A proteção do amor
Cap. 35 A PROTEÇÃO DO AMOR
Harry repousou o corpo de Ayame na cama da enfermaria que havia sido preparada com todo o cuidado. Ele levantou a cabeça e olhou pela janela. O dia amanhecia com a aurora mais vermelha que ele já vira. Hermione estava pálida, sentada num banquinho ao lado da cama. Rony estava atrás dela, mexendo em seus cabelos e olhando pro nada. Dumbledore estava sentado em uma das camas ao lado, e Harry se assustou ao ver o diretor tão... desolado. Lupin tinha vindo atrás do garoto, e estava em pé de um lado da janela, do outro estavam Quim e Olho-Tonto. Madame Promfey estava abraçada com a professora MacGonagall perto da porta. Hagrid foi o último a entrar, abaixando-se para passar pela porta, enxugando os olhos inchados com um grande lenço sujo. Ele tinha um grande curativo no ombro, que tinha uma aparência meio estranha. Harry ficou em pé, ao lado da cama de Ayame, fitando seu rosto. Levantou a cabeça e quebrou o silêncio perguntando onde estavam Sr. Weasley, Rebecca, Gina e Neville.
__ Papai foi chamar a mamãe...__ respondeu Rony__ Tonks levou Rebecca para as masmorras e Gina e Neville foram ver como os outros estão... e dar-lhes a notícia.
Harry respondeu com um aceno quase imperceptível, e ajoelhou-se ao lado da cama. O silêncio tomou conta do aposento por quase quinze minutos, porém foi quebrado quando a porta se abriu bruscamente e eles viram a Sra Weasley entrar como uma doida na enfermaria. Seu olhar repousou na cama onde Ayame estava e ela, repentinamente, começou a chorar e a gritar.
__ Ayame!!__ exclamava ela enquanto ajoelhava-se ao lado de Harry, pegando na mão fria da garota__ Minha querida... O que fizeram com você?? Como isso foi acontecer??
O Sr. Weasley veio até sua esposa e a levantou.
__ Vamos, Molly...
__ Oh, minha menina...
Arthur a puxou delicadamente para longe da cama. Harry notou que seus olhos estavam inchados, como se já tivesse chorado muito. Tonks, que tinha acabado de chegar, se aproximou de Molly e ajudou a ampará-la e a levá-la para fora da enfermaria. Quim, Olho-Tonto e Lupin a seguiram para fora. Aos poucos, o aposento foi esvaziando-se, e só sobraram ali Dumbledore, sentado na cama, e Harry, ajoelhado ao lado da cama de Ayame, segurando-lhe a mão que a Sra. Weasley soltara. O garoto levantou a cabeça e olhou para a pedra quebrada no peito de Ayame. Ele queria entender... entender o que ocorrera...
__ Professor Dumbledore?__ murmurou ele.
__ Hum?__ o diretor parecia ter saído de um transe__ Sim, Harry.
__ O que... o que aconteceu com Voldemort?
Dumbledore suspirou, levantou-se e sentou-se no chão ao lado do garoto.
__ Eu estava refletindo sobre isso agora mesmo. Eu não tenho certeza, Harry... Mas acredito que ele foi embora novamente. Não como da última vez, mais forte do que antes, ainda com um corpo, mas mesmo assim realmente enfraquecido.
__ Mas... como...? Meu feitiço não foi forte o suficiente para...
__ Não, não foi isso__ o diretor balançou a cabeça__ Eu fiquei realmente impressionado ao ver o que você podia fazer. Você sabe que... para usar o Avada Kedrava, assim como as outras Maldições, deve-se ter o real desejo do que elas podem causar. Seu desejo de matar Voldemort foi muito forte, Harry...
__ É claro__ respondeu o garoto, raivoso__ Ele... ele...
Ele não conseguiu falar, só olhou para Ayame.
__ Sim...__ Dumbledore não olhou para a garota, mas baixou o olhar__ Porém, quero enfatizar que esse desejo não foi de todo bom, Harry, mas depois lhe falarei sobre isso... Há dois motivos porque seu feitiço não teve o real efeito. O primeiro é porque Voldemort realmente não pode ser derrotado desta maneira. Eu não sei, mas... acredito que ele conseguiu uma certa proteção contra feitiços assim. Porém, mesmo assim, ele seria mais seriamente atingido se não fosse a proteção que corre em seu sangue, Harry, a proteção de sua mãe.
__ Como assim?
__ Quando Voldemort voltou, ele usou o SEU sangue para isso. Assim, a proteção que existia em você passou para ele, e assim ele podia lhe tocar, como eu já lhe expliquei, Harry. Isso o protegeu do seu feitiço.
__ Como se o tiro saísse pela culatra__ ironizou o garoto.
__O que aconteceu após isso foi curioso, Harry, mas eu tenho uma teoria. Quando o seu feitiço atingiu Voldemort, ele sofreu, mas feitiço voltou para você.
__ O feitiço voltou para mim?
__ Sim. Você não viu um clarão verde? Era o feitiço voltando. Aconteceu a mesma coisa que eu penso ter acontecido quando Voldemort tentou mata-lo há quinze anos atrás: quando o feitiço atinge a pessoa que tem uma proteção, ele volta para a pessoa que o proferiu. Isso sim foi um tiro pela culatra, Harry. Era pra você estar morto agora.
__ Então o que aconteceu?
Dumbledore demorou um pouco para responder.
__ Quando sua mãe morreu por você, Harry, ela lhe conferiu uma proteção poderosa, proveniente do amor que ela sentia. Eu acredito que o mesmo tenho ocorrido quando Ayame... entrou na sua frente.
Harry reconheceu a profundidade daquilo.
__ Ela também conferiu uma poderosíssima proteção a você, quando deu a vida dela pela tua. É mais uma prova de como ela te amava. Ela tornou a proteção que já existia em você muitas vezes mais forte.
Harry não respondeu e abaixou a cabeça, limpando uma lágrima que teimava em cair.
__ E tem mais uma coisa__ continuou Dumbledore__ Se, por acaso, você tentasse lançar o feitiço em Voldemort sem a proteção de Ayame, ou seja, sem ela ter... morrido por você... não saberíamos de tudo isso, e você teria morrido com a volta do feitiço.
Harry riu tristemente.
__ Quer dizer então que ela salvou minha vida duas vezes.
O diretor concordou com a cabeça e se levantou.
__ Vamos... todos nós precisamos descansar. Amanha.... amanha cuidamos de tudo o que tem que ser feito em relação a Ayame. __ Sim... Harry também se levantou e ambos andaram em direção a porta.
Antes de sair, Harry parou e lançou um último olhar para Ayame, deitada na cama como se estivesse dormindo. Ele notou que Dumbledore também a olhava.
__ Sabe, Harry__ contou ele, tristemente__ Quando eu vi que Ayame havia morrido... eu também desejei profundamente a morte de Voldemort. Esse sentimento logo passou, felizmente... Mas... é incrível como ela faz falta.
Harry foi para a sala comunal depois de sair da enfermaria. Quando entrou, sentiu todos os olhares voltando-se para ele. Não olhou em volta e, de cabeça baixa, subiu as escadas e foi tomar um banho no dormitório. (eu nem sei se tem banheiro nos dormitórios, mas se não tiver... bom, agora tem). O garoto passou a manha inteira no quarto. Ninguém entrou na hora que ele estava lá, além de Rony, que entrou, perguntou como ele estava, e deitou em sua cama também, fechando as cortinas. Disse que Hermione estava com Gina no quarto das garotas. Ainda bem que era sábado... e não teriam aula por algum tempo. Perto da hora do almoço, Rony acordou (Harry não conseguira dormir, apesar do cansaço) e o chamou para comer algo. O garoto não estava com fome, mas desceu assim mesmo e se esforçou para comer uma tortinha ali mesmo na sala comunal, que estava vazia, exceto por ele, Rony, Gina, Neville e uma Mione de olhos vermelhos, todos muito abalados para quererem descer até o Salão Principal almoçar.
A tarde, o cansaço de uma noite acordado e lutando, além de todo o estresse emocional, venceu Harry, e ele mergulhou em um sono profundo e sem sonhos, felizmente. Acordou com o sol da tarde batendo em seu rosto, lá pelas seis horas. Estava suado, e resolveu tomar outro banho antes de ir, com seus amigos, para o Salão. Harry vestiu uma roupa preta e desceu as escadas do dormitório. Quando fez isso, todos que estavam na sala pararam de falar. O garoto notou que alguns enxugavam lágrimas, principalmente as meninas. Juntamente com Rony e Hermione, eles desceram para o Salão Principal que estava sem decoração, somente com algumas faixas pretas penduradas, assim como na morte de Cedrico. Dumbledore começou o discurso acalmando os alunos quanto a entrada de Comensais em Hogwarts.
__ Infelizmente, foi uma falha nossa, de toda a escola. Porém, eu acredito que devo sincero com vocês. Os Comensais da Morte tiveram ajuda INTERNA... para entrar em Hogwarts. E devo dizer: foi um aluno. Não, ele não se encontra aqui, não precisam fiscalizar seus amigos. Mas o que aconteceu foi uma pena. Não há desgosto maior do que ver uma traição tão grande dentro de nossos próprios muros.
__ A segunda que tenho a dar... todos vocês provavelmente já sabem. Nossa Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Ayame Vermefire... foi assassinada. E, assim como fiz quando nosso querido Cedrico Diggory faleceu, devo informá-los que Ayame também foi morta por Lorde Voldemort.
Um murmúrio percorreu todo o Salão. Harry olhou para onde Dumbledore estava e parecia estar vendo quando Ayame subiu lá em cima para fazer seu discurso quando foi anunciada como a nova professora. Isso parecia ter sido há tão pouco tempo...
__ Todos vocês conhecem as milhares de qualidades de nossa querida Ayame. Uma exímia professora e aluna, excelente pessoa que entendia a todos sem exceção. __ Dumbledore parou um instante para enxugar duas lágrimas tímidas que escorriam pelo seu rosto. Harry nunca o vira chorar antes. O diretor continuou, se recompondo:
__ Para alguns, ela era como uma irmã; para outros, como uma mãe... e devo dizer que, com certeza, ela foi uma incomparável companheira, amiga e... neta. Obrigado.
Dumbledore voltou à sua cadeira, emocionado. MacGonagall o ajudou a sentar, com um lenço roxo na mão. Hagrid estava debruçado na mesa, escondendo o rosto. Harry comeu um pouco, mas nem sentia o gosto da comida na boca. Quase ninguém perto dele falava, mas alguns murmúrios e vozes ecoavam pelo Salão. Porém, nenhuma risada foi proferida. Ao fim do banquete, Harry, Rony e Hermione voltaram se levantaram para voltar à sala comunal. Quando estavam saindo, Cho e Luna os alcançaram. Ambas tinham os olhos molhados. Quando viu as amigas chegando, Mione abraçou Luna e pôs-se a soluçar novamente.
__ Como vocês estão?__ perguntou Cho.
__ Estamos levando__ respondeu Rony. Hermione soltou Luna e voltou para o lado do namorado.
__ Nós sentimos muito__ disse a loira, enxugando as lágrimas__ Meu pai mandou um carta assim que soube, falando que também sente, Harry.
__ Obrigado__ respondeu o moreno, baixinho.
__ Bom__ despediu-se Cho__ Até amanhã, provavelmente.
__ Até.
As duas tomaram o lado contrário a eles, voltando para o Salão. Mal tinham dado alguns passos, Crabbe e Goyle passaram pelo corredor. Quando viram Harry e os outros, apressaram o passo no último. Rony os olhavam com desprezo.
__ Eles sabem que nós sabemos que eles ajudaram Malfoy com tudo aquilo.
__ Que pena que não temos provas__ emendou Mione com raiva. Harry tentou sentir raiva daqueles dois também, mas a tristeza o engolia inteiramente. Eles continuaram a andar lentamente até a torre da Grifinória. Quando chegaram, se separaram: Mione foi para o seu dormitório, Rony ficou na sala, em uma poltrona afastada e Harry foi para o dormitório dos meninos. O garoto deitou-se mas não dormiu. Mesmo ele não querendo, várias lembranças de Ayame vinham em sua mente: quando ela trombou nele na estação do trem quando chegou em Londres... o vôo dos dois em Rayearth... ela cantando na festa, e os dois dançando desajeitados... o primeiro beijo entre os dois... seus cabelos, seus olhos, sua voz... seu sorriso... Suas lembranças foram interrompidas quando a porta do dormitório de abriu e Neville e Dino entraram.
__ Harry? Tudo bem?
__ Aham...__ mentiu ele__ e vocês? E Simas, também está bem? Fiquei sabendo do que vocês fizeram, e agradeço a ajuda.
__ Estamos bem__ respondeu Dino.
Harry notou que ele falava mais por ele, pois Neville parecia bem abalado. Os garotos foram para suas camas. Passados alguns minutos, Neville abriu sua cortina devagar e disse:
__ Harry... Não fique pensando nela... será pior pra você.
__ Eu...__ Harry tentou responder__ Como você sabe que eu estava pensando na Ayame?
__ Está escrito em seus olhos__ respondeu o outro, e logo fechou cortina da cama.
Harry seguiu o conselho do amigo e fechou os olhos, tentando dormir, e depois de algum tempo, adormeceu. No meio da noite, acordou. Olhou no relógio de Rony, que estava na cabeceira da cama do amigo, e viu que eram quatro horas da manha. Virou para o outro lado da cama e tentou adormecer novamente. Não conseguiu. Virou de barriga pra cima e ficou fitando o teto. De repente, começou a bater uma saudade... uma saudade dos velhos tempos, de Ayame...
Harry levantou-se de súbito. Não conseguia mais. Não conseguia ficar ali. Pegou sua Capa de Invisibilidade em sua mala, cobriu-se com ela e saiu pela porta do dormitório e depois pelo buraco do retrato. Os corredores estavam totalmente vazios e silenciosos. Ele correu pelas passagens até chegar na enfermaria, não se importando muito de fazer barulho. A porta da enfermaria estava destrancada, o que era estranho, mas não havia ninguém ali dentro. A cama onde Ayame estava encontrava-se escondida por uma cortina branca. O garoto abriu a cortina lentamente e abaixou-se, ajoelhando-se ao lado da garota pálida como a lua cheia. De repente, Harry teve uma idéia: uma idéia boba, tola, mas que valia até a pena tentar.
Aproximou-se de Ayame e a beijou levemente. Afastou-se e esperou. Nada aconteceu. O que é que ele estava pensando? Sua vida não era um conto de fadas e ele não era um príncipe encantado, apesar de Ayame ser uma verdadeira princesa. Aquilo nunca daria certo. A única coisa que funcionou foi que ele sentiu a frieza dos lábios da garota, que pareciam duas pedras de gelo brilhantes.
Harry sentou-se no chão, cansado e desolado. Repentinamente, tudo veio à tona: toda a sua angústia e tristeza, tudo estourou em forma de lágrimas: e ele começou a chorar como nunca chorara antes; derramou todas as lágrimas que não derramara até agora depois da morta de Ayame; debruçou-se no corpo da garota, suas lágrimas molhando seu corpo inerte, e chorou por não sabe quanto tempo, talvez minutos, talvez horas... e acabou por adormecendo ali, cansado de tudo.
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