Missão Alemanha
Capítulo 10. Missão Alemanha
Bellatrix e Rodolfo desembarcaram em Amsterdã na segunda semana de novembro. Embora não devessem permanecer muito tempo na Holanda, Bellatrix insistiu que ficassem lá por alguns dias além do inicialmente planejado. Estava preocupada com a má qualidade dos documentos falsos de Rodolfo, que, embora passassem sem problemas aos olhos dos trouxas, seriam rapidamente descobertos por um bruxo um pouco mais experiente. Assim, ela resolveu permanecer na cidade portuária holandesa por tempo suficiente para fazer contato com um habilidoso falsificador bruxo que tivera a chance de conhecer em sua estadia na Bulgária.
Esses alguns dias acabaram por se transformar em mais de um mês de espera pelo sujeito. Bellatrix e Rodolfo passaram todo esse tempo hospedados em quartos vizinhos de um hotel. Ela tentara persuadi-lo de que seria mais seguro ocuparem o mesmo quarto e se fazerem passar por um casal, mas Rodolfo fora irredutível.
Bella sabia que ele tinha deixado uma noiva na Inglaterra e não estava nem um pouco interessada numa relação mais profunda que a profissional com aquele bruxo ríspido e autoritário, mas ainda assim não podia deixar de sentir uma pontada de ressentimento. Afinal, ninguém antes a havia rejeitado. Todos os homens que conhecera desde a escola sempre se mantiveram em torno dela como moscas à espera de uma ínfima migalha de sua atenção.
Rodolfo não só a rejeitava como parecia meio temeroso da companhia dela. Bellatrix supunha que isso fosse devido à discussão dos dois sobre sua volta à Inglaterra, há mais de um ano, quando ela se recusara a fazer o que ele mandava e permanecera na Bulgária. Mas isso não explicava totalmente as atitudes arredias do bruxo.
Rodolfo, por outro lado, achava a convivência com aquela jovem bruxa tão irritante quanto surpreendente. Ele se pegava cada dia mais impressionado com a maneira apaixonada dela de falar sobre o Movimento e a forma como sua personalidade expansiva se retraída quando se debruçava em livros e pergaminhos a fim de traçar planos de viagem e rotas de fuga alternativas. Ou quando resolvia aproveitar suas poucas horas livres relendo livros surrados sobre a filosofia da purificação. Ou ainda quando ela pegava gramáticas e dicionários de alemão e os estudava com uma determinação ilimitada. Ou, mais que em qualquer outro momento, cada vez que contemplava aquela jovem que Voldemort descrevia como combinação perfeita de ousadia e precisão perder vários minutos diante de um espelho corando os lábios e arrumando os cabelos.
No início de dezembro, Bellatrix e Rodolfo enfim partiram para Berlim, agora com documentos muito mais confiáveis, numa viagem de trem que levaria pouco mais de metade de um dia.
Juntos na cabine, pela primeira vez em muitos dias, Bellatrix não conseguiu se concentrar em seus mapas e livros e tentou conversar sobre algo ameno com seu protegido para matar o tempo.
Foi uma grande surpresa para ela descobrir no que Rodolfo estivera trabalhando no último ano: comandara uma companhia comensal em um campo de batalha de verdade. Apaixonada por estratégia militar, a jovem não escondia o enorme prazer com que ouvia as narrativas de cada operação de que Rodolfo participara, cada emboscada, cada movimento de tropa. Ele chegou a pegar os guardanapos do vagão-restaurante para desenhar detalhados mapas dos lugares onde lutara. E ela parecia muito inconformada de nunca ter tido a chance de lutar de verdade.
A resposta de Rodolfo vinha na forma de um riso desdenhoso e a mesma repetição de palavras que insistiam que a culpa era dela mesma por não ter voltado à Inglaterra na época em que a guerra estava mais ativa.
Bellatrix passou parte da viagem concentrada em preparar sua nova identidade falsa: Ana Vronsky, representante de uma fábrica de tapetes voadores russa. Conseguira a fotografia de uma garota loira de olhos verdes e sardas no rosto para colocar no documento, mas não parecia muito convincente. Ficara arrependida de não ter pedido ao seu conhecido em Amsterdã que fizesse uma identidade para ela também.
Quando o guarda exigiu seu passaporte, Bella ainda temeu que pudesse ser descoberta. Não achava que os trouxas fossem capazes de lhes causar grandes problemas, mas podiam faze-los perder um tempo precioso. Mas não era à toa que vinha estudando Oclumência desde o sexto ano de Hogwarts.
Facilmente o guarda foi despachado sem que nem ao menos tivesse pedido os documentos de Rodolfo, ao que ela lançou um sorriso vitorioso ao colega dizendo:
- Não me arrependo nem um pouco de ter voltado à Inglaterra há um ano atrás; aprendi muito na Bulgária.
E Lestrange sabia que Bellatrix não mentia. Era provavelmente a Comensal mais bem preparada para cuidar da segurança de alguém ou de alguma coisa. E isso lhe dava uma boa idéia do quão importante era sua missão.
Não eram apenas os agentes do Ministério da Magia alemão que aguardavam com ansiedade a chegada à Alemanha de dois bruxos ingleses que, diziam suas fontes, estavam a serviço de Lord Voldemort. Desde a partida de Bellatrix e Rodolfo da Grã-Bretanha, Bartolomeu Crouch vinha preparando um grupo muito seleto de aurores que viajariam disfarçados para descobrirem as verdadeiras intenções dos Comensais no exterior.
Por outro lado, um também seleto grupo de Comensais deixou a Inglaterra nos últimos meses de 1980, em direção a várias partes da Europa, de onde iniciaram discretas viagens com destino a Munique, onde esperariam por notícias de Rodolfo e Bellatrix para levarem em segurança seu achado às mãos do Lord das Trevas.
Quase todos viajavam sozinhos, usando nomes falsos. Eram especialistas em muitas coisas diferentes, desde maldições até a lida com criaturas mágicas, mas os unia a identidade Comensal.
Igor Karkaroff saiu do sul de Londres, onde estivera nos últimos meses criptografando e traduzindo mensagens a serem trocadas entre as várias bases comensais, em direção a seu país natal, a Bulgária, de onde começaria sua jornada. Macnair viajou da Escócia, com passaporte francês, num navio bruxo, se dizendo representante comercial do produto Chaleira Mágica de Nackledirk. Do norte do país, saiu Antônio Dolohov, muito experiente em feitiços para comunicação sigilosa e tortura mágica, usando seus próprios documentos - o Ministério da Magia inglês o conhecia apenas por seus codinomes. Da Irlanda do Norte, saiu Evan Rosier, responsável pelas finanças do grupo. Do País de Gales, partiram Travers, hábil em arquitetar atentados, e Mulciber, especialista na maldição Imperius, ambos trocando de identidade e aparência a cada país por onde passavam para evitar serem rastreados.
Na última escala antes de desembarcar na Alemanha, Igor Karkaroff recebeu em Berna, na Suíça, um nome para procurar em Munique: Ernest Barron, pseudônimo de Augusto Rookwood, alto funcionário do Departamento de Mistérios do Ministério da Magia inglês, que atualmente espionava para os Comensais e estava responsável pela coordenação deles em Munique.
Através de Rookwood, Karkaroff pretendia contatar os dois Comensais que estavam responsáveis pela missão em si (Bellatrix e Rodolfo) para avisar assim que tudo estivesse pronto para recebê-los.
Também esperando por notícias da missão, estava em Munique, após um desaparecimento de vários meses em que dissera estar preso por aurores, Severo Snape. Devidamente instalado num apartamento no centro da cidade, com credenciais falsas de jornalista escocês, Snape acabou por ser o elo de ligação entre os diversos Comensais enviados à cidade. Ele mesmo se encarregou de distribuir as tarefas oficiais e procurar lugares seguros para acomodar cada um, já que Rookwood raramente podia se ausentar de seus serviços em nome do Ministério inglês.
Providenciou também que Travers instalasse em seu apartamento um cofre com proteções mágicas complexas, onde Evan Rosier passou a guardar o dinheiro e os documentos importantes da operação. Dolohov começou uma caçada pelas lojas bruxas da cidade em busca de ingredientes para feitiços que tornariam seus espelhos de comunicação impenetráveis a escutas mágicas, a fim de estabelecer uma comunicação segura e confiável com a alta cúpula Comensal de Londres.
Apesar da aparente segurança que a distância das Ilhas Bretãs dava aos comensais, logo eles começaram a ouvir rumores sobre buscas que agentes especiais da Assembléia Internacional dos Bruxos vinham fazendo em points bruxos de Munique à procura de qualquer um que tivesse a mais remota possibilidade de ser adepto da purificação.
Ainda assim, ou talvez exatamente por causa disso, o pensamento purificador ia aos poucos fincando raízes na comunidade bruxa local, o que na verdade só contribuiu para que o Ministério da Magia alemão endurecesse ainda mais a intolerância aos acusados de pregarem a purificação, especialmente os ingleses.
Assim, o cerco em torno dos Comensais parecia se fechar rapidamente e foi desejando que a missão terminasse logo e pudessem deixar a cidade o mais depressa possível que o grupo baseado em Munique viu chegar o ano de 1981.
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