Últimas Lágrimas



Minha amada,

Você não sabe, mas toda essa distância me fere de modo inacreditável. Vê-la passar, observar seu rosto fino e delicado contornado pela iluminação do grande astro rei e não poder tê-la. Não sei se significo algo para você, mas a cada dia que passa tenho a maior certeza de que tudo isso não passa de um amor platônico. Por mais que você pise em mim e ache tudo isso bobagem, sempre estarei presente para você. Seria incapaz de te odiar, afinal, meu amor por você é superior a qualquer outro sentimento pulsante em meu peito. Seus belos olhos são minha perdição, seus lábios...Cada pedaço de você é parte de mim e...


Esta carta nunca teve um final, pois lágrimas cheias de dor e agonia mancharam sua tinta. Luna sentia-se tão fraca, covarde e podre, não sabia e sabia ao mesmo tempo o por que. Queria tanto ser sincera com Gina e contar-lhe sobre seus sentimentos verdadeiros, mas o medo e a covardia era muito maior do que qualquer outra coisa. Não queria ser rejeitada, pois sabia que não aguentaria. Talvez, para ela, fosse mais lucrativo morrer do que perder Gina. Para alguns isso pode ser uma obsessão, mas não, não é. Mas é o mais puro e verdadeiro sentimento que um ser-vivo nutria pelo outro.

Suas mãos gélidas e nuas naquele dia frio deslizavam pelo papel manchado, seus olhos acinzentados estavam inchados e seus lábios semi-abertos, pois não conseguia mais respirar pelo nariz. Ela não estava pedindo demais, estava? Só queria ter seu amor correspondido, nada mais que isso. Porém a cada dia isso parecia ainda mais e mais impossível. Luna desistiria de tudo para viver aquele amor, mas a questão é: E Gina? O que ela fará quando descobrisse tudo? Imprevisível do jeito que é, nada podemos presumir. A jovem arrastou-se pela cama e agarrou o livro, seu novo grande amigo. Começou a folheá-lo e o devorou mais um pouco, sentindo-se um pouco mais viva do que antes.

Dias se passaram, assim como semanas. Um mês sem contato, tudo estava tão...Diferente. Gina havia voltado a ser tão fútil, vulgar e superficial como antes, mas Luna mudara também. Estava desanimada, fria e fechada, se antes não falava com ninguém, agora nem no diário escrevia mais. O livro havia dado a ela falsas esperanças, por isso acabou queimando-o em uma crise de raiva. Suas notas eram baixas, quase não se lembrava do que aprendia nas aulas e seus dias eram infernais. As "poderosas" resolveram pegar em seu pé, então todos os dias tinha que aguentar milhares de piadas infâmes vindas de pessoas fúteis, porém uma delas não era apenas uma pessoa fútil. Era Gina Weasley, uma menina-mulher insuportávelmente amada. Aquele sábado tinha tudo para ser apenas mais um, monótono e deprimente, mas não foi. Estava entardecendo e o arrebol mais uma vez trazia saudosas lembranças à jovem Luna, porém a porta se abriu segundos depois dela fechar os olhos. Um frio percorreu-lhe a espinha, decepção, medo...Enfim, uma mistura tremenda de sentimentos e sensações.

Primeiro pensou: Gina estava entrando para abraçá-la e trocar juras de amor, depois pensou que a mesma podia ter contado a alguém sobre o seu esconderijo, então abraçou uma das almofadas roxas e empunhou a varinha. Estava pronta para o que viesse a partir do segundo seguinte, e talvez desejasse aquilo. Faltava aventura, emoção e um quê a mais em sua vida. Bem, façam suas apostas! Alternativa número um ou número dois? Eu adoraria responder que não foi nenhuma das duas, porém...Foi a número um. Gina estava entrando cabisbaixa, segurava um livro e parecia muito diferente da garota imponente que desfilava pelos corredores à fora. Luna beliscou-se, depois piscou bastante os olhos, mas ela estava realmente ali. Não era ilusão, sonho ou efeito do arrebol...Gina Weasley estava ali.

- Sabia que ia te encontrar por aqui... - A ruiva murmurou. Não parecia estar muito bem, se aproximou, puxou uma almofada com o pé e sentou-se. Não estava tão frio, mas a garota usava um casaco de mangas compridas e Luna estranhou, mas achou melhor não comentar. Elas ficaram ali, em silêncio por longos minutos, e de repente Gina choramingou algo e abraçou Luna, assim, sem mais nem menos. Céus! O que era aquilo? Primeiro elas eram amigas, depois Gina chutou Luna para fora da história, aí depois fez dela sua fortaleza, depois pisou nela, e agora? Era o que? Luna ficou imóvel e sentiu um estralo de felicidade percorrer seu corpo inteiro. Era como se vida corresse pelas suas veias anteriormente mortas. Ela respirou fundo e acariciou os cabelos da amada.

- O que foi, Gina? - Luna tentava olhá-la nos olhos, porém Gina desviava. Parecia ter olhos inchados, avermelhados e seus lábios estavam muito secos. A jovem não sabia se insistia ou se respeitava o silêncio da ruiva, mas não demorou muito tempo para ela começar a entender as coisas. Gina arregassou a manga do casaco e mostrou alguns cortes em seu pulso e braço. Ah, ótimo! Agora a jovem miss-bruxa resolvera virar depressiva? Luna sentiu uma pontada de culpa no peito, só não sabia o por que. Ela não sabia o que falar, não sabia mesmo. E acreditava profundamente que atos e olhares eram mais úteis, às vezes. Então puxou Gina para perto de si e a abraçou. Um abraço terno, acolhedor e cheio de sentimentos diversos. Luna doava muito de si naquele ato, suas energias, seu amor, sua compaixão, tudo. Gina recebia os bons sentimentos e tentava se livrar da dor, coisa que ainda não estava explicada.

- Eu me sinto...Um lixo. Eu sou tão falsa, tão superficial...Luna, eu te magoei, não foi? Eu pisei em você e depois brinquei com seus sentimentos...Logo você que foi tão minha amiga! Logo você que eu... - Gina calou-se aos poucos, então deslizou vagarosamente a mão direita do rosto de Luna para a cintura da mesma, puxando-a para mais perto. Em uma fração de segundos elas estava tão próximas que Luna podia sentir a respiração ofegante e quente de Gina fazer os pêlos de sua nuca se arrepiarem. Então...Era isso? A felicidade realmente resolvera chegar? Ah, ledo engano, caro leitor! Tudo que parecia ser um sonho, um conto-de-fadas perfeito virou um pesadelo. De repente a porta se abriu e risadas estridentes foram ouvidas, o que era aquilo?

- Oh, Merrrlim! Além de anorrrrmal e bizaarrra a Di-Lua é lésbica! Oh, Gina! Mon amour, venha já prrra cá! Cuidado, ela pode tentarrr te assediarrr! - Delacour tinha um sorriso tão malvado nos lábios que fazia doer tudo em Luna. Sentiu uma sensação tão ruim, que achou que estava morrendo. Sentiu até o sangue amargo escorrer-lhe pela garganta, mas observou tudo aquilo com muita atenção - muita mesmo. Viu Gina se levantar rindo, limpar com um feitiço as cicatrizes e se dirigir até as amigas. Todos sussuravam milhares de coisas, mas Luna não ouvia nada. Estava tão concentrada e furiosa que não conseguia nem pensar ou raciocinar direito. O que fora aquilo, céus? Uma prova concreta de que o amor é uma droga? De que as pessoas não valem nada? Quem sabe...

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Por, pelo menos, duas semanas a vida de Luna foi um inferno. As garotas fizeram flyers para divulgar que Luna Lovegood era lésbica, espalharam pela escola inteira e ainda fizeram questão de desenhá-la vestida de homem em todos os cantos. Aquilo era muito infantil e Luna só se preocupou no começo, mas tudo aquilo foi um processo de recuperação e descobrimento para ela. Lembrou-se de sua infância, as passagens de sua vida, enfim, tudo. E chegou a conclusão de que, talvez, fosse mesmo lésbica. Sempre achara garotas mais bonitas que rapazes e sempre sentia vontade de beijá-las ao invéz de beijá-los. E então ela resolveu entrar de vez nessa dança, pois já que estava afogada até a cabeça na lama...Por que não jogar também? Então, em uma terça feira grande parte dos "pingos nos i's" foram colocados.

- Olha, Gabi, Gina! Olhem ali, não é a Di-lua-Dyke? - Susana falou com a boca cheia de orgulho. Era muito frequente provocações em pleno corredor, todos já estavam quase se acostumando, e se não tinha confusão, não era normal e até sentiam falta. Mas uma coisa que todos não estava acostumados era, Luna revidar. Tudo bem, as 'poderosas' provocavam até dizer chega, mas Luna sempre fingia que nada acontecia.
- Oh sim! Di-lua-Dyke! Cuidado, Gina! Ela pode tentarrr te agarrarrr nuvamente! - Exclamou a azeda Gabrielle. Gina estava sorrindo, ia abrir a boca para falar alguma coisa quando a voz rouca de Luna surpreende a todos. Até mesmo Pirraça parou, estático, para ouvir.

- Bom dia para vocês também, poderosas. - Falou com um sorriso sarcástico nos lábios. Estava farta, cansada e muito aborrecida com tudo aquilo. Sabia que se não colocasse um ponto final não pararia nunca, então juntou toda a coragem e cara-de-pau que nunca teve na vida e obrigou-se a falar boas verdades para aquelas três garotinhas mimadas e sem coração. - Delacour, você se julga tão boa e auto-suficiente, porém se não fosse pelo Potter você já estaria morta. Mas não, você se gaba de ser quase uma deusa, não? Você não passa de uma menina mimada e ignorada pelos pais ricos e ocupados demais para notar a inútil filhinha que colocaram no mundo. Então eles suprem a ausência deles te mimando como uma porca, mas na verdade tudo o que você quer é atenção. Então por isso você inferniza a minha vida e de mais um monte, não? - Luna falava tudo sem parar, não queria dar brecha para elas se manifestarem. Por muito tempo ouviu calada e de cabeça baixa, mas aquele era o seu dia de falar, de ser ouvida.

- E você, Susana? Todos sabemos que você é muito feia e foi obesa, mas o que não sabem é que você foi internada pelos seus pais para ver se fechava a porcaria da boca. Agora que fechou...Devia voltar a abrir, mas não para tentar se aparecer, pois quando você faz isso é...Assustador. Não sei se é a beleza das outras duas que ofusca a sua, mas em lugar algum vejo atrativo em você. E bem, você só fica com as sobras das outras duas. - A jovem loira estava irreconhecível. Ouvira besteiras a vida inteira, mas aquele dia ela resolveu mostrar que também tinha voz para aquilo. E por último, deixou Ginerva.

- E você, Weasley? Bem...Eu passaria uma eternidade aqui, falando de tudo que eu sei e tal, mas não, não sou tão desprezível como vocês. Eu poderia ser grosseira como você foi, poderia falar uma porção de coisas que nem suas amigas ridículas sabem, mas eu não o farei. E sabe por que? Por que apesar de tudo o que você fez, apesar de todo o desprezo...Eu te amo. Isso mesmo! Não sou a Di-lua-Dyke? Então...Mas uma coisa eu te digo...É muita crueldade o que você fez, pois você usa do meu amor para satisfazer seu bizarro desejo de ter felicidades momentaneas e falsas, pisando nos outros. Mas você sabe que sempre quando precisou e precisar, eu estarei aqui. - Duas lágrimas escorreram dos olhos de Luna. Agora todos sabiam, até mesmo os fantasmas e quadros. Não era mais segredo para ninguém que ela a amava, ah, e como amava! Luna respirou fundo e sentiu uma dor no peito, então balançou a cabeça negativamente e abriu passagem na multidão com o braço desocupado, seguindo para esconder-se do maldito mundo que vivia.

Luna estava livre agora. Havia exposto seu maior segredo que machucava seu coração e havia chorado as últimas lágrimas. A partir daquele dia ela ia tentar seguir sua vida, sabia que seria difícil esquecer aquele amor tão complicado, banhado de mentiras e confusões, mas um amor sincero. Que superou muitas coisas que outros sentimentos não seriam capazes de superar. Na sala secreta Luna estava sentada, tentando esquecer todo aquele escândalo de horas antes, porém...Gina estava trancada em seu dormitório muito atordoada. Lia as cartas do Amante Imortal e percebeu todas as semelhanças e ligações...Então todas aquelas palavras bonitas eram realmente verdade? Sim. E vinham de Luna. Então machucou-se lembrando de todos os momentos que recebeu força e apoio, sentiu que havia errado muito e que talvez não tivesse mais perdão. E naquele dia elas perceberam que confusão um simples arrebol pode causar.
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SIM! FINALMENTE SAIU O NOVO CAPÍTULO!

- Desculpa a demora
- Obrigado pelos comentários e pelo apoio
- Aceito sugestões e etc
- Dedicado? Não. Ninguém desta vez ^^
- Inspiração? Não sei...

Espero que gostem!

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