Parte Dois




O passeio a Hogsmeade foi muito diferente de todos os que Snape já havia feito. Ao invés de seguir direto para a loja de ervas ou seguir Lúcio por todo lugar, estava sentado no Três Vassouras conversando com a garota cuja vida era curiosidade de todos: Anrika. E saboreava cada minuto, especialmente quando os idiotas grifinórios estavam por perto. Adorava ver a cara de Sirius Black enrubescendo, provavelmente de vontade de socá-lo contra a coisa mais dura possível. Apesar de saber que poderia ser pego a qualquer momento pelo grupinho, Snape se extasiava e não tinha o menor medo de rir da cara deles.
- Aquele asqueroso - era o que Black mais dizia -, se aproveitando dela só pra poder se esconder da gente! Ainda vai se ver, morceguinho...
Mas era a última de suas preocupações. E como não andava mais sozinho, não tinha muita coisa que preocupava Snape. Anrika era grifinória, logo, seus amiguinhos se manteriam longe enquanto ela e Snape estivessem juntos. E sempre estavam. A qualquer hora que os vissem, os dois estavam juntos, seja estudando, conversando ou apenas passando pelos corredores seguindo para a próxima aula.

Na noite antes do Natal Snape mandara a Anrika uma coruja, escrevia pedindo que o encontrasse no lago, na cachoeira onde se falaram pela primeira vez. Queria comemorar a data a seu modo, já que toda aquela melação não lhe agradava em nada. Ele tinha um ás na manga: sabia perfeitamente que Anrika também não gostava muito de comemorações cheias de afeto.
Era numa noite de lua cheia. Quando chegou ao lago, Anrika se encantou: por sobre a água apinhavam-se velas multicoloridas criando uma atmosfera muito romântica, ainda mais com o sedoso e fofo tapete de peles que pairava por sobre a água, bem ao meio do lago, flutuando magicamente.
- Severo, o que é isso?! - perguntou com um ar irônico.
- Eu... bem... foi o único jeito... acho eu... - estava muito sem graça, arrependido de ter feito tudo aquilo.
- O lugar está lindo - disse sorrindo e se aproximando dele - Mas não acha que exagerou um pouquinho?
- Er... bem, achei que... como é Natal... - balbuciou ele fazendo-a rir de seu modo envergonhado de falar.
- Estou brincando. Mas espero que ninguém nos veja! - riu pegando a mão dele para tomar apoio e subir no tapete, que agora estava na beira do lago, esperando para ser utilizado.
Snape riu por dentro. Segurou fortemente a mão dela e depois que Anrika se acomodou, subiu também. Conversaram sobre os presentes que trocaram e sobre como a noite estava ajudando, porém, Anrika percebeu que ele estava diferente.
- O gato comeu sua língua, Severo?
Ele riu alto, nervoso.
- Algum problema?
- Não, não há problema... bem...
- Então diga o que quer me dizer, oras!
- É que eu... queria saber... se você quer namorar comigo! - disse de olhos fechados, com o rosto virado para o lado.
- Na... namorar? - gaguajou Anrika.
- Sim.
Depois de longos minutos de silencio Snape olhou ao redor e ergueu os braços.
- Acha que fiz isso tudo outras vezes? - perguntou ele sorrindo - Se algum dos meus amigos nos visse agora eu seria motivo de chacota para o resto da vida!
Anrika tinha os olhos vidrados em Snape.
- Eu gosto muito de você, Anrika.
- Severo, você não sabe nada sobre mim!
- Por que não me conta um poucoo então? - disse aproximando-se e tocando o rosto dela.
- Eu... poderia... mas não quero! - disse Anrika mudando rapidamente de expressão. Parecia zangada agora.
- Então não fale nada. - sussurrou Snape aproximando seus lábios dos de Anrika e lhe deu um suave beijo - Quero ficar com você!
- Eu não posso lhe prometer isso!
Ele dicou quieto por instantes, encarando-a.
- Não gosta de mim?
- Gosto, muito, mas meu pai...
- Você ficaria comigo se não fosse por ele?
Anrika sorriu maliciosamente e Snape teve sua resposta.
- Ninguém vai ficar sabendo disso, a não ser que você queira, Anrika.
Ela sorriu e o abraçou, pedindo por mais um beijo.

Nada mudou ao voltarem do feriado natalino, o ano correu daquele jeito. Os grifinórios, não conseguindo a amizade de Anrika, importunavam-na o quanto podiam. A professora Figg tentou mais de cinco vezes recorrer à decisão de Dumbledore de continuar mantendo Anrika na Grifinória, todas as vezes sem sucesso. Enquanto Anrika e Snape se encontravam escondidos de todos e ninguém desconfiava.

Desde o dia em que chegou, até o último, Anrika não se mostrou diferente com as outras pessoas, a não ser com Remo Lupin e Severo Snape. Não mudou de casa, como queria a professora Figg e passou por muitas humilhações da professora McGonagall, que não gostava nem um pouco dela. Mas nada a atingia, ela tinha Snape para consolá-la. Tinha a bibloteca toda, sempre que quisesse, graças aos seus fortes feitiços, e lá, podia pensar sossegada no que mais gostava na Sonserina: o garoto de cabelos negros e escorridos, Snape, que era muito inteligente e sarcástico, parecidíssimo com ela. Fora interessante como tudo acontecera muito rápido, mas haviam se tornado grandes amigos. Encontravam-se na biblioteca para discutir sobre os trabalhos e passavam horas escrevendo. Também encontravam-se na cachoeira preferida de Snape. Lá conversavam sobre os mais variados assuntos e até praticavam algumas magias e feitiços. Mas tudo isso era apenas desculpa para o que realmente os unia: o amor.

O ano letivo, porém, chegou ao fim.
Na segunda-feira da última semana do período letivo, Anrika estava na biblioteca, tinha em mãos o grosso livro sobre a história da magia de Hogwats, ainda não conseguira terminar de lê-lo.
- Alguma coisa a perturba?
Anrika olhou para cima e a sua frente estava Alvo Dumbledore, o diretor da escola de magia.
- Eu conheço cada sentimento existente no interior das pessoas, Anrika. O que você está passando já foi e anda será vivido por outras pessoas. Você não é a única.
Anrika baixou a cabeça e soltou o livro, entre as páginas estava disposto um pergaminho extenso. Era de seu pai e comunicava que voltariam à Colômbia assim que ela se formasse. Dizia também que ele viria até Hogwarts para buscá-la no dia seguinte ao do baile.
- Eu não aguento essa pressão. Tendo que ser sempre a melhor, sempre a primeira! Eu gostaria de fazer outras coisas, diferentes das que faço!
- Então faça!
- Ah, eu não posso. Meu pai nunca aprovaria! Ele diz que viemos de uma das poucas famílias puro-sangue... nem pode imaginar que eu pense tal coisa!
- Ele irá entender, se for o que você realmente quer!
- Nunca! O senhor não o conhece!
- Que mal ele pode lhe fazer? - perguntou Dumbledore sorrindo.
- A mim nenhum, jamais me machucaria... mas aos que estão ao meu redor...
- É por isso que não se aproxima de ninguém? Não quer dar motivo para seu pai não aprovar suas amizades?
Anrika riu.
- O senhor não sabe com quem está lidando...
- Seu pai não pode ser tão mau assim, Anrika...
- Do que é que o senhor sabe? - disse ela explodindo em lágrimas - Ele acabou com a pessoa que eu mais amava!
- Mais amava? Mas você só tem dezesste anos!
- Para mim era amor, mas se ele achou que não, por que matá-lo?
- Como? - indagou o diretor. A garota estava aos prantos agora. Tentava secar as lágrimas, mas não conseguia vencê-las.
- Sim, professor, meu pai matou o garoto que eu amava por não ser a pessoa certa para mim!
- É uma acusação muito grave! - disse o diretor.
- Sim, aqui na Inglaterra, mas não na Colômbia onde todos morrem de medo de nosso nome!
- Você não pode se afastar das pessoas por causa de seu pai! Ele acha que pode te proteger pelo resto da vida, mas você tem que aprender por si mesma!
- Eu já disse isso a ele, professor... - afirmou Anrika mais calma, mas ainda chorando - ...ele não me ouve.
- Então terei de tomar uma providência.
- NÃO!
Até mesmo Dumbledore se espantou com o tom de medo na voz da garota.
- Vou conversar com ele.
- Não, professor. São só mais cinco dias. - disse ela balançando a cabeça negativamente - Não precisa se preocupar! Voltarei à Colômbia e...
- Não vai se envolver em nenhuma amizade?
Anrika não respondeu.
- Você é tão inatingível assim? - perguntou Dumbledore.
- Conversar com as pessoas não quer dizer que eu vá envolvê-las à ponto de meu pai ter que intervir!
- E Severo Snape?
- O que tem ele? - perguntou ela erguendo uma sobrancelha.
- Não acha que ele corre algum risco?
- P... por que? - perguntou olhando fixamente nos olhos do diretor.
- Eu sei que vocês dois andam se encontrando!
Anrika fez menção de falar. “Como é que ele pode saber? Tomamos muito cuidado!”
- Seu pai não vai descobrir sobre vocês dois, os poderes dele não podem com Hogwarts.
- E o que temos Severo e eu? Só porque somos de casas diferentes e nos encontramos na biblioteca...
Dumbledore olhou em volta e falou baixinho:
- Aquele pedido de namoro lá no lago foi algo muito original, não foi?
- Q... que?
- Eu sei de tudo o que acontece em Hogwarts, Anrika. Mas não sou fofoqueiro. Seu segredo está seguro comigo - riu o velhote.
- Eu... eu...
- Não pôde evitar. Claro que não! É uma coisa natural se apaixonar!
Anrika tampou o rosto com as mãos.
- Severo sabe que seu pai matou seu amigo?
- N... não!
- E quando vai contar a ele?
Anrika passava a mão pelo rosto impacientemente enquanto um medo incomensurável a fazia tremer.
- Professor...
- Anrika, se isto tudo está sendo uma brincadeira para você, acho que merece o que seu pai fez! Mas se não, precisa contar a Severo. Ele é um garoto de futuro, se isso for empatar a vida dele, você precisa libertá-lo!
Anrika recostou-se na cadeira. Queria muito ficar com Severo, mas o medo de apresentá-lo a seu pai era tão grande que ela não pôde evitar aquele sentimento de perda. Preferia deixar Snape partir ao vê-lo correr o risco de morrer por ela!
Na noite daquele dia, Anrika pediu a Snape que a encontrasse na biblioteca depois que todos fossem dormir.
- Estou esperando! - disse ele depois de dez minutos ao lado de Anrika sem que ela falasse qualquer palavra.
- É difícil...
- Acha que não percebi? - resmungou ele. Anrika o encarou. Snape ergueu uma sobrancelha - Então?
- Vou voltar para a Colômbia depois que me formar.
- Eu pensei nisso!
- Pensou, é?!
- Sim. Vou falar com seu pai, me apresentar, dizer a ele que estou disposto a qualquer coisa por você!
Anrika começou a respirar forte. Aquele costumeiro medo, aterrador e incontrolável, começou a tomar conta de seu corpo.
- Não acho uma boa idéia!
- Por que não? É o certo a fazer! Eu te amo!
Ela empalideceu, as mãos tremiam, era difícil esconder.
- Severo...
- Eu tenho dezoito anos, pelo amor de deus! Sou um adulto agora... não acho que ele não vá falar comigo!
- Não é isso, Severo!
- Vou falar com ele você querendo ou não!
- Eu não quero... ficar com você! - disse Anrika engasgando. A frase tomou a atenção de Snape, que lançou nela um olhar que lhe seria muito peculiar no futuro: um olhar de desprezo, indignação.
- O que foi que disse? - rosnou espremendo os olhos.
- Que não quero ficar com você!
Snape crispou os lábios, era a primeira vez que sentia-se culpado em sua vida. Sentia-se culpado por se deixar levar por alguém... por uma garota. Deu as costas a ela, sem dizer uma palavras sequer e saiu pisando forte. Anrika suspirou sentindo-se partir em mil pedaços, mas daquela forma ninguém se machucaria.

No dia anterior ao da formatura, o pai de Anrika estava sentado à escrivaninha do diretor da escola. Os dois conversavam sobre as potencialidades de Anrika. Dumbledore chegou a mencionar o medo que a garota sentia se desapontasse o pai, mas Del Buharro desconversou dizendo que aquele tipo de educação, uma educação através do medo, era a certa para os jovens desta geração que não sabiam medir a língua e muito menos os atos. Conversaram durante uma hora. Depois, o pai de Anrika quis dar uma palavra com a filha antes de partir. Saiu pelo corredor e esperou por lá, até Dumbledore ir chamar a garota.
- Senhor Del Buharro? Com licença! - disse Snape polidamente, interceptando o pai de Anrika assim que cruzou o corredor para observar os arredores do castelo.
- Pois não? - disse o homem com sua grossa e feroz voz.
- Sou Severo Snape - e ele estendeu a mão. Del Buharro deu uma boa olhada no jovem, que tinha uma boa postura, era um tanto magro, mas quando se é novo isso é quase inevitável, uma característica.
- Snape, você disse? - perguntou ele apertando a mão de Severo.
- Sim. Eu queria lhe pedir... desculpe ter de lhe contar isso assim, mas Anrika insistiu para que eu não o encontrasse!
- Diga, garoto.
- Eu gostaria de ter sua permissão para namorar Anrika. Namoramos nestes dois últimos anos aqui em Hogwarts...
- Você e minha filha o quê? - perguntou ele elevando o tom de voz.
- Namoramos desde o começo d...
- ORA GAROTO, VÊ SE SE ENXERGA! - gritou Anrika que chegava correndo - JÁ NÃO LHE DISSE PARA NÃO FICAR INVENTANDO ESSAS BOBAGENS?
Del Buharro voltou-se para Anrika assustado, depois de quase fulminar Snape com o olhar.
- Vê se tem cabimento, pai! - disse Anrika enlaçando seu braço ao dele - O maluco da escola namora comigo há dois anos e eu só soube ontem!
O pai de Anrika deu uma última olhada no garoto antes de lhe dar as costas e seguir em direção à porta de saída. Os dois se despediram sorridentes, pai e filha, e Anrika viu seu pai partir orgulhoso. Snape tinha a impressão de que seu peito iria arrebentar tamanha era a raiva que estava sentindo. E Anrika passou por ele encarando-o como se ele realmente fosse o maluco da escola. Aquilo foi o estopim. Ele a agarrou pela gola do casaco e a puxou para dentro de uma sala. Empurrou-a contra a mesa e Anrika caiu entre as cadeiras.
- Apenas me diga o por quê!
- Simples - disse ela levantando-se e massageando o braço - Não acho que você possa me dar um bom futuro! Você não tem dinheiro...
- Pare! Não diga bobagens! Qual é o verdadeiro motivo? - os olhos de Snape estavam profundamente negros e grossas veias transpareciam em sua testa parecendo saltar.
- Esse é o motivo, acredite ou não! Agora me deixe sair, tenho de me arrumar, preciso estar muito bem para a formatura.
- Precisa é? E quanto a mim? Acha que estarei bem na formatura?
- Não seja bobo, Severo. Achou mesmo que eu iria deixar tudo o que tenho para ficar com você?
Ele tinha os punhos cerrados, Anrika olhava para eles.
- Eu tenho tudo aos meus pés. Não vou precisar estudar mais para chegar onde quero! É só eu pedir e meu pai me dá! Já você... vai ter que batalhar por si mesmo! Eu seria apenas um empecilho. Acho que você tem mais potencialidade... sozinho!
- Eu não entendo...
- Abra a porta! Não há o que entender. É isso e pronto!
Snape abriu os braços, com um olhar de incompreensão e desacreditado deixou Anrika passar. Na noite da formatura foi a última vez que Snape a viu.

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