aproximou-se do afilhado e lhe deu um abraço terno – Como passou a noite? – sussurrou divertido.
- Bem. – Harry riu.
- Que ótimo. – Sirius soltou-o e lançou um olhar para dentro do Salão Principal – Como estão as coisas?
- Tensas. – Harry assumiu uma postura mais séria – Todos estão sentindo a tensão e a ansiedade.
- Imagino. – assentiu Sirius.
- Dia Sirius! – Rony saiu de dentro do Salão, ladeado por Hermione e Gina.
- Dia trio. – Sirius riu.
- Sarah! – as garotas pularam em Sarah, abraçando-a.
- Oi. – a mulher riu, correspondendo ao abraço múltiplo.
- Cadê o Owen? – perguntou Rony.
- Potter! – um grito chamou a atenção de todos para o saguão.
- Cassius?! – Harry arqueou uma sobrancelha.
- Cadê o Owen?! – Sarah se desvencilhou dos braços de Hermione e Gina e caminhou até Cassius.
A expressão de Cassius era tensa e preocupada.
- Eu... – ele balançou a cabeça e olhou Harry – preciso que encontre o Owen.
- O que aconteceu?! – perguntou Sarah, sua voz mais estridente que o normal.
- Você tem que achar o Owen, Potter! – exclamou Cassius.
- O que aconteceu, Cassius? – Harry caminhou até Cassius.
- Lars. – a voz de Cassius saiu com dificuldade.
Sarah exclamou, as mãos pressionando a boca, os olhos arregalados. Sirius sentiu-se perdido e fitou Gina.
- Lars é filho do Cassius. – sussurrou Gina rapidamente – É um comensal.
Sirius espantou-se. A história se repetia. Dois irmãos. Um comensal e outro não.
- Você não consegue achá-lo? – perguntou Harry, curioso.
- Não. – Cassius passou as mãos pelos cabelos grisalhos – Ele é forte o suficiente para me impedir.
- Certo. – assentiu Harry – Gina! – ele virou-se para a namorada – Ache-o.
- Pode deixar! – ela sorriu e fechou os olhos.
Antes mesmo que ela pudesse pensar no que queria, gritos de alerta soaram por todo o castelo. Um urro forte e demoníaco estilhaçou os vidros das janelas. Ela abriu os olhos, alarmada.
- CHEGARAM! – gritou um auror entrando correndo no castelo.
- Quem chegou? – perguntou Rony.
- Tom e seu exército! – o auror não parou de correr - ATAQUE! – gritou ele ao entrar no salão.
- Vamos! – Sirius sacou a varinha e correu através do saguão.
- E o Owen?! – Cassius fitou Harry.
- Desculpe-me Cassius. – Harry balançou a cabeça.
- Se o Owen é forte o suficiente para te impedir de rastreá-lo... – Hermione sorriu para o mago – será forte para vencer o irmão.
Os aurores e membros da Ordem saíram correndo do Salão Principal e tomaram o saguão. Outras centenas de bruxos começaram a descer pelas escadas. O barulho era alto demais para permiti-los falar baixo.
- Vamos! – gritou Harry.
Sarah engoliu as lágrimas que surgiam e sacou a varinha, seguindo o fluxo de bruxos.
- Boa sorte! – gritou Cassius, pesaroso, e saiu.
“Tomem cuidado.” – suplicou Harry.
“Ele vai morrer de medo da gente.” – Rony sorriu confiante.
Hermione puxou o ruivo para um beijo rápido e carinhoso. Gina pulou no pescoço de Harry.
“Não se preocupe comigo.” – pensou para ele.
Eles se soltaram e se encararam uma última vez. Os bruxos ainda saíam do castelo. Agora, misturado ao som de correria, podia ser ouvido os gritos de feitiços e de ordens vindos dos jardins.
- Até o fim. – Harry estendeu a mão.
- Até o fim. – os outros pousaram suas mãos por sobre a dele.
Aquilo fora um gesto simples, mas que carregava muita coisa.
Estavam unidos.
Até o fim.
=-=-=
Owen saiu de casa, acompanhado do pai. Ambos prontos para partirem para Hogwarts e permanecer lá até que a Guerra terminasse.
- Eu sei o caminho de Hogwarts, filho. – Cassius brincou com um sorriso.
- Sarah fez questão que eu viesse. – Owen deu de ombros – Até parece que ela não acredita que estamos bem.
- Vamos então.
Uma risada cortou o silêncio da rua vazia. Pai e filho dirigiram seus olhares para a fonte de som.
- Olhe só o que temos aqui... – a voz era fria, a expressão vazia, os olhos verdes-oliva.
- VOCÊ! – Owen sacou a varinha.
- Não, Owen! – Cassius tentou segurar o filho, mas ele já estava correndo.
- Minha conversa não é com você, Owen. – informou Lars, os olhos fixos no irmão – Onde está Sarah?
- Você não vai chegar perto dela. – Owen ergueu a varinha - Fuoco Corporeo!
Lars deu um passo para o lado, desviando-se do feitiço. Cassius sacou a varinha e correu atrás de Owen. Lars viu o movimento do pai e retirou a varinha das vestes, a expressão tornando-se sombria.
- Você escolheu assim. – disse seco, erguendo a varinha – Portale!
Cassius congelou no lugar.
Um lampejo branco voou na direção de Owen. Ele se abaixou para desviar. No entanto, quando o feitiço passou por sobre sua cabeça, uma explosão de luz e de som aconteceu e, no segundo seguinte, o moreno não estava mais ali.
Lars fitou Cassius e sorriu sombriamente.
- Volto para pegar você. – disse rápido antes de aparatar.
Owen o aguardava. O campo era plano e sem nenhuma vegetação além do gramado seco.
- Meus olhos devem estar me enganando. – Lars riu debochado – O destino é algo realmente irônico e engraçado. – parou e gargalhou com gosto.
- Não devia rir, Lars. – bradou Owen, erguendo a varinha – Você vai morrer!
- Não, Owen... – Lars ficou sério e ergueu a varinha também – Você é quem vai morrer. Mas antes... – ele deu um sorriso cruel – vai me dizer onde posso encontrar minha amada Black.
- Você nunca vai tocá-la. – grunhiu Owen – Sequer vai vê-la.
- É o que veremos. – Lars agitou a varinha.
Um feitiço voou até Owen.
- Difesa!
Uma barreira azul petróleo materializou-se a tempo de protegê-lo do feitiço.
- Vou me divertir. – Lars sorriu diabólico.
- Eu vou me deliciar com a sua morte. – os olhos de Owen brilharam mórbidos – Congelare!
Lars riu e fez um movimento seco com a varinha. Uma barreira verde escura surgiu, protegendo-o.
- Terá que fazer melhor do que isto. – o loiro riu, a barreira se desfazendo.
Owen urrou. Sucessivos movimentos de varinha resultaram em feitiços ágeis e poderosos. Lars gargalhou. Desviou-se dos feitiços com velocidade e precisão, parecia uma dança.
- Ataque! – gritou Owen.
- Como queira. – ironizou Lars.
Ao contrario de Owen, que permanecera parado ao lançar os feitiços, o loiro começou a correr na direção do irmão. A varinha girava em seus dedos devido à velocidade dos movimentos. Owen deu passos rápidos em várias direções, desviando-se dos feitiços, e pôs-se a correr de encontro do irmão. Os feitiços lançados por ambos iluminavam o campo e enchiam o ar de sons.
Owen deu dois passos para o lado, girando, para desviar de alguns feitiços. Antes, contudo, de retornar a corrida, Lars surgira à sua frente, a mão em punho, pronto para lhe acertar. Graças aos reflexos adquiridos através dos anos de treinamento, Owen ergueu a mão livre e capturou o punho do irmão antes de ser atingido. Em um movimento rápido, o moreno ergueu a perna para acertá-lo com um chute nas costelas. Lars abaixou o braço e aparou o golpe com o cotovelo.
O moreno contraiu o rosto pela dor. O loiro sorriu deliciado. Soltaram as varinhas. Owen preparou-se para desferir um soco potente, Lars segurou-lhe o punho, impedindo-o. Encararam-se, ofegantes. Cada um segurando o punho do outro.
- Acho melhor pegar sua varinha, Lars. – sugeriu Owen com desdém – Você precisa dela.
- Acha mesmo? – os olhos de Lars brilharam e ele murmurou com um sorriso triunfante – Esplosione.
Owen teve tempo somente para arregalar os olhos. Foi tudo muito rápido. A aura de Lars se materializou em uma esfera sobre seu tórax e explodiu. Owen foi arremessado a vários metros, bateu, rolou e arrastou-se pelo gramado, arrancando a vegetação seca. Ele arfou, os olhos semi-cerrados, a expressão banhada em dor. Toda a frente de suas vestes estava chamuscada, em alguns pontos o tecido havia sido todo consumido e sua pele queimada.
Lars permaneceu imóvel por algum tempo, recuperando as energias. O Explosão era um dos feitiços que mais lhe causava danos. Ele estralou o pescoço e os dedos, o sorriso cruel retornando aos seus lábios. Owen se levantou com dificuldades, os olhos fixos no irmão.
- Onde... aprendeu isto? – questionou.
- Então você notou a essência. – Lars sorriu superior – Eu mesmo criei.
“Maravilha...” – bufou Owen pondo-se ereto – “Droga, pai. Você tinha que errar na análise do Lars?!”
- Pronto para morrer, Owen? – Lars flexionou os joelhos e assumiu uma posição felina.
Owen riu e abriu as palmas das mãos, um brilho azul petróleo tomou-as fracamente. Pensando no feitiço, passou-as por sobre as queimaduras, curando-as.
- Isso não vai adiantar... – advertiu Lars – Não contra o que eu farei com você.
- Isto se você fizer qualquer coisa. – Owen sorriu, assumindo uma posição felina como a do irmão.
Encararam-se por algum tempo. O céu nublado iluminou-se e o trovão inundou seus ouvidos. A umidade do ar elevou-se rapidamente. O vento trazia o aroma de terra molhada.
Sincronizados, os dois irmãos lançaram feitiços e aparataram. Os lampejos se encontraram e explodiram, ao mesmo tempo em que eles aparatavam lado a lado e iniciavam uma luta corporal. Socos e chutes eram desferidos e aparados. Encaravam-se, olhos nos olhos. Azul e verde, ambos sutis e vorazes. Quando um olhar era ligeiramente alterado, o outro aparatava instantes antes de um feitiço ser lançado e ressurgia ao lado do inimigo, retomando a luta.
Apesar de se odiarem, de se repudiarem e de desejar a morte um do outro, não podiam negar que possuíam estilos muito parecidos, se não idênticos. Um adivinhava o movimento do outro e agia de acordo com o que lhe era melhor. O outro utilizava dos mesmos artifícios para se defender e contra-atacar. Estavam lutando em sincronia e no mesmo nível de poder. A velocidade era um artifício natural e o reflexo era puro extinto.
Depois de algum tempo no mesmo estilo de luta, ambos notaram que não venceriam daquela maneira, teriam que utilizar de outros meios.
Lars aparatou, desviando de um forte soco do irmão, e ressurgindo às costas do mesmo. Sua expressão tornou-se selvagem, os dedos se contraíram e garras cresceram, a boca escancarou-se, mostrando os dentes impecavelmente brancos desenvolvendo-se em presas afiadas. Ele ergueu as mãos e enterrou as garras nos ombros de Owen, segurando-o firmemente e arrancando de seus lábios um urro de dor, inclinou-se com a boca aberta pronto para, com as presas, dilacerar o pescoço do oponente.
As mãos de Owen foram erguidas e seguraram Lars pelas laterais da cabeça. O loiro urrou. Owen puxou-o e arremessou-o por cima de si próprio, lançando-o para frente e se livrando de suas garras. Apesar da dor, Lars moveu o corpo e caiu de pé, os olhos selvagens fixos na figura do irmão que também havia se transformado, utilizado da animagia parcial.
Lars sentia o sangue escorrer pelos cortes feitos em torno de suas orelhas, exatamente onde as garras de Owen haviam se fixado. O vermelho também tingia as vestes de Owen, transbordando de seus ombros. Ambos ignoraram os ferimentos e a dor.
Owen rosnou e, caindo no chão, assumiu a forma de um imponente tigre siberiano branco. Mostrando as presas afiadas, disparou na direção do irmão. Lars grunhiu e começou a correr de encontro com o tigre. Alguns metros antes de o encontrar, porém, deu um salto e transformou-se no ar, caindo por sobre o irmão como um majestoso tigre siberiano marrom-alaranjado.
Rosnados, urros e grunhidos acompanharam os sucessivos trovões dos raios que iluminaram o céu. Este desabou sobre os gêmeos que lutavam feroz e cruelmente. A chuva encharcou o gramado seco e a pelagem dos felinos.
A luta entre eles permaneceu intensa e voraz com o decorrer do tempo. Ambos arfavam e sofriam com os golpes sofridos e o sangue perdido.
"Isto tem que acabar." - pensou Owen, desviando-se das presas do irmão.
Ele aproveitou-se do movimento de desvio e pulou sobre o dorso do irmão, enterrando suas garras e presas na carne dele. Lars desabou com a dor e o peso do irmão, um urro fugindo-lhe por entre as presas. Todo o seu corpo tremeu e abandonou a forma animada. Owen afastou-se do corpo humano, esticando as garras e cuspindo o sangue da boca. Lars arfou, o sangue escorrendo pela boca entreaberta, os olhos fitando o vazio. O tigre desapareceu, transformando-se em homem.
- Isto acaba aqui. - murmurou Owen, a voz entrecortada pela respiração pesada.
Lars gemeu, contraindo o rosto em uma máscara de dor, e apoiou-se sobre os braços.
- Como quer morrer, Lars? - perguntou Owen destituído de sentimentos - Posso lhe conceder a escolha.
Lars cambaleou ao ficar de pé, os olhos semi-cerrados e a boca escancarada, os destes, antes brancos, manchados de vermelho.
- Você não vai me matar... - sussurrou ele, cuspindo o sangue que possuía na boca.
- Decida, Lars, como quer morrer e eu cumprirei sua vontade. - Owen sorriu e completou arrogante - Serei misericordioso.
Lars soltou o ar, rindo. Owen fechou as mãos em punhos, irritado.
- Você é incrível, Owen. - a voz de Lars era fraca e profundamente divertida - Acha mesmo que tem o que precisa para me matar?
- O que quer dizer? - o moreno arqueou uma sobrancelha.
- Você é como o Cassius... - Lars riu antes de prosseguir - Não mataria alguém da família.
- Você não me conhece. - bradou Owen.
- Não, Owen... - Lars fitou-o sério e sombrio - Você não me conhece.
Um brilho verde escuro emanou do corpo do loiro. O brilho logo se tornou uma fonte forte de luz, obrigando Owen a erguer o braço para proteger os olhos. Quando o brilho cessou, Owen não teve tempo para pensar em nada, muito menos impedir qualquer coisa. Um punho acertou-lhe certeiro e forte no rosto, arremessando-o para trás. Antes que caísse no chão, sentiu uma dor latejante nas costas, exatamente onde um joelho o havia golpeado. Caiu sobre os joelhos, a dor nas costas imobilizando-o. Sua visão estava embaçada pela dor e ele não conseguiu ver o que aconteceu a seguir, apenas sentiu. Um chute potente acertou o queixo dele, jogando o corpo e a cabeça do moreno para trás.
Owen ficou imóvel no chão. O corpo latejando de dor começou a amortecer conforme a chuva forte caía sobre ele. A visão ainda estava embaçada. Contudo, ele pôde distinguir o contorno do corpo do irmão. Lars ficou ereto sobre Owen, os pés ladeando seu corpo. Ele inclinou-se sobre o irmão e segurou-o pela gola da blusa encharcada de sangue e água.
- Isto acaba aqui. – Lars repetiu a frase do irmão com um sorriso maníaco nos lábios ao aproximar o rosto do dele.
Owen tossiu, o sangue escorrendo pelo canto dos lábios. A visão tornou-se mais nítida e permitiu-lhe fitar o corpo do irmão. Lars não possuía nenhum ferimento grave, apenas as marcas e cicatrizes dos mesmos.
“Então foi isto...” – Owen conseguiu pensar – “Ele se curou...”
O moreno contraiu o rosto, a dor dando lugar a um sorriso maroto.
- Tenho de admitir... – tossiu novamente, o sangue salpicando na face de Lars – você é forte. – uma dor aguda transpassou pela sua expressão, desfigurando-a em uma mascara mórbida – Mamãe... – completou fraco – ficaria orgulhosa.
- Não ouse falar dela! – Lars jogou a cabeça de Owen contra o chão, a mão pressionando seu pescoço – Não fale da minha mãe!
- Nossa... mãe. – Owen conseguiu pronunciar, sufocando sob a pressão em sua garganta.
O rosto de Lars transfigurou-se em uma mascara de ódio. Sua mão fechou-se ainda mais em torno do pescoço de Owen, fazendo este gemer e ofegar.
- É aqui que você morre. – sussurrou Lars.
Ele espalmou a mão vazia sobre o tórax de Owen. Um brilho verde emanou de seus dedos e desviou-se para sua palma, concentrando-se ali.
- Que forma mais triste de morrer, Owen... – comentou Lars irônico – Um guerreiro branco morrendo pela magia branca de um bruxo que sequer foi ensinado. – e riu sombriamente.
Owen gritou de dor. Os olhos comprimindo-se, deformando ainda mais sua expressão. Lars pressionou a mão sobre o tórax do irmão, o rosto lívido de prazer.
- Te encontro no inferno. – murmurou Lars, deliciado.
O berro dolorido de Owen uniu-se a um grito mortificado do próprio Lars. O loiro se afastou de Owen, cessando o ataque, as mãos pressionando o próprio tórax, o rosto manchado de dor. Owen gemeu, sorvendo o ar com urgência.
- Maldito! – a voz de Lars soou rebelada e dolorida.
Ele se inclinou, a face contorcida de dor, as mãos sobre o peito. Owen fechou os olhos, procurando reunir forças e se concentrar para se curar. Os gritos de Lars permaneceram constantes, atrapalhando Owen, por um longo tempo. Depois, Owen só podia ouvir sua respiração fraca. O som de passos despertou-o e o fez abrir os olhos.
Lars estava novamente sobre ele, a face ainda contorcida de dor. Ele segurou-o pela gola da blusa e o ergueu, emparelhando seus olhares.
- Eu volto para acabar com você. – murmurou o loiro.
Com um movimento brusco, Owen foi jogado contra o chão e Lars aparatou.
“O que aconteceu?” – Owen conseguiu completar o raciocínio apesar da dor latejante no corpo todo.
A visão dele ficou turva. Ele começava a se sentir fraco, afinal, o sangue escorria de seus ombros em abundância. Fechou os olhos, procurando se concentrar. Tinha que se curar.
Um formigamento em seu tornozelo o fez gemer. Harry precisava de sua ajuda. Apesar do jovem ser muito mais forte que Owen, este ainda sentia quando o outro precisava de ajuda. Harry nunca tirara a tornozeleira prateada que Owen lhe dera.
“Eu tenho que me recuperar!” – rosnou Owen contra si mesmo.
A chuva ainda caia com força. Raios iluminavam o céu e trovões enchiam o ar de som. No meio de um gramado um brilho azul petróleo surgiu.
=-=-=
“Chegou à hora.”
Um gigantesco dragão negro surgiu no horizonte. Sobre ele, um homem estava de pé com um sorriso maníaco e vitorioso. O dragão brandiu as grandes asas, lançando uma rajada de vento sobre os terrenos de um castelo.
- Ataque! – um homem gritou, correndo através do gramado.
O dragão comprimiu o tórax e esticou o pescoço, abrindo a boca. Um jorro de chamas negras voou até o chão, atingindo o portão de ferro. O céu nublado ficou negro. Incontáveis dementadores guincharam, planando na direção do solo, as bocas abertas prontas para dar O Beijo. Centenas de homens encapuzados aparataram a frente das chamas, aguardando.
- Acabem com eles! – gritou o homem sobre o dragão assim que as chamas se apagaram.
As centenas de bruxos gritaram, correndo gramado a dentro. Maldições imperdoáveis foram lançadas no ritmo das respirações. De dentro do castelo explodiu um enxame de bruxos sedentos por luta. O terreno foi iluminado pelos patronos conjurados, que voaram até os dementadores. Estes não se deixaram abater e os patronos perderam as forças ao se aproximarem do imenso contingente de dementadores.
Duelos individuais se instalaram. Através do gramado surgiram centauros. Os arcos prontos para dispararem flechas cujas pontas brilhavam enfeitiçadas. Da Floresta Proibida, figuras altas e vorazes surgiram, uivando e grunhindo. Entre as centenas de bruxos encapuzados muitos uivaram e, rasgando suas vestes, transformaram-se em lobisomens altos e perigosos.
O caos estava instalado.
- Não tenham piedade! – gritou o homem sobre o dragão, que urrou.
“A vitória é nossa.” – a voz do dragão era banhada em prazer.
- TOM! – um grito percorreu todo o terreno, alto e forte.
O dragão virou-se para a voz, o homem sobre seu dorso possuía o semblante enfurecido.
- Quem ousa chamar o Dragão Negro por um nome humano?! – bradou ele.
- Seu pior pesadelo. – a voz gritou de volta, parecia sorrir.
“Mate-o, seja lá quem for.” – pediu Tom.
“Será um prazer.” – o Dragão Ancião das Trevas comprimiu o tórax novamente.
- Não faria isto se fosse você. – outra voz sugeriu.
“Quem ousa?!” – o dragão bufou, esticando o pescoço para visualizar melhor os humanos ao chão.
- Identifique-se! – exigiu Tom.
- OLHE PRA MIM! – gritou a voz.
Os olhos vermelhos de Tom e do dragão dirigiram-se para o ponto exato.
Sobre as escadas de entrada do castelo de Hogwarts, quatro figuras mantinham-se em pé, imponentes. Uma estava à frente das outras. Tom reconheceu-a instantaneamente.
- Potter?! – sussurrou Tom.
Harry sorriu, como se soubesse o que Tom dissera, e sabia.
- É um prazer vê-lo aqui, no final de tudo, Potter. – Tom recuperou-se da surpresa, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.
- É um prazer matá-lo, aqui no final de tudo. – o sorriso de Harry tornou-se superior.
- Já não está grande demais para ter sonhos, garoto? – riu Tom.
“Pare de brincar!” – rugiu o dragão, que mantinha os olhos fixos em Harry e nas figuras que o acompanhavam, analisando-os.
- Você não está velho demais para continuar vivendo? – questionou Hermione debochada.
- Insolente! – bradou Tom, os olhos fixos na morena.
- Vamos acabar com isto, sim? – perguntou Gina, um sorriso iluminando sua face.
“Ele está aqui... Nagini não deve ter proteção o suficiente para me impedir de trazê-la.” – pensou ela, marota.
- Traga-a. – pediu Harry, os olhos fitando Tom.
Gina moveu as mãos. Sob os pés dos quatro, uma enorme cobra surgiu. Tom ficou pálido. Rony retirou uma belíssima espada da bainha e, brandindo-a, decepou a cabeça da cobra.
- Acabou. – informou Harry, um sorriso aliviado e vitorioso nos lábios.
- Maldito! – gritou Tom – Mate-os!
O dragão urrou, o tórax previamente comprimido, o pescoço esticando.
Quatro fenômenos sincronizados deixaram Tom atônico. Uma labareda de fogo. Uma explosão de água. Um leve terremoto. Uma ventania. Quando o jorro de chamas negras atingiu as escadas, não havia mais ninguém.
“O que diabos...” – começou Tom.
Quatro urros tomaram todo o espaço. O Dragão Ancião das Trevas brandiu as asas, a cabeça virando-se para longe do castelo.
As nuvens carregadas de chuva foram empurradas com uma rajada de vento. Uma grande dragonesa revestida de cristais acinzentados surgiu, as enormes asas abertas, dando-lhe velocidade ao vôo. Hermione parecia entretida, as mãos amarrando os cabelos em um rabo de cavalo calmamente, os pés fixos sobre os cristais de Ária.
A floresta tremeu. Um grande dragão revestido de escamas verdes, ásperas e rochosas, saiu rastejando por entre as árvores sem lhes causar dano algum. Rony sorria, os braços cruzados, os músculos contraídos, por sobre o dorso de Terra.
A superfície congelada do Lado Negro trincou e derreteu-se em segundos. Uma belíssima dragonesa de gelo emergiu da água, as asas brandindo magnificamente, alçando vôo sob o céu nublado. Gina sorria marota, os cabelos secos e impecavelmente trançados, ereta sobre a base do pescoço de Acqua.
Da montanha mais próxima, um jorro vermelho explodiu de seu topo. Antes que o magma tocasse o solo ou qualquer coisa, estava solidificado; e a fissura sobre a montanha, fechada. Antes, contudo, que fechasse, um grande dragão coberto por rochas magmáticas surgiu, o magma líquido em seu corpo e asas brilhando vivo. Sobre sua cabeça, Harry sorria, a posição relaxada, os cabelos voando ao vento.
“Não é possível!” – exclamou o Dragão Ancião das Trevas.
“O que diabos é isto?!” – Tom estava aturdido, os olhos variando entre os quatro grandes dragões que se aproximavam.
Fuoco rugiu, parado no ar, os olhos vermelhos flamejantes fixos no inimigo.
“Oscurità.” – Harry podia jurar que Fuoco estava se segurando para não rir.
“Como disse?!” – perguntou o moreno.
“Nós possuímos nomes... ele também.” – respondeu Ária.
- Oscurità! – os quatro disseram.
- O que?! – questionou Tom.
- Surpreso, Tom, com isto? – Harry sorriu, as mãos apontando para Fuoco.
Tom fitou o dragão de fogo por alguns segundos, assimilando os novos acontecimentos.
“Potter é o...” – começou ele.
“Sim. Todos os quatro são o maldito Herdeiro Luz.” – Oscurità grunhiu, a boca escancarando-se para Fuoco.
- Então... – Tom assumiu uma postura ereta – vocês são os donos das energias.
- Até que ele não é tão burro, não é, Mione? – riu Rony sobre Terra, ambos sobre um grosso e altíssimo pilar de terra que os deixavam na altura dos outros dragões.
“Nunca subestime seus inimigos, Rony.” – censurou-o Hermione – “Principalmente se o seu inimigo é um dragão com o dobro do tamanho do seu.”
Rony deu de ombros.
- Você está diferente, Tom. Parece cansado. – exclamou Harry, os olhos nunca abandonando os olhos de Tom.
- Não me faça rir, Potter. – riu Tom – Você é que está diferente... Mais confiante. – um sorriso desdenhoso surgiu em seus lábios – Mas, será mesmo que está mais forte?
- Quer provar? – Gina flexionou levemente os joelhos, assumindo uma posição perigosa.
“Vamos acabar com isto.” – exigiu Oscurità.
“Como queira.” – Tom sorriu para Gina.
Tudo foi muito rápido.
Oscurità moveu o rabo, arremessando-o contra Terra. Este rugiu, jogando o próprio rabo contra o do inimigo. O rabo negro enrolou-se em torno do rabo de Terra e o arremessou contra Ária. A dragonesa brandiu as asas, desviando-se. Oscurità girou as asas espinhosas contra Acqua, que desviou ao mergulhar na direção de Terra, envolvendo seus flancos com as patas e impedindo-o de cair no lago. Um jorro de chamas negras voou na direção de Fuoco, que cuspiu uma rajada de chamas vermelhas.
O encontro ambas as chamas produziu uma explosão de som e luz. Muitos combatentes no solo ergueram os olhos para ver.
Tom rugiu, as mãos fechando-se em punhos de frustração e raiva.
“Acabe com eles!” – ordenou.
“Cale-se!” – grunhiu Oscurità, calando-o.
- Ele é habilidoso. – Rony já não sorria, enquanto um novo pilar de terra subia aos céus para sustentar Terra.
- Mas nós somos mais rápidos. – o olhar de Gina ainda era confiante.
“Nós resolvemos nossas desavenças... agora acabe com eles!” – gritou Tom, os olhos raivosos sobre Oscurità.
“Potter e seus companheiros são o Herdeiro Luz. Isto muda tudo.” – o olhar de Oscurità oscilava entre os quatro Dragões – “Segundo a profecia humana que te liga ao garoto, ele é o único que pode te matar. Devemos tomar o dobro de cuidado.”
Tom bufou e se recompôs.
- Pronto para pedir misericórdia a alguém superior, Potter?
- Superior?! – riu Harry – Você é tão humano e mortal quanto qualquer um de nós.
- Mortal. – Tom cuspiu a palavra como se fosse um palavrão – Não sabe o que fala, garoto.
- O seu querido diário. – disse Gina, mostrando a mão com um dedo erguido.
- O anel de seu avô, Gaunt. – Rony mostrou sua própria mão com outro dedo erguido.
- O medalhão de Salazar Slytherin. – Hermione imitou-os.
- A taça de Helga Huffle-puff. – Gina ergueu outro dedo.
- O diadema de Rowena Ravenclaw. – Rony ergueu a outra mão com mais um dedo erguido.
- E sua amada cobra, Nagini. – Hermione seguiu o padrão de Gina.
- Objetos familiares? – Harry sorriu da palidez crescente de Tom.
- Vocês... – a voz de Tom tremeu tamanha era sua raiva – Vamos matá-los. – sussurrou para o Dragão Ancião das Trevas.
“Será um prazer.” – grunhiu Oscurità.
Os quatro dragões elementais moveram-se em sincronia, defendendo-se dos ataques rápidos e vorazes do inimigo.
“Mandem-no para mim assim que puderem.” – pediu Terra, o pilar de terra descendo até ele pousar no solo.
“A única coisa que não gosto de você é desse seu ponto fraco.” – Rony fechou a cara, vendo os amigos lutando contra Tom – “Seria ótimo se você voasse.”
De fato, Rony estava completamente certo. Se Terra voasse, seria um aliado importantíssimo e até mesmo decisivo naquela luta. Apesar de serem três, Fuoco, Acqua e Ária não conseguiam sequer atacar Oscurità. Ele era mais habilidoso e demonstrava mais agilidade com o passar do tempo.
A velocidade crescente do Dragão Ancião das Trevas devia-se à batalha como um todo. Nos terrenos do castelo a situação era cada vez mais caótica.
Os patronos não surtiam efeito algum sobre a grande quantidade de dementadores, que contavam cada vez mais vítimas. Os comensais aproveitavam-se da fragilidade de seus oponentes e abatiam-nos em quantidade cada vez mais crescente.
A vitória caindo nas mãos de Tom fortalecia o Dragão Ancião das Trevas. O medo e a perda de esperança dos combatentes contribuíam para essa força extra.
Os comandantes tentavam reverter à situação com pouco sucesso. Os lycans eram os que traziam esperança para os aurores. Os lobisomens não resistiam à força e velocidade dos inimigos, padecendo com facilidade. Contudo, os próprios lycans eram afetados pelos dementadores.
- Traga Andrew! AGORA! – grunhiu o Alfa a um dos seus guerreiros, que saiu em disparada para a Floresta.
Alguns dementadores, porém, interceptaram-no, dando-lhe O Beijo antes que pudesse fugir ou contra-atacar, inutilmente, de alguma maneira.
As nuvens se dissolveram em chuva e granizo, banhando o campo de batalha.
“Acqua!” – gritou Gina.
A dragonesa de gelo inspirou longamente, esticando o pescoço na direção de Oscurità. Um sopro gélido saiu de sua boca, congelando as gotas de água e deformando-as em cristais pontiagudos.
“Ária!” – Hermione segurou-se aos cristais da dragonesa.
Com um jogo das gigantescas asas, Ária arremessou os cristais de gelo na direção de Oscurità. Fuoco aproveitou-se dos movimentos das companheiras para voar em torno do inimigo e cuspir uma rajada constante de fogo.
O Dragão Ancião das Trevas rugiu, como se gargalhasse, e se encolheu em uma bola, envolvendo-se com suas próprias asas espinhosas. As chamas e os cristais de gelo acertaram-lhe com força enquanto ainda flutuava no ar.
“Vamos fazer algo!” – exigiu Rony com ferocidade.
“Com todo o prazer.” - Terra abaixou o corpo até tocá-lo por completo no chão – “Segure-se.”
Rony ajoelhou-se no dorso do dragão e segurou em suas escamas. Com um movimento abrupto, Terra impulsionou o corpo para o alto. O solo tremeu, levando muitos combatentes ao chão. O grande dragão voou alto o suficiente para emparelhar-se com o inimigo. Ambos, Terra e Rony, sorriram vitoriosos, prontos para atacar com força. Os outros interromperam seus ataques para não atingi-los ou atrapalhá-los.
Oscurità, no entanto, parecia aguardar tal ataque. A bola negra e espinhosa abriu-se rápida e voraz. Os longos espinhos das asas acertaram a cabeça e o tórax de Terra, ferindo-o. Oscurità escancarou a boca, o olhar lívido de prazer, e cuspiu uma grande bola de chamas negras.
- RONY! – o grito de Hermione cortou o céu.
“Terra!” – o grito de Ária foi tão doloroso quanto o de sua guerreira.
- Harry! – chamou Gina enquanto Acqua já iniciava um mergulho.
Fuoco seguiu-as, mergulhando na direção de Terra, que caia rápido em direção à floresta.
A gargalhada fria de Tom ecoou vitoriosa.
“Isso!” – exclamou.
- Sua vez. – virou-se para Hermione, que se mantinha parada sobre uma Ária ainda mais imóvel.
“ACORDE ÁRIA!” – o urro de Terra soou forte e sofrido.
A dragonesa despertou e brandiu as asas a tempo de desviar de uma rajada de chamas negras.
- Vingue-se. – clamou Hermione, os olhos semi-cessados de raiva fixos em Tom, inclinando-se sobre Ária para diminuir o atrito com o ar e dar-lhe maior velocidade e flexibilidade.
- Não seja tola, garota. – desdenhou Tom – Se vocês não podem conosco atacando em grupo, quem dirá você, sozinha.
Ária rugiu e voou veloz na direção de Oscurità.
Enquanto isto, Acqua e Fuoco já seguravam o companheiro ferido e carregavam-no até o chão. Terra tentou erguer-se, porém, suas pernas tremeram e ele foi ao chão.
- Rony? – Gina esticou o pescoço para tentar ver o irmão.
“Ele está bem.” – informou Terra, chacoalhando o corpo.
As escamas verdes moveram-se e revelaram Rony, deitado, com os olhos arregalados e atônitos.
“Vão ajudar Ária.” – pediu Terra – “Vou me recuperar e logo me unirei à vocês.”
Os dragões do fogo e da água alçaram vôo.
Quando alguns metros separavam Ária de Oscurità, a dragonesa fechou as asas e girou o corpo, voando como um parafuso na direção do inimigo.
“Patético.” – desdenhou Oscurità.
Comprimindo o tórax e escancarando a boca, o Dragão Ancião das Trevas lançou um jato de chamas negras na direção de Ária. Esta, porém, devido ao seu movimento giratório, dispersou as chamas. O movimento parou e o olhar de Ária foi vitorioso sobre o surpreso de Oscurità. A mandíbula da dragonesa contraiu-se e ela mordeu feroz na base do pescoço do inimigo, arrancando-lhe um urro doloroso.
“Reaja!” – exigiu Tom.
“Ataque-o!” – ordenou Ária.
Oscurità foi mais rápido que Hermione. Seu rabo foi lançado com toda a força contra o dorso da dragonesa, que urro e relaxou a mandíbula, brandindo as asas para se afastar.
Sem ter tempo para se recuperar, Oscurità abriu ainda mais as asas, esticando seus afiados espinhos, e girou.
Fuoco e Acqua, que se aproximavam velozes, foram atingidos, assim como Ária, que não se afastara o suficiente, e foram jogados a esmo.
Tom gargalhou vitorioso e deliciado pelos gritos dos inimigos.
Assim como na luta entre os dragões, na batalha sobre os terrenos Tom levava vantagem. Era certo que grande parte dos lobisomens já havia sido abatida e que os lycans dirigiam-se em uma luta sem esperança contra os dementadores incansáveis e insaciáveis. Comparando os centauros com os bruxos, as criaturas tinham vantagem contra os comensais. Eram fracamente afetados pelos dementadores e, assim, tinham total controle sobre suas emoções e ações, não deixando que os inimigos tirassem vantagem disto, como faziam contra os bruxos.
Os únicos bruxos que pareciam levar total vantagem sobre os comensais não estavam, de fato, usando de seu total potencial.
- Concentre-se, está bem? – pediu o homem.
- Cala a boca, Cassius! – bradou a mulher – Você está tão desligado quanto eu. Dorme!
- Eu sei, Sarah. – suspirou Cassius – Mas, mesmo estando desligado, eu ainda estou conseguindo acabar com os comensais. Congelare!
- Cale-se! – gritou Sarah, pondo mais alguns comensais para dormir.
- Eu também estou preocupado com o Owen. – admitiu Cassius sem perder a atenção da luta.
O mago ouviu um suspiro da mulher e decidiu encerrar o assunto. Ele dirigiu o olhar para o céu, buscando seus antigos aprendizes.
O Dragão Ancião das Trevas planava imponente, os olhos fixos nos inimigos caídos. Tom gargalhou e permitiu-se admirar a batalha. Sentiu-se pleno ao perceber que estava caminhando para a vitória.
“A Elite pode entrar na batalha.” – informou Oscurità sem que seus olhos desviassem dos inimigos.
“Sim. Estamos ganhando com este contingente. A Elite pode entrar na batalha e trazer o resto.” – Tom riu sob a eminente perspectiva da batalha.
Concentrando-se, Tom chamou todos os membros da Elite. A marca gravada no tórax de cada membro da Elite ardeu e todos souberam que era a hora de entrar na batalha.
O Dragão Ancião das Trevas urrou e Tom gargalhou quando um enxame de comensais aparatou na frente do portão de Hogwarts. Mais da metade dos novos lutadores urraram e se transformaram, adentrando como lobisomens nos terrenos.
“Assim que eles se erguerem...” – Oscurità apontou com a cabeça para os dragões caídos – “Daremos nosso golpe de misericórdia.”
“Separe Potter daquele dragão... quero eu mesmo arrancar a vida de seu corpo imundo.” – os olhos de Tom brilharam deliciados.
=-=-=
Terra arfava. O corpo contra o solo.
- Você está bem? – quis saber Rony ao ver um líquido vermelho escorrer pelo chão.
“Os espinhos dele são muitíssimo afiados.” – murmurou Terra, concentrando-se em se curar – “Ficarei bem em alguns minutos.”
=-=-=
Ária estava estirada no chão, entre as árvores da Floresta Proibida. Ela tossiu e cuspiu um liquido negro e pegajoso.
- O que é isto? – perguntou Hermione.
“É o sangue dele.” – a voz de Ária foi fraca, para surpresa de Hermione.
- O que foi? – Hermione preocupou-se.
Ela se virou e visualizou o ferimento no dorso da dragonesa. Parecia ser fundo e já sangrava com abundância, contudo, não parecia ser muito grave para os padrões dos dragões. Ela já conseguia ver o corpo de Ária se curando. A fraqueza na voz da dragonesa não podia ser explicada pelo ferimento.
“É venenoso...” – Ária tossiu novamente, despejando mais liquido negro, que agora levava mesclas de seu próprio sangue – “O sangue dele é venenoso.”
=-=-=
Acqua fora arremessada contra o castelo. Numa manobra rápida, ela se metamorfoseou em água líquida e atingiu com toda a força a parede de pedra da escola. A parede permaneceu inabalável. A dragonesa, entretanto, sentira toda a força do impacto como se estivesse na forma normal, urrou de dor e caiu no chão, onde não havia combatentes. Gina, também metamorfoseada, rolou sobre o dorso de Acqua e caiu no gramado.
“Você está bem?” – a voz de Acqua foi como um fio de água.
Gina gemeu, voltando à forma humana, e forçando as pernas para se erguer.
- Vou ficar... e você? – aproximou-se ela da dragonesa, enquanto esta também voltava à forma normal.
A resposta foi a pior que Gina gostaria de ter. O tórax de Acqua se comprimiu, sendo seguido pelo pescoço. A boca dela escancarou-se quando uma bola de sangue abriu passagem.
- Acqua! – Gina correu até a cabeça da dragonesa, os braços envolvendo-a.
“Não se preocupe.” – pediu Acqua – “Foi somente um ferimento causado pelo impacto no cast...”
Novamente o corpo dela se contraiu e a boca deixou escapar outra golfada de sangue.
- Por Merlim, Acqua! – exclamou Gina, desesperada.
=-=-=
Sob as águas geladas e escuras do Lago Negro, Fuoco tentava voltar à superfície. Ao conseguir tal feito, urrou tanto de raiva quanto de dor.
- Você consegue sair daqui? – perguntou Harry, a face em uma mascara de preocupação.
“Ainda não.” – gemeu o dragão.
- Você tem que se aquecer. – Harry fitou os fios de magma escurecer.
“Não se preocupe.” – disse Fuoco.
- Vou te aquecer. – Harry se ergueu.
“Não!” – rugiu Fuoco.
- Por quê? - questionou Harry.
“Você sabe por quê.” – respondeu o dragão.
=-=-=
Cassius voltou sua atenção para os inimigos, vencendo-os com rapidez. Sarah fazia um belíssimo trabalho, de costas para ele. Ela arfou, o ar fugindo de seus pulmões. Cassius ouviu-a e sentiu uma sensação estranha, a mesma sensação que ela sentia, mas em proporções menores. Havia uma nova energia na batalha, uma energia forte e instável. Automaticamente, Cassius olhou em volta, procurando o dono da energia.
- Quem é? – perguntou Sarah, respirando fundo – Eu reconheço... mas não consigo dizer de quem.
- Lars. – sussurrou Cassius pouco depois.
Sarah gelou. Se Lars estava em Hogwats era porque Owen havia... Ela não podia sequer cogitar a hipótese.
- Vamos atrás dele. – exigiu ela, enraivecida.
Cassius engoliu em seco. Havia chegado a hora. Lutaria contra Lars sem saber realmente se gostaria de fazê-lo. E pior, não sabia se Owen estava vivo. Sarah não esperou nenhuma resposta à exigência dela, virou-se na direção dos portões e começou a abrir caminho por entre os comensais. Cassius seguiu-a, cuidando das costas de ambos, calado.
Com a chegada do novo contingente de Tom, as faces dos aurores foram tomadas por máscaras de desespero.
- Lutem! – gritavam os membros da Ordem.
Os lycans desistiram de lutar contra os dementadores e despejaram seus ataques contra os recém-chegados lobisomens. Os centauros galoparam velozes sobre os comensais e brandiam seus arcos, atirando as flechas enfeitiçadas contra os inimigos.
- Acabem com eles! – rosnou Fenrir Greyback enquanto se transformava.
- Greyback! – um urro veio do batalhão de lycans, um lycan castanho tomando a frente – Você é meu.
O lobisomem gargalhou, curvando-se para pular no inimigo.
“Vou te vingar... limparei a honra de sua linhagem, de seu sangue.” – pensou o lycan movendo-se veloz na direção do inimigo – “Uma promessa feita por Remo Lupin sempre é cumprida.”
As lutas entre os lycans e os lobisomens eram ágeis e brutais, contudo, nenhuma foi tão feroz quanto a entre Grayback e Lupin.
Os membros da Elite comandavam os comensais recém-chegados e os que já lutavam. Estavam claramente visíveis Lúcio Malfoy, Rodolfo Lestrange, Amico e Aleto Carrow e Dolohov movendo as varinhas com habilidade e gritando ordens e feitiços.
- Snape?! – Lúcio exclamou ao encontrar com ele no meio da batalha.
- Surpreso, Malfoy? – desdenhou Snape, atacando.
- O que está fazendo?! – defendeu-se Lúcio.
- Sectusempra! – um grito veio do lado de ambos.
Lúcio foi atingido em cheio e voou por vários metros. Snape virou-se para o atacante, um sorriso orgulhoso nos lábios.
- Parabéns Draco. – parabenizou sincero.
- Vamos acabar com eles. – sorriu Draco, a varinha apontando para os próximos oponentes.
O cansaço já atingia os defensores de Hogwarts. A chuva era tempestuosa e o granizo feria todos com a força do vento.
Um rugido cortou o céu.
O Dragão Ancião das Trevas abriu a boca, os olhos desejosos por luta e, principalmente, por morte.
Os dragões elementais se ergueram, recuperados. Seus guerreiros voltaram aos seus dorsos. Fuoco, Acqua e Ária alçaram vôo.
“Como vocês estão?” – perguntou Gina.
“Ária está envenenada. Não aguentaremos por muito tempo.” – a voz de Hermione era embaçada, era evidente que havia chorado.
“Não se preocupem conosco.” – disse Terra, erguendo-se sobre as patas traseiras e urrando para o inimigo – “Preocupem-se em manter a concentração em nossos movimentos e em nossas habilidades.”
“Concentrem-se em si mesmos. Estamos unidos... nossas habilidades são um reflexo da de vocês.” – a voz de Ária era fraca e não conseguia ocultar toda a dor.
“Vamos acabar com isto.” – Fuoco urrou, aproximando-se veloz de Oscurità.
- Querem mais uma seção de surra ou já vão pedir por misericórdia? – desdenhou Tom.
Uma segunda luta se iniciou. O Dragão Ancião das Trevas não teve piedade. Sua velocidade e força estavam elevadas e ele as usava com brutalidade. Os três dragões elementais estavam mais fracos, mais lentos, os ferimentos ainda levemente abertos e sangrando.
Terra não ficou parado desta vez. Em parceria com Rony, ele moveu a terra, criando um caminho através do lago e rastejou até ficar sob o inimigo. O dragão esticou todo o corpo e, após contrair o tórax, escancarou a boca.
- Wow! – exclamou Rony, excitado.
Um jorro de lama voou denso e rápido.
“Congele.” – pediu Terra com um sorriso.
Acqua afastou-se de Oscurità, interrompendo uma tentativa de ataque, deu um loop para trás e soprou o ar gélido na direção da lama, que congelou instantaneamente, transformando-se em rochas pontudas.
“Ridículo”. – desdenhou Oscurità – “O mesmo ataque nunca funciona duas vezes.”
“Nem o primeiro funcionou.” – riu Tom – “Acabe logo com isto.”
“Não precisa pedir.” – urrou o dragão.
Pouco antes que as rochas lhe atingissem, Oscurità girou as asas completamente abertas. Ária e Fuoco desviaram-se a tempo, mas não preverão a próxima ação do inimigo. Com a boca, o Dragão Ancião das Trevas segurou Ária, que, devido ao envenenamento, estava cada vez mais fraca e lenta, pelo pescoço e arremessou-a contra as rochas. A dragonesa urrou pelo ataque do dragão e pelas rochas que a atingiram com força, perfurando-a.
“Não!” – o grito de Terra foi desesperado.
- Hermione! – exclamou Harry que, por estar mais acima, viu uma rocha atingir a amiga e feri-la gravemente.
Ao prestar atenção na amiga, Harry esquecera-se de Tom e de seu dragão. Oscurità aproveitou-se disto e se aproximou, a boca aberta e pronta para cravar as presas em Fuoco.
- Harry! – gritou Gina.
Sincronizados, Fuoco e Harry ergueram o olhar e depararam-se com o inimigo muito próximo, próximo o suficiente para não lhes permitir desviar.
- Acabou, Potter. – exclamou Tom, confiante.
A mesma confiança do bruxo era visível nos olhos do dragão, uma confiança forte e inabalável.
“Confiança em excesso.” – Harry sorriu levemente – “Ataque.”
“Você é maluco... mas eu gostei da ideia” – Fuoco comprimiu o tórax o mais rápido que pôde.
Uma bola de chamas vermelhas voou contra o Dragão Ancião das Trevas, pegando-o, pela primeira vez, desprevenido. Em um movimento rápido, Acqua modificou a estrutura da água que molhava o corpo de Oscurità, transformando-a em combustível. A bola de fogo atingiu o corpo do dragão quando ele brandiu as asas, para tentar desviar, e deixou o tórax completamente exposto. As chamas espalharam-se rapidamente, arrancando urros do dragão e do guerreiro.
Enquanto isto, Ária caia no ar. Terra moveu a terra e se pôs abaixo dela, pulou e a segurou, caindo firme sobre as pernas logo depois.
- Hermione! – Rony pulou do dorso de Terra para o da dragonesa.
Hermione estava caída, ajoelhada e de cabeça baixa, as mãos pressionando o flanco direito. O sangue já empapava suas vestes e tingia suas mãos de vermelho. Ária tossiu. O sangue da dragonesa atingiu o tronco de Terra, mesclando-se ao sangue do dragão. Ele abaixou-se e soltou delicadamente Ária sobre o solo.
“Ária?” – perguntou Terra, preocupado.
- Rony... – Hermione gemeu quando ele se abaixou à sua frente, os olhos encontrando os dele.
- Ah, Mione. – Rony estendeu as mãos para tocá-la, ela gemeu ao toque e ele recuou – Desculpa.
- Tudo bem. – Hermione fez uma careta de dor – Ajude-me a me curar.
Ela retirou uma das mãos do ferimento e segurou a mão de Rony, colocando-a sobre o ferimento. Ambos se concentraram e murmuraram o feitiço de cura. Um brilho verde amarelado circulou as mãos dos dois e inundou o ferimento dela, curando-o lentamente.
“Ária concentre-se, está bem? Vou te ajudar.” – Terra se inclinou sobre o corpo da dragonesa.
“Não!” – urrou ela, abrindo as asas e afastando o companheiro.
- Ária! – exclamou Hermione, escandalizada – Assim você vai morrer!
“Eu sei o que estou fazendo...” – gemeu a dragonesa – “Vá para o seu dragão, Corpo.”
- Tome cuidado. – pediu Rony, as mãos acariciando o rosto ligeiramente pálido de Hermione para, em seguida, beijá-la rapidamente.
- Você também. – ela sorriu enquanto ele pulava sobre o dorso de Terra.
Ária ergueu-se tremula e brandiu as asas feridas, alçando um vôo lento e instável.
O Dragão Ancião das Trevas se contorceu aos berros, as chamas vermelhas queimando-o. Acqua aproximou-se de Fuoco.
“O que vamos fazer agora?!” – perguntou Gina, uma mescla de desespero em sua voz.
“Não faço ideia.” – suspirou Harry.
Oscurità mergulhou, descendo na direção do Lago Negro.
“Não deixe.” – ordenou Fuoco.
Acqua e Gina concentraram-se por alguns instantes. Logo depois, a superfície do Lago Negro estava completamente congelada.
O Dragão Ancião das Trevas abriu a boca e um jorro de chamas negras voou em direção à superfície congelada. Antes, entretanto, que as chamas chegassem perto do gelo, uma rajada de vento dissipou-as.
“Obrigado, Ária.” – agradeceu Acqua.
“É o que eu consigo faz...” – uma tosse interrompeu a dragonesa do ar e o sangue salpicou na superfície do lago.
Um impacto estrondoso atraiu a atenção de todos. Oscurità estava sobre a superfície de gelo, caído.
“Ele achou mesmo que conseguiria quebrar o todo o lago congelado.” – riu Acqua.
Terra riu do comentário da companheira e rastejou rápido sobre a superfície congelada. O corpo do Dragão Ancião das Trevas ainda queimava e os gritos de Tom eram ensurdecedores. Terra chegou mais perto e brandiu o rabo pesado na direção da cabeça do inimigo.
Os três dragões no céu sorriram, certos que era um golpe forte o suficiente para matá-lo. O grito que se ouviu, logo depois, deixou todos em choque.
O rabo de Terra estava preso entre as presas de Oscurità. Nenhum resquício de chamas permanecia sobre as escamas espinhosas e negras do dragão. Tom sorria triunfante, ereto.
- Achou mesmo que nós seriamos facilmente feridos? – gargalhou ele.
O Dragão Ancião das Trevas apertou ainda mais a mordida, arrancando de Terra um urro de dor. Em seguida, Oscurità arremessou o dragão da terra para os céus, na direção de Fuoco e Acqua, rápido demais para que eles desviassem.
Terra era muitíssimo pesado e, somente o impacto de seu corpo no corpo dos companheiros, foi o bastante para feri-los. Os três dragões, embolados uns nos outros, caíram entre as árvores da Floresta Proibida, produzindo estrondos consecutivos.
Ária tossiu mais uma vez e suas asas não suportaram mais. Ela deu um último impulso e voou na direção da floresta, caindo sem controle por entre as árvores.
- A vitória é nossa! – gritou Tom.
O Dragão Ancião das Trevas rugiu triunfante, um jorro de chamas negras sendo lançadas no céu.
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