A Promessa de uma Bruxa
Capítulo 1: A Promessa de uma Bruxa
O líquido de cor azul meia-noite clareou quando Hermione mexeu o caldeirão.
“No sentido horário: dezessete, dezoito, dezenove…” ela repetiu para si mesma.
O vapor que emanava da poção subia em suaves nuvens de bruma, umedecendo sua face. Isolada em seu mundinho, ela estava... criando. Uma garota estudiosa por natureza, esse era seu terreno, e ela sorriu.
“Algo engraçado, Senhorita Granger?” falou a voz de seu Professor.
Hermione manteve a cabeça baixa, sem querer olhar para ele. “Não, senhor.”
O silêncio se fez de novo. Adicionando uma pitada de folhas de jasmin à mistura numa indulgência ao olfato, Hermione baixou a chama do fogareiro com um gesto da varinha e sentou, permitindo que seus olhos se reacostumassem com a sala ao seu redor.
“Qual é o tempo de fervura?” A voz veio de novo da mesa à frente da sala de aula. Hermione olhou em direção à voz. Severus Snape sentava à sua mesa, corrigindo atentamente alguns trabalhos. Ele não precisava tirar os olhos dos pergaminhos para observá-la. O praticável no qual se localizava sua mesa permitia uma excelente visibilidade de toda a sala. O pergaminho caía pela borda de sua mesa de acordo com que ele o lia e rabiscava com precisão e um ar de impaciência resignada, seus comentários.
“Cinco minutos, senhor,“ ela respondeu na mesma hora.
Suspirando para si mesma, Hermione afundou-se na cadeira. Se ela tinha cinco minutos para esperar e pensar, pelo menos que a espera fosse confortável. Ela olhou ao redor, sem pensar em nada, alheia a si e ao professor. Ela estava terminando seu projeto para obter mais créditos para os N.I.E.M.s, algo que nenhum outro aluno do sétimo ano de Poções havia se prestado a fazer. Hermione não se importava com a própria solidão; ela gostava de trabalhar sozinha. Snape a supervisionava, mas só falava ocasionalmente, o que permitia que ela trabalhasse praticamente sem ser interrompida. As tochas acesas em cada parede iluminavam a masmorra. Estava escuro lá fora. Pena arranhando, poção fervendo, tochas brilhando, isso era muito relaxante.
Ela havia passado um tempo desse trabalho observando Snape. Ele parecia ser uma mistura intrigante de bad boy, sagaz professor e sardônica inteligência. Ele também tinha um nariz aquilino e cabelos que sofriam com algum problema das glândulas sebáceas. Poderia-se dizer que ele tinha um perfil distinto e uma postura elegante. Mas o excesso de oleosidade capilar poderia ser remediado com uma poção a base de sálvia preparada e administrada por uma jovem e cuidadosa bruxa... como ela mesma, que tinha uma queda por bruxos maduros. Logo logo ela acrescentaria sálvia ao seu kit de Poções...
Hermione se abaixou para pegar sua faquinha de prata na mochila, colocou-a a sua frente e ficou vendo a luz refletir-se nela. Pegando-a entre os dois indicadores, com a ponta apoiada num dos dedos e o cabo em outro, ela a segurou no nível dos olhos. A luz das tochas dançava na lâmina, com reflexos dourados e... era simplesmente hipnótico. Snape havia parado de escrever. Distraído pela brincadeira com a luz, ele olhou curiosamente para Hermione.
“Pensando em assassinato, Senhorita Granger?” ele perguntou, mirando a faca. “Ou talvez seu projeto seja um desastre tão grande que você esteja considerando o suicídio como uma alternativa?”
Hermione bufou. Bom Deus, ele tem um senso de humor incomum. Ainda assim, ela poderia desafiá-lo.
“Matar requer planejamento meticuloso, senhor, senão se é capturado.” Ele estreitou os olhos como se considerando as opções, com um sorriso brincando em seus lábios. “Quanto ao suicídio, sempre o considerei uma alternativa muito bagunceira, além do que arruinaria sua noite, pois o senhor teria muita papelada para preencher.” O sorriso dela se alargou quando ela decidiu-se por um pequeno plano. “Não, senhor,” ela respondeu. “Prefiro a mutilação.”
Rapidamente, ela pegou uma mecha de seu cabelo armado com a mão esquerda, levando a adaga na mão direita à raíz dos cabelos. Cortando o cabelo de uma vez, ela colocou alguns cachos na mesa à sua frente. Snape pulou da cadeira e correu até a mesa dela. Ele segurou o pulso dela que estava segurando a faca, tirando esta do alcance dela.
“O que significa isso?” Snape sibilou, a raiva crescendo em sua voz. “Você enlouqueceu, garota?”
Ele se aproximou dela, segurando ambos os seus pulsos. Ele nunca havia estado tão próximo assim dela. Os olhos negros de seu professor queimavam intensamente enquanto ele a encarava com o rosto a centímetros do dela. “O que nos confunde é a tentativa e não a ação,” ele sussurrou misteriosamente.
Hermione não desviou do contato visual. Ela manteve a voz firme quando falou. “Uma fala shakespeariana adequada, senhor, mas a tentativa foi apenas um modo de conseguir o objeto para o meu projeto, que requer testes. Precisei de uma mecha do meu cabelo para esse fim. Preferiria que esta não estivesse presa à minha cabeça quando eu completasse meu experimento.”
Ela olhou para baixo, levando ele a olhar para a mesa ao lado deles. Cachos castanhos, longos e teimosos estavam sobre a mesa. Snape soltou os pulsos dela, afastando-a ao fazer isso. Ele deu um passo para trás, cruzando os braços à frente do peito e ajeitando a capa ao seu redor.
“Prossiga,” foi tudo que ele disse, olhando-a com interesse.
Hermione pegou sua varinha e apagou o fogo sob o caldeirão. Um leve cheiro de jasmim entrou pelas suas narinas, restaurando sua confiança sob o intenso escrutínio de seu professor.
Ela se levantou rapidamente, antes que o nervosismo a dominasse, retirando uma pequena quantidade da mistura do caldeirão, ela derramou esta sobre a amostra de cabelo. Gota a gota, ela administrou a poção, deixando o líquido azul claro penetrar cada folículo. Descansando o conta-gotas, ela ficou à frente da mesa, esperando.
Removendo uma liga de cabelos de seu pulso, ela cuidadosamente amarrou uma das pontas da amostra. Levantando-a frente aos seus olhos, ela agitou-a suavemente, sentindo com satisfação o cabelo adquirir maciez e a diminuição dos cachos. Ela segurou o brilhante e ligeiramente emborcado rabinho de cavalo.
“É isso,” ela disse triunfante, mostrando a mecha para Snape. Ele recuou, franzindo o nariz. “Criei um alisador de cabelos e creme hidratante. A Sleekeazy irá à falência em um mês!”
Snape olhou para ela estranhamente, como se tivesse visto um fantasma. “Será que devo entender, Senhorita Granger, que você desperdiçou meu valioso tempo, além do seu, criando uma poção que atende simplesmente à... vaidade [vanity]? E você espera receber uma nota por essa...” ele mostrou o trabalho dela enquanto procurava pela palavra, “abominação?”
Hermione esperara uma reação como aquela e já estava preparada. Posicionando a amostra de cabelos na mesa, ela se manteve ereta e cruzou os braços imitando as maneiras do professor. “Sim, senhor, espero uma nota. Segui as normas para o projeto e produzi uma poção original com os ingredientes de que disponho. O fato de ser útil, além dos benefícios, mostra que busquei ser lógica e razoável em todo o processo, Professor Snape,” ela acrescentou respeitosamente.
Ele virou-se, rodopiando as vestes negras, e marchou até seu escritório, retornando com um vaso contendo uma substância pastosa branca. O rótulo parecia ter sido jogado fora. “Sente,” ele comandou. Ela obedeceu, ignorando a falta de rótulo quando ele pegou a cabeça dela e forçou para um lado. O rosto do Professor Snape chegou mais perto do dela mais uma vez. O cheiro de patchouli dele a envolveu numa onda de musk; ela conseguia sentir seu hálito morno em seu rosto. Levantando-se, ele destampou o vaso e pegou um pouco da substância branca em três longos dedos.
“O que é—“
“Fórmula para crescimento de cabelos,” ele informou-a, como se ensinando um aluno de primeiro ano. “É uma medida para remediar súbitas perdas de cabelo.” Ele passou a pasta no local do couro cabeludo de Hermione do qual ela tirara sua amostra. Sentir os dedos dele em seus cabelos era perturbador, mas ela permaneceu sentada, a cabeça para um lado, em quieta submissão. Enquanto ele passava a mistura no cabelo dela, massageando a área, ela fechou os olhos. Parte dela estava tentando imaginar a si mesma em algum lugar, qualquer lugar, que não fosse aqui nesse momento, pois todo seu corpo estava adorando o toque dele.
Ele retirou a mão; ela se endireitou e olhou os olhos dele.
“Posso perguntar se você testará seu projeto em outros estudantes?” ele perguntou com um sorriso discernível.
“Sim, Professor, eu ia testar em Lilá e—“
“Me poupe dos detalhes,” ele interrompeu. “Não desejo ouvir mais nenhuma besteira.” Ele colocou o vaso de pasta de crescimento de cabelo na mesa à frente dela. “Melhor você levar isso...” Ele indicou o vaso. “Não desejo partilhar da desgraça da Torre da Grifinória. Sua estimada Diretora de Casa me levaria ao Diretor, e eu não gostaria de ser ridicularizado frente aos meus colegas. Engarrafe seu projeto, Senhorita Granger, e saia da minha vista.” Ele se virou e voltou à mesa dele.
Considerando-se dispensada, ela engarrafou sua poção e limpou a bancada de trabalho. Se abaixando e pegando sua mochila, os vidrinhos e o vaso de pasta, ela saiu murmurando quase silenciosamente, “Boa noite, senhor.”
***************
Hermione acordou cedo na manhã de sábado. O barulho e a atividade no salão comunal estaria chegando ao extremo às dez horas devido à exuberância dos adolescentes. Era uma fresca manhã escocesa de Junho. O dormitório das garotas do quinto ano da Grifinória estava muito quieto e Bichento obviamente concordava. Ele havia se enrolado ao redor de si mesmo, com o rabo de escova ao lado do corpo, a ponta tocando a própria orelha.
“Bichento,” Hermione sussurrou quietamente de modo a não acordar as colegas de quarto, “está na hora do patinho feio residente chocar a todos e mostrar que está crescendo, não acha?” Ela se sentou e olhou significativamente para o gato.
Bichento ignorou-a, mas ela continuou a falar com ele enquanto se levantava e se vestia. “E esse patinho precisa mudar. Acho que está na hora de abrir as asas e ver se posso voar.”
‘Quedinha’ era uma palavra tão vulgar e ‘paixão’ parecia tão temporário, mas na falta de outro bruxo abaixo de sessenta em Hogwarts, Snape era uma perspectiva excelente. Ele era solteiro, heterossexual, inteligente, razoavelmente atraente e empregado.
Pelo menos ela esperava que ele fosse hetero.
***************
A entrada dela para o café da manhã não poderia ter sido melhor. Com a cabeça erguida, as botas transfiguradas em saltinhos, ela andou confiante entre as mesas das casas. Sete anos intermináveis de aulas de ballet impostas por uma mãe que sofria a ilusão de que todas as garotinhas queriam ser Primeiras Bailarinas, deixaram-na com uma postura graciosa. O que antes era um emaranhado de cabelo, agora caía liso pelas suas costas em uma onda suave. Seu cabelo tinha um brilho que rivalizava com o de Gina. De acordo com que ela foi andando pelo Salão Principal, ouviu um assovio alto vindo da mesa da Sonserina. Bem no alvo; não era exatamente quem ela queria impressionar, mas sua imagem definitivamente evocava uma resposta dos ‘bad boys’ da mesa verde e prata.
Ela sentou em seu lugar costumeiro entre os amigos do quinto ano.
“Quem é a novata?” perguntou Simas, desatento, entre mastigadas.
Harry sorriu antes de fechar a cara. “Hoje tem algum Baile que eu não esteja sabendo?”
“Não, Harry, estou apenas acrescentando algum glamour e classe ao nosso dia-a-dia,” respondeu Hermione com um olhar igualmente falso. Ela esperou os amigos rirem antes de olhar para o café da manhã e levar um momento para se recompor da entrada. Cuidadosamente, ela olhou para a Mesa Principal, concentrada na segunda cadeira à direita de Dumbledore. Seu Professor de Poções sempre se sentara ali, desde que o conhecera. Hoje ele iria olhar para a mesa dos alunos. Hoje ele iria olhar e notá-la. Hoje ele iria... ignorar os alunos e ler o maldito jornal!
***************
“Pela primeira vez ele estava ignorando a todos,” ela murmurou para si mesma ao sair do salão. “Dagaz seja meu guia!” ela xingou, descendo as escadas da entrada principal. “Que vá tudo pro inferno!” ela gritou descendo pelo corredor do primeiro andar. Ela parou fora da sala de História da Magia quando se deu conta de que não sabia para onde tinha ido. Ela chutou a pesada porta de carvalho, frustrada. A proximidade de Snape na noite anterior tinha deixado-a ansiosa por mais atenção dele, mas ela despertava menos interesse nele do que os classificados do Profeta Diário!
Ele deveria tê-la notado; ela meio que se transformara, não é? Uma dor lancinante no dedão com que ela havia batido na porta da sala fez os olhos delas se encherem de lágrimas. Virando-se em outra direção, ela baixou a cabeça para esconder seu estado emocional e começou a voltar para a Torre da Grifinória. Alheia ao que ocorria ao seu redor, ela deu de cara com uma sólida massa de vestes negras, rebatendo ela para o chão frio.
“Olhe para onde está indo!” disse uma voz profunda.
Hermione levantou a cabeça para ver quem havia colidido com ela.
”Desculpe, Goyle.”
Ao se levantar, ela olhou apologeticamente para o sonserino. Ela precisava se recompor.
“Você está deliciosa, Granger.” Gregory Goyle disse, lambendo sugestivamente os lábios.
Hermione ignorou o comentário dele. Ela só fez correr direto para o sétimo andar e para o retrato da Senhora Gorda.
*******************
De volta ao dormitório, Hermione se jogou em sua cama e se abraçou aos próprios joelhos. Essa manhã havia sido desastrosa. Ela precisava claramente de uma estratégia diferente. Colocando Bichento em seu colo, ela começou a alisar seu pêlo. Como faria Snape notá-la? Conseguir um encontro com Victor no quarto ano havia sido tão fácil!
”É isso, Bichento!” ela gritou ao pular da cama assustando o gato. Ela pegou um vidrinho de sua poção, balançou-o e ficou vendo-o brilhar à luz do sol. Com a outra mão, ela pegou a garrafa de Sleekeazy, colocou contra a luz e comparou-a lado a lado com a outra. “Não acho que meu experimento tenha sido uma perda de tempo total, Professor Snape.“
Tempo – o tempo era a chave de tudo. Levada pelo entusiasmo ela saiu correndo do dormitório, passou pela sala comunal e depois rumou para o escritório da Professora McGonagall. Estava na hora de acrescentar algumas disciplinas extras ao seu currículo acadêmico para o próximo ano.
Ela iria precisar de um Vira-Tempo.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!