Durmstrang



 


Bellatrix puxou Lestrange da poltrona. O rapaz acabara de despertar, atordoado com o súbito mini terremoto que atingira a cabine com a repentina parada do trem.


A jovem o arrastou para o corredor, correndo como louca para o fim do vagão. Se, como ela suspeitava, aurores ingleses haviam conseguido intervir no Ministério búlgaro e armado uma operação para interceptar um trem trouxa, ela não achava que fosse apenas para prendê-los.


Mal tinham chegado ao meio do vagão quando se chocaram com algo grande e quente que impedia o caminho. Uma luz se acendeu e ela pôde reconhecer um rapaz magro, de bigodes finos, uma barbicha e cabelos escuros untuosos crescidos até os ombros.


Mesmo com a pouca luz ele pôde distinguir a Marca Negra no pulso alvo de Bellatrix e se levantou rapidamente, arrumando as vestes e se apresentando pomposamente:


— Senhorita Black, sou Igor Karkaroff. Estou aqui para levá-la para Durmstrang — ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.


Bellatrix piscou num misto de alívio e desconfiança. Deixou o tal Karkaroff com a mão no ar e se levantou sozinha, puxando um Rodolfo meio delirante junto de si.


— Não preciso de ajuda e não confio em você - ela respondeu asperamente. — E também não sei quem é essa Black, meu nome é Marjory Berkley e estou viajando com meu marido doente para Sofia.


O rapaz riu debochado e puxou a manga direita das vestes, revelando a própria Marca Negra.




A carruagem sacudia subindo pelo estreito caminho aberto na densa floresta de pinheiros.


 


Bellatrix suspirou de exaustão e mirou os dois bruxos sentados à sua frente. Rodolfo estava — como estivera nas últimas três horas — dormindo profundamente, enquanto Karkaroff se ocupava em ler um livro de capa preta. Ela se encolheu na poltrona sentindo o frio do inverno penetrar na carruagem pelas fendas do assoalho, mas não falou nada. Usava uma capa leve e não queria abrir sua valise para procurar uma capa na frente de Karkaroff. Por algum motivo, se sentia desconfortável.


Parecendo adivinhar os pensamentos de Bellatrix, o bruxo levantou a cabeça do livro e a mirou. Depois afastou a cortina, abrindo uma brecha na janela, e sorriu dizendo:


— Já estamos quase lá.


Bellatrix seguiu o gesto do outro e espiou pela janela, encontrando a visão de um gigantesco castelo medieval que se erguia no alto de um penhasco - uma tosca estradinha seguia ziguezagueando pelas fendas da montanha para chegar ao alto.


A subida, que ela imaginara que seria dura para uma simples carruagem, acabou acontecendo facilmente e sem grandes sacolejos. Era início da manhã quando pararam diante do castelo.


Era todo feito de pedra cinzenta, lembrando Hogwarts, mas ao mesmo tempo parecia um bocado diferente do encantador castelo inglês. Durmstrang dava a impressão de ser mais que um castelo, uma fortaleza medieval, com altos muros, guaritas e torres sem janelas. Havia um lago, mas lá embaixo do penhasco, de modo que era preciso percorrer um longo caminho para chegar até ele (o que realmente não fazia grande diferença, já que sua superfície estava completamente congelada, exibindo um brilho de cristal que ofuscava os olhos).


Bellatrix e Rodolfo foram recebidos em Durmstrang bem discretamente — apenas uma pequena delegação de professores e alguns elfos domésticos incumbidos de acomodá-los. A escola não queria se comprometer com a Assembléia Internacional dos Bruxos ao ser acusada de receber Comensais da Morte procurados em dois países.


A discrição dos responsáveis pela escola não impedia, no entanto, que Bellatrix e Rodolfo fossem reconhecidos pelos estudantes que haviam permanecido na escola durante as férias de Natal. Todos pareciam saber em detalhes a história da garota que, sob as ordens do Lorde das Trevas, invadira dois Ministérios europeus para libertar prisioneiros. Bellatrix esboçava pequenos sorrisos no salão de refeições quando entreouvia alguém recontando suas histórias, sempre floreadas e aumentadas em vários pontos.


Rodolfo passou vários dias na enfermaria de Durmstrang, se recuperando da severa desnutrição e do estresse psicológico a que fora submetido por quase quatro meses.


No último dia do ano de 1978, Karkaroff veio pessoalmente aos aposentos de Bellatrix para anunciar que ela e Rodolfo haviam sido convidados a participar da ceia dos professores.


Ela aceitou e, às onze e meia, estava sendo conduzida por um elfo doméstico para uma sala reservada. Quando Bellatrix adentrou a saleta decorada austeramente onde se reuniam professores e funcionários da escola, um velho senhor que ocupava a extremidade da comprida mesa se levantou pedindo silêncio para um comunicado importante. A seguir, chamou-a para se sentar ao seu lado, apresentando-a aos demais como "a jovem a quem o Lorde das Trevas confiava suas operações realmente ousadas".


Sob palmas de mais de trinta bruxos, Bellatrix ocupou o lugar oferecido ao lado do diretor de Durmstrang, sem, porém, querer falar sobre o que fizera. A imagem que aqueles que conviveram com a jovem naqueles dias guardariam dela seria a da garota séria, precisa e independente, que discutia vorazmente com qualquer um, lutava de maneira ao mesmo tempo apaixonada e obstinada e fazia apenas aquilo que acreditava ser importante. No Movimento Comensal ou fora dele.


Transformada pelos professores da escola numa espécie de exemplo a ser seguido, Bellatrix apareceu em várias classes para falar da ideologia Comensal e de seus objetivos. Ela se mostrara verdadeiramente encantada ao saber que os alunos ali eram instruídos em Artes das Trevas e não apenas naquela perda de tempo de defesa.


A viagem de volta à Inglaterra foi sendo adiada, primeiro porque Lestrange ainda não estava bem o bastante para empreender uma jornada tão longa que praticamente atravessaria a Europa até as Ilhas Britânicas, depois porque Bellatrix estava sempre recebendo notificações alertando-a sobre os rigores que os Ministérios da Magia europeus vinham tomando para prender Comensais nas fronteiras.


Dois meses após sua chegada no país, Bellatrix foi convidada pelo reitor da Universidade Bruxa de Feitiçaria da Bulgária a fazer um curso de Tática de Batalhas Mágicas e Duelo Avançado. Ela aceitou, mal conseguindo se conter de satisfação, sem jamais pensar no tempo que teria que permanecer em solo búlgaro para completar o curso.


E foi precisamente por isso que, quando, em março de 1979, Lestrange anunciou que já estava bem o suficiente para partirem, Bellatrix apenas o mandou ir sozinho. Para o espanto da jovem, Rodolfo reagiu esbravejando que ela estava perdendo tempo, que a ação de verdade estava acontecendo na Inglaterra.


Ela continuou firme, falando calma e pausadamente que, caso ele não tivesse notado, era ela quem era a chefe ali e não receberia ordens de ninguém. Ele se enfureceu ainda mais e quis saber quem afinal era o estudante patético com quem ela estava brincando para de repente ter ficado tão interessada em ficar na Bulgária.


Bellatrix apenas estreitou os olhos muito escuros, os lábios vermelhos resumidos a uma fina linha em seu rosto delicado, e falou calmamente, apontando para um pequeno busto de Salazar Slyterin sobre uma mesa:


— O homem que me faz querer ficar aqui é inglês e já está morto. É esse aí!


Dias depois, Rodolfo foi embora num trem trouxa, a caminho de Paris. De lá, pretendia chegar à Inglaterra por via marítima. Bellatrix ficaria na Bulgária pelos próximos meses.




— Bella!


 


Bellatrix se virou no topo da escadaria e deparou com uma cabeleira loira subindo os degraus dois de cada vez. A jovem Elise Malfoy subia com toda a velocidade que suas pequenas pernas lhe permitiam em direção às pesadas portas de cedro do castelo de Durmstrang, chegando totalmente arfante ao alto.


Já fazia quase seis meses que Bellatrix estava na Bulgária, tempo que ela aproveitara ao máximo para dominar o uso de todo tipo de ataque de duelos, estudar detalhadamente o manejo de armas mágicas proibidas no Reino Unido e aprender até mesmo rudimentos da domesticação de dragões, durante o período em que ficou incorporada à turma regular de Estratégia Militar e Duelística da Universidade Bruxa de Feitiçaria da Bulgária.


Julho já estava começando e Elise acabara de chegar ao castelo de Durmstrang em uma carruagem, com uma pasta cheia de pergaminhos debaixo do braço.


— Tenho notícias - falou a loira, tomando fôlego. — A guerra... a guerra foi declarada! Alvo Dumbledore tornou pública a existência daquela Ordem de adoradores de trouxas...


Bellatrix franziu o cenho e mirou o lago congelado a muitos metros abaixo.


— Bella? — Elise queria uma resposta ao seu esforço de se deslocar da Romênia até ali em menos de dois dias só para trazer a notícia. — Rodolfo Lestrange mandou um comunicado pedindo reforços. Você vai para lá, não vai?


— Lestrange quer ajuda agora... — Bellatrix resmungou com amargura.


A guerra no Reino Unido já vinha desde fevereiro, mas agora havia a notificação oficial. Não que isso fizesse muita diferença. O que realmente incomodava Bella era ninguém tê-la convocado pessoalmente ainda. Afinal, ela supunha que fosse necessária na luta.


— E então?


— Vamos voltar, Elise — respondeu Bellatrix girando os pés para entrar no castelo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.