DESCOBRINDO LUGAR



Harry, Rony e Hermione voltaram a se preocupar com a Poção Polissuco que estava sendo preparada no quarto dos meninos quando Estevão fora despachado.
— E vocês ainda têm que terminar a redação — Hermione lembrou aos garotos com um tom de severidade que Harry só via na garota e na professora Minerva McGonagall.
— É, e ainda tem isso — Harry estava pronto para começar outra discussão sem necessidade com Hermione sobre a AD. — Eu vou ter de fazer os deveres de casa, os exames no primeiro ano dos N.I.E.M.s e ainda tenho que dar um curso complementar de Defesa Contra as Artes das Trevas para Hogwarts inteira.
Hermione estava pronta para dar uma resposta, mas mais uma vez, Rony não deixou a discussão prosseguir:
— Você aceitou — ele virou-se para Harry —, então fica calado e você — ele agora se virou para Hermione —, vai fazer sua poção que eu quero saber se a minha está correta. Anda logo e vai sem reclamar.
Hermione não acreditava no que estava fazendo, mas levantou sem dizer uma palavra e foi verificar sua poção. Harry podia jurar que Rony teve vontade de dizer “acho bom”, mas preferiu não atacar mais ainda o humor de Hermione. A garota aproveitou para dar uma olhada na de Harry e Rony.
— Estão perfeitas — disse ela terminando de olhar a poção de Rony e indo para a cama de Harry —, mais vários dias cozinhando e nós poderemos acrescentar os hemeróbios.
Naquela noite, Klaus, o elfo doméstico, levara novamente o jantar para o quarto em que Harry, Rony e Hermione estavam. Os garotos novamente ficaram empanturrados com o jantar e com a sobremesa (que ia de suflê de couves de Bruxelas a pudim de beterrabas com bananas) e com uma grande jarra cheia de um delicioso e gelado suco de abóbora. E, por mais um dia, Rony e Harry não terminaram a redação sobre a Poção Polissuco (com um murmúrio de Hermione: “Só espero que vocês consigam terminar isso antes do dia primeiro de setembro”).
Mas antes das três horas da madrugada, Harry e Rony foram acordados com um odor que misturava o de um banheiro público que há muito não é limpo com aquele repelente para lesmas carnívoras que Hagrid comprara quando Harry estava no segundo ano.
— Que d…? — Rony também havia acordado com o horrível cheiro, Fineus Nigellus, o trisavô de Sirius, estava no quadro e exclamou:
— Dumbledore havia me mandado para cá para ver se estava tudo em ordem, mas eu já vi que não está. Vocês deixaram aquelas “Poções Polissuco” passarem do ponto, receio que terão que começar tudo de novo.
Harry, após criar coragem o bastante, aproximou-se dos caldeirões e viu que as três, que estavam seguindo o mesmo ritmo, estavam com uma cor que lembrava uma mistura de verde ácido com azul elétrico. Quando, com amargura, se lembrou do que Snape falou na última aula de poções da quinta série, quando passou o dever da Poção Polissuco para os alunos:
— Os que não forem estúpidos o suficiente, irão lembrar-se de começar a preparação da poção perto do anoitecer, para que os horários de descanso da poção terminem durante o dia e não passem do ponto de cozimento.
Harry também se lembrou de como Snape, ao olhar para Harry ao acabar de falar, disse com o olhar: “Isso vale principalmente pra você, Potter”.
— Espera Fineus — Harry agora se voltava para o quadro do ex-diretor, Fineus já estava se dirigindo para o seu outro quadro, que ficava na sala de Dumbledore. — Será que você não pode pedir ao professor Dumbledore ingredientes suficientes para o preparo de três porções de Poção Polissuco?
— Três porções de Poção Polissuco? — Fineus parecia anotar na mente — Mas isso não teria que ser com o seu professor de poções?
— É, mas ele não nos daria mesmo, e acho que Dumbledore poderia dar um jeito nisso. — Harry tentara achar argumentos para tentar recomeçar as três poções.
— Tudo bem, verei o que posso fazer — Fineus estava com o nariz torcido porque o cheiro das poções que ficava cada vez pior.
Logo após a ida de Fineus, Hermione abriu a porta do quarto, seguida por Gui, Gina e pelo senhor e Sra. Weasley.
— Mas o que é isso, Molly e eu acordamos com esse cheiro horrível entrando no nosso quarto.
Antes que Harry pudesse falar alguma coisa, Gui respondeu a pergunta por ele:
— Poção Polissuco passada do ponto. Acertei?
Harry e Rony concordaram com a cabeça, Gui e Hermione avançaram para os caldeirões.
— Vocês vão ter de fazer tudo de novo — Gui parecia divertir-se, Harry não achava nada engraçado o fato de começar a sexta série com um Deplorável em poções. — Isso aconteceu comigo e com o Carlinhos, com Fred e Jorge foi bem pior…
Os gêmeos entraram no quarto, também atraídos pelo cheiro das poções e ouviram o que Gui estava dizendo. Jorge, também rindo, completou:
— As nossas sanguessugas queimaram, nós a colocamos na poção depois dos hemeróbios e…
— Vocês já conseguem imaginar — disse Jorge —, eu é que não vou esquecer aquele “Deplorável” em poções logo no primeiro dia de aulas.
— Bom — recomeçou Gui —, creio que só há uma coisa a fazer…
Ele levantou a varinha, pigarreou para limpar a garganta, da mesma maneira que Rony faz, e disse:
—Evanesco!
Todo o conteúdo dos três caldeirões foi embora, mas o cheiro absurdo permanecia. Dessa vez a Sra. Weasley levantou a varinha e disse:
— Odorio Limpius!
Um aroma perfumado bastante bom começou a se apoderar do quarto, logo após, Fineus voltara:
— Não.
— Não o quê? — Perguntou Harry.
— A resposta do diretor para o seu pedido foi não —respondeu Fineus.
Harry gemeu:
— Ah, fala sério!
— Estou falando — Fineus já parecia irritado. — Se vo-cês me dão licença.
E Fineus foi embora do quadro novamente.
— Harry, o que você pediu ao professor Dumbledore? — Hermione perguntou quando todos os outros já haviam se retirado.
— Os ingredientes para fazer as poções novamente — respondeu o garoto desanimado. Hermione deu um muxoxo de desistência e voltou para o seu quarto. Rony, xingando Snape até a morte, deitou na cama e logo roncava novamente. Harry tinha ainda uma outra idéia, mas teria de esperar o dia amanhecer para colocá-la em prática.
Logo quando o dia amanheceu, Harry foi até a lareira da cozinha, pegou um pouco de Pó de Flu, ajoelhou-se e gritou para o fogo:
— Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Cozinha.
Como sempre, Harry se sentiu bastante enjoado enquanto via centenas de lareiras passando a uma incrível velocidade na frente de seus olhos até que a visão da cozinha de Hogwarts, com mais de duzentos elfos, se materializou.
— Dobby! Dobby! DOBBY!
Um elfo alto, magro, com um longo nariz veio do outro extremo da cozinha.
— Harry Potter veio ver Dobby — O elfo parecia estar orgulhoso de si. — O que Dobby pode fazer por Harry Potter?
— Dobby, eu preciso de ingredientes o suficiente para o preparo de três caldeirões de Poção Polissuco. Você consegue isso pra mim?
— Claro, meu senhor. Dobby as terá num máximo de duas horas, até que o velho Dobby encontre a receita na biblioteca de Hogwarts, meu senhor.
— Poções Muy Potentes. Esse livro tem a receita. Mas, Dobby, por favor, tente não usar a lareira. — Harry não achava que aquilo era o certo a ser feito, uma vez que Dumbledore já havia negado os ingredientes.
— Obrigado pela informação, meu senhor. Em cerca de meia hora Dobby vai pedir para Toller ou Klaus lhe entregar tudo.
— Obrigado, Dobby. — Harry havia então saído da lareira, com seus joelhos doendo por estar num chão de pedra. O tempo foi o suficiente para ele se sentar novamente até que a Sra. Weasley entrou na cozinha usando roupas de viagens.
— Ah, olá, Harry querido. Tudo bem? — perguntou a Sra. Weasley sem perceber que ainda havia algumas chamas verdes na lareira.
Harry concordou inocentemente.
— Você está com fome? — perguntou a Sra. Weasley.
— Não, não, obrigado. Eu acho que… eu acho que eu vou para o meu quarto. Com licença.
Harry não sabia o motivo de estar com medo da Sra. Weasley descobrir alguma coisa sobre o que ele acabara de fazer, nem ainda ajoelhado ele estava quando ela entrou na cozinha.
Quando Harry entrou no quarto, Rony estava bastante concentrado em seu livro Poções Muy Potentes:
— Pelo menos ainda podemos fazer nossas redações — Rony não tinha muita certeza disso.
Harry pegou o seu exemplar do livro de poções e também começou a ler com bastante atenção a página da Poção Polissuco e continuou do ponto em que havia parado de escrever, consertando o fato de que a poção pode transformar a pessoa na forma física de outra temporariamente, não permanentemente, como ele havia escrito.
Não demorou muito, Toller entrou no quarto com uma sacola que lembrava as bolsas de dinheiro que o Banco Gringotes entregava aos clientes para que eles pudessem retirar Galeões de ouro, Sicles de prata e Nuques de bronze de seus cofres subterrâneos.
— O elfo doméstico Dobby deu isso à pobre Toller para que ela entregue nas mãos do senhor Harry Potter.
Quando Toller havia ido embora, Harry abriu a bolsa.
— O que é isso? — perguntou Rony.
Mas Rony não precisou de uma resposta. Quando Harry abriu o saco, viu que havia sacos menores dentro, e dentro de cada saco menor, três embrulhos cuidadosamente elaborados. Cada embrulho continha uma porção de ingredientes para a poção. Harry achou que os elfos domésticos não sabiam escrever, mas se enganara, pois no fundo da sacola maior, havia um bilhete escrito com uma letra mais garranchosa do que a de Hagrid, o guarda-caça de Hogwarts:

Harry Potter, meu senhor,
O velho Dobby foi o mais rápido que pôde para fazer o que Harry Potter pedira a Dobby. Dobby conseguira, meu senhor. Os ingredientes para o preparo de três caldeirões de Poção Polissuco estão dentro destes pequenos envelopes, meu senhor. Dobby espera que Harry Potter os use bem, se precisar de mais alguma coisa, o velho Dobby estará na cozinha da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Obrigado por fazer do velho Dobby útil, meu senhor.
Dobby, o elfo doméstico.

— Harry, você é genial! — Rony estava boquiaberto com o que Harry fizera. — Temos de chamar a Hermione. Hum, mas é melhor não dizer a ela como você conseguiu isso. Eu não acordei a fim de ouvir as reclamações de preocupação dela.
— Mas como foi que você conseguiu isso? — Foi a primeira coisa que Hermione falou quando entrou no quarto do garotos. — Harry, o Professor Dumbledore disse que não. Você me contou isso ontem.
— Digamos que alguém conseguiu isso para mim — respondeu Harry não ligando para a preocupação de Hermione.
— Ah, mas Harry…
— Qual é, Hermione? Não tem perigo algum. O Harry simplesmente conseguiu os ingredientes e nós temos de começar isso logo.
— Alguém sabe que dia é hoje? — perguntou Harry
— Vinte e nove de Julho, ainda dá tempo para nós prepararmos a poção — respondeu Rony.
Harry sentiu uma forte pontada de excitação, dali a dois dias seria seu aniversário. Dali a dois dias, ele faria dezesseis anos. Há um bom tempo que Harry imaginara como seria seu aniversário longe dos Dursley. Há um bom tempo que ele imaginava como seria ter um aniversário de verdade.
Rony fez menção de falar alguma coisa, mas Hermione havia lançado um olhar feio ao garoto que ele fechou sua boca que estava ainda sendo aberta. Harry não notou nada.
Naquela noite, Harry, Rony e Hermione foram jantar na cozinha, que por sua vez, estava mais cheia do que nunca. A um canto, o Sr. Weasley, Gui, Gilderoy Lockhart, Lupin e (para a infelicidade de Harry) o Professor Snape estavam absortos em uma conversa de puros cochichos, eles nem ao menos notaram que os garotos haviam entrado ali, somente quando a Sra. Weasley falou:
— A reunião já está encerrada! Arthur!
Ela não conseguira muita coisa, só o Sr. Weasley ter levantado a cabeça e ter dito rispidamente para a esposa:
— Molly. Agora não.
A Sra. Weasley preferiu não argumentar com o marido, mas ela indicou lugares bem afastados deles para Hermione, Harry e Rony, mas quando os garotos se sentaram o Sr. Weasley chamou Harry:
— Harry, venha cá, por favor.
— Arthur. Harry não tem nada a ver com a Ordem.
— Molly, eu sei quem faz parte da Ordem da Fênix, você não precisa dizer, mas nós precisamos falar com Harry, e mesmo que você se importe, nós vamos falar com ele.
A Sra. Weasley pareceu bastante zangada com o marido, mas não falou nada, Harry então se levantou. Rony e Hermione nem se mexeram na cadeira que estavam sentados.
— Harry — Gilderoy Lockhart foi o primeiro a falar quando Harry se sentou. — Nós, da Ordem da Fênix — era incrível como ele conseguira ainda achar que era o máximo mesmo com o olhar fuzilante que Snape estava lançando a ele, quando o professor o interrompeu:
— Soubemos que o Lord das Trevas anda procurando pelo quartel general há um tempo e receamos que ele pode estar perto de descobri alguma coisa.
— E o Professor Snape — Gui começara a falar e apontou para Snape que estava defronte a ele — nos falou que as aulas de Oclumência que você fez no ano passado, bem…
— Não adiantaram nada — completou Harry.
— Isso — concordou Gui, neste momento ele abaixou ainda mais a voz. — Nós queremos saber se você não sabe nada sobre Você Sabe Quem.
— Do Voldemort? — todos ali se contorceram ao ouvirem aquele nome, menos Lupin, que disse:
— Francamente! Como vocês querem lutar contra ele se têm medo até de dizer o seu nome?! Isso, Harry. Nós queremos saber se você sabe alguma coisa sobre Voldemort. — houve mais contorções à menção do nome, mas bem inferiores àquelas antes da bronca de Lupin.
Harry tentava puxar pela memória qualquer coisa, quando se lembrou do sonho que tivera há cinco dias. Após contá-lo, Snape falou:
— Potter, nós precisamos ver com mais clareza esse sonho. Se você permitir o uso da Legilimência será mais prático.
— Sim, sim. Claro. Pode ver o que quiser. — Harry se sentiu esquisito ao dizer aquilo, ele não tinha boas lembranças das aulas de Oclumência com Snape.
Nesse momento, Harry percebeu que a Penseira de Dumbledore estava em cima da mesa, então Snape levantou a varinha e disse:
—Legilimens!
Harry começou a se lembrar vivamente do sonho que tivera, da conversa de Voldemort com Belatriz Lestrange, de como ele a torturara e andou pelo lugar, mas não conseguira produzir luz, de como ele usara um feitiço silenciador e matara Lestrange, de como as luzes dos feitiços refletiam pelo lugar em que eles estavam, de que Voldemort planejara matar Lúcio Malfoy. Snape parara com o feitiço e Harry, muito fraco, voltou a ver a cozinha. Snape falou:
— Vejo que você realmente parou de praticar, Potter.
Harry estava pronto para dar uma resposta à altura da arrogância de Snape, afinal, fora o professor que encarara com as aulas de Harry, mas Lupin o lançou um olhar de quem diz: “Cale-se” e Harry preferiu não falar nada. Snape voltou a falar:
— Bom Potter, isso foi o bastante. Pode ir.
— Pra que vocês queriam ver o meu sonho?
— Já é o bastante Potter. Você já pode se reunir aos seus amigos. E eu espero que você tenha uma boa idéia do que fazer com a tal da Armada de Dumbledore — Snape parecia bastante sarcástico — Afinal, eu darei aulas com você. — Harry se divertiu em ver a expressão no rosto de Snape. Sabia que fora Dumbledore quem mandara Snape dividir as aulas da AD com ele e sabia muito bem que a última coisa que Snape queria na vida era dividir uma sala de aula com Harry. Quando o garoto se sentou com Rony e Hermione, ele ouviu Snape resmungando que quando não era dar aulas de poções, o castigo dele era dar aulas com Potter. Isso comprovou que Harry estava pensando a mesma coisa que Snape.
Quando Harry contou o que acontecera para Hermione e Rony quando eles terminaram de jantar e saíram da cozinha (a Sra. Weasley estava o tempo todo olhando para ele durante o jantar e Harry não achou que seria uma boa idéia falar do que acontecera na frente dela), Rony e Hermione estavam tão pasmos o quanto Harry achou que eles iam ficar.
— Mas você não sabe aonde Você Sabe Quem estava, sabe? — perguntou Rony quase entrando em pânico
— Espera um pouco, Harry — Hermione voltara corren-do para a cozinha, Rony e Harry foram atrás.
— Sr. Weasley! Por favor, Senhor Weasley, venha aqui fora comigo, é muito urgente. Você fica aqui, Harry. E você também, Rony.
— Mas, o que você quer Hermione?
— Depois eu explico Sr. Weasley. Por favor.
— Tudo bem.
Não passaram nem dois minutos e Hermione estava de volta com um sorriso que a garota só fazia quando descobrira alguma coisa importante, o Sr. Weasley voltara à cozinha quase correndo e a garota se juntou a Harry e Rony que estavam sentados no último degrau da escada, esperando que a amiga voltasse.
— Hermione — Rony começou —, eu sei que isso não é um hábito seu, mas você se importa de nos contar o que você foi fazer lá fora com o meu pai.
— Claro que posso. Eu já descobri onde Você Sabe Quem estava há cinco dias.
— Aonde então? — Perguntou Harry
— Aqui.
— O QUÊ? — Harry não sabia se estava mais surpreso com o fato de Lord Voldemort estar circulando pelo Largo Grimmauld ou era toda a calma de Hermione com isso, tudo o que ele conseguiu dizer foi:
— E como você descobriu isso?
— Simples. Primeiro: eu só consegui ver uma coisa quando você usou a Penseira: quatro casas vizinhas, dez, onze, treze e catorze e você nos disse que Voldemort — neste momento, Rony resmungou: “Você se importa de dizer Você Sabe Quem?”, mas Hermione não deu atenção ao amigo — não conseguira produzir luz onde ele estava, eu pedi ao Sr. Weasley para acender luz lá fora, mas ele também não conseguiu, e nós sabemos que só quem tem conhecimento da Ordem da Fênix enxerga o número doze lá fora. Não foi tão difícil.
— Hermione — Rony estava boquiaberto —, você sabia que existem horas em que eu sinto orgulho de você?
— Ah, não enche, Rony.
Harry pôde perceber que Hermione estava bastante vermelha e que o olhar de Rony para ela era de puro orgulho. Harry riu, mas pareceu que os amigos não viram.
*
Na manhã seguinte, Harry foi acordado pela coruja que entregava o Profeta Diário novamente. Harry ficou surpreso com a reportagem de capa. A primeira página tinha sido inteiramente tomada pelas fotos dos Comensais da Morte que haviam sido presos em junho no Ministério. Assim como em janeiro, embaixo de cada foto havia uma lista dos crimes que cada Comensal havia cometido, mas também havia três novos crimes após os outros: Violação do prédio do Ministério da Magia, Tentativa de assassinato no Departamento de Mistérios e Furto de profecias no Salão das profecias. Não havia a foto de Belatriz Lestrange, embora ela já houvesse sido assassinada. Pensando que estes Comensais teriam escapado de Azkaban e poderiam voltar a ameaçar a comunidade mágica, Harry ficou extremamente surpreso ao virar a página e ler a matéria. Nesta página não havia fotos grandes, apenas um pequena de Cornélio Fudge parecendo extremamente preocupado com tudo aquilo.
MORTE EM MASSA DE COMENSAIS DA MORTE NA PRISÃO DE AZKABAN — DEMENTADORES ACUSADOS DE BEIJAR SEUS PRISIONEIROS

A Seção de Controle e Proteção da Prisão de Azkaban informou ao Profeta Diário que nove dos dez Comensais da Morte que haviam fugido da fortaleza no último mês de Janeiro foram assassinados dentro da prisão quase um mês depois de serem capturados no Departamento de Mistérios.
Um representante da Seção foi até à prisão ao saber do ocorrido e tudo o que conseguiram saber foi que os nove haviam sido beijados cada um por um Dementador.
Após uma carregada dose de veritaserum, a poção da verdade, os prisioneiros disseram que os Dementadores, mais excitados do que nunca, haviam se dirigido às celas de segurança máxima e beijado os Comensais da Morte.
“Eles beijaram os prisioneiros no meio do sono deles” disse Aof, o fedido, preso por um assalto ao Banco Gringotes ontem e ainda fora do efeito dos Dementa-dores.
Cornélio Fudge, Ministro da Magia, disse que foi pego completamente de surpresa e tomará uma providência para esse caso pessoalmente. Ele também aproveita para relembrar à comunidade mágica o mal que essas criaturas fazem e pedem para que todos tenham extremos cuidados, pois Você Sabe Quem está de volta e todo cuidado é pouco.
“Ninguém quer a mesma guerra que durou onze anos quando Você Sabe Quem esteve anteriormente no poder” disse o Ministro da Magia pouco antes da publicação da nossa edição.
Os Dementadores autores dos homicídios assumiram o que fizeram, mas se recusam a falar o motivo do ato e também se recusam a falar se isso teve alguma relação com o assassinato do senhor Lúcio Malfoy que ocorreu há quatro dias.
O Profeta Diário publica mais um guia de proteção, que se encontra nas páginas 11—15.

Harry estava impressionado com aquilo que acabara de ler, era óbvio que só duas pessoas poderiam mandar que um Dementador executasse um beijo em alguém: Cornélio Fudge e Lord Voldemort, se Fudge já disse que não sabia que isso havia ocorrido, então, só sobrara a Harry uma única opção. E ele achava isso bem provável. Embora não fazia sentido, o único Comensal da Morte que sobraria a Voldemort seria Rabicho, ao menos era o que Harry achava. Ele trocou de roupa e desceu para tomar café.
Ao chegar à cozinha, e realmente se surpreendeu quando encontrou Mundungo Fletcher conversando normalmente com a Sra. Weasley.
— O que você vai querer, Harry querido? Torradas, sanduíches, ovos com bacon?
— Torradas, por favor.
A Sra. Weasley nem ao menos se levantara da cadeira onde estava sentada, conjurou o que Harry havia pedido e voltou a cochichar com Mundungo. Harry já estava terminando o último sanduíche (a Sra. Weasley havia feito todas as opções que ela dera para Harry tomar café) quando Mundungo se levantou e foi embora.
— Cuidado para não estragar tudo, Mundungo — a Sra. Weasley não dera um conselho a ele, ela dera uma ordem. — Harry, querido. Eu tenho que sair. Você avisa ao elfos para prepararem o almoço e o café dos meninos, por favor?
— Sim, pode ir.
Menos de dois minutos após a saída da Sra. Weasley, Rony entrou na cozinha.
— Bom dia. Onde está a minha mãe?
— Saiu. Você viu o Profeta Diário que eu deixei na minha cama?
— Vi, sim. Não foram eles que nos atacaram em Junho?
Harry ficou deprimido, não gostava de lembrar daquela noite em que ele fora atacado e perdera seu padrinho. Rony percebeu na mesma hora o efeito de suas palavras.
— Desculpe, Harry… Eu não queria…
— Não, não. Tudo bem. Aconteceu. Rony, você lembra o que Hagrid disse no fim da quarta série?
— Não, isso já tem mais de um ano. Mas, o que ele disse?
— Ele disse assim: “Não adianta a gente ficar sentado se preocupando. O que tiver que ser, será. E nós o enfrentaremos quando vier.” Então o que você acha de nós esquecermos isso, esquecer o Profeta Diário e irmos terminar aquela maldita redação e continuarmos a fazer a poção do Snape?
Harry sabia que Rony e Hermione achavam que o melhor para ele era aceitar e superar a morte de Sirius. Mas o garoto sentia que aquele não era o momento correto para falar da imensa perda que aquilo era e que a cada dia que ele passava no Largo Grimmauld, número doze, ele se sentia cada vez mais culpado pela morte do padrinho. Afinal, fora por não escutar o padrinho que Sirius morrera no Departamento de Mistérios.

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