Melhores amigos



O melhor dos amigos

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- Selene! Você vai se atrasar!

- Calma, mãe! Meu horoscópo hoje disse que se eu não fosse com calma, meu dia acabaria muito mal e eu não quero começar mal em Hogwarts.

- Selene, se você não se apressar, você não vai começar Hogwarts.

A garotinha finalmente fechou a mala e a mãe dela praticamente saiu arrastando as duas, mala e filha, até a lareira da sala. Jogando um punhado de pó no fogo, a senhora fez com que ele ficasse verde e praticamente empurrou a filha até a beira da lareira.

- Sua prima estará esperando para levá-la a estação. Agora, faça-me o favor de escrever. E tente não levar tão a sério o seu horoscópo. Eu tenho a ligeira impressão que a pessoa que o escreve no Profeta Diário tomou umas doses a mais de Uísque de fogo.

Selene riu e beijou a mãe com delicadeza e empurrou a mala para a chamas.

- BECO DIAGONAL!

*****

- Então, qual é a plataforma 9/2? - o velho senhor de olho profundamente verdes inquiriu para uma ruivinha que tinha olhos exatamente como os dele.

- Ela deveria estar entre a 9 e a 10. Deve haver alguém a quem possamos perguntar. - ela respondeu nervosa.

- Tenha calma, Lílian. Olhe, eu acho que aquelas garotas pode nos ajudar.

Ele apontou para uma dupla de meninas, que certamente tinham a mesma idade que ela. Uma delas, a mais baixinha, segurava uma gaiola com uma coruja incrivelmente negra. Pai e filha aproximaram-se.

- Com licença. - Lílian interrompeu a conversa das duas - Vocês saberiam nos dizer onde é a plataforma 9/2?

- Claro, nós também vamos embarcar lá. - a baixinha respondeu com um sorriso - A propósito, meu nome é Alice MacFusty. E minha amiga é Selene Trimble. A mãe dela é prima da minha, então somos primas em terceiro grau, ou algo do tipo. Pode nos chamar pelo primeiro nome.

- Lílian Evans. Mas podem me chamar de Lily.

- De que signo você é, Lily? - Selene perguntou animada.

- É... Virgem. Faço aniversáio agora dia nove.

- Selene, por favor, não vá assustar a garota! - Alice disse entre risos.

- Bem, eu acho que você já encontrou uma excelente companhia. Até as férias, filha.

- Tchau, papai.

O velho senhor logo desapareceu entre as muitas pessoas que caminhavam pela estação e as duas garotas começaram a caminhar para a parede entre as plataformas nove e dez, arrastando a ruiva consigo. Quando fechou os olhos prevendo o encontro com a parede, Lílian jurou que se permanecesse sã e salva, as duas garotas teriam sua amizade para sempre. Se saísse daquela com um galo, na melhor da hipóteses, gritaria com as duas até ficar rouca. Para sorte de Alice e Selene, as três atravessaram a parede, revelando a ruivinha o trem que a levaria para Hogwarts.

- Eu mal posso acreditar... - a ruiva murmurou para si mesma.

- Vem, Lílian! Vamos pegar uma cabine! - Selene disse enquanto Alice se distanciava para falar com alguns garotos.



When your the best of friends,

having so much fun together,

your not even aware your such a funny pair,

your the best of friends.



Primeira semana de aulas. No dormitório das grifinórias, para onde ela fora selecionada, Susan observou as três colegas descerem, conversando. A loira, quinta ocupante do quarto, a cumprimentou educadamente antes de também descer. Com um grande suspiro, ela voltou-se novamente para o espelho. Aquelas olheiras estavam horríveis. Ainda não se acostumara com o fato de ter que deixar sua casa, seu país, para ir estudar na Inglaterra.

Quem diria que um dia ia descobrir que sua mãe era uma bruxa... E que seu pai sabia. O italiano Giacomo sempre soube que sua "madona" inglesa não era uma mulher muito comum. Para sorte de Susan, agora longe da Itália, onde nascera e se criara, Juliet Timms havia começado a ensiná-la inglês desde pequena. Pelo menos problemas com a língua ela não teria.

Susan Timms Matteotti... Que mistura... Inglês com italiano, bruxo com trouxa... A garota finalmente abandonou o espelho com a sensação de que aqual mistura ia dar em confusão. Sempre dava. Era só ver na História (e História era sua matéria preferida) que se quer ver um barril de pólvora é só criar um pouco de miscigenação. O preconceito é o pavio, e é um pavio muito curto por sinal.

Ela não estava errada. Quando caminhava, sozinha pelos corredores, pouco antes do almoço, encontrou um rapaz bem mais velho, de cabelos loiros, quase brancos, diante da ruiva, sua colega de quarto, que parecia estar em choque. Bem elas só eram colegas, o que quer que estivesse acontecendo, não era da conta dela. Até ouvir as palavras amargas de Lúcio Malfoy.

- Eu já disse para sair daqui, sua sangue-ruim nojenta. Quando vai entender que esse não é o lugar para perdedores como vocês?

Lílian balbuciou algo com dificuldade e Susan percebeu que a garota estava enfeitiçada. O loiro tinha a varinha bem segura nas mãos e estava atacando uma primeiranista à covardia! A italiana sempre fôra cabeça quente e ver aquele imbecil que se achava o todo-poderoso atacar alguém só porque era um sangue-puro!

Aproveitando que nenhum dos dois a vira ainda, Susan esgueirou-se por trás do loiro, até ficar bem atrás dele. Sem aviso, a morena o puxou pela gola, fazendo com que ele se virasse para ela, interrompendo o feitiço. Lílian caiu de joelhos, mas ergueu-se rápida.

- Mas o quê... - começou o loiro.

- Até um vira-lata tem o sangue menos imundo que você, seu idiota! - Susan disse antes de largar o braço com toda a força sobre o nariz dele.

Malfoy não teve tempo para se esquivar e caiu desarcodado no chão, o nariz sangrando.

- Você... - Lílian aproximou-se dela - Você nocauteou ele!

- De alguma coisa tinha que ter servido todas as lutas que meu pai fez assistir com ele. Esse é o grande problema de ser filha única... - a morena sorriu - Você está bem, Evans?

- Pode me chamar de Lily. Pensando melhor, depois do que você fez, pode me chamar de qualquer coisa.

A italiana sorriu.

- Eu vou me lembrar disso. Que tal irmos almoçar agora?


Lifes a happy game,

You could clown around for ever,

Neither one of you see's your natural bonderies,

Lifes one happy game.




Emelina largou o livro de teatro sobre a cabeceira quando Selene entrou no quarto, apressada. Estava começando a se irritar com aquilo.

- Escuta, será que dá para pegar de uma vez tudo o que quer? Você aparece aqui de cinco em cinco minutos, bate essa maldita porta toda vez que sai, assim não dá para se concentrar!

- Desculpe. - Selene respondeu sem perder o bom humor - É que meu horóscopo disse que hoje eu deveria prestar bastante atenção em tudo ou esqueceria alguma coisa.

- Você esqueceu de tudo então? - Emelina observou - Porque essa é a oitava vez que desce e sobe de novo.

- Não esqueci nada até agora, mas nunca se sabe, não é?

A loira fechou o livro, achando graça.

- Você realmente acredita em tudo que o seu horóscopo diz?

- Bem, se eu não acreditar no meu pai, quem vai acreditar? - a garota respondeu, sorrindo - Meu pai é quem escreve a coluna de astrologia no Profeta Diário. Agora vejamos: livro, caderno, meia, sapato...

- Bem, tem maluco para tudo nesse mundo, não é mesmo? quer ajuda para conferir se está tudo aí? Você não se esqueceu de vestir a roupa de baixo, não é?

- Não... - Selene observou - Mas agora me lembrei que esqueci de lembrar onde estavam minhas roupas de baixo no armário lá de casa. Será que era disso que papai estava falando?

Emelina arqueou a sobrancelha. Definitivamente, estava diante de uma perfeita maluca. Mas até que ela era engraçada...

- Você se lembrou que esqueceu de lembrar?

- Algo do tipo. Obrigada pela ajuda, Vance.

- Emelina. - a loira interrompeu antes dela sair novamente do quarto.

- Certo, Emelina.

Selene bateu a porta e Emelina caminhou até a cama da morena, onde um livro repousava. Ela pegou o livro e voltou a caminhar para a porta, no exato instante em que ela se abria de novo.

- Desculpe, é que...

Antes que Selene pudesse completar sua frase, Emelina entregou o livro, sorrindo.


If only the world wouldn't get in you way,

If only people would just let you play,

They'd say you're both being fools,

You're breaking all the rules,

They cant understand,

The magic of your wonderland.



Alice sorriu enquanto embarcava no navio que as levaria para a Itália. Os pais de Susan tinham convidado as quatro amigas da filha para passar as férias de verão com eles. Ela mal podia esperar pelo sol nas praias do Mediterrâneo e por toda a diversão que teriam.

Não que em Hogwarts elas não se divertissem. Há três anos dividiam o mesmo dormitório. No início eram ela e Selene, que já se conheciam antes de irem para a escola. Então, Lílian se juntou à turma, no trem, depois de Selene desfiar tudo o que aconteceria na vida da ruiva baseada no signo dela ("você vai se casar, e ter um filho, vai ser muito feliz, e blá, blá, blá..."). Uma semana depois do início das aulas, Lílian foi "salva" por Susan, e desde então elas tinham se tornado quase que irmãs. Emelina foi a última a se integrar à turma, depois de mais uma confusão de Selene por causa de seus horóscopos malucos.

Três anos... Era como se as cinco tivessem se conhecido por toda a vida. Estavam tão acostumadas umas com as outras... Susan e Lílian com seus pavios curtos, Selene com suas maluquices de astrologia e, mais recentemente, moda, Emelina uma perfeita artista, sempre cantando, dançando, representando, pintando... Múltiplas facetas, sem dúvida. Tão diferentes, mas dificilmente brigavam. Sempre prontas para dar um conselho, a ajudar, a brigar, se necessário.

- Tomara que possamos ser assim sempre. - ela sussurrou para si mesma, sorrindo enquanto observava as amigas. - Sempre. - ela repetiu para si mesma antes de se juntar a elas.



When your the best of friends,

Sharing all that you discover,

When these moments have passed,

Will that friendship last?

Who can't say theres a way?

Oh I hope,

I hope it never ends,

cause your the best of friends.


"Às minhas caras amigas:


Este é um mundo muito mau, não é mesmo? Nunca sei se volto viva quando de casa saio. Mas não importa. Nada importa quando fazemos aquilo que gostamos. Por isso não me importam os riscos, eu os enfrentarei para ter a companhia de vocês.

Não sei se já pararam para pensar, mas amigos são a família que nos permitiram escolher. Não é necessário que tenhamos o mesmo sangue. Sangue não significa afeição. Mas o espírito... Sim, são irmãos de alma os nossos amigos. Muitas vezes a ligação é tal que não se precisam palavras para compreender o que o outro pensa. É palpável a alegria, a tristeza, a dor. Percebemos através dos sorrisos que algo o corrói, através das lágrimas, um pouco de alívio.

Mas, apesar de todo o amor que sentimos por esses "amigos-irmãos", algumas vezes os machucamos e somos por eles machucados. Sempre é assim entre pessoas que têm uma amizade tão profunda como a nossa. Muitas vezes brigamos para cinco minutos depois nem lembrarmos mais o porquê. Ou então, brigamos por preocupação. Dificilmente criamos confusão se não temos certa afeição. Lílian e Tiago são, decididamente, os maiores exemplos disso.

É um bocado difícil reconhecer nossos erros. Pior ainda é pedir perdão por eles, revelar ao mundo nossa imperfeição. Mas, aos nossos amigos, não apenas pedimos perdão como, muitas vezes, relevamos os erros deles. Não foi à toa que Camões disse que o amor (seja ele fraterno, enamorado ou amizade) "é ter com quem nos mata lealdade", pois não importa o quanto errem conosco, nosso amor, nosso carinho, nossa afeição estará sempre ali, firme, imensurável, indescritível.

Assim é quando encontramos verdadeira amizade. Quando sabemos que, não importa o que aconteça, teremos alguém para nos ajudar e que ajudaremos, que nos acompanhará e a quem faremos companhia, que nos compreenderá com um olhar ou um toque e a quem entenderemos com menos de um sussurro.

Sei que tem sido difícil nos vermos nos últimos tempos. Acho que só nos encontramos nas reuniões da Ordem nesses últimos dois anos. Tem sido muito difícil organizarmos reuniões festivas com uma guerra acontecendo. Mas ainda assim, quero que saibam que me preocupo com todas e que minha grande alegria nos últimos tempos tem sido lembrar da época em que estávamos sempre juntas. O que me motivou a escrever essa carta dramática? Bem, em primeiro lugar, foi a morte de alguns de nossos antigos colegas numa emboscada semana passada, em Kent. Descobri que podia amanhecer amanhã e me arrepender de nunca ter dito isso a vocês. Em segundo lugar, foi o reencontro com um antigo álbum de fotografias que reproduzi e estou mandando como presente para vocês junto com essa carta.

Espero que possamos tirar ainda muitas fotos felizes como essas, que possamos completar nossos álbuns e sair de toda essa confusão vivos.

Beijos,

Susan Timms Matteotti."

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