Amarelo das folhas - Oneshot
Ela entrou na cozinha, pé ante pé, tomando cuidado para não chamar a atenção dos elfos domésticos que trabalhavam de costas. Atravessou o caminho até a porta dos fundos o mais silenciosamente possível, suspirando longamente quando, enfim, fechou a porta atrás de si.
Calçou os sapatos sentada no pequeno lance de escadas diante da porta e correu em direção ao quintal, sacudindo a cesta de palha acima da cabeça. Suas tranças refletiram o brilho dourado do sol, que apenas começava a macular a névoa do amanhecer. O dia seria azul quando ele conseguisse subjugá-la.
Chegando à cerca viva, atravessou-a de gatinhas por um buraco nos ramos, indo encontrar o bosque. A caçada começou, com seus trêmulos dedos remexendo montes de folhas à procura de alguma que pudesse ser interessante.
Tinha medo de altura, nunca voava (uma vergonha para a família!), mas não tinha medo de adentrar o bosque e arriscar os pés e as mãos entre espinhos. E formigueiros. Tinha alergia às formigas. Ficara cheia de manchas vermelhas da última vez que encontrara um. Sua mãe a enchera de perguntas.
Valia a pena. Estava procurando folhas raras para levar para ele. A mais rara – uma que ele examinaria maravilhado e colocaria dentro do livro de capa preta. Terminar a escola queria dizer poder passar os outonos em casa. E sair para encontrar aqueles olhos amarelos e procurar folhas raras no bosque.
“Sambucus Nigra”, ele dissera, apontando para a folha de um sabugueiro que ela tinha entre os cabelos castanhos. A primeira coisa que ouvira daquela voz melodiosa dele. Rolara barranco abaixo, tinha os cabelos e as roupas cheias de folhas. Não teria tido que correr como louca pelo bosque e rolar o barranco se não fosse o enxame de fadas mordentes. Maldita Bellatrix. Haviam lhe mordido a orelha. Olhos amarelos observando-a com curiosidade. Amava a irmã.
“Sabe o que é um botânico?” Não sabia. Só via os olhos amarelos dele. Do mesmo tom das folhas que caem das árvores no outono.
Era botânico, uma pessoa que estudava as plantas. Teodoro Tonks. Estava fazendo uma pesquisa sobre as arvores da região para um trabalho da universidade. Trouxa. Ficara impressionado por ela não ter se machucado ao tombar diante dele (o barranco terminava tão abruptamente que era quase como se ela tivesse caído de uma árvore). Mas, oras, Andrômeda nunca se machucava. Desde pequena sabia, inconscientemente, como usar sua magia pra se proteger. Caíra certa vez do telhado quando tinha oito anos e nem sequer se arranhara.
Naquele dia ela se machucou. Seus joelhos amoleceram diante dos olhos amarelos e ela perdeu o equilíbrio, caindo de mau jeito, sentada sobre o pé. Não conseguia pisar. Tonks se oferecera para ajudá-la a voltar pra casa. Como dizer não aos olhos amarelos? Ele havia passado um braço por debaixo do braço dela, envolvendo-lhe as costas. Com o outro ele ergueu suas pernas, tão levemente que ela se sentiu como uma pluma sem peso.
Não era. Era a mais alta das irmãs e tinha problemas com o peso. Doces. Era louca por doces. E também adorava cozinhar. Resistira a infância inteira à ameaça de se transformar numa bolota com grandes bochechas rosadas. A adolescência aumentara o problema. Bellatrix e Narcisa eram magras sem nenhum esforço, tinham cinturas finas como bailarinas, pernas bonitas, feições delicadas. Ela não. Nem as poções emagrecedoras resolviam seu problema.
E, no entanto, Tonks (não, deveria chamá-lo de Ted, era como os amigos o chamavam, eram amigos agora, não eram?) lhe sorria de uma maneira que ela nunca vira nenhum homem sorrir para nenhuma de suas irmãs.
Permitira que ele a carregasse até a cerca viva e então inventara que já estava bem para andar sozinha. Não estava, claro, mas deixar um trouxa se aproximar da mansão Black não era exatamente uma opção.
Deixou de roer as unhas poucos dias depois de conhecê-lo, para espanto de sua mãe, que, desde que ela era criança, fazia ameaças, chantagens, promessas, tudo para que Andrômeda parasse com aquele hábito grosseiro. Sem resultado. “E agora ela parou sem mais nem menos”, resmungava a mãe, vendo-a cortar as unhas, que, pela primeira vez em muito tempo, tinham crescido o suficiente para serem cortadas. “Se me contassem, eu não acreditaria”. E Andrômeda simplesmente colocava sua mais inocente expressão no rosto e dizia que não era bonito uma moça ter mãos feias. Não sabia se era bonito ou não, mas Ted lhe dissera isso. Nunca se importara com as mãos antes, muito menos com o estado de suas unhas, mas, a partir daquele momento, começara a se importar.
Ted dissera também que odiava falsidade e ela deixou de mentir. Ou passou a mentir menos. Andrômeda sempre se achara tão pequena e apagada que sentia a necessidade de se cobrir de mentiras brilhantes. Mentia sempre, com ou sem motivo. Mentia principalmente à mãe e a Narcisa, que era tonta o suficiente para sempre acreditar. Não mentia à tia Clotilde, a tia solteirona que morava com eles. Tinha mania de bancar a vidente, embora quase ninguém a levasse a sério. Andrômeda levava. Mais de uma vez já tinha ficado com a impressão de que a tia podia ver através dela. Ela gostava das mãos das pessoas, dizia que era o modo mais fiel de conhecê-las. Pegava-as delicadamente entre as suas e examinava os desenhos formados pelas linhas da pele. “Tudo na vida pode se alterar, menos o destino traçado nas mãos”, dizia sempre e com muita certeza. E às vezes dizia coisas curiosas com intuito de impressionar a pessoa. Andrômeda não sabia se ela na verdade levava a sério ou não a leitura de mãos, mas tinha a impressão de que tia Clotilde não estava brincando quando fazia suas previsões. Ou, pelo menos, não sempre. Dissera certa vez que Andrômeda não ia se casar com um bruxo, o que causara grande rebuliço na família. Um rebuliço nada agradável. Mas, como estava estipulado que tia Clotilde tinha algo de maluca, o fato não teve maiores conseqüências. Mesmo assim, Andrômeda nunca mentia para a tia.
Mentiras eram como folhas de árvores que ficavam nuas a cada outono, segundo ele. Ao fim delas, só restava a galhada seca e retorcida, morta por uma estação inteira. Não era falsa com ele. Não conseguia. Ted sempre notava e voltava os olhos amarelos para ela, fitando-a com tamanha intensidade que seus joelhos ameaçavam ceder de novo.
A família dela não gostava de estranhos, por isso não o convidava para o jantar. Com um simples olhar daqueles olhos amarelos a mentira era duramente golpeada e morria. Com aquele olhar transparente, reto, ele deixava claro que queria a verdade. Não podia. Ele não acreditaria, acreditaria? Esse era um daqueles raros casos em que a verdade era ainda mais mirabolante que a invenção.
“Acho a verdade tão banal quanto aquelas flores que se plantam nos jardins. Não têm graça”, explicara Andrômeda certo dia, seus dedos se entrelaçando na grama seca e tateando as folhas que se acumulavam no chão úmido. Ted discordou. Abriu seu livro preto cheio de folhas envoltas em plástico e virou as páginas até achar a folha da roseira. Estendeu-lhe o livro e uma lupa. “Veja de perto.” E ela observou o emaranhado de fibras, o traçado delicado de uma teia apertada, como fios de um complexo tear se unindo para criar um tecido amarelado.
Não importava que a verdade tivesse valor, não podia. Simplesmente não podia. Mas continuava correndo pelo bosque, através da malha apertada de ramos e galhos de árvores, procurando por folhas diferentes numa alegria desatinada. Ted a chamava de “minha ajudante”. E insistia em dizer que não precisava de ajuda. Andrômeda apenas desviava os olhos daqueles orbes amarelos, a vontade de estar com Ted sobrepujando a insegurança, aquelas perguntas mudas dentro dela, a própria lógica. Porque, afinal, era uma loucura correr nos arredores da propriedade dos Black com um trouxa, procurando por folhas incomuns em meio ao tapete amarelado que cobria completamente o solo úmido e escuro. O que tia Clotilde diria sobre aquilo? O que veria em seu futuro com Ted? Quando pensava nisso, Andrômeda juntava firmemente as mãos próximas ao queixo, incomodada, com a firme certeza de que não queria saber. E, além disso, Tia Clotilde não sabia de nada, apenas fingia saber para ganhar um pouco da atenção das pessoas. Não havia videntes na família Black, nunca houvera, ela repetia para si mesma, com firmeza, e encerrava o assunto. Ainda assim, tomava cuidado para não deixar que a tia capturasse suas mãos naqueles dias.
“Você é meio mágica, sabia?”
“Mágica?”, ela arregalou os olhos de surpresa. Fitou as copas nus das arvores sobre suas cabeças.
“Como uma fada. As coisas sempre parecem acontecer como que por mágica perto de você”, dissera Ted, com aquele sorriso encantador. Ela não resistiu e sorriu de volta. Lírios silvestres desabrocharam aos seus pés.
Andrômeda o avistou naquela manhã parado numa clareira, usando calças de flanela e um suéter de lã.
- Está frio – ele disse, ao vê-la se aproximar. Ela usava um fino vestido de verão e sapatos velhos para poder correr com desenvoltura.
- Não sinto frio.
Sentia calor, a face toda ficando rubra como metal incandescente.
Tia Clotilde dissera na noite anterior que ela estava com febre, ao chegar em casa, toda vermelha daquele jeito. Ela dissera que não, estava assim porque viera correndo. De todo modo, já não era mais uma criança que precisasse ser interrogada sobre seu estado de saúde e o assunto morreu rapidamente, para seu grande alívio. O assunto do noivado pairou novamente nas conversas do jantar. Um pretenso noivo com um bom trabalho no Ministério e uma boa casa. Não poderia esperar um milionário como as irmãs, lembrara sua mãe. Estava já ficando velha para o casamento. Dezoito anos era uma idade avançada naquela família para uma mulher solteira.
Andrômeda não queria nenhum milionário, tinha seus sonhos já voltados para um par de olhos amarelos. Olhos de um trouxa. Seria um escândalo, ela sabia. Provavelmente seu nome seria queimado da tapeçaria com a árvore genealógica da família. Não importava, não eram esses os pensamentos que prolongavam sua espera pelo sono quando se deitava. Se os olhos amarelos de Ted a quisessem, nada mais importaria. Ela queria acreditar que ia ser assim. Ted lhe dera um crisântemo. Não propriamente dera a ela, mas lhe passara um, colocara-o em suas mãos antes que ela partisse na noite passada.
Haviam conversado sobre a linguagem das flores. Cada uma tinha um significado, os botânicos sabiam disso. “O lírio é a pureza”, ele disse, e isso a fazia pensar na meninazinha trouxa que conhecera na escola. Lilly. Lírio. Pureza e olhos verdes. O amigo de Sírius ia acabar conseguindo algo com ela. Ele a olhava daquele mesmo jeito que Ted olhava para Andrômeda.
- Salix Purpúrea – ele apontou maravilhado para uma imensa árvore de casca muito grossa.
Latim era a língua dos botânicos, ele lhe explicara. Andrômeda tinha aprendido a odiar as aulas de latim quando era mais jovem, mas, se era a língua de Ted, ela não via sacrifício nenhum em desenterrar sua velha gramática de latim do fundo do armário. Salix Purpúrea, isso ela entendia. Era um salgueiro.
- Formica bestiola est – falou ela, apontando para uma formiga que escalava o tronco do salgueiro com um grande pedaço de folha nas costas. Havia passado a noite folheando a gramática, procurando por uma frase em latim que pudesse decorar e dizer para impressioná-lo.
Ted voltou os olhos amarelos para ela. A formiga é um inseto. Talvez não estivesse impressionado, mas com certeza não ficou indiferente. Riu. A risada mais gostosa que Andrômeda já ouvira sair daquela boca fina e bem desenhada. Ela riu também, mais confusa do que contente. Ao menos ele achava alguma graça nela. E, se não achasse, não importava. Ele lhe dera um crisântemo.
Dera mesmo? Andrômeda apertou os olhos por causa do sol, enquanto erguia uma folha diante do rosto. Jogou-a de volta no chão e apertou levemente o bolso do vestido, como que para ter certeza de que havia algo dentro. Talvez só tivesse pedido que guardasse. Ela pensara nisso, por isso trouxera a flor consigo, escondida naquele bolso.
Ficou pensando e esqueceu de olhar onde pisava. Pisou num formigueiro. Formigas subindo por suas pernas muito brancas. Andrômeda gritou, sacudindo as pernas como uma maluca até cair sentada no chão. Ted estava se dobrando sobre a barriga de tanto rir. Tentava tomar fôlego para ajudá-la a se levantar.
- Vai se machucar, menina!
Ela fez uma careta involuntária. Não era menina. Tinha dezoito anos. Para os Black isso já era plena maturidade. Ela quis dizer isso a ele, mas já estava cheia de dor das picadas de formiga. Ted ficou preocupado, não sabia que ela era alérgica. Não contara.
- Se tivesse contado, você não aceitaria minha ajuda – ela argumentou, segurando sua mão para se erguer do chão.
- Não aceitaria e você estaria segura – retrucou Ted.
Andrômeda não se importava com segurança, queria era estar com ele. Não entendia isso? Não, não entendia. E nem ela era capaz de dizer. Deveria. Era uma Black.
“Uma mulher de cabelos de cobre vai vir buscá-lo”, dissera tia Clotilde naquela manhã. A velha tinha os olhos cerrados e oscilava levemente na cadeira de balanço sob a luz cinzenta que entrava através da janela. Andrômeda não contara a ninguém sobre Ted e tinha certeza que não deixara transparecer nada para a tia, mas ela tinha esse dom de falar sobre coisas das quais não sabia. Não importava, Andrômeda já tinha decidido que não acreditava na mediunidade da tia. Não ia vir mulher alguma. Ela mordia o lábio inferior e repetia para si mesma. Não ia.
- Tenho uma coisa pra te dar – ela falou, fingindo só se lembrar naquele momento da folha de hera que encontrara mais cedo. Folha em um curioso formato de coração.
Ted olhou para a folha como se visse algo fantástico. Inacreditável. Sorriu para ela e beijou a folha.
- Vou guardá-la aqui – colocou dentro do livro. Os olhos de Andrômeda brilharam de orgulho. Conseguira. Encontrara a folha rara que merecia ser colocada no livro. Tia Clotilde podia prever o futuro, mas Andrômeda podia modificá-lo.
Seguiu na frente, olhando atenta para o chão, ouvindo os leves passos de Ted atrás de si. Folhas importantes sempre apareciam no meio das comuns. Estava feliz. Andava de um modo muito solene, tinha no bolso o amor. Um crisântemo.
“Gosta desse tipo de romance?”, ele lhe perguntara, quando ela chegara um dia com um de seus livros aparecendo no bolso do vestido. Um livro trouxa, daqueles vendidos em bancas de jornal. Era maluca por esses romances aguados. Ele riu.
“Você não gosta de romantismo?”, ela perguntara, murchando de vergonha.
“Não é isso. Não acho que essa embromação tenha a ver com romantismo. As pessoas sempre parecem morrer pra dizer ‘eu te amo’”, ele se justificou.
“Você não diria se sentisse que ama?”, indagou Andrômeda, na defensiva.
“Não dessa maneira. No dia em que eu quiser dizer a uma mulher que a amo, darei a ela um crisântemo. Um crisântemo amarelo. Quer dizer ‘eu te amo’ na linguagem das flores. Bem conveniente a um botânico, não acha?”
Era formidável, ela pensava enquanto andava, fechando os olhos brevemente, como se procurasse em sua mente a imagem daquele dia. Nunca encontraria de novo um homem como Ted. Nem bruxo nem trouxa. Pouco importava. Era encantador.
- Conhece alguma mulher ruiva? – indagou ela, quando atingiram as margens de um rio. Era o lugar onde sempre se sentavam para descansar, fugindo da penumbra úmida da floresta para o calor reconfortante do sol. As palavras saíram de seus lábios sem que pudesse evitar, tão subitamente que ela nem sequer se sentiu envergonhada.
- Ah, sim – Ted respondeu rapidamente. Ele olhou de uma maneira estranha para ela e Andrômeda adivinhou por quê. Podia sentir o sangue fugindo de seu rosto. Provavelmente estava branca que nem papel. A boca estava seca e o coração fazia um barulho tão alto enquanto batia que ela temeu que ele pudesse ouvir.
Ted sorriu amigável e abriu o livro preto. Puxou de dentro uma fotografia. Trouxa. Ela já havia ouvido que as fotografias dos trouxas não se mexiam, mas nunca tinha tido a oportunidade de ver uma. Tentou não parecer espantada. Uma moça ruiva posava com Ted na foto. E tinha os braços em volta do pescoço dele. Ele olhava para ela com a mesma concentração que usava quando selecionava as folhas.
- Ela vem me ver amanhã. Vamos voltar juntos para Cambridge. Te contei que trabalho lá, não contei?
Ela abaixou os olhos, sem querer acreditar que o encontro daquele dia era uma despedida. Apertou os dedos em torno da alça da cesta. E ele nem sequer a beijara. Era apenas um crisântemo. Não queria dizer nada. Um crisântemo amarelo. Vai ver isso queria dizer adeus.
Ficou olhando para os sapatos velhos, o couro gasto rachando em alguns lugares. As meias tinham manchas de lama e a barra da saia do vestido estava desfiada em vários pontos. Correu as mãos pelos cabelos, tentando fazê-los assentar, mas a trança já estava parcialmente desfeita por toda a movimentação daquela manhã. Subitamente, percebeu como Ted deveria estar vendo-a agora. Uma moleca suja de lama com cabelos bagunçados e rosto suado. Onde estava a poesia disso? Como ela tinha imaginado que poderia haver alguma?
Não poderia esperar um milionário como as irmãs, advertira sua mãe. Se tivesse parado para pensar direito no assunto, por um instante sequer, teria percebido que também não poderia esperar que Ted a visse de outra maneira que não fosse aquela imagem de garota simplória, boba. Uma menina, afinal.
- Vou sentir saudades de ter uma ajudante tão dedicada... – ele disse, aquele sorriso leve nos lábios, indiferente à sensação de angústia que fez com que Andrômeda mordesse o lábio inferior.
Não podia acreditar que ele estava mesmo partindo.
- ... e tão bonita – completou Ted.
Andrômeda virou o cesto, derramando todas as folhas no pequeno trexo de grama entre os dois. Aí estavam. Precisava voltar pra casa. Ela quis partir, correr de volta para a mansão. Sabia que ele nunca a encontraria lá. Nenhum trouxa podia entrar na propriedade dos Black.
Ele se ergueu num salto para segurá-la pelo pulso.
- Está escondendo alguma coisa? Por que está fugindo?
- Não estou escondendo nada, me larga! – ela tentou se soltar, puxando o braço com violência.
Ted a soltou. Mas continuou prendendo-a ali. Com o magnetismo de seus olhos amarelos. Crisântemo amarelo. Ele não podia ter lhe dado. Não podia realmente querer dizer aquilo. Não. Ela era gorda. Era desajeitada. Nem era bonita. Nem um pouco. Não podia.
- E o nosso trato de dizer a verdade?
Andrômeda enfiou a mão no bolso e tocou a flor. Estava intacta. Ele estava esperando. Ela teve vontade de ouvir sua risada de novo. Antes que aquele encantamento se desfizesse e o crisântemo não significasse mais nada além do adeus de um desconhecido.
Foi levantando a cabeça. Ele continuava esperando. O sol enfim desfizera a névoa e brilhava com toda a sua intensidade acima das copas das árvores.
- Onde está aquele crisântemo que dei pra você ontem?
- Pra mim? – Andrômeda arregalou os olhos, sem conseguir acreditar no que ouvira.
Uma chuva de pétalas de crisântemo – todas amarelas – caiu sobre os dois e Ted olhou maravilhado para o alto tentando ver de onde vinham. Era lindo, mas não fazia sentido para ele. Pouco importava. Andrômeda não queria esconder mais nada dele. Ted tinha dito que a amava. Ele ia entender, pensou ela, quando sentiu os finos lábios de Ted contra os seus, seus braços se apertando em torno dela.
Crisântemos amarelos. Folhas amarelas. Olhos amarelos – os olhos de Ted Tonks. O próximo outono não tardaria a chegar – o que era um ano pra quem tinha esperado a vida inteira? Andrômeda fez uma nota mental para não esquecer de perguntar a tia Clotilde, só por curiosidade, em que linha do destino aconteciam os reencontros. Para se preparar para que ela mesma partisse com ele da próxima vez em que Ted viesse.
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