O do corredor
Nem vou dizer se acordei no outro dia ou não. Por mim nem acordava. Sério mesmo. Estou me sentindo péssima, um lixo.
Mas o fato é que, na segunda feira, quando eu deveria estar de pé, pronta para as aulas, e querer estudar muito para as provas, eu, às 9 horas da manhã, estava no meu dormitório com as cobertas cobrindo minha cabeça.
O dia estava cinza e gelado e eu estava triste e depressiva. Tinha dormido chorando, acordei com meu travesseiro molhado e meu rosto com as marcas de lágrimas.
E agora eu não quero fazer nada. Não vou sair daqui, provavelmente.
Eu preciso de um lugar só meu. Um lugar que eu me sinta bem e seja a melhor pessoa do mundo. Quero estar sozinha, longe dessa escola, longe de qualquer pessoa.
Não tenho a mínima idéia do que eu vou fazer.
Já perdi algumas aulas, sei lá, umas duas quem sabe. Logo vai ter um monte de gente aqui me procurando e querendo saber por que eu não fui ás aulas, e eu, uma monitora chefe, vou levar uma detenção, só pra melhorar a droga de dia que eu estou tendo.
Eu preciso sair daqui!
Levantei correndo, coloquei uma calça jeans, meu All Star, uma básica de lã e meu sobretudo jeans.
Grande roupa pra uma segunda feira.
Desci as escadas correndo e saí do salão, procurando manter minha mente vazia. Isso Lily, muuuito bem.
Onde eu poderia ir?
Eu poderia ir lá perto da floresta, tem um “campinho” que ninguém, nunca vai, eu poderia ficar lá... Hum. Não. É muito público...
Então... Ah! Eu lembro que eu escutei os garotos falando de uma sala que fica não sei onde e pode ser qualquer lugar se você passar na frente dela sei lá quantas vezes e... Falar sei lá o que...
Grande, Lily!
Assim você vai longe...
Desabei no chão, sem nem ter idéia de onde estava. Ótimo, agora eu posso arruinar meu plano de sumir do mundo caindo no meio da escola e deixando todo mundo me ver.
Coloquei a cabeça entre os joelhos e respirei fundo. Eu não posso ficar aqui... Eu NÃO vou pra porcaria de aula NENHUMA hoje!
- Respira Lily... – Falei pra mim mesma. – Você precisa sair daqui.
- Lily! – Ah não!
Levantei minha cabeça fitando aquele par de olhos acinzentados que brilhavam pra mim. Tudo o que eu NÃO precisava agora.
- O que você está fazendo aqui? – Ele disse parecendo preocupado, tocando meu rosto. – Fiquei preocupado te procurando a manhã toda, eu nem fui para as aulas...
Levantei rápido, sem dizer uma palavra, já sentindo lágrimas se formando nos meus olhos.
- Lily... O que foi? – Ele perguntou, os olhos arregalados.
Por que você faz isso comigo James...?
Virei as costas e saí correndo dele, sem conseguir pensar em alguma coisa melhor naquela hora.
- LILY! – Ele gritou, e provavelmente saiu correndo atrás de mim.
Eu corria sem ter a mínima idéia de onde estava indo. E o James atrás de mim.
- DROGA JAMES, POR QUE VOCÊ CORRE TANTO!? – Gritei.
- O que aconteceu? – Ele perguntou mais uma vez.
- ME DEIXA!
Subi algumas escadas com ele MUITO perto de mim já.
O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço, o que eu faço!?
E continuei a correr. Nem sabia em qual andar da escola eu estava. Parei um pouco para recobrar o fôlego.
Olhei para os dois lados. James tinha sumido. Então escutei passos atrás de mim de novo.
- Ah, dá um tempo! – Gritei, voltando a correr.
Putz, ele não cansa?!
Continuei a correr pra frente. Subi mas umas quatro escadas. Acho que já estou ficando até tonta de tantos degrauzinhos na minha frente.
- Preciso me esconder... – Falei pra mim mesma.
Então, quando eu dei alguns passos pra frente escutei lá na frente...
- Lily?!
Qual é...?
Virei as costas e corri pra onde eu estava correndo antes.
- Preciso me esconder, droga! – Disse de novo, mais pra mim mesma.
Quando estava chegando no outro corredor...
- Lils?!
- Ta de sacanagem... – Murmurei andando pra trás. – Eu... Preciso... Me esconder!
Quando eu virei tinha uma porta na parede. Eu juro que ela não existia ali... Aham, eu lembro bem por ficar passeando na frente dela.
- LILY! – Dos dois lados.
- Ok, serve... – Abri a porta e desabei atrás dela.
Oh droga... É óbvio que eles vão me encontrar... É só uma porta, eles vão abrir e me encontrar aqui...
Colei meu ouvido na porta.
- Achou ela? – A voz era do James, acho. Mal dava pra escutar...
- Não, mas... Onde ela foi? – Hum... Sirius? Ou Remus?
- Será que ela não entrou na sala? – Prendi minha respiração.
- Mal jeito, Prongs... – Sirius, com certeza Sirius. – Você nunca vai conseguir achá-la aí... Vamos descer, depois eu te ajudo a encontrar ela de novo...
E passos foram embora.
Será que é tão difícil assim olhar para o lado e ver a porta? Santa ignorância...
Escutei mais passos bem, perto da porta.
- Preciso achar o lugar que a Lily foi... – Era o James. Achei que ele tinha ido... – Preciso achar o lugar que a Lily foi, preciso achar o lugar que a Lily foi...
Hum. Não entendi...
- PORTA IDIOTA! – WOW! Acho que ele deu um chute aqui... – Lily... – Ele falou meio ofegante, e pelo jeito também estava abaixado. – Me desculpe...
Ah cara... Eu não quero isso... Por que você tem que fazer tudo tão mais difícil James...?
- Me desculpe... – Ele repetiu com a voz fraca.
Eu levantei e vi o lugar que estava. Então eu corri. Sem nem ao menos prestar atenção no lugar.
Meus olhos tinham lágrimas e eu chorava de verdade.
Por que aquilo estava acontecendo comigo?! Eu nunca fui uma pessoa assim.
Agora só o que eu faço é pensar em James e martelar na minha cabeça pra mim mesma que ele não gosta de mim.
Então eu parei, olhei ao meu redor. Era um lugar escuro. Bem escuro.
Havia um círculo escuro, onde eu estava, e em uma parte um grande corredor, sem luz alguma, apenas uma fraquíssima iluminação. Apenas o suficiente para ver que era um corredor.
Eu corri novamente. Não dava a mínima pra onde ia. E eu chorei de novo.
Enquanto corrias sentia as lágrimas gelando meu rosto. Meu peito doía. Então eu desabei no chão, de joelhos, chorando.
Eu não quero isso pra mim...
- Por que eu não consigo te esquecer...? – Murmurei.
Me encolhi na parede, abraçada às minha pernas.
As palavras dele martelavam na minha cabeça como se fosse fogo. E o tempo todo! Eu simplesmente não conseguia esquecer.
- EU TE ODEIO JAMES! – Gritei. – TE ODEIO!
Então eu gritei. Sem dar a mínima pra nada. Apenas gritei, gritei até minha garganta doer e eu não conseguir gritar mais.
Ainda chorava... Eu estava ficando louca... Não conseguia tirar ele da minha cabeça. E ao mesmo tempo eu sentia vergonha...
Deitei no chão gelado. E ali fiquei...
[...]
“Meu olhar é frio e eu não tenho sentimentos”.
Eu escutei isso uma vez. E isso nunca saiu na minha cabeça, porque eu simplesmente não conseguia entender em qual situação uma pessoa se encontrava pra ser assim.
Mas é exatamente assim que eu sou.
Meu olhar está frio... E eu sou uma insensível, sem sentimentos, porque os que eu tinha decidiram me abandonar.
Sinto-me vazia por dentro. Oca. Sem sentido.
Perdi a noção do tempo que eu estou aqui. Não tenho idéia. Deve fazer horas já...
Estou encolhida em um canto escuro, começava a sentir frio. Estava tendo pequenos espasmos de arrepios e tremores.
Meus olhos estavam bem abertos e eu olhava para o nada. Parecia um ser sem alma.
(Evanescence - My Immortal)
- I’m so tired of being here, surprised by all of my childish fears. And if you have to leave, I wish that you would just leave, because your presence still lingers here, and it won’t leave me alone… (Eu estou tão cansada de estar aqui,surpresa por todos os meus medos infantis. E se você tem que ir, eu quero que apenas vá, porque sua presença ainda fica aqui, e não me deixará em paz...).
Cantei fraco. Eu estava fraca, minha voz estava fraca... E eu juntei minhas forças somente para conseguir cantar.
- This wounds won’t seam to heal, this pain is just too real, there’s just too much the time cannot erase... When you cried I’d wipe away all of your tears, when you scream I fight away all of your fears, and I held your hand trough all of these years, but you still have… All of me… (Essas feridas não parecem que irão se curar, essa dor é muito real, é muita coisa que o tempo não pode apenas apagar... Quando você chorou eu sequei todas as suas lágrimas, quando você grita eu luto contra todos os seu medos, e eu segurei sua mão por todos esses anos, mas você ainda me tem por inteiro.)
Minha cabeça começava a doer e meus olhos estavam ficando pesados. Não era sono... Não sei o que era, mas não era sono. Alguma moleza... Sei lá.
O que eu estava fazendo? Destruindo minha vida, praticamente... ME destruindo por causa do James. E por causa desse sentimento estúpido que me controla.
- You used to captivate me by your resonating light, but now I’m bound by the life you left behind. Your face it wounds my all pleasures dreams, your voice has chased away all the sanity in me… (Você costumava me cativar por sua luz, mas agora eu estou de joelhos pela vida que você deixou pra trás. Sua face tem todos os meus sonhos prazerosos, sua voz tira de mim toda minha sanidade.)
Eu não quero continuar assim, eu me odeio assim. É horrível... Eu não quero fazer nada... Quero sumir.
Ao mesmo tempo... Eu quero o James. E como quero. Abraçá-lo, me sentir segura nos braços dele, me sentir protegida e feliz junto dele...
Poder amá-lo. Sentir seu perfume me cativando e me deixando feliz...
- When you cried I’d wipe away all of your tears, when you scream I fight away all of your fears, and I held your hand trough all of these years, but you still have… All of me… Quando você chorou eu sequei todas as suas lágrimas, quando você grita eu luto contra todos os seu medos, e eu segurei sua mão por todos esses anos, mas você ainda me tem por inteiro.)
Eu te amo James...
- I tried so hard to tell myself that you’re gone, but though you’re still with me, I’ve been alone all along! (Eu tentei tanto dizer a mim mesma que você se foi, mas ainda assim você está comigo, eu estive sozinha por todo esse tempo!)
Cantei essa ultima parte chorando... E não consegui terminar.
Chorei mais um monte... Não conseguia parar. Que ridículo... Eu, Lily, a pessoa que sempre conseguiu ter controle de tudo, não quer mais viver por causa de uma pessoa.
Tudo bem que é a pessoa mais carinhosa, linda, gentil, doce e única do mundo...
A quem eu quero enganar... Ham, eu não vou conseguir esquecê-lo. Nunca. Não adianta... Eu estou destinada a amar James Potter para o resto da minha vida.
Meus olhos estão fechando... Não é sono, já disse! Mas eu estou, sim, me sentindo tonta.
Há quanto tempo eu estou aqui...? Caraca... Agora eu estou tonta mesmo.
Bom, eu não comi nada o dia todo e estou aqui nesse lugar frio pra caramba...
Eu vou desmaiar?
Que lindo, tudo o que eu precisava...
[...]
- Lily, Lily!
Loooooooonge...
- Lily?
Hã?
Abri meus olhos. Ainda estava no mesmo lugar. A mesma escuridão, mas não estava sozinha.
Meu corpo inteiro tremia, parecia que eu estava na neve sem roupas de tanto que eu tremia...
- Lily! – Escutei uma risada gostosa... E um cheiro que eu conheço muito bem... – Você acordou...
Tentei levantar meus olhos, mas estava muito fraca para isso. Estava com a cabeça em algo fofo...
- Onde... – Eu tremia demais, até pra falar.
- Shi... Não fale nada, você está muito fraca.
- James? – Eu perguntei. – Que... Horas são? – Tentei levantar um pouco.
- Deve ser umas três e meia da manhã de terça feira. – Ele disse tirando meu cabelo do rosto.
- Eu perdi a segunda feira inteira? – Perguntei.
- Sim... – Ele respondeu. Ah, agora eu percebi, eu estou no colo dele. – Como está se sentindo?
- Meio tonta... Com muito frio... – Falei.
Ele tirou o casaco que estava usando, por baixo estava apenas com uma camiseta. Vi que ele tremeu levemente, mas colocou o casaco nas minhas costas.
- Por que você fez isso? – Ele perguntou sério.
- Isso o que?
- Fugiu do mundo, correu de mim e se escondeu aqui... Se eu não tivesse conseguido entrar, sabe lá Deus quando você iria acordar e sair daqui... – Ele disse preocupado.
- Eu ia sair daqui...
- Você estava desmaiada há muito tempo acho... Estava super gelada, seus batimentos estavam muito fracos e você quase não respirava mais...
- Quando você chegou?
- Agora, não faz nem cinco minutos... – Ele falou.
- Como? – Perguntei.
- Faz umas cinco horas que eu estou tentando entrar aqui... – Ele disse, me abraçando e me esquentando. Ele é tão cheirosinho e fofo... – Entrei em umas nove salas até encontrar você aqui...
Eu sorri para ele...
- Angel of mine, can I thank you? You have saved me time and time again… - Sorri novamente e ele retribuiu.
- I don’t know where I would be without you… - Ele não cantou isso. Ele disse isso. Olhando pra mim, firme. Sem sorrir.
Então abaixou um pouco, tocando nos meus lábios levemente. Um beijo rápido e suave.
Por quê?
Eu permaneci com os olhos fechados por uns segundos.
Ficamos nos olhando por uns momentos muito constrangedores em que nenhum disse uma única palavra.
- Vem, vou te levar para a Ala Hospitalar... – Ele disse de repente, me levantando. Me segurou pela cintura e andamos para fora. – Ah, a propósito, da próxima vez que você faltar me avise, parece muito interessante se congelar em uma sala e perder todas as aulas com os verdinhos...
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