O limiar da crueldade
Capítulo 33 – O limiar da crueldade
O grande relógio mágico do Ministério da Magia assinalava onze horas e cinquenta e nove minutos de uma calma noite. Os poucos ocupantes do lugar esfregavam os olhos sonolentos, contando os minutos que faltavam para abandonarem o turno de trabalho e aproveitarem o merecido descanso nas suas camas, depois de mais um longo dia a exercerem a sua profissão. As luzes de quase todas as divisões já tinham sido apagadas e mesmo a fonte dourada, na entrada, tinha parado de libertar água, reforçando o clima de silêncio.
Um único lugar em todo o edifício permanecia agitado, cheio de vida e movimento. Pilhas de folhas era levitadas de uma sala para a outra, os memorandos quase se esbarravam, tal era a quantidade que sobrevoava as cabeças. Numa espécie de sala de conferências improvisada, dezenas de pessoas prestavam a máxima atenção ao que estava a ser dito por uma pessoa em particular, o antigo chefe daquela divisão… o actual Ministro da Magia.
A primeira badalada da meia-noite soou.
Apesar de tantas vezes terem ouvido aquele relógio, muitos foram os que se sobressaltaram diante daquele som, tal era a concentração com que ouviam as instruções de Kingsley Shacklebolt. Mesmo não sendo mais chefe de Aurores, ele recusara-se apenas a sentar na mesa de Ministro e ditar ordens. Não! Kingsley era um agente de campo e não concebia a ideia de se esconder atrás de um grupo de guarda-costas.
James rodou a varinha mais uma vez nas suas mãos, enquanto analisava, distraído, o relatório que lhe acabara de ser entregue. Havia algo ali que lhe tinha escapado… ele tinha a certeza disso. Apenas lhe faltava descobrir o que era. Era nessas alturas que sentia a falta que Lily e Alice faziam naquela divisão. Elas eram as melhores bruxas da divisão de inteligência do Quartel de Aurores e ninguém as batia em matéria de desvendar mistério e encontrar pistas.
Ao contrário de muitos outros, ignorou as badaladas do relógio que se seguiram. Apenas seria alertado por ele quando apenas se ouvissem oito batidas, sinal de que podia recolher-se ao conforto de sua casa. Quer Sirius, quer Frank pareciam pensar o mesmo, assim como metade de todos os aurores presentes. Os outros não teriam tanta sorte e aguardava-os mais oito horas de árduo trabalho.
Tonks era uma dessas pessoas. O seu cabelo, agora preto pastoso, realçava o olhar cansado com que analisava todos os documentos que tinha em mãos. Se houvesse um ataque naquele preciso momento, o mais certo era que uma boa parte deles não fosse capaz sequer de fazer a mira correctamente no adversário.
E, por vezes os nossos maiores receios materializam-se à nossa frente, tal como James poderia comprovar de seguida, amaldiçoando-se mentalmente por ter pensado na possibilidade de haver um ataque. A décima segunda badalada soou, muito embora tenha sido abafada por algo mais, vindo de longe. No mesmo instante, a porta do recinto estourou para trás, dando passagem a um jovem auror, que não devia ter mais do que dezanove anos, cujo nome James não se lembrava.
O rapaz deu dois passos cambaleantes para o interior, procurando freneticamente alguém que o pudesse ajudar. O seu rosto pálido estava coberto de numerosas gotículas de suor e o seu peito subia e descia rapidamente, à medida que o auror arfava por um pouco de ar. A sua mão direita apoiou-se na porta, com força, suportando o corpo que o joelhos teimavam em não segurar. Mas ele ainda foi capaz de sussurrar qualquer coisa antes que a gravidade fizesse efeito no seu corpo já fragilizado e ele caísse no chão.
O primeiro facto que chamou a atenção de James, antes deste entrar em estado de alerta, foi que as costas do seu colega estavam manchadas, completamente recobertas por sangue viscoso que fizera um rasto até ao lugar onde ele desfalecera.
- O que é que ele disse? – perguntou Sirius enquanto vários colegas assistiam o rapaz. – Ele falou qualquer coisa. Eu vi!
Antes que alguém pudesse responder a Sirius, ouviu-se uma explosão, que ecoou pelos corredores, seguido de um sinal de alerta… um som que todos eles conheciam demasiado bem.
- O Ministério está a ser atacado! – concluiu James, não esperando para segurar firmemente a sua varinha, em posição de ataque – Voldemort quebrou as barreiras.
Em poucos segundos, a confusão instalou-se. Entre ordens ditadas, pedidos de auxílio, organização de planos de defesa, imediatamente o sono passou longe de todos os presentes, colocando-os num estado de alerta tal, que raramente era observado. Aurores foram divididos em grupos, de acordo com as instruções dos líderes e, em questão de minutos, James viu-se separado dos seus amigos, para tomar a liderança de um grupo de jovens aurores que mal sabiam como duelar.
- Osswald, Cotran, vocês cobrem a retaguarda. – sussurrou James para os dois mais próximos, enquanto verificava a proximidade de um grupo de Devoradores da Morte. – Os restantes vêem comigo. Vamos contorná-los e apanhá-los de surpresa.
Quatro homens, segurando as suas varinhas, seguiram James, enquanto outros dois ficavam ligeiramente para trás, protegendo-os de possíveis ataques vindos pelas costas. Com a mão, James fez-lhes sinal para apenas atacarem ao seu sinal e fazerem o mínimo barulho possível.
Respirou fundo, afastando a ansiedade da antecipação de um duelo, enquanto verificava, uma vez mais, se o elemento surpresa ainda estava do lado deles.
- BOMBARDA MÁXIMA!
O feitiço de James apanhou grande parte dos inimigos, atirando-os para longe já inanimados. Mas três ficaram de pé e agora, sem se deixarem surpreender, iniciaram logo o ataque.
- Gryffindors a atacarem pelas costas? – a voz de Lucius Malfoy, escondida pela máscara, chegou-lhe aos ouvidos, cheia de sarcasmos. – Nunca pensei isso de ti, Potter!
James soltou um sorriso de escárnio, colocando-se em posição de ataque, depois de verificar que todos os inimigos duelavam com os seus colegas.
- “Eu chamo a isso saber aproveitar uma oportunidade.”. Lembraste de me dizeres isso, Malfoy? E eu provei-to, naquele dia… eu sei aproveitar uma oportunidade.
- Não por muito tempo, Potter! Impedimenta!
- Protego! – o feitiço de Malfoy fez ricochete na barreira conjurada por James e regressou para Malfoy, que se desviou. – É o melhor que sabes fazer? Piertotum Locomator.
Malfoy foi surpreendido por um momento, talvez por não compreender o porquê daquele feitiço ser lançado contra si. Mas estava enganado quanto ao destino do mesmo, que atingiu a estátua de um bruxo atrás si. Imediatamente esta ganhou vida e prendeu Malfoy entre os seus braços, atirando para longe a varinha do loiro.
- Diverte-te, Malfoy!
James acenou-lhe, rindo-se das tentativas do inimigo se libertar. Mas a diversão não durou muito, quando se apercebeu do real cenário que decorria à sua volta. Um auror já estava caído no chão e os outros esforçavam-se por resistir contra os novos reforços de devoradores da morte que chegavam.
- Stupefy!
Disse alguém atrás de si. Virando-se reparou que Sirius tinha acabado de estuporar um devorador da morte que se preparava para o atacar pelas costas. Juntamente com o melhor amigo, chegou o apoio que precisavam nesse momento.
Uma batalha violenta iniciou-se diante dos seus olhos. Estuporou mais três devoradores da morte, mas mais apareciam sem parar. Sem que reparassem, os devoradores da morte, liderados pelo recém-libertado Malfoy, começaram a encurralá-los contra a parede, deixando-os numa posição vulnerável. Se continuassem a recuar seriam todos mortos em instantes.
- E agora, Potter? Creio que não tens vontade de continuar a rir.
James observou de relance Sirius, que desviou o olhar para a parede. Tentando perceber o que o melhor amigo via, percebeu imediatamente a ideia dele, que lhe veio à cabeça juntamente com a sua habitual expressão marota.
- Ainda não, Malfoy! Carpe Retractum! – nesse mesmo instante, a grande carpete, fixa à parede, descolou-se e caiu sobre os atacantes, dando tempo aos aurores de avançarem para lugar seguro.
- Maldito sejas, Potter. Avada Kedavra!
James virou-se mesmo a tempo de ver um feitiço mortal, lançado às cegas, dirigir-se rapidamente na sua direcção. No entanto, a pontaria de Malfoy estava perturbada pela carpete e, no minuto seguinte, Osswald caía sem vida no chão. A fúria começou a trepar James, a partir do estômago, e passou pelo peito, onde o seu coração começou a bombear o sangue rapidamente para a sua face, agora vermelha.
- Cometeste um grave erro, Malfoy! Herbivicus!
As pequenas plantas que ocupavam vasos ao longo do corredor, começaram a crescer a um ritmo assustador e a cobrir os devoradores da morte, ainda atrapalhados em libertar-se da carpete. Os protestos contra o auror rapidamente foram substituídos por pedidos de auxílio desesperados, assim que se viram ser apertados pela fúria vegetal.
A mão de Sirius segurou o braço de James e puxou-o na direcção do corredor que dava acesso à entrada do ministério, no mesmo instante em que mais Devoradores da Morte chegavam. A capacidade de James raciocinar devidamente parecia ter sido cortada pela morte do seu colega. Jack Osswald mal tinha começado ainda a viver e, apesar de James não o conhecer há muito tempo, criara uma verdadeira simpatia pelo rapaz. Não conseguia deixar de pensar no sofrimento dos seus pais quando descobrissem que o seu único filho tinha sido assassinado, no cumprimento de uma função que não tinham apoiado.
A entrada do Ministério estava caótico. Muitos eram os aurores feridos e contavam-se cinco perdas entre os aliados. Tudo pareceu andar em câmara lenta, para James, enquanto dava um rápido vislumbre em tudo à volta. Os aurores que ainda se mantinham inteiros continuavam a lutar arduamente com os inimigos, mas as forças começavam a esgotar-se. Aquela era uma batalha perdida.
Mas alguma coisa mais fez toda a esperança de James desvanecer. Ladeado por dois aurores, Kingsley dobrava-se sobre si mesmo, no chão, segurando uma ferida no abdómen que sangrava abundantemente, e o seu corpo convulsionava cada vez que um vómito o fazia expelir sangue pela boca. As pernas de James fraquejaram durante momentos, restando pouca energia para o levar até àquele que tinha sido o seu mentor, dentro da academia de aurores. Apenas quando alcançou Kingsley, os joelhos dobraram-se sobre o seu peso, fazendo-o cair no chão, ao lado do ministro.
- Kinsgley… – disse James quase sem voz.
- James, eu não consegui impedi-los. O Ministério caiu.
Nenhuma daquelas palavras parecia fazer sentido para James. Continuava em estado de torpor, quase sem ouvir o murmúrio de Kingley.
- Tu estás no comando, agora. Contamos contigo!
Comando? O que queria dizer aquilo? Como que se uma luz se tivesse acendido, James acordou finalmente para a realidade.
- Não, Kingsley. Nem te atrevas…
Ignorando as palavras de James, Kingsley fechou os olhos e suspirou lentamente, deixando que os seus músculos relaxassem contra o chão. Em breve eles ganhariam de novo força, mas não seria a vontade do seu dono a falar mais alto… não! O seu corpo esfriaria e todo ele iria parecer feito de madeira dura e indobrável, num rigor mortis típico daqueles que partiam deste mundo.
Era o segundo amigo que perdia naquele dia e a culpa era única e exclusivamente de Voldemort. Estava na hora de se retirarem. Nada mais podia ser feito pelo Ministério da Magia, agora sobre o domínio do Senhor das Trevas. No entanto, ainda havia algo a fazer… iriam recuar sim… mas apenas para planear o próximo movimento.
- Preparem-se para retirar! – ordenou ele, sem se levantar do lugar. – Recuem para Ipswich.
Ipswich, uma cidade inglesa a alguns quilómetros de Londres, era a localização da Academia, onde os aurores em treinamento iniciavam os estudos preliminares. Poucos eram os que conheciam a sua localização, sendo o lugar ideal para projectarem o seu contra-ataque.
- James… – a voz urgente de Tonks chegou até ele, mas não se virou para encarar a colega, apesar de conseguir sentir nela o choque. - … Eu sei que não queres ouvir isto mas…
- Fala logo, Tonks. Acho que hoje não pode acontecer nada pior.
- A tua casa…
Sem dar tempo a Tonks para continuar, levantou-se num pulo e segurou a metamorfomaga pelos ombros.
- O que aconteceu?
Ela baixou o olhar tristemente, sem coragem para encará-lo.
- Atacaram a tua casa. A Lily estava sozinha e… lamento muito.
- Lily… – sussurrou ele prestes a entrar em desespero. - … diz-me que ela está bem.
Tonks olhou em volta, com os olhos lacrimejantes, observando a retirada de todos os aurores, incluindo os cadáveres daqueles que tinham sido mortos.
- Eu não sei, James. Juro que não sei.
Várias horas mais tarde, os seus joelhos há muito tinham fraquejado e o desalento não o deixara levantar-se mais do lugar onde ficara. À sua volta nada o fazia recordar daquilo que fora a sua casa nos últimos meses. Depois da notícia dada por Tonks, a única coisa que fizera, tinha sido aparatar directamente ali, ignorando qualquer recomendação para ter cuidado, porque deveriam haver mais Devoradores da Morte por perto.
James tinha perdido a noção de quando fora a última vez que chorara… apenas sabia que tinham sido há muitos anos. Sabia que chorara de felicidade quando Harry nasceu. Sirius gozara com ele durante semanas, por causa disso, embora também ele estivesse com os olhos a brilhar e tão babado com o afilhado como o próprio pai da criança. Não se recordava porém de ter chorado quando recebeu a notícia da morte dos seus pais. Não conseguia pensar… não conseguia deduzir o porquê de estar a pensar nisso…
Sirius talvez não tivesse sido avisado ainda, caso contrário estaria ali com ele, mas não se importou. O que mais precisava naquele momento era ficar sozinho, sem ninguém ali para lhe dizer que sentia muito. Os seus olhos pulavam do rastro de sangue, desde a sala, deixado por pegadas, até ao charco formado por um líquido transparente já na porta do seu quarto. Lily tinha estado sozinha no momento em que mais precisara dele e agora ela tinha desaparecido.
A dor era demasiado forte… não havia nada que ele pudesse fazer a não ser aguardar a confirmação dos seus piores receios. A sua cabeça doía de tal forma que foi incapaz de ouvir passos de alguém, até que estes estivessem mesmo ao seu lado. Sabia a quem pertenciam, mas não se virou, temendo que todo aquele pesadelo virasse realidade nesse mesmo momento.
* * *
Algumas horas antes
Harry abriu com olhos rapidamente, esbugalhando-os durante vários segundos, em choque, até que a sua córnea secou, obrigando-o a pestanejar. Sem perceber como, reparou que estava deitado na sua cama de barriga para o ar, não se recordando sequer de quando decidira deitar-se. As imagens distorcidas vinham e iam intermitentemente, impedindo que lembrasse com clareza o que tinha acontecido.
Olhando em volta encontrou dois pares de olhos, pertencentes a duas pessoas que o observavam em silêncio cheios de preocupação. Ron estava sentado na cama dele, muito estático, parecendo não encontrar palavras para falar com o melhor amigo. O seu aspecto não era dos melhores, mas em nada se comparava à palidez do rosto de James. O seu futuro pai, sentado no fundo da cama de Harry, tremia levemente e fechara os punhos com tanta força sobre os joelhos que os nós dos seus dedos estavam tão brancos como o seu rosto pálido.
- Alguém me pode explicar o que está a acontecer? – a garganta de Harry doeu, como se ele tivesse gritado durante horas. Mesmo a sua voz estava mais rouca do que o costume – Porque é que me estão a olhar com essas caras, como se eu fosse matar-vos a qualquer momento?
Nenhum dos dois respondeu imediatamente. Na verdade, nada nos dois se moveu, com a excepção dos olhos, que trocaram frases mudas de receio.
- Harry… – começou Ron, olhando inicialmente para o chão – Não te lembras de nada?
- Ron, vai directo ao assunto!
A brusquidão de Harry pareceu tirar-lhe toda a coragem para falar. O ruivo lançou um olhar suplicante a James, que foi prontamente ignorado por este. O choque estava espelhado no rosto dele e os olhos continuavam a ser a única coisa que parecia viva em todo o seu corpo.
- Bem… – continuou Ron, enquanto as suas mãos, em gestos automáticos, se remexia nervosamente e as orelhas dele adquiriam um tom vermelho vivo. - … quando tu passaste a correr por nós sem dizer nada… hum… eu e o James viemos atrás de ti.
As imagens do que tinha acontecido começaram a vir aos poucos à memória de Harry, dando-lhe, novamente, a sensação de que as suas entranhas se remoíam. Recordou-se da morte dos dois rapazes, do cancelamento do jogo de Quidditch e até de tentar alcançar McGonagall.
- Quando chegámos aqui… como é que eu vou dizer isto?!
- Tu estavas no chão… – James fechou os olhos, como que a tentar afastar aquela imagem da sua cabeça – … a contorceres-te e a gritares. Mas estavas inconsciente!
A medo, Ron começou por explicar a Harry tudo o que tinha acontecido, mas as memórias deste continuavam muito vagas, em nada ajudado pela forte dor que explodia na sua cabeça. Aparentemente, Harry estava a ter uma visão da mente de Voldemort, no momento em que Ron e James tinham entrado, e estes, para não assustarem ninguém, tinham silenciado o quarto e traçado a porta, para ninguém entrar naquele momento.
- E o que é que eu estava a gritar?
Agora sim, James parecia o reflexo de um cadáver e não havia um pingo de cor nele. Mesmo a respiração estava suspensa e todos os músculos rígidos. O moreno foi incapaz de falar, ficando para Ron essa tarefa.
- Tu estavas a gritar para V-voldemort não matar a tua mãe.
E de repente, todas as imagens voltaram a ele… tudo o que tinha visto na cabeça de Voldemort… todos os seu planos. Mas algo não estava bem… na sua memória já tinha escurecido. O seu reflexo foi olhar pela janela, onde o sol ainda brilhava forte. Isso significava que ainda havia tempo para ajudar a sua mãe. Nesse mesmo instante, um outro pensamento lhe ocorreu, fazendo-o saltar da cama fora.
- Há quanto tempo eu estou inconsciente? – Harry rezou mentalmente para que não tenha ficado apagado uma noite inteira e a demora em responder deixou-o ainda mais nervoso.
- Há algumas horas atrás! Desde a hora de almoço.
- Quer dizer que ainda há tempo.
Harry soltou um suspiro de alívio, perante o olhar chocado e surpreso dos outros dois. Aquilo não fora uma visão, mas apenas uma ameaça, mas ainda assim havia uma grande possibilidade de Voldemort começar a agir. Ignorando completamente Ron e James, abriu a sua mala e começou a tirar tudo do seu interior, espalhando as suas coisas pelo chão do quarto.
- Harry, queres explicar-nos o que está a acontecer?
- Tenho de encontrar o espelho. Preciso avisar o meu pai!
O objecto foi finalmente encontrado… o espelho de dois lados que Sirius consertara e lhe devolvera no início do ano lectivo, cuidadosamente embrulhado em papel castanho. Desembrulhou-o com as mãos trémulas e com alguma precipitação, quase o deixando cair, algo que não conseguiu evitar assim que o vidro se revelou.
- Está partido… – Foi a única coisa que Harry conseguiu dizer, antes de se deixar cair de joelhos junto da mala – … O Sirius tinha-o consertado… eu sei que tinha.
A sua melhor esperança tinha-se desvanecido tão rapidamente como aparecera e o verdadeiro medo teceu a sua malha em torno dele. Um medo real, quase palpável, como poucas vezes ele sentira ao longo da sua vida.
Mas não era apenas medo que sentia… raiva! Uma raiva tão grande que os seus olhos começaram a lacrimejar, sem que ele conseguisse controlar, e os seus dentes cerraram de tal forma que nem ele sabia como eles não tinha partido ainda. Talvez tenha sido essa raiva que o moveu, talvez tenha sido apenas o instinto. O que quer que tivesse sido, fê-lo levantar-se com uma imensa determinação. Voldemort não ia vencê-lo…
- Onde vais, Harry?
Só nesse momento, Harry percebeu que estava já junto da porta e preparava-se para a abrir. Olhando para trás, viu que James se tinha levantado e Ron estava apenas a dois metros dele.
- Não vou deixar que Voldemort faça mal à minha mãe, Ron, não vou!
- E se for uma armadilha, para ele te apanhar, Harry? Ele já fez isso uma vez!
- Se for uma armadilha… melhor ainda! É da maneira que eu acabo com ele de uma vez por todas.
Ignorando todas as tentativas de o demover, desceu as escadas e passou pela sala comum sem falar com os restantes colegas, parando apenas no quadro da Dama Gorda. Estendeu a mão para abrir a passagem, mas algo de estranho aconteceu: o quadro parecia estar fixo e não se moveu um centímetro sequer. Empurrou com mais força e nada aconteceu. Já frustrado, lançou um Alohamora, sempre com o mesmo resultado.
- Era isso que eu queria dizer-te, Harry! – falou James atrás de si, ofegante. – Estamos trancados aqui dentro e ninguém pode sair.
- Como assim? – a voz de Harry começou a elevar-se de tom – Porque é que estamos trancados aqui? Eu preciso de sair… tenho de ajudar a minha mãe!
- Eu sei que tens… eu também quero isso.
- MAS COMO É QUE EU VOU AJUDÁ-LA SE NÃO CONSIGO SAIR DESTA PORCARIA DE TORRE?!
James não se deixou abalar pela explosão de Harry. Limitou-se a encará-lo seriamente em silêncio até que o seu futuro filho se acalmasse.
- Eu não posso limitar-me a ficar sentado à espera de notícias, James!
- Eu sei que não… – respondeu James num fio de voz. – Eu também não posso ficar sentado à espera de ouvir a notícia que a Lily… – James foi incapaz de terminar a frase… de dizer algo que Harry entendeu muito bem apesar do silêncio. – Olha… nós vamos arranjar uma maneira de sair daqui, ok?
Harry acenou levemente com a cabeça e seguiu James até ao Salão Principal. Todos o encaravam com apreensão, incluindo Ron que já se tinha sentado junto dos restantes colegas e seguia os movimentos de Crookshanks a brincar com a própria cauda.
- Fred, George… – Harry lançou um olhar quase suplicante para os dois ruivos idênticos – … vocês são a minha última esperança. Portanto, se sabem alguma forma de sair daqui, falem logo.
Nenhum dos dois tinham estado a sorrir até aí, muito ao contrário do que era habitual neles, mas, mal Harry fez a pergunta, duas expressões matreiras iguaizinhas reacenderam a esperança de Harry.
Vinte minutos depois, um grupo de Gryffindors escapava-se por entre a confusão da retirada dos alunos da torre que explodia em chamas de todas as cores. McGonagall não tivera outra opção senão retirar os alunos para o Salão Principal devido ao cheiro asfixiante e às chamas inofensivas, porém assustadoras.
- E pretendes voar até Londres?
- É claro que não, James. Quando chegarmos a Hogsmead aparatamos para lá.
Harry, acompanhado de James, Ron, Remus e Sirius corriam a toda a velocidade por caminhos desertos. Foi a muito custo que tinham conseguido convencer as namoradas a ficar para trás, sobre grandes protestos de Ginny, que se recusava a ficar parada, Lily, que alegara que era a sua vida que corria risco, Marlene e Hermione, que queriam, a todo o custo, ajudar os melhores amigos e respectivo namorados.
Até ali não tinham tido problemas, mas quando estavam a atravessar o corredor do terceiro andar, um Aresto Momentum atingiu Ron em cheio. Com as varinhas em riste, os outros três apontaram para o atacante, deparando-se com uma McGonagall furiosa, a dar passadas furiosas até eles.
- NUNCA! Nunca em toda a minha vida, eu pensei encontrar um grupo de alunos tão irresponsável, ao ponto de colocar em risco a vida de todos os seus colegas para se aventurarem pelos corredores! O que é que vocês têm na cabeça?
- Professora, nós temos de…
- CALADO, POTTER!
James pareceu subitamente ter sido, também ele, atingido pelo mesmo feitiço que Ron. Harry, pelo contrário, deu um passo em frente, fixando o seu olhar directamente no da directora.
- Professora, eu sei que está furiosa connosco, mas foi a única forma que encontrámos de avisar alguém. Voldemort vai tentar matar a minha mãe. Na verdade ele pode até já estar em minha casa neste momento.
Se McGonagall ficou chocada com essa notícia, não o deixou transparecer, mantendo o mesmo olhar zangado de antes.
- E posso saber como chegaste a essa conclusão, Potter? Asseguro-te de que Lily está bem protegida…
- Não percebe, professora – interrompeu Harry, quase perdendo a paciência – Voldemort sabe como quebrar as protecções que o professor Dumbledore colocou lá.
Agora sim, foi impossível Minerva não ficar chocada e toda a sua cor desapareceu rapidamente, assim como a sua raiva.
- Como é que sabes isso?
- Eu vi na mente dele. Por isso é que a senhora tem de avisar alguém depressa.
Harry quase que podia afirmar que a pena estava estampada nos olhos dela. Mas porquê? Porque é que ela não se limitava, simplesmente, a ajudá-lo?
- Não vou poder fazer isso, Harry! Desde hoje de manhã que todas as nossas formas de contacto foram cortadas: a rede flú foi bloqueada, nenhuma coruja consegue sair de Hogwarts, sem vermos um raio de luz verde atingi-la. – Ela coçou os olhos, demonstrando o seu cansaço. – Pior… a escola está cercada por criaturas aliadas de Voldemort e, se alguém se atrever a sair…
- Mesmo assim, professora… – insistiu Harry, preparando-se para seguir o seu caminho – … eu tenho mesmo de sair.
- Eu não vou deixar, Potter!
- Professora…
- Harry! – a directora quase gritou o nome dele, apesar de tentar manter a compostura. – É meu dever proteger todos os meus alunos, e tu és um deles!
Antes que mais alguma coisa fosse dita, antes que alguém pensasse sequer tentar impedir Harry de sair dali, saídas de não se sabe onde, ramos de árvores surgiram a arrastar-se pelo chão e começaram a cobrir-lhes os pés e as pernas impedindo que se movessem. Na tentativa de se tentarem libertar, nenhum deles reparou que Harry era o único que se mantinha livre e nos seus lábios bailava um singelo sorriso vitorioso, enquanto ele dava silenciosas passadas para trás.
- É melhor assim! – disse ele como que a desculpar-se, atraindo a atenção e, principalmente, a fúria de todos os outros. – Já demasiadas pessoas se arriscaram.
- Harry, volta aqui!
O protesto de James já foi ouvido ao longe, por entre o barulho de uma passagem a abrir-se, por detrás da bruxa de um olho só. A parte mais fácil tinha sido superada. O pior ainda estava para vir!
* * *
Quem nunca tinha entrado no museu de Londres, jamais poderia imaginar a quantidade de objectos fantásticos e estranhos, pelo menos aos olhos de um muggle, que lá existia. Existia uma zona em especial que atraía a curiosidade dos turistas e aterrorizava a população mais jovem. Lá se encontravam as múmias egípcias encontradas décadas atrás, contrabandeadas para todo o mundo e agora reclamadas pelo governo egípcio.
Dumbledore passeou por um longo corredor, por entre os últimos visitantes do dia, que olhavam com desconfiança as suas estranhas roupas coloridas. Uma coisa era certa: o próprio Dumbledore confessava que não tinha grande subtileza para passar despercebido no meio de muggles.
Só quando todas as pessoas tinham desaparecido, foi finalmente recebido pela pessoa com quem ele desejava falar. Edward Langley exercia o cargo de director do museu de Londres há mais de vinte anos e nem o facto de já ter passado da idade de se aposentar o faziam recuar do lugar. De certa forma, Dumbledore via-se espelhado naquele homem com um rosto bondoso, típico de um avô que adora estar rodeado pelos netos pequenos.
- Professor Dumbledore, a que devo o pedido para falar comigo?
Albus estendeu a mão num comprimento ao director do museu e aceitou o convite para se sentar. O gabinete da directoria era quase tão deslumbrante como o resto do museu e, em qualquer estante, era possível vislumbrar algum objecto antigo e com aspecto de valioso.
- Sr. Langley, creio que conhece Rufus Scrimgeour.
Dumbledore esperava alguma surpresa da parte do outro, por isso ficou um tanto intrigado quando Langley abriu um sorriso para o visitante.
- Professor, apesar de ser um aborto, garanto-lhe que não perdi totalmente o contacto com o mundo mágico.
Esta sim, foi uma informação que desconcertou Dumbledore, apesar de fazer todo o sentido. Aparentemente, Rufus tinha-se esquecido de mencionar esse pequeno pormenor relativo ao director do museu. Isso respondia às dúvidas sobre o modo como aquelas quatro pessoas da memória tinha tido o conhecimento do mundo mágico.
- Então vou directo ao ponto. – Dumbledore entrelaçou os dedos na frente do seu rosto, gesto que lhe era muito típico. – Há alguns anos atrás, pediu ajuda a Scrimgeour quando este ainda era chefe de aurores.
- Acredito que tenha sido o próprio a revelar.
Dumbledore assentiu com a cabeça antes de continuar.
- Neste momento, Voldemort sabe que Scrimgeour esconde alguma coisa e por isso atingiu-o directamente.
- Eu ouvi qualquer coisa sobre isso. – o rosto do director continuava sereno, contrariando totalmente as expectativas de Dumbledore. Era quase como se ele tivesse sempre aguardado o momento em que a verdade viria à tona.
- É importante saber exactamente com o que é que estamos a lidar.
O silêncio cortante permaneceu durante alguns minutos, após o pedido implícito de Dumbledore, durante os quais os dois homens observaram-se mutuamente.
- Percebo perfeitamente a preocupação. – disse Langley quebrando finalmente o silêncio. – Mas lamento não poder ajudar.
Dumbledore não esperava que ele falasse logo, que lhe revelasse o que precisava saber, mas não contava que ele fosse tão directamente ao assunto. Talvez esperasse que Langley deixasse uma brecha que Dumbledore poderia aproveitar. A ideia de usar Legilimância nele passou pela cabeça, mesmo sendo contra os seus princípios, mas decidiu insistir mais um pouco.
- Tenho a certeza de que está ciente do perigo que todo o mundo corre de Voldemort tomar o poder.
- Perfeitamente, professor Dumbledore. Mas continuo a dizer, não o posso ajudar.
- Compreendo. – proferiu calmamente Dumbledore, preparando-se para se levantar. – Agradeço a ajuda.
- Lamento de facto não poder fazer mais.
- Antes de ir embora posso dar mais uma vista de olhos ao museu? – Dumbledore quase que podia jurar ver no director algum receio, mas essa impressão passou logo quando Langley assentiu com a cabeça – Eu achei fascinante a exposição sobre a cultura bárbara.
- Será um prazer fazer uma visita guiada, se estiver interessado.
Os dois homens prosseguiram para a zona pretendida, falando agora sobre coisas banais, tal como as mais recentes notícias do mundo bruxo, ou mesmo esclarecimentos de dúvidas de Dumbledore sobre alguma peça que lhe tivesse chamado a atenção.
- Esta réplica do navio Vicking chegou-nos na semana passada. Foi oferecida por um escultor local muito talentoso. Ele tem vindo a revelar um talento bastante promissor e estou a pensar seriamente em contratá-lo para colaborar com as exposições.
- De facto, um exemplar fantástico. Eu diria até que é uma obra mágica… se é que me entende.
- Aqui valorizamos muito o trabalho de cada um. A nossa equipa de arqueólogos é das melhores a nível mundial.
- Acredito que sim. Foi de facto uma pena que tenham perdido uma arqueóloga tão talentosa como Elizabeth Jaafar.
Pela primeira vez naquele dia, Dumbledore viu em Langley a reacção que sempre esperara. Dumbledore atirou para o ar e, pelos vistos, tinha acertado em cheio.
- É… – Langley hesitou um pouco, mas logo se recompôs, apesar de uma grande tristeza permanecer nos seus olhos. – … foi uma grande tragédia o que aconteceu à Lizzie e ao marido dela, Naavin.
- Conhecia-os bem?
Langley sorriu tristemente, parando de andar e observando o quadro pendurado na parede ao seu lado, onde uma menina pintava o sol a esconder-se por detrás de uma forte muralha que a rodeava.
- Lizzie era quase como uma filha. Fui eu que a incentivei a partir para outros países na procura de relíquias com que ela sempre sonhara. – suspirou levemente, desviando o olhar do quadro – Talvez não o devesse ter feito. Talvez agora ela ainda estivesse viva. Mas ela sentia-se tão presa aqui em Londres!
Nenhum dos dois falou até que chegaram novamente à zona de objectos do Egipto. Dumbledore sentiu que Langley não falaria nada do que ele precisava, mesmo que se tivesse aberto sobre a provável descobridora do objecto escondido. Estava na hora da última tentativa.
- Creio que já tomei muito do seu tempo, Sr. Langley. Foi um prazer falar consigo.
O outro aceitou a mão de Dumbledore lhe estendia, sorrindo sinceramente.
- Igualmente. Volte sempre que quiser.
Mas antes que as mãos se soltassem, a mente de Langley abriu-se facilmente para Dumbledore, sem que o dono daquelas recordações pudesse evitar ou se aperceber de tal. No segundo seguinte, Dumbledore estava a sair pela porta principal, sem conseguir deixar de pensar no que tinha visto… ou melhor, no que não tinha visto.
Na mente de Langley não tinha encontrado nenhuma informação, além de tudo aquilo que já sabia e não encontrara nenhuma referência ao objecto tão desejado por Voldemort. Apenas existiam duas hipóteses: um feitiço fidelius, algo pouco provável e que Rufus teria falado se fosse o caso; ou pior… Langley não sabia, de facto, nada.
Mais uma vez tinha voltado ao ponto de partida e aquilo começava a tornar-se uma rotina inquebrável. O cerco estava a apertar-se e era essencial saber como iria quebrá-lo… ou contorná-lo.
* * *
A casa estava silenciosa, demasiado silenciosa na opinião de Lily. James e Sirius estavam no Ministério e Marlene, teimosa até ao fim, recusou-se a abandonar o trabalho até ao momento em que o seu saco amniótico rebentasse. Sendo assim, Lily estava sozinha, numa noite silenciosa, ansiando o momento em que aparecesse alguém para dar vida ao apartamento.
Sentada no sofá da sala, distraiu-se a ver um filme na televisão que tinha exigido para sua casa, enquanto enchia o estômago com pipocas cobertas de açúcar e canela. Era estranho mas, por mais que comesse, o seu estômago continuava a contrair-se, de tempos a tempo, como se continuasse vazio. Continuou a enfiar as pipocas na boca, à medida que a sua atenção se desviava lentamente da televisão e se focava longe dali, nos dois homens que mais amava no mundo. Harry devia estar, naquele momento, a festejar com os amigos mais uma vitória no campeonato de Quidditch e James devia estar a amaldiçoar mentalmente os seus superiores por o manterem no Quartel-General.
Passou levemente a mão na barriga, onde Helena chutava sem parar, desde cedo naquele dia. Podia sentir que ela estava mais agitada do que o costume, embora não conseguisse perceber o porquê, talvez pela vontade de se desligar do calor materno e se aventurar no cruel mundo dos adultos.
O seu estômago voltou a contrair-se, mas desta vez a sensação foi ligeiramente dolorosa, fazendo com que a sua respiração se sustivesse durante momentos. Quando a sensação passou, olhou para o relógio, apenas para constatar que só tinham passado quinze minutos desde a última vez que olhara para ele. Só aí reparou que tinha perdido metade do filme e desligou a TV, levantando-se com grande esforço para se deitar e dormir um pouco, se possível até ao dia seguinte.
No entanto, ao levantar-se a dor veio muito mais forte do que anteriormente, novamente com aquela sensação do estômago a contrair-se. Não… não era sensação de fome… eram contracções. Estivera a ter contracções cada vez mais frequentes nas últimas horas e estupidamente ignorara-as. Não conseguindo suportar a dor, voltou a sentar-te e respirou rápida e superficialmente, tal como lhe tinham ensinado nas consultas pré-natal, para aliviar a dor das contracções. Aos poucos, a dor foi passando, mas os seus olhos continuaram a lacrimejar.
Não sabendo bem como, arrastou-se até ao quarto, onde a sua coruja estaria, pronta para levar a Marlene um pedido de auxílio. Podia sentir um líquido viscoso escorrer-lhe por entre as pernas e deixar um rastro húmido no chão mas tentou ignorá-lo, bem como as dores que se tornavam cada vez mais frequentes, sinal de que entrara em trabalho de parto. As lágrimas mudas escorriam face, enquanto ela engolia os soluços de desespero… estava por conta própria e precisava de ajuda urgente.
A situação não podia piorar mais! Ou talvez pudesse! Nesse mesmo instante, um enorme estrondo ecoou pela casa toda, estremecendo o chão e, no segundo seguinte, um vulto aparecia no fundo do corredor, trazendo consigo, todos os receios de Lily.
- Olá Lily!
Aquela voz… Lily conhecia-a bem! Mas, incapaz de pensar racionalmente e, principalmente, lembrar-se que tinha a varinha guardada no bolso, encostou-se à parede do corredor e escorreu até ao chão, colocando, defensivamente, os braços em torno da barriga.
- O que queres, Bellatrix?
A intrusa lançou uma gargalhada no vazio, enquanto dava passos lentos e silenciosos na direcção de Lily e deixava que a luz do luar iluminasse o rosto tresloucado de Bellatrix Lestrange.
- Ora, Lily, vim ajudar-te! Quem melhor do que uma velha amiga para te ajudar num momento de desespero.
- Deixa-te disso, Bellatrix. Nunca fomos amigas e a única coisa que conseguiste fazer por mim até abandonares Hogwarts foi xingar-me e tentar atacar-me pelas costas.
- Ah, Lily… não sejas rancorosa. Além disso, eu e o Harry tornámo-nos grandes amigos nos últimos anos. Tsc tsc… – Bellatrix abanou a cabeça negativamente, abaixando-se, de seguida, junto de Lily. – Pobre garoto. Já sofreu tanto!
Uma nova onda de dor cortou a resposta de Lily, que iniciou outra vez o exercício respiratório.
- Estás a ver, Lily? Precisas de mim.
- Afasta-te de mim!
Lily já não conseguia conter-se mais. O choro compulsivo apenas agravou as dores e a ordem que deu a Bellatrix soou mais como um pedido desesperado.
- Não… pelo contrário! Eu vou ficar aqui contigo. – A mão pálida de Bellatrix passou pelo cabeço ruivo de Lily, tirando-o da sua testa suada. – Eu vou ajudar essa criança a nascer, não te preocupes! E depois matá-la com as minhas próprias mãos.
- Por favor…
- Imagina só o Harry, pobrezinho! – prosseguiu a serva de Voldemort, na sua voz infantil, ignorando o novo grito de dor que Lily soltou. – De um momento para o outro vai perder a maninha que ele sempre sonhou ter. Pobrezinho… realmente é uma pena.
- Faz o que quiseres comigo, mas não faças mal à minha filha!
- Não, Lily. Eu não vou cometer o mesmo erro que o meu mestre. Vou matar a pirralha e só depois a ti.
- Porquê tanta crueldade?
Mais uma vez, Bellatrix gargalhou, desta vez aos ouvidos de Lily incomodando-a ainda mais.
- Minha cara Lily, isto é apenas o limiar da crueldade. Nem imaginas o que eu farei a seguir.
Tudo à sua volta pareceu parar momentaneamente, quando uma nova contracção fez a sua visão explodir numa luz branca. Rezou… a única coisa que podia fazer era rezar como quando era pequena e a sua mãe a levava na igreja e, principalmente, pediu a Deus para salvar a sua filha. Podia sentir a pequena agitar-se furiosamente, querendo sair, mas não podia deixá-la vir ao mundo com Bellatrix disposta a matar uma pobre criança recém-nascida. As suas cordas vocais estiraram-se mais uma vez e o mundo pareceu andar à roda quando ela se encolheu no chão, no esforço de evitar libertar a filha da sua protecção materna. E, assim como sentia o líquido amniótico a escorrer, sentia também a vida da filha escorregar-lhe por entre os dedos.
* * *
Já passava da meia-noite quando Harry conseguiu finalmente aparatar na frente da sua casa, depois de várias horas a tentar escapar de Devoradores da Morte e criaturas aterradoras que rondavam em Hogwarts. Ele sozinho conseguira fazê-los dispersar totalmente, sem precisar entrar num combate directo com alguém.
Apesar disso, não conseguia evitar o sentimento de que tinha demorado tempo demais e que poderia ser tarde quando chegasse ao seu destino. A sua confirmação veio rapidamente mal atravessou a porta da entrada do prédio, ao mesmo tempo em que um grito agonizante lhe chegou aos ouvidos. Sem esperar mais tempo, correu escadas acima… não tinha tempo para aguardar o elevador.
Com o coração a bater cada vez mais aceleradamente e o peito a contrair-se com receio, atravessou todo o corredor, desde a porta das escadas até à porta de sua casa, ignorando os olhares assustados dos vizinhos que espreitavam pelas portas e o porteiro que jazia morto no chão.
A sala estava caótica, pedaços de madeira, daquilo que em tempos fora a porta de entrada, estavam espalhados por toda a divisão, o amado sofá branco da sua mãe tinha sido virado ao contrário, provavelmente devido a uma explosão, e, no meio da sala, uma poça de líquido transparente escorria para debaixo da mesa de jantar.
Não conseguia ignorar a voz que lhe dizia que chegara tarde… que não havia hipótese de salvar a mãe. As suas pernas tremeram, mas ele manteve-se firmemente apoiado nelas, enquanto escutava qualquer som que lhe revelasse que estava enganado.
- Estava a perguntar-me quanto tempo mais demorarias, Harry!
- Bellatrix!
Num gesto automático, a varinha de Harry foi subitamente apontada para o peito da Devoradora da Morte, que não se incomodou com o olhar de ódio do moreno. No seu rosto bailava um sorriso de escárnio e a sua varinha continuava guardada no bolso da sua túnica. Nada nela parecia temer o adversário.
- Onde está a minha mãe?
- Sempre directo ao assunto, Harry. “Onde está Sirius?” “Onde está a minha mãe?” – Bellatrix fez uma imitação esganiçada da voz de Harry, só contribuindo para aumentar a sua fúria. – Eu e ela limitámo-nos a ter uma calma conversa.
- Dá-me um motivo para não te matar aqui mesmo!
Harry podia sentir a sua língua formigar, desejando pronunciar o único feitiço que lhe vinha à cabeça. Talvez não o conseguisse fazer, mas, dado a raiva que sentia, desconfiava que não ia restar muito de Bellatrix.
- Não podes fazer-me nada, Harry. Eu estou protegida pelo meu mestre!
- O teu mestre não está aqui, Bellatrix?
- Será?!
Os olhos dela brilhavam de desafio, mas não davam a mínima pista se estava a falar a verdade ou a fazer bluff. Seria possível? Voldemort arriscar-se-ia também assim? Em resposta, os olhos de Bellatrix fecharam e, quando abriram, a cor azul tinha desaparecido, sendo substituída por olhos viperinos, raiados de sangue.
- Parece que voltamos a encontra-nos, Potter!
- Voldemort! Eu devia ter imaginado!
O âmago de Harry revoltou-se com a descoberta. Voldemort usara até o corpo da sua mais fiel serva para obter o que desejava… pior, para assistir a tudo e ainda se divertir com isso, sem correr o mínimo risco.
- Nem mesmo os teus aliados são poupados? Usa-los e depois descarta-os como se fossem lixo.
- Ah… então é isso que estás a pensar! Que eu simplesmente possuí o corpo de Bella. – o rosto da mesma abriu-se numa expressão de satisfação, reflectindo os próprios sentimentos de Voldemort – Ela própria se ofereceu para isso. Afinal, quem não quer ser um só com o feiticeiro mais poderoso que já existiu?
- Eu achava que eras apenas cruel, Voldemort. – concluiu Harry, sem querer acreditar no que ouvia – Mas tu és é doente!
- Ai, Harry, Harry. Como sempre, é um prazer falar contigo, mas eu tenho outros assuntos a tratar. Acaba com ele, Bellatrix.
Harry não teve tempo para perceber o que tinha acontecido. Mal Bellatrix piscara os olhos novamente, voltara a ser ela e já vários feitiços voavam na direcção de Harry, que se atirou para o lado, ao mesmo tempo em que a televisão e uma das janelas da sala se estilhaçavam em cacos.
- Protego Horribilis! – o Cruciatus de Bellatrix foi prontamente defendido pela barreira conjurada por Harry – Alarte Ascendare!
A cena poderia ser cómica se a situação não fosse tão caótica. O corpo de Bellatrix subiu rapidamente até ao tecto e embateu no chão novamente, com um baque surto. Mal se tinha recomposto ainda quando Harry lhe lançou um novo feitiço, fazendo-a voar até à parede mais próxima.
Nos olhos de Harry quase se podia ver chamas a arderem, irradiando sentimentos destrutivos que nem o próprio sabia sentir. Os seus pés levaram-no até perto de Bellatrix, onde esta se apoiava num braço para se levantar novamente.
- Achas-te muito forte, Potter?
- Não sou eu que estou no chão.
- Isso veremos. Confringo!
O feitiço não foi dirigido a Harry, mas ao tecto, que começou a desabar trazendo com ele pedaços de cimento e mobiliário do apartamento de cima. Harry desviou-se rapidamente, mas quase foi atingido por um bocado de tecto particularmente grande, que desabou em cima da mesa de madeira, partindo-a em pedaços. Se aquela louca começasse a lançar feitiços daqueles, em breve o prédio iria abaixo.
- Sectumsempra.
Mais uma vez, Harry conjurou um feitiço protector, reflectindo a maldição para a pessoa que o conjurara. Bellatrix não contava com a defesa por parte de Harry e apenas teve tempo de erguer os braços para se proteger, cortando-se profundamente nos pulsos. Imediatamente, sangue começou a escorrer até ao chão, formando uma poça que crescia sem parar. O medo apareceu subitamente nos seus olhos e a vontade de atacar tinha desaparecido. Recuando para trás, ela caminhou até à porta, começando a correr de seguida, sem dar tempo a Harry de contra-atacar.
Teria ficado parado ali mais tempo, não fosse um choro abafado fazer-se ouvir no corredor. Um rastro de sangue de Bellatrix, deixado pelos sapatos de Harry assinalou todo aquele caminho que o mesmo percorreu com o coração a saltar pela boca. Os seus passos levaram-no até à figura de Lily, encolhida no chão, em posição fetal, a soluçar baixinho.
Harry abaixou-se ao lado de Lily e levantou-a, aconchegando-a em seus braços. Não foi preciso dizer nada. Lily sentiu o abraço protector do filho e logo os seus músculos relaxaram, embora o peito continuasse a pular conforme soluçava.
- Então tudo bem… eu estou aqui.
- A Helena…
- Não te preocupes, eu vou ajudar.
Com cuidado, Harry ergueu a mãe em seu braços e, com ela no colo, deixou a sua casa para trás, com um rasto de destruição a marcar o lugar onde mais um pesadelo tinha acontecido. A próxima paragem era St. Mungus mas, embora Harry continuasse a sussurrar no ouvido da mãe que tudo estava bem, nada o convencia de que o pesadelo ainda estava longe de terminar.
* * *
- James!
Tinham-se passado vários minutos até que Sirius conseguisse atrair a atenção de James, ainda ajoelhado no meio da sala.
- Não… Sirius… eu não preciso ouvir isso!
- Mas James…
O corpo de James dobrou-se até ao chão, enquanto as suas mãos cobriam os ouvidos, para que não ouvisse o que Sirius tinha a dizer. Só aí foi perceptível o choro abafado de James… o seu desespero.
Sirius ajoelhou-se ao lado dele, colocando a mão no seu ombro que tremia ao mesmo tempo que James soluçava. Partia-lhe o coração ver o amigo naquele estado de sofrimento, mas não havia nada que pudesse fazer por ele, se continuasse a recusar-se ouvir o que Sirius tinha a dizer.
- James, ouve-me!
- Não…eu não te quero ouvir falar que a minha Lily foi morta… não quero pensar que possa ter perdido a minha filha que nem nasceu ainda. Se eu ficar aqui… se eu não quiser ouvir… talvez eu acorde e descubra que tudo não passou de um terrível pesadelo.
- Mas ela não morreu! Nenhuma das duas!
Pela primeira vez, James levantou o olhar para Sirius. Os seus olhos castanhos estavam raiados de sangue e inchados, mas neles brilhou uma leve esperança.
- Não brinques comigo, Sirius.
- Eu não estou a brincar. A Marlene acabou de me avisar que Lily está em St. Mungus e precisa de ti. – vendo que James não se mexera, agarrou-lhe pelos braços e obrigou-o a levantar-se – Vá lá… a tua filha está prestes a nascer e o pai desnaturado está a chorar como um bebé!
- Está a nascer? – o torpor começava a passar a James e as palavras de Sirius começavam a fazer sentido, embora ainda lhe custasse acreditar nelas – A minha Helena vai nascer?
Sirius limitou-se a assentir com a cabeça, oferendo ao melhor amigo o seu maior sorriso.
Em pouco minutos, James entrou por St. Mungus, ignorando todos os feridos que ali repousavam, a fila de espera das informações e até Harry, que passeava nervosamente de um lado para o outro à porta do bloco de partos. Quase teve vontade de estuporar a enfermeira que o queria impedir de entrar, sem se aperceber que ela apenas queria que ele vestisse a bata cirúrgica.
- EU QUERO O JAMES!!!!
Lily gritou em plenos pulmões quando James se preparava para entrar. Ao seu lado, Marlene segurava a sua mão, enquanto a parteira lhe dava instruções.
- Lily, não podemos esperar mais pelo seu marido. A dilatação já está com dez centímetros.
- Mas eu quero-o aqui! – choramingou ela, como se se tratasse de uma criança a fazer birra.
Os seus cabelos ruivos estavam presos por uma touca verde, mas algumas mechas ensopadas estavam coladas na sua testa. O rosto, mais vermelho do que o costume, estava completamente coberto por uma mistura de suor e lágrimas. Os passos de James, até ela começaram por ser receosos, mas o aceno de incentivo de Marlene deu-lhe força para continuar.
- Eu estou aqui, Lil!
- James… - Lily quase que riu entre o choro de dor. – eu tenho tanto medo!
- Vai tudo correu bem, meu amor! Eu prometo!
A mão de James fechou-se sobre a de Lily no momento em que, noutra contracção, o corpo da ruiva tentava expulsar o bebé.
- Sr. Potter, já sabe o que fazer. – A parteira espreitou por cima do lençol que cobria as pernas de Lily e sorriu para os futuros pais – A Helena quer sair, Lily. Falta pouco.
Tal como tinha acontecido quase há dezoito anos atrás, James ficou do lado dela, a sussurrar-lhe baixinho palavras de incentivo e carinho, e a segurar-lhe a mão para tentar minimizar a dor e demonstrar-lhe que não estava sozinha. Os sessenta minutos seguintes pareceram sessenta dias mas, no momento em que eu choro preencheu aquele quarto, todo o pesadelo daquela noite desvaneceu-se como nevoeiro. James acordara… a diferença é que, desta vez, não era apenas Lily que estava ao seu lado… um outro pequeno ser estava entre eles.
* * *
- Assim vais fazer um buraco no chão, Harry!
Harry desviou o olhar da porta do bloco de partos para o padrinho. Sirius parecia um tio babado prestes a ganhar um sobrinho, esquecendo por completo todas as preocupações daquele dia. Harry, pelo contrário, não podia esquecer o que tinha visto… ninguém podia imaginar o que ele sentira ao encontrar a mãe no chão da sua casa parcialmente destruída.
- Não consigo evitar, Sirius. Só vou ficar descansado quando alguém sair daquela porta e me garantir que a minha mãe e a minha irmã estão bem.
Deu mais uma volta à sala de espera, esforçando-se por ignorar os gritos que atravessavam aquela porta que continuava fechada desde o momento em que o seu pai entrara, quase uma hora atrás.
Um relógio ali perto assinalou seis horas da manhã, abafando qualquer outro som. Já tinham passado várias horas desde que encontrara a sua mãe, mas só agora se apercebia de tal facto. Quando saiu de Hogwarts ainda era de dia, e, agora, um novo amanhã estava a chegar, com o céu a começar a clarear carregado de diversas cores.
Quando o relógio parou de tocar, os seus ouvidos detectaram algo que ele não queria acreditar ser verdade. Um choro… um choro de um bebé a reclamar da dor do primeiro ar a entrar nos pulmões. A sua irmã estava lá… ela tinha finalmente nascido! Tudo o que ele queria era entrar pela enfermaria dentro e vê-la com os seus próprios olhos. Mas não precisou, pois alguns minutos depois, um James babado, com um sorriso de orelha a orelha atravessava a porta com um embrulho ao colo, sobre os protestos de Lily que não queria que a filha saísse da beira dela.
- Eu já a devolvo, Lil. A Helena quer conhecer o irmão!
Harry não pôde deixar de rir com aquela visão. O pai, vestido com uma bata verde e touca na cabeça, a segurar um pequeno embrulho branco, com a maior expressão de felicidade que já lhe tinha visto, e a encontrar energia para brincar com Lily.
- Harry, apresento-te a tua irmã!
Um tanto desajeitado, Harry aceitou quando o pai lhe entregou o embrulho nos braços. Era um ser minúsculo quase completamente tapado pela manta de lã branca. O cabeço de uma tonalidade ruiva cobria a cabecinha minúscula e a sua face enrugada estava coberta por uma película branca misturada com algum sangue. Os olhinhos de Helena estavam fechados, mas logo se abriram, revelando a sua cor acinzentada, observando curiosamente a pessoa que a segurava.
E do nada, os olhos voltaram a fechar-se e a sua graciosa boca abriu-se num bocejo, enquanto ela se aconchegava nos braços do irmão, prestes a embalar no seu sono de bebé. Foi nesse momento que uma alegria imensa percorreu Harry, enchendo-o com um agradável calor, que nada tinha a ver com o Sol que aparecia na janela por detrás das montanhas.
Nascerá ao raiar do Sol do décimo primeiro dia
11 de Maio… a profecia cumprira-se. Harry recordou-se mas, olhando para o pequeno bebé em seus braços, ignorou a vozinha maldosa que falava na sua cabeça. Não… a profecia não se tinha cumprido… para já, existia apenas uma coincidência. E ele não deixaria, jamais, que algo de mal acontecesse. A esperança renasceu!
* * *
Nota para Light:
Aqui está o teu presente de aniversário, maninha do coração. Digamos que acabaste de receber a afilhada que tanto desejas. *abraça a irmã com toda a força* A minha mensagem é a seguinte: A nossa vida tem altos e baixos… é como uma montanha russa: demoramos a atingir o topo e em poucos segundos estamos no fundo… tudo desabou. Mas, um dia, chegaremos em terra firme e poderemos dizer que, tal como este capítulo, teremos um final feliz. Tu tiveste esse final feliz… o vencer de um etapa menos boa, que terminou da melhor maneira. Feliz Aniversário!
By Guida Magid, in “Missão Sorrisos por um Mundo Mais Feliz”
* * *
Nota de beta: Sinto-me uma criança traquina, sorrindo para o mistério e agarrando com força a aventura. Trespasso sem receio o recinto, espreitando por entre as estátuas de pedra de deuses de uma cultura que tu adoras. Vejo o sarcófago no meio da sala, como que troçando de mim… e eu troço dele. Porque sei que algo dentro dele me aguarda e me pertence. Empurro a laje de pedra e não reajo ao poderoso estrondo formado do encontro entre esta e o chão.
Meus olhos fixam-se fascinados no interior… sedentos… encantados! Seguro o manuscrito nas mãos e sinto a sua textura. E à medida que leio as letras belamente escritas no pergaminho, sorrio para ti com ternura, minha irmã!
Agradeço-te verdadeiramente pelo apoio que me deste nos momentos difíceis… das gargalhadas que soltamos… da amizade que construímos!
E hoje, agradeço-te por este fantástico presente de aniversário, recheado por uma das qualidades que mais admiro: Imaginação ilimitada!
Se não te importas, vou sentar-me aqui no chão, sem nem mesmo fechar o sarcófago que com tanto cuidado colocaste neste recinto. Apenas peço que não apagues a tocha de luz porque hoje eu quero ler aquilo que escreveste! Tudo o resto são simples mitos!
* * *
Nota de Autora:
Enfim, mais um capitulo com um final feliz!!!! Sim, depois de muito fazer os meus personagens sofrerem, eu decidi que, para já, chegava de lágrimas (pelo menos de tristeza! De felicidade já é outra história). A Helena finalmente nasceu! Parte da profecia está a cumprir-se!
*suspira* Foi uma emoção muito grande escrever este final de capitulo. Durante quase dois anos imaginei a personagem Helena, cada uma das suas características… agora, que ela finalmente nasceu, eu vejo-a como a minha bebé… a minha pequena (sim, Light, não faças essa cara: pequena!).
E então? O que acharam? Gostaram? Ou nem por isso? Aguardo as vossas reviews.
E agora vou responder rapidamente aos comentários:
Felipe: Agradeço as tuas palavras, Felipe. É sempre bom ouvir elogios :-) Alguém para me pressionar?! Rs… acredita que não é preciso. Eu própria já me pressiono bastante (dou mais informações no próximo capítulo, rsrs). Um abraço.
Beca Black: E prontos… atendi ao teu pedido! Harry conseguiu salvar Lily e teve como recompensa uma pequena bebé ruiva. Espero que tenhas gostado. Beijocas.
jaini: Pois, eu decidi postar também na ff.net, para não se repetir aquilo que aconteceu com o capítulo passado, rs. Mas ainda não tive tempo para formatar os capítulos todos de forma a postar a fic toda lá. Estou a ir com calma. Vou tentar enviar sempre os avisos de actualização. Beijos.
Daniela Potter Magid: Oi filhota do coração! *esfrega as mãos preparando-se para responder ao big comentário* “Lado Dark materno”? Que é isso? Eu não sou dark! *finge-se ofendida* Pronto… eu confesso que sou um pouco *revira os olhos perante o ataque de tosse da Daniela* Ok! Sou muito Dark! Satisfeita? :-p Eu já disse que não cedo facilmente a esses olhares de cachorro sem dono … nananinanão! Não vou contar nadica de nada! Se bem que, em breve, vais mesmo descobrir em breve o que é o objecto! :-p Um beijo enorme da mamis louca e dark!
Prika Potter: Oi Prika. Obrigada pelo comentário! Espero que continues a comentar :-) Um beijo grande.
Deby: Oi sobrinha amada! Eu quase rebolei a rir com o teu comentário. E ri ainda mais com a cara de fingida ofensa que a Light fez ao ler também. É! Eu acho que vou trancar mesmo a porta. A Light anda a ter umas ideias um tanto psicopatas. *olha para todos os lados para verificar que a irmã não está perto* He he! Livrei-me do Avada. Não matei a Lily! (ainda). *esconde-se* Não sou então a única com um lado Darth Sidius? Que bom! Assim já posso ter alguém para me fazer companhia na hora de amaldiçoar alguém! Rsrs. Um beijo enorme.
Expert2001: Não precisas de explicar! Eu conheço bem a sensação de se gostar e não gostar ao mesmo tempo. E, de certa forma, deixa-me feliz saber que te sentiste assim, pois era uma reacção semelhante que eu esperava quando escrevi o capitulo anterior. Um abraço.
Ana Potter: É claro que eu não quero matar os meus leitores de ansiedade. Eu gosto demasiado de todos e não poderia viver sem vocês, acredita! Se não fosse por vós, esta Guida Potter ficwriter não existiria. :-) Espero que tenhas ficado mais descansada com o final deste capítulo. Um beijo.
Camilla Victer: Então, Milla, como vai a fic? Espero que bem e em andamento, porque eu fiquei ansiosa por ler. Um beijo grande.
Thalita Giannaccini Antonio Felisberto: Atendendo aos vossos pedidos não matei a Lily :-) Espero que tenhas gostado! Um beijo.
Neptuno_avista: Quase que pude sentir a parede atrás de mim e as faquinhas encostadas ao meu pescoço. Mas não demorei assim tanto como isso (nah… que ideia! Só um mês, Guidinha) De qualquer forma, aqui está e não pretendo demorar a postar o próximo, não te preocupes. A ameaça fez os meus dedos ganharem asas :-p
Caah Potter: Meu Deus! O.O eu sou como o Ani a matar as criancinhas? *ar de choque* Bem… eu confesso que tenho um lado negro por assim dizer… “negro”, rs mas acho que não chega a tanto… só um pouquinho. Quando à tua nova fic, já dei uma passadinha lá e gostei muito da ideia do manual de sobrevivência sobre a perspectiva dos Marotos e de Lily, uma ideia muito divertida. Só não tive muito tempo para comentar *numa imitação de Dobby bate com a cabeça na parede* Mas eu prometo que assim que tiver um tempinho livre eu comento lá. Beijocas.
Madalena: Fico contente que tenhas voltado. Já estava com saudades tuas. Obrigada pelo comentário (e pelo email xD) Um beijo enorme.
Aly Black: Aqui está! Não matei a Lily nem fiz a Leninha nascer no covil de Voldemort. Espero que tenhas gostado. Um beijo grande.
E agora fico por aqui! Agora vou acabar de aproveitar a festa de aniversário da minha maninha do coração! TRÊS VIVAS PARA A LIGHTMAGID! VIVA! VIVA! VIVA!
Até ao próximo capítulo.
Um beijo enorme,
Guida.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!