Os Quatro Elementos
Capítulo 21 – Os Quatro Elementos
Sábado. Finalmente o aclamado fim de semana e ele era muito mais apreciado pelos alunos de Hogwarts, pois naquele sábado vinha a oportunidade de espairecer, de fugir dos olhares e “comandos” dos refugiados. Era o único momento que podiam tentar ser felizes.
Luna acordou com esse sentimento. O sentimento de ser feliz, mesmo que fosse apenas por um dia ou por poucas horas. A primeira coisa que ela viu foi a neve. Ela sorriu mais ainda, adorava neve. Um sorriso maroto preencheu os lábios dela, já que eles precisariam se esquentar. Com uma risada ela começou a se arrumar.
Todos os alunos foram escoltados ao vilarejo pelos professores. Estes permaneceram andando pelos locais e parados nas entradas. Luna aprovou a segurança, apesar de estarem tentando esquecer, eles ainda continuavam em guerra. Quando ela entrou no Três Vassouras olhou diretamente para o relógio. Estava um pouco adiantada, dez minutos. Seu olhar percorreu todo o bar, que estava praticamente vazio. Alguns alunos haviam chegado antes dela e estavam sentados, pedindo cervejas amanteigadas. Mas sua atenção parou em um canto mais afastado. Neville já havia chegado.
De forma calma e lenta ela caminhou até ele. Seus olhares cruzando-se intensamente. Quando ela chegou mais perto ele levantou e se adiantou. Um abraço forte foi trocado. Um abraço de saudades.
- Bom dia. – murmurou ela no ouvido dele, fazendo-o arrepiar-se.
- Bom dia. – respondeu ele da mesma maneira, obtendo o mesmo resultado.
Eles se afastaram e se olharam encabulados. Ela segurou o queixo dele e lhe deu um leve beijo, sentando-se logo depois.
- Quer algo Luna? – ele corou levemente e se sentou.
- Ainda não. – ela sorriu com a vergonha dele.
- Você precisa se esquentar, está caindo muita neve. – falou ele preocupado.
- Eu estou bem. – ela sorriu ainda mais – Já faz muito tempo que está aqui?
- Não. Faz cinco minutos que cheguei.
Ela olhou pela janela, procurando as sentinelas da Ordem e da alcatéia de lycans.
- Procura algo? – ele acompanhou o olhar dela.
- Você se importa de procurar comigo as sentinelas da Ordem? – perguntou ela, encabulada, afinal eles estavam tendo um “encontro”.
- Claro que não. – ele sorriu – Também acho bom nós sabermos onde eles estão e perguntar se está tudo bem. – ele se levantou e estendeu a mão.
Ela tomou a mão dele e, cruzando seus dedos aos dele, começou a andar. Alguns alunos olharam-nos e sorriram, eram alunos da AD. Neville cumprimentou-os com um aceno da cabeça e Luna com um aceno de mão, ao que foram cumprimentados em retorno pelos mesmos movimentos.
Lá fora estava muito frio. O vento estava forte e a neve caía com força. Seus pés se enterravam na grossa camada branca que já tomava o chão. Alguns alunos usavam magia para tentar limpar o excesso, mas caia muita neve e qualquer tentativa de limpeza era frustrada.
O casal caminhou pelo vilarejo, buscando com o olhar as sentinelas, mas não avistou nenhuma. Neville parou-os e, aproximando-se do ouvido dela, murmurou:
- Eles devem estar disfarçados. Talvez não queiram passar aos alunos a sensação de perigo constante.
- Talvez. – ela colocou o braço sobre o ombro dele e a mão sobre sua nuca, aproximando-os ainda mais – Porém, nós estamos sob perigo constante.
- Nós, os alunos; ou nós, eu e você? – perguntou ele de forma marota, aproximando-se ainda mais dela.
- Ah... – ela riu de leve – Isso é você que vai ter que descobrir.
Iam se beijar novamente quando foram chamados.
- Longbottom! Longbottom! – gritou uma voz.
Eles olharam para os lados e avistaram um casal correndo na direção deles.
- McWell! – Neville reconheceu o homem quando ele se aproximou – Que prazer te ver aqui.
- Eu acho que você vai perder esse prazer em brebe. – falou Owen, respirando com dificuldade.
- Por que diz isso? – perguntou Luna.
- Ah... – Neville sorriu envergonhado – Essa é Luna Lovegood. – ele apontou para a loira – Esse é Owen McWell e... – ele parou, pois não sabia quem era a mulher.
- Sarah Sanderson Black. – Sarah sorriu de leve – Prazer.
- Não temos tempo para apresentações. – Owen olhou-os sério – Temos que levar todos para Hogwarts.
- Por quê? – perguntou Luna novamente.
- Hogsmeade será atacada! – respondeu Owen um pouco mais alto do que deveria.
- Fala baixo! – Sarah puxou o braço do noivo ao constatar que muitos alunos próximos haviam ouvido.
- Do que você está falando? – Neville ficou completamente sério.
Mas Owen não respondeu. O pavor tomou sua face. Ele viu, como se cada segundo fosse uma eternidade, um floco de neve negro cair sobre a face clara de Luna. Ele olhou para cima. Os outros três também olharam e o pavor tomou-os com igual brutalidade.
As nuvens estavam negras como carvão. Criaturas de mantos e capuzes negros desciam vertiginosamente na direção deles. Antes mesmo que os quatro pudessem dar qualquer sinal do ataque, guinchos demoníacos chegaram aos ouvidos de todos. Todos na vila levaram as mãos até os ouvidos enquanto dirigiam seus olhares para o céu. De dentro das nuvens quatro gárgulas aladas e negras surgiram e grunhiram, sobre suas costas quatro seres estavam sentados, controlando-as.
Todos na vila gritaram. Logo, lampejos de inúmeras cores subiram aos céus, na direção daquelas criaturas malignas. Owen não ficou parado, sua varinha se movia habilidosamente. Sarah o seguiu com igual habilidade.
- Chamem reforços! – gritou Owen para os dois mais jovens
- Ok! – responderam Luna e Neville, começando a correr.
A loira avistou um homem em particular e correu até ele. Porém, quando chegou perto deste já não havia homem nenhum, mas sim um forte e grande lycan. Ele a viu e a reconheceu da reunião.
- Chame ajuda! – gritou ela enquanto sacava a varinha.
Ele não respondeu nada, apenas sorriu e, erguendo-se, uivou o mais alto que pôde. Em seguida eles ouviram mais meia dúzia de uivos. Os seres sobre as gárgulas gritaram e novamente todos na vila tamparam os ouvidos. O grito era demoníaco. Fino e frio, como se A Morte estivesse chamando. As criaturas chegaram ao solo e começaram a atacar.
A Marca Negra reluziu verde e morta no céu escuro. Muitos comensais aparataram na entrada da vila e juntaram-se ao ataque. Instantes depois, uma incrível massa aparatou no mesmo local. Entre eles estavam a Ordem da Fênix e os lycans da equipe Beta acompanhados pelo Alfa. Vindos dos fundos da vila, da direção da Casa dos Gritos, centauros surgiram cavalgando, com arcos e flechas em punho.
Os professores também entraram na batalha. Os alunos foram divididos, os que não tinham como lutar, ou seja, não participavam da AD, foram mandados de volta ao castelo via chave de portal; e os membros da AD demonstravam incríveis habilidades. Luna e Neville não ficaram parados. Eles entraram no centro da batalha e começaram a comandar os alunos.
As gárgulas voaram rasantes e com as suas garras tentavam – e conseguiam – prender pessoas e arremessá-las para o alto e para a morte. Os lycans lutavam contra aquelas criaturas malignas do exército sombrio. A Ordem da Fênix dividiu-se, parte atacava os comensais; e a outra parte, contendo grande maioria dos membros da Ordem, tentava ajudar os lycans. Dentre essa última parte, um uivo peculiar foi emitido e um lycan de pêlos castanhos ergueu-se esguio e imponente. Com um urro ele infiltrou-se por entre os outros lycans e, como um igual, batalhou com eles.
A AD demonstrava que as incansáveis horas de treinamento não haviam sido em vão, com grande habilidade os alunos tomavam o lugar do menor grupo da Ordem da Fênix e, entre gritos, seus comandantes conversavam.
- Moody! – gritaram Luna e Neville ao ver o ex-auror a quase cinco metros.
- Estou ocupado. – respondeu o homem entre feitiços que lançava contra dois comensais que tentavam derrubá-lo.
- Tire a Ordem daqui! – gritou Luna enquanto atacava os comensais que avançavam pelas costas de Moody.
- A AD cuida deles! – Neville seguiu a garota – Use a Ordem para lutar contra esse maldito exército.
- Vocês têm certeza que conseguem acabar com os comensais? – Moody fitou-os com o olho mágico sem deixar de lado os dois comensais que ainda o atacavam.
A resposta do casal foi a melhor possível. Eles atingiram quatro comensais que os atacavam pelas costas e os dois outros que atacavam Moody com poucos movimentos e rápidos segundos. Moody apenas olhou-os, seu olhar dividia-se em espanto e orgulho.
- Vai logo! – gritou o casal, divertido, voltando a atacar os comensais que se aproximavam.
Moody não esperou que eles falassem novamente. Ele se afastou um pouco e, com a varinha no pescoço, gritou:
- Ordem da Fênix! Seu alvo é o maldito exército! Deixem os inúteis comensais para os alunos!
Mal ele terminou, gargalhadas soaram. A Ordem da Fênix e a AD riam na cara dos comensais ofendidos e humilhados. Porém as risadas cessaram com os gritos dos seres sobre as gárgulas. Após estes, o exército sombrio pareceu mais sedento de sangue e de morte. Os gritos demoníacos eram ordens e, quando os Generais Sombrios ordenam, o Exército Sombrio age.
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Uma grande massa de criaturas concentrava-se em torno de um casal que lutava em perfeita sincronia. As criaturas avançavam com brutalidade contra eles, no entanto, eram repelidos com o mesmo sentimento. O casal demonstrava muita força, que foi logo percebida pelos Generais. Eles guincharam, ordenando uns aos outros. Um deles atendeu às ordens e avançou na direção do casal. A gárgula voou rasante, a boca e as garras abertas.
A mulher viu a gárgula se aproximar. O homem não pareceu notar o monstro em sua direção, as criaturas pareciam mais necessitadas de sua atenção.
- Owen! – gritou a mulher, empurrando-o quando se tornou óbvio o alvo do monstro.
Ele sentiu as mãos quentes dela espalmarem-se em suas costas e o empurrar. Ele caiu sobre a neve remexida e ouviu o grito estridente dela.
- Sarah! – ele se virou e a viu presa por entre as garras afiadas da gárgula – Sarah! – mas já era tarde, a gárgula afastou-se, carregando-a firme.
As criaturas avançaram sobre Owen. Um golpe no braço esquerdo dele o trouxe de volta para a batalha. Ele disparou feitiços contra as criaturas e, abrindo caminho, começou a ir à direção que a gárgula havia tomado.
Sarah tentava se soltar. As garras da gárgula a apertavam e a machucavam. Ela arremessou feitiços contra o corpo do monstro, que nem sequer sentiu cócegas. O General Sombrio se inclinou e ela pôde vê-lo. Ele sibilou algo, fazendo-a arrepiar-se, e depois deu um forte guincho. A gárgula avançou na direção de uma loja alta, onde os comensais ateavam fogo, e arremessou Sarah contra a estrutura.
Não havia como se salvar. Owen não estava ali para ajudá-la e os outros combatentes, tão pouco desgrudariam os olhos das criaturas. Porém, o pensamento de que lutara com bravura e ajudara, mesmo que insignificantemente, a Ordem da Fênix e o Mundo Bruxo; não a deixava lamentar pelo fim que tinha. Ela somente se arrependia de duas coisas, primeiro de não ter dito a Owen o quanto o amava; segundo, e ela quase riu por esse, de dizer ao sogro, Cassius McWell, que ele era um cabeça-dura, orgulhoso e, acima de tudo, um bom homem.
A parede ardente em chamas se aproximava rapidamente e seu corpo já reagia à mudança drástica de temperatura.
Sarah fechou os olhos, aguardando o toque do fogo e da madeira em sua pele. Contudo tal toque, esperado tão desesperadamente, não veio.
Ela abriu os olhos, achando que já estava morta e, por sorte, não sentira nenhuma dor. Entretanto, o que viu foi mais bem vindo do que a visão do Paraíso mais perfeito. Seus olhos acinzentados encontraram-se com os azuis profundos de um homem. Com um movimento da varinha dele, ela, que estava parada no ar, desceu até o chão, onde pôde ficar de pé.
- Você está bem? – a voz dele soou preocupada, e com razão já que ela quase morrera e estava toda machucada.
- Sim, obrigada. – ela sorriu para ele.
- Não foi nada. – a voz dele divertiu-se.
- Não... obrigada por ter vindo. – falou ela com calma, como se escolhesse as palavras.
- Eu vivo nesse mundo Sarah e me importo com ele. Agora mais do que nunca. – ele olhou em volta.
As criaturas tentavam avançar, e eram impedidas por uma forte aura cinza, que as impedia. Sarah notou e, por fim, percebeu que o cenho do homem estava franzido. Ele se concentrava ao máximo para manter as criaturas longe e, assim, conversar com ela por alguns segundos.
- Pode soltá-las. – ela segurou a varinha com força.
- Certeza? Não quer ir embora? Você está bastante machucada. – ele a olhou pelo canto dos olhos.
- Eu ainda tenho muito gás. – ela riu – Deixe de se preocupar comigo. Temos que ajudá-los.
Ela apontou para uma pequena massa de homens que lutava contra as criaturas. A Ordem da Fênix tentava, com pouco sucesso, se defender e atacar. O homem olhou em volta, analisando o campo de batalha.
As lojas e casas estavam em chamas. Os comensais ateavam fogo contra as estruturas ainda não abaladas. A AD lutava forte, embora já demonstrassem cansaço. As criaturas pareciam se multiplicar a cada segundo. Os lycans urravam e atacavam com ferocidade, libertando seus extintos mais selvagens. Os centauros atiravam flechas enfeitiçadas contra as criaturas, que se afastavam, mas logo voltavam a avançar. A Ordem da Fênix perdia cada vez mais combatentes na luta, que mais parecia uma chacina, contra as criaturas.
- Vamos acabar com isso Sarah. – sentenciou o homem com força.
- Com todo o prazer Cassius. – ela sorriu e viu as criaturas, agora livres, se aproximarem.
- Onde está Owen? – perguntou Cassius enquanto usava os feitiços brancos mais avançados que conhecia.
- Não sei. – Sarah notou preocupação na voz dele - Estávamos juntos antes da gárgula me pegar.
- Certo. – ele encerrou o assunto.
- Você ficará bem sem mim? – perguntou ela, divertindo-se.
- Acho que não. – ele entrou na brincadeira.
- Então vai ter que se virar. – ela riu e começou a se afastar.
- Vai procurar o Owen? – a curiosidade de Cassius obrigou-o a perguntar aquilo.
- Não. Vou ajudar a Ordem. – ela sorriu – Deixo a missão de procurá-lo em suas mãos. – com uma piscada de olho ela se virou e batalhou até chegar perto da Ordem, onde sua chegada foi bem vinda.
O mago suspirou. Ela percebera sua preocupação pelo filho. Contudo, ele não podia deixar essa preocupação mudar sua prioridade, pois tinha que deter o ataque. Ele tinha que salvar Hogwarts. Ele tinha... ele tinha...
“Droga!”
Ele afastou as criaturas e começou a procurar o filho com o olhar. Para seu alívio, distinguiu alguns feitiços brancos em meio aos outros incontáveis feitiços. Mas foi muito rápido. Logo ele não conseguiu mais ver nenhum dos feitiços. Suspirou preocupado e voltou sua atenção para as criaturas que já estavam ameaçadoramente perto. Um grande circulo de criaturas surgiu a sua volta, muitas delas elegeram-no como alvo principal. Aquilo, entretanto, não o abateu, pelo contrario, quanto mais criaturas viessem ao seu encontro, mais criaturas não atacariam a Ordem e os alunos.
Não muito longe dali, o mesmo acontecia. Um circulo de igual tamanho e potência surgira em torno de um homem. Owen estava descontrolado. Sarah havia sido levada e ele não sabia se ela ainda vivia. Isso o desesperava. Ele errava muitos feitiços e sofria as consequências. Seu corpo já estava cheio de machucados, que não eram comuns. Eram manchas de pele podre. Onde quer que as criaturas tocassem, o lugar apodrecia imediatamente.
Uma única palavra podia definir Hogsmeade naquele instante. Inferno!
A neve caia com força, negra como carvão. O vento uivava cortante e congelante. A terra era ocultada pela neve e pelo sangue dos membros caídos da Ordem da Fênix. As águas congeladas do Lago Negro formavam um espelho negro coberto por uma grossa camada de neve branca e negra. As labaredas de fogo subiam alto, consumindo tudo que estava ao seu alcance.
Aurores aparataram na entrada do vilarejo. Muitos se apavoraram, mas nenhum decidiu retornar. Já haviam vencido, ou seja, sobrevivido outras batalhas, por que essa seria diferente? Com coragem eles adentraram no vilarejo e começaram a disparar contra os poucos comensais que ainda batalhavam.
A batalha fervia. As criaturas ficavam cada vez mais sedentas de sangue. Os guinchos dos Generais Sombrios eram mais frequentes e os ataques das gárgulas também. Os Generais estavam enfurecidos. A batalha estava mais difícil do que eles previram. A resistência era fraca e pela grande quantidade complicava a vitória do exército sombrio. As criaturas logo matariam a todos, porém, aquilo já devia ter acontecido. O que mais lhes irritavam eram dois grandes círculos de criaturas.
No centro de cada circulo um homem lutava com bravura. Ataques, defesas e esquivas eram ações comuns de ambos. Não era para menos, pois o mesmo estilo se espelhava em seus movimentos e pensamentos. As criaturas se moviam, fazendo os homens se moverem também. Eles não se viam, a massa de criaturas era muito densa e não dava trégua. Eles se aproximavam a cada passo.
Logo, os círculos se encontraram e se fundiram. Um enorme circulo de criaturas passou a atacar os dois homens. Mesmo assim, eles não se notaram, estavam de costas um para o outro. A cada passo dado, a distância que os dividia se limitava. Por fim, eles se encontraram. Costas com costas. A surpresa foi grande.
Os homens se viraram e se encararam. A surpresa foi maior ainda.
- Cassius?! – pronunciou o mais novo com a voz fraca.
- Owen?! – sussurrou o mago.
Eles se olharam por poucos segundos, olhos azuis profundos se estudando. As criaturas aproveitaram para se aproximar. Este fato não foi ignorado pelos homens. Eles voltaram a ficar de costas um para o outro e retornaram com os ataques e defesas.
- O que faz aqui? – a voz de Owen tremeu, o sangue começava a ferver.
- Oras... – Cassius riu em ironia – Estou fazendo um piquenique com essas admiráveis criaturas.
- Falo sério! – Owen não tentou esconder a ira em sua voz.
- Eu também. – Cassius achou aquela situação engraçada – Não está um dia belíssimo?
O cotovelo de Owen passou perigosamente perto da cabeça de Cassius. Este suspirou por ser rápido o suficiente para desviar de um ataque do próprio filho.
- Chega de brincadeiras! – grunhiu Owen – O que faz aqui?
- Não é obvio Owen? – a voz de Cassius soou perigosamente séria – Vim para lutar e ajudar.
- Ajudar?! – Owen riu sarcástico – Desde quando você se importa com o mundo? Melhor, desde quando você se importa com coisas que não te trazem lucros?
- Você, definitivamente, não conhece o próprio pai, Owen.
Cassius arriscou ao falar isso e a reação que ele esperava ocorreu. Os movimentos de Owen ficaram mais rápidos e a potência se elevou. O mago suspirou. A raiva, afinal, tinha um forte efeito sobre seu filho e isto era ruim.
- Vá embora! – sussurrou Owen, a voz rouca pelo ódio.
- Não importa o que você diga ou faça, eu não abandonarei esta batalha. Terei que morrer para parar de lutar! – Cassius concentrou toda a sua seriedade nas suas palavras.
As criaturas tentavam se aproximar dos dois. O que era impossível. Separados eles já eram fortes, unidos eram imbatíveis. Novamente os Generais se viram ameaçados pela união destes dois bruxos.
- Apesar disto, você continua sendo o mesmo homem orgulhoso e arrogante. – a voz de Owen soou forte e alta, despejando ódio e ira.
Cassius não disse nada. Não havia o que dizer, não naquele momento.
Um guincho forte veio do céu. Um General Sombrio direcionou a gárgula para eles. Com um largo movimento de sua mão direita, uma lança negra surgiu.
O ar faltou para Cassius por míseros milésimos de segundos e, durante esse curto tempo, ele teve uma visão.
Owen teve uma sensação ruim e viu uma gárgula pairar no ar. O General se ergueu e arremessou a lança na direção do bruxo. Ele acompanhou a trajetória da arma com o olhar, sem se mover um único centímetro. Algo o prendia, o imobilizava. O medo.
Cassius, porém, não se sentiu preso e agiu. Ele afastou as criaturas que avançavam sobre ele, abaixou-se e, com uma rasteira rápida, derrubou Owen no chão. Depois, levantou-se e, saltando sobre o filho, parou entre ele e a lança.
As criaturas pararam. O General usou de seu poder e atraiu a lança de volta à sua mão. Após um novo guincho, afastou-se.
Owen olhou em volta, agora completamente livre. As criaturas não avançavam, pareciam ligeiramente saciadas. Foi quando ele viu seu pai. Cassius estava de pé e de costas para ele.
- Levante-se, Owen. – a voz de Cassius saiu terrivelmente fraca.
Owen ergueu-se, apoiando-se no próprio joelho. Seu olhar recaiu no chão. Havia sangue espalhado na neve remexida. Ao ficar de pé, ele percebeu que o pai enrijecera os músculos, como que se forçando a permanecer de pé.
- O que está fazendo ai parado? – a voz de Cassius soou divertida, embora estivesse ainda mais fraca – Essas malditas criaturas estão apenas esperando a nossa queda. – Cassius riu, mas parou ao gemer de dor.
- Você... – Owen olhou a nuca do pai.
- Ataque seus infelizes! – gritou Cassius para as criaturas, cortando a fala do filho.
Owen não pôde falar o que pretendiaia. As criaturas voltaram a avançar e pareciam enfurecidas. Ele se concentrou nelas. Entretanto, não conseguiu ignorar que os movimentos de Cassius estavam mais lentos e duros. De relance, ele viu o lado esquerdo da roupa do outro manchada de vermelho. O sangue ferveu mais uma vez em suas veias.
- O que você fez?
Cassius não respondeu.
- Você me defendeu? – perguntou Owen – Por quê?
- Você é meu filho. – a voz de Cassius foi pouco mais que um sussurro.
- Isso não muda nada.
- Eu não esperava isso. – falou Cassius – Só acho que são os filhos que devem enterrar seus pais e nunca o contrário.
Owen não conseguiu responder perante àquela afirmação. Não conseguia ordenar os pensamentos. Parte de si clamava para ajudar o pai enquanto outra parte, e esta possuía uma força muito mais brutal, obrigava-o a ignorar a ação tão protetora.
A batalha continuava ali e em todos os locais. Muitos já haviam caído. Sangue jorrava dos corpos de muitos. Os lycans lutavam com bravura mesmo que muitos já não aguentassem mais. A maioria centauros já não possuíam mais flechas e começaram a atacar com as próprias mãos, um ato suicida contra aquelas criaturas. A Ordem tentava manter a força, já haviam perdido toda a esperança.
Os Generais agora estavam menos enfurecidos. A batalha caminhava para o fim. Eles venceriam, afinal, pelo cansaço, pois o Exército Sombrio nunca se cansa. Os Generais se cansavam, mas isso não importava, já que no ataque ao castelo eles ficariam na retaguarda. Eles guincharam, ordenando mais força ao Exército. Logo tudo acabaria. Tudo viraria cinzas.
A AD e os aurores finalmente derrotaram os últimos comensais que lutavam. Agora, mesmo estando cansados, eles se voltavam para as criaturas que massacravam a Ordem da Fênix, que cansava os lycans e que feriam mortalmente os centauros. Luna e Neville foram à frente, já que comandavam os alunos. Porém, antes de chegar perto das criaturas, Luna parou. Seus olhos focaram uma imagem que ela não sabia dizer se era real ou ilusão. Talvez estivesse tão cansada que não raciocinava direito e que seu cérebro e mente pregavam-lhe peças.
Ao lado de uma loja em chamas, ela vira um vulto negro. Estava vestido como um comensal e foi isso que a espantou. Poderia um comensal ser tão covarde a ponto de abandonar seus companheiros e se esconder?
Mas Luna não teve tempo para responder os questionamentos da sua mente.
- Luna!
Uma criatura se aproximava rapidamente. Ela não teria tempo para se defender. Era o fim!
Um lampejo dourado iluminou a face clara de Luna. A criatura foi arremessada contra as outras que vinham na direção da garota, jogando-as para longe. Luna olhou na direção do vulto, que empunhava uma varinha erguida. O choque estampou-se na face da garota. Ele havia salvado a vida dela! Mas, por quê?!
Neville tomou o braço dela, acordando-a.
- Luna, acorda! – gritou ele.
- Desculpa. – respondeu ela, atacando uma criatura que avançava sobre eles.
Ela olhou na direção do vulto. Mas ele já não estava lá.
- Vamos Luna! A Ordem precisa de nós! – gritou Neville.
Eles se olharam e ordenaram aos alunos o ataque. Infiltrando-se no meio dos aurores e membros da Ordem da Fênix.
Os Generais, vendo que as criaturas ganhavam novos inimigos, perderam a paciência que já não possuíam. Era hora do Ataque Final. Cada um dos quatro Generais voou até as extremidades da batalha. Norte. Sul. Leste. Oeste. Cada um em um ponto, todos se olhando. Lanças negras surgiram nas mãos de cada um e as apontaram para o centro. Eles guincharam com força e das lanças saíram raios negros. Os raios voaram até o centro e se chocaram, unindo-se. Os raios permaneceram constantes. No centro uma esfera negra formava-se e se expandia, conforme os raios permaneciam.
Os guinchos novamente ecoaram, atraindo a atenção de todos os combatentes. As criaturas pararam, suas forças eram exigidas para o Ataque Final. Os Generais guincharam novamente e as lanças foram erguidas. Os raios direcionaram-se para o céu e a enorme esfera negra subiu. Com muita brutalidade, as lanças desceram e apontaram para o chão. A esfera foi arremessada para baixo. O Ataque Final estava feito!
O tempo pareceu correr lentamente. Cada segundo parecia uma eternidade. A esfera negra aproximava-se do que restava do vilarejo e dos combatentes. A Morte se deliciaria com o resultado do Ataque Final. Contudo, ao final, ela foi obrigada a se decepcionar.
As nuvens se distanciaram, abrindo um grande circulo onde se podia ver o céu claro e o sol radiante. Um raio branco desceu pelo circulo e atingiu a esfera negra. O choque produziu uma forte luz e um estrondo alto. A esfera tornou-se branca e se desfez em quatro raios.
Dois dos raios voltaram para o céu, atingindo as nuvens, que deixaram de ser negras e voltaram a ficar brancas. A neve começou a cair, branca e pura. Outro raio caiu entre os combatentes, derretendo a neve e deixando visível a terra escura. O último raio caiu sobre uma estrutura quase completamente consumida pelas chamas, que pareceram intensificar-se no primeiro momento.
Os combatentes olharam para aquilo estupefatos. O susto da eminente morte não se comparava àquele. Eles só despertaram quando a neve branca tocou-os. Uma forte sensação de paz inundou-os e a esperança pareceu renascer das cinzas e erguer-se aos seus olhos.
Os aurores, a Ordem da Fênix e a AD fecharam os olhos e sentiram seus corpos relaxarem a tal ponto que não permaneceram de pé, deixando-se cair sobre os joelhos. Os lycans também fecharam os olhos, ergueram os braços e voltaram à forma humana. Os centauros tiveram a mesma reação dos lycans. Já Cassius, Owen e Sarah sentiram algo diferente dos outros. Eles sentiram-se abraçados. Um abraço entre irmãos. Um abraço entre pai e filho. Um abraço entre mestre e aprendiz.
Eles estavam tão absortos em meio à paz e à esperança que excluíram qualquer percepção do que acontecia em torno deles.
As criaturas guincharam de dor. A neve, ao tocá-las, machucava-as. O mesmo acontecia aos Generais Sombrios. Eles guincharam. Aquilo era uma tortura. A neve trazia paz demais. A neve era pura demais.
Uma brisa fresca soprou. Os combatentes sentiram-se calmos. Seus corações desaceleram e suas mentes pararam de trabalhar.
As criaturas começaram a planar em todas as direções, tentando fugir da neve e da brisa. No entanto, como pode-se fugir do vento? Os Generais alçaram voou, subindo cada vez mais. Porém, quando mais subiam, mais a dor inundavam-lhes.
A terra tremeu levemente. Algumas rachaduras abriram-se e devoraram a neve e o sangue. O chão ficou limpo de qualquer resquício de batalha. Os combatentes pararam de sentir o cheiro horrendo de sangue e de morte, fazendo com que a paz que já lhes inundava se tornasse mais forte.
As criaturas amontoaram-se, fugindo daquelas rachaduras que ameaçavam engoli-las. Os Generais compartilharam da angustia do Exército, afinal, eles eram um.
O fogo que consumia as estruturas subiu em altas labaredas. Elas abandonaram as estruturas que, por algum motivo, se restauraram. As chamas passaram a consumir a terra sem não a ferir. As chamas caminharam em torno de todos os combatentes. Contudo, eles sentiram apenas o calor do amor, sentiram como se nada pudesse feri-los.
As criaturas guincharam novamente, suplicantes por abandonarem aquele lugar. O calor consumia-as por inteiro. Seus mantos negros se desfizeram em pó e suas energias sugadas e transformadas em algo puro. Os Generais guincharam e, derrotados, desfizeram-se no ar, voltando-se para seu mestre.
O vento carregou a poeira para longe dali, transformando-a em algo puro que fertilizaria a terra e a tornaria produtiva. A terra continuou a tremer até que as rachaduras se fechassem e tornassem o chão plano. A neve caiu mais levemente, não chegando a cobrir as estruturas restauradas e o chão limpo. O fogo diminuiu e se afastou dos combatentes.
Estes, por fim, recuperaram-se de suas reações. Abriram os olhos com surpresa. Os que estavam ajoelhados se ergueram. Os que possuíam os braços abertos e erguidos os abaixaram. Já Cassius, Owen e Sarah respiraram fundo, sentindo o ar puro e livre de qualquer sentimento ruim.
Os combatentes olharam em volta, não havia nenhuma criatura, nenhuma gárgula, nenhum General. Não havia sangue nem neve negra. Tudo parecia tão puro. Apenas os corpos dos combatentes mortos impediam que aquele lugar ficasse completamente em paz e tais corpos não estavam com aparência sofrida de antes, estavam radiantes, como se tivessem morrido em paz.
Os combatentes vivos, feridos ou não, se reuniram no centro da rua. Muitos possuíam lágrimas nos olhos, alguns já tinham as faces marcadas pelas lágrimas. Algo, porém, chamou a atenção de todos.
Do meio dos combatentes, Cassius começou a caminhar para fora da aglomeração. Sua mão direita estava posta entre o peito e o ombro esquerdo, era visível o sangue que lhe encharcava as vestes e escorria pela mão. Todos os olhares se voltaram para ele. Assim que se colocou para fora da aglomeração, ele parou e focalizou um lugar em especifico.
Não havia nada ali. Ao menos era isso que todos pensavam até algo acontecer.
O vento intensificou-se e formou um pequeno redemoinho da altura de um humano, o redemoinho se posicionou no lugar que Cassius olhava. Quem prestasse mais atenção no ciclone, conseguia distinguir que o vento, ao fazer suas curvas, moldava um corpo humano, um corpo feminino.
A terra tremeu forte e rachaduras surgiram e se encontraram em um ponto ao lado do corpo feminino moldado pelo vento. Do encontro das rachaduras uma massa de terra se ergueu à altura de um humano. A terra se modelou e tomou forma, a forma de um corpo humano muito bem definido, um corpo masculino.
A neve parou de cair sobre as estruturas e sobre os combatentes. As nuvens de neve se desfizeram e o sol inundou tudo com seus raios. Os flocos de neve que se encontravam no chão rolaram sobre a terra e se encontraram num pondo ao lado do corpo masculino moldado pela terra. A neve amontoou-se e ergueu-se à altura de um humano. A neve se derreteu por completo e, ao contrário do que se esperava, a água não caiu no chão. Ela agrupou-se e tomou forma, a forma de um corpo humano, um corpo feminino.
As chamas que ardiam sobre a terra sem a ferir arderam fortes em labaredas altas, assustando os combatentes. As labaredas continuaram altas e deslizaram até um ponto ao lado do corpo feminino moldado pela água e não regou efeito algum sobre tal corpo. As labaredas diminuíram em potência, chegando à altura de um humano. As chamas começaram a se apagar, mas muitas ainda ardiam com força, algumas mais do que outras. O jogo de cores das chamas produzia um efeito único, as chamas tomaram forma, a forma de um corpo humano, um corpo masculino.
Todos os combatentes se espantaram com todos os acontecimentos. Owen e Sarah, que haviam se encontrado no meio da aglomeração, caminharam para fora dela. Cassius deu alguns passos para frente, assustando os combatentes que não sabiam o que pensar daqueles seres moldados pelos Quatro Elementos.
Cassius cambaleou. Sua visão ficou turva. Ele mal conseguia ficar em pé. Todos os combatentes perceberam isto. O sangue nas vestes do mago não deixava duvidas de que ele já havia perdido sangue demais, e que, nesse ritmo, não sobreviveria. Sarah ameaçou ir até o mago, mas Owen a segurou, mantendo os olhos fixos nos seres moldados pelos Quatro Elementos.
Cassius retornou a caminhada e a cada passo sua expressão mudava. Primeiro ela era calma, chegando a ser feliz. Depois alguns passos ela tornou-se sofrida e dura. Ele não aguentou andar mais. Estava na metade do caminho entre os combatentes e os seres quando caiu sobre os joelhos. Sua cabeça pendeu e ele a reergueu.
Os combatentes não retiravam os olhos do mago. Alguém tinha que ajudá-lo, porém ninguém queria se aproximar dos seres. Então, eles olharam os seres. O espanto os sobressaltou.
Já não havia mais seres moldados pelos Quatro Elementos. Ali, naquele mesmo lugar, havia quatro pessoas. Humanos. Vestiam vestes negras: sobretudos e capuzes. As faces eram escurecidas e só se via os brilhos de seus olhos. A mulher que havia sido moldada pelo vento possuía olhos amarelo-canários, o homem antes moldado pela terra possuía olhos verde-escuros, a mulher que havia sido moldada pela água possuía olhos azul-cristalinos e o homem antes moldado pelas chamas possuía olhos vermelhos flamejantes.
Todos os combatentes se arrepiaram, assim como Owen e Sarah. Cassius apenas sorriu, um sorriso fraco e banhado de dor. A cabeça do mago pesava e ele realizava um grande esforço para mantê-la erguida. As forças dele se esgotaram rapidamente e sua cabeça pendeu. Ele manteve os olhos abertos, lutava para manter a consciência. Ele não poderia perder aquele momento. Ele esperara a vida toda por isto. Toda sua antecedência esperara.
Uma mão macia pousou-se sobre a mão ensanguentada dele. Ele ergueu o olhar, mas não conseguiu erguer a cabeça. Uma outra mão tocou seu queixo e o ergueu delicadamente. Seus olhos azul-profundos encontraram-se com os olhos cistalinos da mulher, os olhos dela eram muito mais poderosos.
Ele olhou para os lados e viu os outros ao lado da mulher abaixada. O homem de olhos verdes do lado esquerdo, a outra mulher do lado direito e o homem de olhos vermelhos atrás. Ele conseguia ver os rostos deles. Ele sorriu novamente.
A mão dela que estava sobre a mão dele se transformou em água. Ele se assustou, mesmo que por apenas um segundo. A mão de água se colocou sobre o ferimento causado pela lança do General Sombrio. Um brilho prateado emanou da mão de água e do ferimento dele. Quando a mão voltou a ser de carne e osso ele parou de sentir dor. Ele sorriu, ela havia curado-o. Contudo ele sabia que já era tarde demais, ele havia perdido muito sangue.
- Nunca é tarde demais. – sussurraram os quatro.
Ele se espantou e sorriu ainda mais. Um brilho prateado foi emanado de todo o corpo da mulher de olhos azul-cristalinos. Os olhos dela brilharam ainda mais. O brilho prateado cobriu todo o corpo do mago.
Os combatentes deram alguns passos para trás quando os quatro andaram até Cassius. Todos ficaram intrigados com as ações dos quatro desconhecidos. Quando o brilho prateado tomou o corpo do mago, alguns seguraram as varinhas com mais força, tomando aquele acontecimento como hostil.
O brilho cessou. O mago olhou para a mulher e sentiu-se novo. Estava completamente curado. Todo o sangue que havia perdido estava reposto. Ele sentiu suas forças voltarem rapidamente. A mulher se ergueu. Ele se apoiou no joelho e ficou de pé, olhou para o ombro e não viu mais ferimento nenhum, nem sangue. As vestes estavam intactas. Suas vestes estavam brancas. Ele vestia as vestes da Ordem de Merlim.
Ele olhou para os quatro. Eles sorriam para ele. Ele sorriu de volta e fez uma longa reverência.
Owen e Sarah se espantaram ao ver o mago de pé e principalmente ao vê-lo com tais vestes. Porém, nada se comparou ao espanto de quando ele fez a reverência.
Os quatro desconhecidos sorriram ainda mais com o ato do mago.
- Não precisa disto Cassius. – falaram eles alto e juntos, causando espanto em todos os combatentes.
- Ah, precisa sim. – murmurou Cassius apenas para eles, sem desfazer a reverência.
Os quatro riram. Eles ergueram as mãos e retiraram os capuzes. Seus olhos pararam de brilhar e mudaram de cor. Amarelo-canário tornou-se castanho. Verde-escuro virou azul. Azul-cristalino transformou-se em cor-de-mel. Vermelho flamejante voltou a ser verde-esmeralda.
Alguns combatentes acharam que iriam enfartar. Outros tiveram que se apoiar a alguém próximo para não cair. Os lycans olharam os quatro com respeito e fizeram longas reverências. Os centauros soltaram as armas e também fizeram longas reverências. A Ordem da Fênix não sabia o que fazer ou dizer, aquilo era quase impossível, eles estavam em choque.
Owen e Sarah piscaram os olhos. Aquilo era real? Eles se olharam e sorriram. Sim, aquilo era real. Eles deram alguns passos à frente e fizeram longas reverências.
Todos os combatentes ao verem que o mago, o casal, os lycans e os centauros haviam feito reverências, também o fizeram.
Aquela cena foi surpreendente, até mesmo para os quatro. Eles encararam todos. Olharam-se. Pela primeira vez em um ano os quatro podiam se ver.
=-=-=
A temperatura estava muito alta, mas isso não o incomodava. Pelo contrário, ele se sentia extremamente bem. Qualquer ser vivo não suportaria tal temperatura. Ele não era qualquer ser vivo e a suportava. Afinal, ele próprio conseguia produzir calor suficiente para se igualar ao magma. Sim, ele podia tocar o magma e não se machucar. Ele podia mergulhar no magma ardente de um vulcão e não sentir incomodo ou dor. O magma não o feria, na verdade, o magma o obedecia.
Foi espantoso quando tocou o magma pela primeira vez. Sentira seus dedos queimarem. Incrivelmente, não doera. Ele vira sua pele ser devorada pelo magma. Também não doera. Todo o seu corpo foi coberto pelo magma. Toda sua pele foi devorada e ele não sentira nada além de insignificantes e irritantes formigamentos.
Quando o magma esfriou sobre seu corpo, produzindo uma camada dura de rocha, ele suspirara e se esquentara. Chamas ardentes cobriram o seu corpo e derreteram a rocha. Quando se vira livre de rocha e chamas, percebera que uma “nova pele” cobria-o. Na aparência ela era idêntica à anterior, contudo era mais resistente e possibilitara-o realizar o último estágio de seu treinamento: unir-se às chamas e ao magma.
Tal estágio já havia sido superado há muito tempo, embora ali ele não conseguisse contar as horas, os dias, as semanas ou os meses. Depois de completar o último estágio de seu treinamento, outros surgiram.
O primeiro novo estágio fora cumprido em um deserto de dunas de areia, ali ele criou chamas sobre a terra, evitando machucar tal elemento, e buscar o magma do centro da terra. E ele o fez.
O segundo novo estágio fora realizado no céu, literalmente. As nuvens estavam sob seus pés e a sua volta, ele tinha que criar o fogo e mantê-lo. Foi complicado, já que o ar era muito rarefeito. Contudo, ele realizou o estágio.
O terceiro e último dos novos estágios, o mais difícil, fora no oceano. Ele precisava produzir calor o suficiente para evaporar todo o oceano. Fora uma tarefa bastante difícil e demorada, o que exigiu muito de sua força. Ele, porém, superou seus limites e conseguiu com êxito total.
Agora ele sentia que tudo estava terminado. Depois de muito tempo ele se encontrava no vulcão onde passara a maior parte de seu treinamento. Aquele dia ele não havia feito nada além de descansar. Sentia que era hora de partir. Principalmente por que, pela primeira vez desde o começo do treinamento, ele sentia o mundo bruxo. Ele sentia o cheiro de guerra, sentia o cheiro de morte.
- Está na hora.
Um homem surgiu a sua frente.
- Eu sei. – respondeu ele.
- Tu sabes para onde vais? – o homem se aproximou.
- Sim. – ele ergueu o capuz e cobriu a cabeça, escurecendo a face.
- Esse não é o fim meu jovem. Falta pouco para o fim, é verdade, mas ainda não é. – o homem parou na frente dele.
- Eu sei. – ele sorriu – Ainda tenho muitos assuntos mal-acabados para resolver antes do fim.
- Nós nos veremos novamente.
- Assim o espero.
O homem ergueu a mão direita e, com o dedo, tocou na testa do jovem. Como das outras vezes que este movimento fora feito, o jovem desapareceu.
=-=-=
Estava úmido e frio, muito frio. Porém, agora, aquilo a agradava e até beneficiava. A sensação de paz e bem-estar que a tomava agora era muito diferente da dor, angustia e sensação de fracasso que sentira há muito tempo. Estes sentimentos haviam tomado-a logo que chegara ali e com ela permaneceram por um longo tempo. Ela não havia despertado e não sabia por quê. Ela aguentou o máximo que pôde, contendo toda raiva e frustração. No entanto, tempos depois, ela explodiu.
Ela gritara aos quatro ventos a sua frustração. O homem que tentava ensiná-la ficou quieto e apenas observou-a. Ela sentiu sua energia fluir por todo o corpo, sentiu cada célula inundada de energia. Com as mãos nuas ela lançou feitiços avançados na direção do oceano. Quanto mais ela gritava e lançava feitiços, mais energia ela sentia em suas células.
Pouco depois a energia era tão forte que ela se espantou, aquele nível de energia não era o normal dela, aquele nível já havia ultrapassado todos os seus limites. Ela parou de gritar e de lançar feitiços. Todo o seu corpo brilhava. Sua aura era visível e brilhava forte. Ela olhou o oceano. Ele estava parado, como se temesse a ira dela, formando uma superfície plana. As águas em torno dela, em um raio de dez metros, estavam congeladas.
- Finalmente. – falou o homem com certa felicidade.
Ela sentira uma leve dor de cabeça. Algumas lembranças surgiram aos seus olhos, lembranças que envolviam o Guerreiro Luz, coisas que envolviam sua própria energia. As batalhas que ela havia travado, todos os feitiços aprendidos e usados. Ela finalmente compreendera que fazia parte do Herdeiro Luz.
Depois daquele dia toda a dor e a frustração se esvaíram. Ela aprendera tudo muito rapidamente. Já na parte mais avançada, ela encontrou um pouco de relutância. Logo no primeiro dia desta parte ela teve que ficar com o corpo inteiro cravado em um bloco de gelo. Enquanto estava ali, no gelo, sentira toda a sua pele congelar. Não sentira dor nenhuma, apenas formigamentos. Quando sentiu toda a sua pele congelada, ela se concentrou e derreteu o bloco de gelo.
Sua pele não tinha aparência de congelada, parecia normal, como sempre fora. Porém, tal pele era diferente, era mais resistente e permitia que ela completasse o último estágio do treinamento: unir-se à água, gelo e neve.
Aquilo, há tempos, já havia sido feito. Com o término do treinamento, novos estágios vieram. O primeiro novo estágio foi cumprido no céu. Ali ela devia canalizar as moléculas de água das nuvens e fazê-las tomarem forma. E ela o fez.
O segundo novo estágio foi em um deserto de dunas de areia. Ela devia umedecer uma grande área e manter assim, foi complicado, pois o deserto era muito seco. Mas ela conseguiu.
O terceiro e último estágio, o mais difícil, foi realizado em um vulcão. Ali ela devia esfriar o ambiente o suficiente para que todo o magma congelasse. Foi demorado, cansativo. Entretanto, ela conseguiu. Por pouco não desmaiou ao final do estágio.
E agora, ao retornar ao oceano onde treinara duramente, ela sentia-se pronta para voltar ao mundo bruxo e ajudar na guerra. Ela sentia que não havia mais nada para ela fazer ali. Sentia que o treinamento finalmente acabara. Ela tinha essas certezas, apesar de serem apenas sentimentos, principalmente por que, depois de todo o tempo que ficara ali, ela sentia o mundo bruxo. Ela sentia a impureza que a guerra e as mortes lançavam sobre aquele mundo.
- Está na hora.
Um homem surgiu a sua frente.
- Eu sei. – respondeu ela.
- Tu sabes para onde vais? – o homem se aproximou.
- Sim. – ela ergueu o capuz e cobriu a cabeça, escurecendo a face.
- Esse não é o fim minha jovem. Falta pouco para o fim, é verdade, mas ainda não é. – o homem parou na frente dela.
- Eu sei. – ela sorriu – Ainda tenho muita coisa para resolver antes do fim.
- Nós nos veremos novamente.
- Assim o espero.
O homem ergueu a mão direita e, com o dedo, tocou na testa dela. Como das outras vezes que este movimento fora feito, a jovem desapareceu.
=-=-=
A areia estava quente, solta e seca. Incrivelmente seca. Como poderia a areia ser úmida em um deserto de dunas e mais dunas de areia por incontáveis quilômetros? Ele não ligava para aquele detalhe. Sua boca estava seca e isso não o incomodava, muito menos chamava sua atenção. Afinal, ele podia ser tão seco quanto tudo aquilo ao seu redor.
Havia lutado muito para chegar ali. Dedicação, força e respeito eram o que definia sua jornada durante o treinamento. Sua lembrança mais forte, além do despertar, foi quando passou a treinar, pela primeira vez, com o elemento em estado avançado. Lembrava-se da terrível tempestade de areia que ocorrera. A areia batia com força em sua pele e, por ser muito fina, machucava-o. Loucamente, ele não sentira dor. Tamanha era a potência da tempestade e a força com que a areia batia em seu corpo, que sentira toda a sua pele ser ralada. Era como se ele tivesse caído e ralado todo o corpo ao rolar de uma ribanceira.
Quando percebera que todo seu corpo estava ralado, ele erguera barreiras de terra para proteger-se da tempestade que continuava forte. Ele, então, analisou seu corpo e surpreendeu-se. Sua pele não parecia ralada, embora ele sentisse isto. Ela estava apenas mais áspera e resistente. O mais importante é que aquela “nova pele” permitia-o completar o último estagio do treinamento: unir-se à terra e à areia.
Aquilo já fazia muito tempo. Há muito ele já havia terminado seu treinamento, mas não era o fim. Pois novos estágios vieram. O primeiro novo estágio fora realizado em um grande vulcão. Ali ele devia reunir a terra, que o magma derretia, de tal forma que ela não se derretesse mais, criando, assim, uma espécie de “tampão”. E ele o fez.
O segundo novo estágio fora em um oceano. Ali, na superfície, ele devia trabalhar com a terra, que jazia no fundo do oceano, e trazê-la à superfície, transformando-a em uma ilha. Foi um pouco difícil, já que a pressão que a água exercia sobre a terra ao fundo do oceano era gigantesca, dificultando seu trabalho. Entretanto ele conseguiu.
O terceiro e último estágio fora o mais difícil. Ele foi ao céu, literalmente. No primeiro instante ele ousou pensar que não conseguiria, sua antiga insegurança voltara para assombrá-lo, o que rendeu um sermão de seu treinador. Naquele estágio ele devia deixar de ser firme e pesado, como havia aprendido a ser para controlar a terra, e tornar-se tão leve quanto o ar, pelo menos o suficiente para não cair das nuvens. Demorou muito. Ele sentiu-se estranho por não ser mais firme como a terra e cansado devido à concentração extrema e constante. Mas, por fim, realizara o estágio.
E agora ele sentia-se completamente pronto e confiante. Depois de muito tempo, que ele não conseguia contar, ele se encontrava entre as dunas e dunas de areia, naquele deserto onde treinara a maior parte do treinamento. Durante todo o dia ele tivera folga, ficara apenas descansando. Sentia que era chegada a hora de partir. Ele sabia por que sentia o mundo bruxo pela primeira vez desde o inicio do treinamento. Ele sentia a guerra. Sentia os corpos sendo torturados pela dor e mortos.
- Está na hora.
Um homem surgiu a sua frente.
- Eu sei. – respondeu ele.
- Tu sabes para onde vais? – o homem se aproximou.
- Sim. – ele cobriu a cabeça com o capuz, escurecendo a face.
- Esse não é o fim meu jovem. Embora ele esteja perto, isto é fato, mas ainda não é. – o homem parou na frente dele.
- Sei disso. – ele sorriu – Tenho contas para acertar antes de tudo terminar.
- Isso é seu. – o homem estendeu as mãos.
Ele viu a bainha branca reluzir ao sol. O punho prata e dourado refletiu os raios do astro rei e iluminou sua face. Ele pegou a espada e sentiu sua força se renovar, como da primeira vez que a tocara. Sorriu para o homem, agradecido, e prendeu a bainha no cinto que levava na cintura.
- Nos veremos novamente.
- Tenho certeza que sim.
O homem ergueu a mão direita e, com o dedo, tocou na testa dele. Como das outras vezes que tal movimento ocorrera, o jovem desapareceu.
=-=-=
Tudo ao seu redor inspirava leveza e suavidade. Além de estar muito fresco. O vento era apenas uma leve brisa. Tudo aquilo a deixava em estado de extrema paciência e sabedoria. O porquê ela não sabia explicar, só sabia que era assim. Leve. Suave. Era estranho pensar que estas sensações tivessem tanta interferência sobre ela. Mais estranho ainda era pensar e comprovar que ela tinha total interferência sobre o lugar que se encontrava. As nuvens sob seus pés pareciam um mar de espuma branca, até onde a vista alcançava.
Sorriu. Ela sempre fora a mais descrente, a mais desconfiada. Nada superava sua certeza de que a lógica era mais importante que os sentimentos. Como fora burra. Nada era mais importante que os sentimentos, ela aprendera isto. A lógica tinha grande importância sim, principalmente quando possuía os sentimentos como aliado.
Apesar de ter aprendido coisas fantásticas, nada se comparava às mudanças em sua mente. Uma mudança muito perceptível estava relacionada à sua memória. Ela se lembrava de tudo, tudo o que havia acontecido nos últimos tempos, e com detalhes. Lembrava-se perfeitamente dos fatos mais marcantes de todo o treinamento. O primeiro foi quando começou a treinar com seu elemento em estado avançado. Uma forte ventania ocorreu aquele dia.
As rajadas de vento eram tão fortes que a empurravam e a carregavam. Ela se sentiu como uma peteca. Sinceramente, aquilo não fora incomodo. O vento não a atingia com brutalidade, pelo contrario, era carinhoso. O vento batia contra ela e a circulara, parecia a mais suave das pétalas de rosa. Todo o seu corpo reagiu àquelas sensações. Seus músculos relaxaram e toda a sua pele se arrepiou e relaxou até ficar dormente, ela só sentia fracos formigamentos. Quando toda a sua pele estava relaxada e dormente, a ventania cessou e ela pousou sobre uma nuvem.
Abrira os olhos e focalizara seu corpo. Ela sentira-o diferente, embora não parecesse. De fato, estava diferente, mais suave e resistente. Descobrira pouco depois que aquela “nova pele” possibilitava-a cumprir o último estágio de seu treinamento: unir-se ao ar e aos ventos.
Isto já havia ocorrido há muito tempo. Era o último estágio, mas não era o fim do treinamento. As lembranças dos novos estágios mancavam sua mente com força, também, não era para menos, foram momentos inesquecíveis.
O primeiro novo estágio fora em um oceano de águas incrivelmente azuis. Ela precisava unir as moléculas de oxigênio em quantidade suficiente para poder respirar sob as águas. E ela conseguiu.
O segundo novo estágio fora realizado em um vulcão ativo. Ali ela devia eliminar os gases que o vulcão expelia. Fora um pouco complicado, as mudanças frequentes de temperatura mudavam o volume dos gases e, além disso, os gases eram expelidos sem cessar. Mas ela conseguira.
O terceiro e último fora o mais difícil. Ele ocorrera em um deserto de dunas de areia. Ao saber da sua meta neste estágio, questionara o seu “mestre”. Aquilo era impossível. Quase foi linchada por duvidar de si mesma. No último novo estágio ela devia deixar de ser leve e suave, como havia se tornado para controlar o ar, e tornar-se pesada como a terra, pelo menos o suficiente para parar de flutuar. Mesmo sem conseguir contar o tempo, teve certeza de que passara muito. Ela sentiu-se extremamente diferente e estranha por não ser mais leve como o ar, e completamente cansada devido à concentração extrema e constante. Contudo, para sua felicidade, realizara o estágio.
Agora, ao voltar ao céu que era como sua casa, ela sentia-se pronta para voltar ao mundo bruxo e ajudar na guerra. Ela sabia que não havia mais nada para ela aprender ali. Tinha certeza de que o treinamento finalmente acabara. Ela sentia o mundo bruxo. Não só sentia, mas ouvia também. Ouvia os pensamentos dos que lutavam na guerra e dos que encontravam a morte.
- Está na hora.
Um homem surgiu a sua frente.
- Eu sei. – respondeu ela.
- Tu sabes para onde vais? – o homem se aproximou.
- Sim. – ela ergueu o capuz e cobriu a cabeça, escurecendo a face.
- Esse não é o fim minha jovem. Falta pouco para o fim, é verdade, mas ainda não é. – o homem parou na frente dela.
- Eu sei. – ela sorriu – Ainda tenho muitos problemas para encontrar soluções antes do fim.
- Nós nos veremos novamente.
- Eu já imaginava.
O homem ergueu a mão direita e, com o dedo, tocou na testa dela. Como das outras vezes que este movimento fora feito, a jovem desapareceu.
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Aquela cena foi surpreendente, até mesmo para os quatro. Eles encararam-se. Olharam-se. Pela primeira vez em um ano os quatro podiam se ver.
Sorrisos iluminaram suas faces. Eles se aproximaram e uniram-se com um abraço coletivo. A felicidade transbordou-lhes o corpo e atingiu todos os presentes. Os quatro sentiam-se completos, sentiam-se como se abraçassem irmãos que a muito não se viam.
- É muito bom voltar. – a voz dos quatro uniu-se em uma única fala que, naquele momento, lhes bastou.
Soltaram-se e dividiram-se em duas duplas. O que eles queriam e não podia esperar. Ignoraram os presentes e focalizaram os olhos uns dos outros.
- Gina.
- Harry.
- Eu te amo. – pronunciaram juntos.
Verde-esmeralda e cor-de-mel refletiram tal sentimento.
- Hermione.
- Rony.
Azul e castanho se estudaram. As palavras já lhes eram desnecessárias. Sorrisos apaixonados desenharam-se em seus lábios. Lábios que foram unidos em um calmo, carinhoso e, mais do que tudo, ansioso beijo.
O outro casal aproximou ainda mais os corpos, a tal ponto que cada um pôde sentir o bater do coração alheio. O contato foi finalizado por um beijo ardente e apaixonado.
A felicidade e o amor dos dois casais contagiaram os presentes. Pondo-se eretos, todos sorriram e gritaram felizes. Muitos se abraçaram e, quem teve a oportunidade, selou o amor com beijos e mais beijos.
- Hey. – Sarah puxou Owen para um abraço.
- Eu te amo. – falou ele, olhando-a.
- Eu também.
Beijaram-se. Os braços dela cruzaram-se no pescoço dele e os dele na cintura dela.
Remo olhou em volta. Logo achou o par de olhos cintilantes de Tonks. Não falaram nada, apenas se aproximaram e se beijaram com paixão.
- Quer namorar comigo? – sussurrou Neville no ouvido de Luna enquanto se abraçavam.
Ela se soltou dele e o encarou séria. Ele engoliu em seco, receoso.
- Finalmente. – ela riu do espanto dele – É claro que quero.
Ele não esperou mais, uniu seus lábios aos dela com rapidez. Ela se surpreendeu, mas correspondeu intensamente.
Harry e Gina encerraram o beijo. Porém, não se distanciaram. Fitaram-se por um tempo, ligeiramente ofegantes. Tinham tanto a dizer e nada conseguiam proferir naquele momento.
Rony e Hermione encerraram o beijo apenas porque lhes faltou fôlego. Olharam-se e sorriram divertidos. A necessidade por tal beijo era maior do que haviam imaginado.
- Olhem só o que vocês fizeram. – uma voz sábia e infinitamente divertida fez os dois casais se separaram em definitivo.
Eles olharam para o lado e viram Cassius. Ele estava completamente ereto, seus braços estavam cruzados na frente do peito, seu olhar fixo nos demais presentes e o largo sorriso ocasionalmente ameaçava tornar-se uma risada. Acompanharam o olhar do mago e não seguraram os sorrisos.
Era incrível ver tantas pessoas se abraçando e se beijando. Os quatro preferiram deixar os combatentes imersos em suas comemorações. Suas atenções se voltaram para o mago, que agora os olhava.
- Temos muito que conversar. – Harry fitou o mago.
- Eu sei. – o mago não desfez o sorriso – Vocês quatro também devem conversar.
- Sabemos disso. – concordou Hermione com sabedoria.
- Que bom que voltaram. Prefiro não imaginar o que seria de nós se vocês não tivessem chegado. – o mago pareceu cansado.
- Agora tudo vai melhorar. – Gina sorriu alegre.
“Ou não.” - Cassius não conseguiu evitar que tal pensamento lhe viesse.
Os cinco olharam novamente os outros combatentes e esperaram. Minutos depois, os centauros caminharam até eles e fizeram leves reverências com a cabeça. Harry, Gina, Rony e Hermione sorriram e retribuíram o ato. Os centauros não falaram mais nada, apenas recolheram seus companheiros mortos e dirigiram-se para a Floresta Negra.
Os lycans se aproximaram e os cumprimentaram com seu ato mais respeitável: mãos sobre os peitos esquerdos. O cumprimento foi retribuído do mesmo modo, somado aos sorrisos. Com uivos alegres, os lycans, vivos e mortos, desapareceram, voltando aos seus domínios.
Os uivos dos lycans despertaram os outros combatentes. Os aurores tomaram a frente e, após uma leve reverência, tomaram os corpos dos companheiros e aparataram. Restou apenas a Ordem da Fênix e a Armada de Dumbledore. Antes que estes ou aqueles pudessem sequer pensar em algo, Owen e Sarah caminharam até os “jovens”.
- Graças à Merlim vocês voltaram! – gritou Sarah sem se importar por parecer maluca.
Cassius se virou e se afastou. Seus lábios estavam apertados. Uma risada forte lutava para sair-lhe pela boca. Ele andou alguns metros e permitiu-se rir baixo. A fala de Sarah soou engraçada para ele. Incrivelmente engraçada.
Os “jovens” sorriram divertidos. Para eles a fala de Sarah também soara engraçada, mas eles se controlaram.
- É bom voltar. – Rony quebrou o silêncio.
Sarah abraçou-os com força e carinho. Ela sentira muita saudade deles.
- Eu já volto. – ela sorriu carinhosa e apontou com a cabeça para o mago.
- Tudo bem. – Harry sorriu.
Sarah se afastou.
Owen sorriu para eles. Entretanto os olhares deles o fizeram ficar sério.
- Então, vocês já sabem?
- Já. – respondeu Hermione séria.
- Precisamos conversar sobre isso. – informou Gina, igualmente séria, mas o brilho em seus olhos fez Owen sentir-se melhor.
- Tudo bem. – ele forçou um sorriso – Então, como vocês estão?
- Ótimos. – Rony sorriu, como os outros.
- Entramos em detalhes na sua casa. – sussurrou Harry para ele.
- Entendi. – Owen piscou para eles.
Ele se afastou, deixando-os livres para que os outros combatentes viessem cumprimentá-los. Ele olhou para Sarah e Cassius. Uma batalha recomeçou no interior dele. Ele fechou os olhos e forçou-se a não pensar sobre aquilo, pelo menos não naquele momento e lugar.
Sarah sorriu para o mago. Ele olhou-a e continuou a rir.
- Qual é a graça? – questionou ela.
- Outra hora eu explico. – ele riu mais um pouco e voltou ao normal, ficando apenas sorridente – Tudo bem?
- Sim. – ela sorriu – E você?
- Fisicamente, não poderia estar melhor. – o sorriso dele vacilou.
- Entendo. – ela pousou a mão no ombro dele.
Eles permaneceram em silêncio. O olhar de Cassius no vazio e o dela cravado na face indecifrável dele.
- Senti medo. – confessou ela – Medo por você. – isto atraiu o olhar dele.
- Temeu por mim Sarah? – ele pareceu surpreso – Não devia. – ele ficou sério.
- Não adianta tentar recolocar essa sua máscara de homem frio e sem emoções. – ralhou ela – Ela não funciona mais comigo. Nem ouse tentar.
Ele a olhou nos olhos. Azul no cinza. Um suspiro doloroso saiu da boca de Cassius. Ele pareceu derrotado. Ela sorriu piedosa e o abraçou com carinho.
- Desculpe-me. – suplicou.
- Sou eu quem devo pedir desculpas Sarah. – ele correspondeu ao abraço – Ele está nos olhando. – sua voz saiu magoada.
- Eu sei. – falou ela.
Os olhos dela fitaram os azuis de Owen. Ele estava distante e em seu olhar podia-se ver ódio e magoa. Sarah fechou os olhos. Naquele momento, Owen não lhe importava. Cassius era quem necessitava dela.
A Ordem da Fênix e a Armada de Dumbledore não sabiam o que fazer. Luna e Neville se olharam, sorrisos marotos cintilavam em suas faces. Eles ergueram as mãos e bateram palmas. O quarteto focalizou o casal e sorriu. Todos os combatentes seguiram o casal. As palmas preencheram todo o espaço. Alguns gritos de “parabéns” soaram. O quarteto apenas sorriu ainda mais.
Harry ergueu a mão, pedindo silêncio. Ele foi atendido.
- Nós não merecemos isto. – a voz dele soou alta e forte, como a de um líder – Vocês fizeram coisas espetaculares enquanto estávamos ausentes. – alguns “humildes” gritaram agradecimentos, fazendo todos rirem – Eu sei que muitos pensaram que eu não voltaria. – as risadas cessaram – Mas eu voltei. Nós voltamos. – ele olhou os amigos que sorriam para ele – Acredito no que eu digo: essa guerra vai acabar o mais cedo possível. O Exercito Sombrio vai tremer perante todos nós. – ele abriu os braços, mostrando todos os combatentes – Nós vamos ganhar esta guerra! O Dragão Negro vai cair e nunca mais irá se reerguer!
Todos bradaram vivas. As palmas soaram mais fortes do que antes. Todos os membros da Ordem da Fênix fizeram leves reverências e, após tomarem os corpos dos companheiros, aparataram. Os alunos da AD teimaram em querer cumprimentar fisicamente o quarteto, contudo os professores ralharam com eles. Os gritos de Minerva McGonagall foram os mais altos, rendendo risadas ao quarteto. Os alunos foram escoltados de volta para o castelo. Por algum milagre, nenhum aluno havia perdido a vida, alguns estavam feridos gravemente, mas não era algo que o Saint Mungus não pudesse resolver.
Ficaram no vilarejo somente os líderes da Ordem da Fênix, a própria McGonagall, Neville e Luna. Eles se aproximaram do quarteto e receberam imensos sorrisos como cumprimento.
Luna deixou toda e qualquer formalidade de lado. Ela, literalmente, pulou sobre os quatro, abraçando-os ao mesmo tempo. Todos riram da descontração da garota.
- Eles são meus amigos, oras. Senti saudades. – ela se defendeu depois de soltá-los.
- Sabemos Luna, nós sabemos. – Neville sorriu para a, agora, namorada oficial.
Ele cumprimentou o quarteto com abraços firmes, mas não menos carinhosos.
- Vocês fizeram falta cara. – ele deu um leve soco no ombro de Harry que riu descontraído.
A risada de Harry dissipou qualquer ideia de mudança no jeito de ser de cada um deles. A Ordem suspirou aliviada.
- É ótimo ver vocês. – Tonks abraçou Harry com força.
- Concordo. – Lupin estendeu a mão para Gina.
Ela olhou para a mão dele e ficou extremamente séria.
- O que foi? – perguntou Remo, desconcertado.
- Para que formalidades? – questionou Gina, divertida, antes de dar um forte abraço no maroto e um beijo estalado na face dele.
Todos riram novamente. Era bom rir depois de tudo o que tinham passado com aquela recente batalha.
Tonks abraçou os outros com igual entusiasmo. Lupin ficou envergonhado, mas abraçou Rony e Hermione também. Ele e Harry se olharam. O maroto sorriu. Harry o abraçou com carinho. Lupin sentiu-se sendo abraçado por um filho.
- Tiago e Lílian tem muito orgulho de você. – murmurou Remo quase sem voz – E Sirius também.
- Obrigado. – respondeu Harry com um fio de voz.
Eles se soltaram e sorriram um para o outro novamente. Quim sorriu para o quarteto. O ex-auror abraçou-os com entusiasmo, proferindo inúmeros elogios. Moody aproximou-se, apoiou-se na bengala e fitou-os.
- Só tenho uma coisa a dizer. – falou ele extremamente sério – Finalmente vocês voltaram! – ele completou aos risos.
Todos caíram na gargalhada. Até mesmo Owen, que estava um pouco afastado e sério, deixou-se rir. Miverva, ainda aos risos, aproximou-se deles.
- Pelas barbas de Merlim! Vocês realmente me deixaram aflita. – ela gostaria de ser séria, mas Moody realmente havia passado dos limites com aquela brincadeira.
Hermione prestou muita atenção na exclamação da atual diretora de Hogwarts. Ela olhou para Rony. Chamou-o mentalmente. Ele a olhou com questionamento no olhar. Ela apenas ergueu as mãos e tocou a face dele. Ele olhou-a espantado. Ela sentiu a pele dele: dura, áspera e seca.
“Pelas barbas de Merlim?!” – comentou Hermione mentalmente, sabendo que Harry, Gina e Rony a ouviriam – “Merlim não tem barba!”
O quarteto caiu na risada instantaneamente. Os outros pararam de rir e olharam-nos com espanto. Eles riam muito, pareciam ter ouvido a melhor piada do século.
- Não se preocupem. – Cassius chegou perto dos membros da Ordem – Eles estão em estado normal. – ele sorria.
Sarah sorriu para todos e se distanciou. Owen olhou-a sério.
- Por que me olha assim? – perguntou ela, nervosa.
- Por nada. – resmungou ele, contrariado.
- Então pare de me olhar assim. – sentenciou ela como ameaça.
- Não comece, ok? – sussurrou ele, derrotado
- Você é um idiota Owen. – admitiu ela.
- Sou filho de um idiota maior. – retrucou ele.
- Não fale assim do seu pai. – ralhou ela.
- Mas é verdade! – falou ele um pouco mais alto do que gostaria.
- Você não sabe de nada Owen. De nada! – respondeu ela no mesmo tom.
- Então você é quem sabe? – sussurrou ele, seco – Você não viveu toda a sua vida com ele Sarah. Você não o conhece. Você não nos conhece. Você não conhece nem a ele, nem a mim. Assim como não conhecia o Lars. – completou ele, ácido.
- Olha aqui... – ela ergueu a voz, pronta para uma briga feia.
- Sarah! – uma voz chamou-a.
Ela se virou. Owen apenas ergueu o olhar. Seus olhos se encontraram com os de Cassius.
- Chega Owen. – murmurou Cassius, suplicante – Não estrague o amor que Sarah tem por você. - pelo olhar do mago Owen sentiu uma incrível dor e mágoa.
- Não se dirija a mim. – retrucou Owen, seco.
- Owen! – Sarah voltou-se para o noivo.
- Sarah! – Cassius atraiu a atenção dela novamente – Deixe. – o mago sequer olhou o filho novamente, virou-se e caminhou para perto de Harry.
O quarteto estava tendo uma conversa descontraída com os membros da Ordem da Fênix. Luna, com um rápido resumo, deixou-os a par dos fatos relacionados à AD. Eles sorriram felizes e a parabenizaram pelo trabalho realizado. Neville também foi muito elogiado pelo quarteto, o que rendeu mais risadas quando ele corou envergonhado. Luna apenas uniu seus lábios aos dele em um belo beijo, calando a todos.
- Ah... – gritou Gina, feliz – É namoro?
- Sim. – respondeu Luna sorridente, abraçada à Neville.
- Finalmente! – Remo ergueu as mãos para o céu.
- Hey! – gritou Neville com revolta.
Todos riram. Cassius se aproximou novamente, colocando-se ao lado de Harry.
- Obrigada por ter vindo senhor McWell. – Tonks sorriu para o mago.
- Não foi nada Nimphadora. – ele sorriu em retorno.
- Ninmhadora não. – ela fez uma leve careta – É Tonks! – completou energicamente.
- Tudo bem então. – Cassius sorriu – Tonks!
Todos riram novamente.
Palmas soaram pela rua. Eles se calaram e olharam naquela direção. Um vulto vestido como um comensal batia palmas. Estava mascarado e sozinho.
Todos sacaram as varinhas e apontaram para o comensal. Ele parou de bater palmas e ergueu as mãos em rendição.
- Não deveriam fazer isto. – uma voz rouca veio do comensal.
- Por que não? – Moody estava sério como nunca antes.
- Você, Lupin, devia me proteger. – o comensal completou com mais força – Este foi o acordo!
- Acordo? – todos se viraram para Lupin.
- Eu não fiz acordo nenhum com nenhum comensal. – defendeu-se Remo.
- Com um comensal, não. Fez com um informante. – interveio o comensalm seco – Preste atenção na minha voz Lupin. – completou irônico.
Todos encararam Lupin.
- Você é o meu informante? – Lupin pareceu descrente.
- Sim, sou eu. – o comensal riu desdenhoso – Somente um comensal teria aquelas informações Lupin, somente um comensal.
- Revele-se então. – bradou Moody.
- Como deseja. – o comensal ergueu as mãos.
Com uma ele retirou o capuz e com a outra a máscara.
O espanto foi geral.
Cabelos louros platinados um pouco mal cuidados. Olhos azul-acinzentados.
Harry passou a frente de todos e encarou o comensal.
- Malfoy! – a voz dele saiu banhada em ódio.
- Potter. – falou Draco, sua voz agora era normal.
- Eu vou te matar! – grunhiu Harry e começou a correr na direção do outro.
- Harry! – gritou Gina.
Hermione fechou os olhos e desapareceu.
Harry parou quando ela surgiu a sua frente. O olhar dela era incompreensível.
- Saia. – murmurou Harry.
- Não. – retrucou ela com força – Espere um pouco. – pediu ela – Deixe-me sondar a mente dele. Descobrir se ele está dizendo a verdade.
- Isto não vai mudar nada. – sussurrou ele para ela – Ele foi o culpado pela morte de Dumbledore.
- Eu sei. – Hermione se virou – Acalme-se.
Harry ia discutir, mas Gina pegou-o pelo braço e o puxou de volta. Hermione caminhou até Draco. Seus olhares eram tensos. Ela parou a meio metro dele e cruzou os braços.
- Você não me intimida Granger. – disse ele somente para que ela ouvisse – Independente do que você tenha feito aqui hoje.
- Eu não esperava nada diferente de você Malfoy. – rebateu ela seca.
- Faça o que deve ser feito. – Draco olhou-a no fundo dos olhos.
Ela devolveu o olhar com intensidade. Draco fechou os olhos e pareceu relaxar. Hermione vasculhou a mente dele. Viu todas as lembranças dele desde o final do seu quinto ano em Hogwarts. Durante este ato, Hermione permaneceu imóvel e sequer piscou.
Lupin, Tonks, Moody, Quim e Minerva começaram a conversar aos cochichos. Luna ficou parada, apenas olhando Draco, deixando Neville preocupado. Rony e Gina tentavam acalmar Harry, que discutia com eles mentalmente. Cassius analisava a cena e preocupava-se com a mudança rápida de humor de Harry. Já Sarah e Owen estavam se olhando e tentavam encontrar uma solução para a briga entre eles com apenas esta ação. Eles estavam alheios ao que acontecia na rua.
Hermione piscou. Draco abriu os olhos e levou a mão direita à cabeça, que começava a doer.
- Parabéns, Malfoy. – disse Hermione desdenhosa – Você conquistou minha confiança. – completou séria, virando-se.
- Está falando sério, Granger? – perguntou Draco, surpreso.
- Sim, Malfoy. – ela parou e se virou – Venha comigo. – completou após dirigir um rápido olhar para a entrada do vilarejo.
Ela se virou e caminhou com rapidez até os outros. Draco a seguiu com certa distância.
- Ele é confiável. – informou Hermione rápida.
- Mas Hermione?! – questionou Harry.
- Não temos tempo agora, Harry. – ela o olhou séria.
- Como assim? – Rony se preocupou.
- Repórteres do Profeta estão vindo para cá. Ministério e curiosos também. – explicou Hermione.
- Vamos embora. – pediu Gina.
Moody enfiou a mão no bolso interno do casaco e entregou um pedaço de pergaminho para o quarteto.
- Aparatem ai. – pediu ele.
- Tem certeza sobre o Malfoy, Hermione? – perguntou Tonks.
- Sim. – respondeu a garota, convicta.
- Ok então. – Tonks deu e ombros – Owen! Sarah! – o casal se virou para ela – Para a Ordem!
Eles assentiram e, só então, notaram a presença de Draco. Este recebeu o pedaço de pergaminho de Hermione e confirmou com a cabeça.
Todos aparataram. Instantes depois uma massa de jornalistas, burocratas e pessoas curiosas, dentre estas os moradores do vilarejo, aparataram na entrada de Hogsmeade, encontrando-a intacta e vazia.
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Todos estavam sentados na enorme mesa da sala de reuniões da Ordem da Fênix. Calados, eles esperavam o término de uma conversa. Harry, Rony, Gina e Hermione discutiam mentalmente.
“Hermione como você pode confiar nele?” – Rony estava tão nervoso quanto Harry.
“Eu vi o que ele viu, ouvi o que ele ouviu e senti o que ele sentiu” – respondeu Hermione calma.
“Mas Mione, alguém pode ter alterado a memória dele!” – observou Gina.
“Não. Ele pode ter recebido algum ‘Obliviate’ e perdido algumas lembranças. Mas nenhuma lembrança falsa foi implantada na mente dele.” – negou Hermione sabiamente.
“Você tem certeza Hermione?” – Harry pareceu mais calmo.
“Sim, absoluta.” – respondeu Hermione – “Posso falar sobre o mais importante para vocês.”
“Não!” – falou Harry rápido – “Deixe que ele próprio confesse.”
“Não há nada para ser confessado” – afirmou Hermione.
Os quatro se encararam e suspiraram. Draco retirou o olhar da mesa e fitou os olhos de Harry.
- Quer a minha confiança e amizade Malfoy? – Harry olhou-o com frieza.
- Confiança sim, amizade não. – a resposta do sonserino espantou e ele completou, desdenhoso – Não gosto de você Potter, nunca gostei e sei que nunca gostarei.
- É recíproco. – falou Rony seco.
- Se quer a nossa confiança, Malfoy, responda as nossas perguntas. – Gina olhou-o séria.
- Com prazer, Weasley. – Draco encostou-se na cadeira e cruzou os braços sobre o peito.
- Onde é o esconderijo de Tom? – Moody foi o mais rápido.
- De quem? – Draco pareceu confuso.
- Nós tratamos Voldemort pelo seu nome verdadeiro há quase seis meses. – explicou Cassius.
- Certo. – Draco olhou o mago com curiosidade – O esconderijo do... Tom? – ele dirigiu-se à Moody – Não sei.
- Como não sabe? – perguntou Quim.
- Assim... não sei. – respondeu o loiro, firme.
- Ele diz a verdade. – Hermione impediu que novas perguntas sobre o assunto fossem feitas.
- Por que se uniu ao Tom? – perguntou Gina.
- Não tive escolha. - respondeu Draco, olhando-a – Meu pai me obrigou. Se eu não o fizesse a vida de minha mãe, e a minha própria, seriam tiradas.
- Sua missão era matar Dumbledore. – afirmou Harry – Por que não conseguiu fazê-lo?
- Como sabe, Potter? – surpreendeu-se Draco.
- Eu estava lá. – respondeu Harry seco – Agora me responda. Por que não conseguiu?
- Não sei Potter. – Draco pareceu sincero – Não era o certo, eu sabia que não era. Somente pela vida de minha mãe eu suportei ir até aquele ponto. Contudo, a partir dali, não pude mais.
- Então Snape finalizou para você, por quê? – perguntou Harry novamente.
- Pelo que eu sei, ele e minha mãe tinham um acordo. Se eu não cumprisse, ele devia cumprir. – respondeu Draco.
- Depois daquilo você ficou recluso no esconderijo? – perguntou Tonks.
- Sim. – Draco olhou-a – Fiquei naquele inferno até quando decidir que era hora de sair dali. Foi assim que comecei a agir como um informante.
- Por que traiu Tom? – questionou Remo.
- Eu odeio aquele mestiço imundo. – falou Draco seco – Ele torturou minha mãe na minha frente e eu sequer podia me mover.
- Se você queria sair, por que participou do ataque hoje? – Minerva fez questão de ser a próxima.
- Eu não participei do ataque. Assim que aparatei, me ocultei. Minha missão não era ajudar os comensais e o maldito Exército Sombrio. Pelo contrario, eu devia impedi-los. – explicou Draco.
- Ele diz a verdade. – quem o defendeu foi Luna.
- Luna?! – Neville olhou-a.
- Ele me salvou. – afirmou ela – Se não fosse por ele uma daquelas criaturas teria me matado.
Draco apenas acenou positivamente com a cabeça.
- Obrigada. – Luna sorriu para ele.
Os olhos de Draco espelharam sua surpresa. Porém, ele não teve tempo para responder.
- Por que você só saiu agora? Por que não antes? – questionou Moody.
- Eu estava esperando que alguma informação realmente importante caísse em minhas mãos. – Draco desviou os olhos de Luna.
- E ela caiu? – perguntou Tonks.
- Sim. – Draco sorriu triunfante.
- Que informação? – questionaram os membros da Ordem, juntos.
- Essa informação eu entregarei apenas ao Potter. – Draco encontrou os olhos verdes-esmeraldas de seu rival.
- Deve ser uma informação muito importante mesmo. – falou Harry, sarcástico.
Um silêncio constrangedor caiu sobre eles. Os olhos de Harry faiscavam contra dos de Draco.
“Harry.” – chamou-o Hermione, mentalmente.
“Não importa se ele está do nosso lado Hermione, eu não confio nele. Eu não o aceito.” – disse Harry feroz.
“Se ele está do nosso lado, como provou que está, você deve dar uma chance para ele” – interveio Gina.
“Até você Gina?” – Rony olhou-a com desaprovação.
“Eu tenho minhas próprias opiniões Ronald.” – disse a ruiva, fria.
“Uma chance, Gina.” – Harry olhou-a – “Apenas uma chance. Se ele fizer qualquer coisinha errada, eu o mato!”
“Ao menos uma chance ele teve.” – Hermione sorriu.
- Certo, Malfoy. – Harry quebrou o silêncio – Nós te daremos uma chance. Apenas uma chance, de provar que está realmente do nosso lado.
- Uma chance é tudo o que eu preciso. – falou Draco.
- Ele fica aqui. – afirmou Moody.
- De acordo, Malfoy? – questionou Quim.
- Sim. – respondeu Draco.
- Acompanhe-me. – Tonks se levantou.
Draco imitou-a e ambos se retiraram.
Todos olharam para Harry.
- Se ele nos trair. Nem vocês – ele apontou para Hermione, Rony e Gina – poderão me impedir de matá-lo.
- Você vai ter companhia em tal feito. – Rony fechou os punhos com força.
- Sem hostilidades agora. – pediu Luna.
- Isso mesmo Luna. – Gina sorriu.
- Se vocês me dão licença. – Cassius se levantou – Eu vou me recolher.
- Te vemos mais tarde. – Hermione sorriu para ele.
- Perfeito. – ele sorriu de volta e fez uma leve reverência para os quatro.
Eles sorriam abertamente e retribuíram a reverência. O mago se despediu dos outros e se retirou. Minerva também se despediu e, junto com Luna, retornou para Hogwarts. Owen e Sarah, que permaneciam calados, também foram embora. Como não havia mais assuntos de grande importância para se tratar com o quarteto, Moody e Quim se retiraram, para verificar a situação da guerra. Remo sorriu para os quatro.
Então, a face de Gina se iluminou e ela perguntou rápido:
- Onde estão os meus pais?
- Sabia que isso não ia demorar. – Remo sorriu ainda mais – Apesar do nível critico da guerra, seus pais se recusaram a vir morar aqui.
- Então... eles estão na Toca? – perguntou Rony, dividindo a mesma ansiedade da irmã.
- Sim. – respondeu Remo e se virou para Hermione – Seus pais ainda moram no mesmo local. Nós tomamos o cuidado de planejar defesas para eles.
- Obrigada. – Hermione sorriu emocionada.
Vamos? – perguntou Gina quase suplicante.
- É claro. – Harry sorriu.
Eles se levantaram e se despediram de Lupin. Caminharam de mãos dadas, Harry com Gina e Rony com Hermione. Os sorrisos em suas faces iluminaram o caminho. Ao saírem da sede, Hermione se separou de Rony.
- Vou para minha casa. Encontro vocês mais tarde. – disse ela sorrindo.
- Tudo bem. – afirmou Rony e se despediu dela com um beijo.
Ela aparatou sorridente.
- Vamos para casa. – falou Gina emocionada antes que os três aparatassem.
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