Espera e Surpresas



UM ESTRANHO NO PARAÍSO


1. Espera e Surpresas

Vento gélido cortava-lhe a alma. Não tinha idéia do porquê de Alfred a designar àquela tarefa. Tudo que mais queria era ficar em seu quarto. Curtir seu dia. Não queria festa. Presentes. Nada. Isso apenas fazia com que se lembrasse que não podia passar seu aniversário em casa. Sentia tantas saudades. As confusões de Fred e Jorge. As reclamações de Percy. O ciúme de Rony. Os carinhos de Carlinhos. Até mesmo de Fleur sentia saudades. Se o tempo voltasse não cometeria o mesmo erro.

O carro parou dando fim a seus devaneios.

- Miss Virginia, chegamos. – disse Josh.

- Ah, Josh quantas vezes vou ter que pedir para não me chamar assim? Somos amigos. E meus amigos me chamam de Gina.

- Ora, porque eles tem mau gosto. Seu nome é tão bonito. – murmurou com aquele sorriso.

Ele era tão lindo. Aquele charme deixaria qualquer mulher de pernas bambas. Mas infelizmente, Josh não gostava de causar esse tipo de sensação na alma feminina. Sua preferência era outra. Ele desceu, circulou o carro e enquanto oferecia-lhe a mão continuou:

- Tão lindo como você.

Sinceramente se ela não o conhecesse desde sua chegada na ilha teria se apaixonado.

- Você está tão galanteador hoje. Se Tommy te escuta dizer isso. Agora vamos, estou louca para voltar pra casa.

- Eu preciso estacionar. Pode ir em frente.

- Tudo bem – disse virando as costas e indo em direção ao porto.

Enquanto se dirigia ao local onde esperaria os “convidados” de Alfred um casal cheio de malas a parou:

- Srta. Poderia me informar...

Apressadamente Gina respondeu sem ao menos esperar a moça completar a frase.

- Pegue aquele táxi e diga que deseja ir ao Babylon Garden.

Deu as costas à mulher seguindo pelo cais. Nenhum sinal da lancha. Minutos passaram e nada. Ainda bem que tinha o mar. Aquela magnífica imagem a fazia perder-se em pensamentos. Desde sua chegada ali, nunca o havia visto tão revolto, sempre parecia uma piscina de águas límpidas. Era ponto de equilíbrio da sua vida. Quando tinha saudades de casa, ou estava triste... Ia até a praia. Ele sempre a ouvia. Compreendia. Era discreto. E ainda possuía o dom de acalmá-la. Por que será que ele estaria tão nervoso esta noite? Estaria lhe dando um presente de aniversário com as acrobacias violentas das ondas?

E como resposta gotas de chuva salpicaram sua face! Olhou para o céu, estava tempestuoso. Com certeza os amigos de seu chefe deveriam estar presos em alto-mar. Não perderia a noite esperando-os. E na ilha quando começava a cair água, não era sensato ficar a céu aberto. Zeus não se penalizava com nada quando decidia por sua mão direita sobre a terra.

Depois de anos trabalhando com Alfred nunca o desapontara. Ao sair de Londres seu pai lhe arranjara esse emprego com um antigo amigo. E apesar de ser um cargo indicativo nunca deixou a desejar. Algum tempo trabalhando já tinha conquistado a simpatia e respeito dele. Era freqüente ouvi-lo dizer que não saberia viver sem seus palpites. Mas ele sobreviveria. Não é à toa que os mais antigos que trabalhavam para ele diziam que em menos de dois anos era dono de mais da metade de Jambi. Ele nunca comentava sobre este tipo de assunto. O imaginava como um irmão mais velho. Alguém que sempre poderia contar, apesar de não ser sua família. Mas dessa vez não poderia fazer seu trabalho direito. Se seus visitantes se atrasaram a culpa não era dela. Por mais zangado que ficasse não pagaria um resfriado que ela com certeza contrairia pegando chuva.

Gina correu em direção ao carro. Ainda bem que Josh não estacionara muito longe.

- Vamos. Não vou esperar nessa chuva.

- Você que manda.

E foram em direção a casa mais destacada do local. Ela nem sabia ao certo como diria que não havia esperado. Sem nenhuma explicação planejada seguiu para o escritório. Bateu suavemente na porta.

- Com licença. Estou interrompendo algo importante?

- Claro que não. Entre.

- Alfred, me desculpe. Não pude esperar mais no porto. Começou um temporal de matar. E sinceramente, não gostaria de pegar um resfriado.

- Não tem problema. – Disse ele. – Nossos convidados já chegaram a pouco e estão nos quartos de hóspedes. Não sei se já foi ao seu quarto, mas deixei-lhe um vestido apropriado para hoje à noite. Nem pense em não descer. Hoje a festa também é sua.

- Claro que não irei faltar. E obrigada.

Saiu. Como assim eles já haviam chegado? Ela não vira nenhuma lancha, barco, jangada, ou sabe-se lá o quê ancorado. E ainda havia tomado chuva à toa. E para piorar, ao invés de ficar repousando no seu quarto teria que ir aquele coquetel que seu chefe havia preparado para esses intrusos que só haviam chegado para atrapalhar sua paz. E nem sabia quem eram eles. Não sabia o porquê de tanto mistério. Mas isso não a agradava em nada.

Subiu as escadas. Olhou os quartos com as portas fechadas se perguntando quem eram os astros hollywodianos que estavam escondidos ali. Direcionou para seu quarto. Abriu a porta e na cama de dossel em frente à penteadeira estava um lindo vestido de seda vermelho intenso. Correu até ele. Sua alegria se assemelhava à de uma criança quando acaba de ganhar um presente antecipado. Aquele era o vestido mais lindo que já havia visto. Um decote apurado nas costas. Gola alta. E um lascão ao lado da perna esquerda. Era belíssimo. Talvez aquela noite pudesse ser muito interessante.

Um traje como aquele merecia um banho demorado. Ligou a banheira. Encheu de espumas. E nem sentiu o tempo passar.

Só ouviu batidas delicadas em sua porta.

- Sim?

- Miss Virginia, quando nos dará a honra de sua presença?

Era a voz e Josh. Nem viu o tempo correr. Com certeza ele estava esperando que ela descesse e desse as últimas dicas aos garçons. Apesar de estar hoje como convidada nunca poderia se dar ao luxo de sair algo errado em um dos coquetéis de Alfred. Aí sim, ele ficaria irritado.

- Já estou indo Josh.

E nem teve tempo de apreciar o quão bela havia ficado naquele vestido. Teve que sair correndo para acertar os últimos detalhes da noite.

- E você não esqueça de repor os canapés. – disse ao terminar suas instruções.

Alfred estava descendo as escadas e vinha em sua direção.

- Gina, está tudo certo agora? Já conversou com os garçons? A propósito gostou do vestido? Ele ficou magnífico em você.

- Gostei sim. Foi muita bondade sua.

- Claro que não foi. Eu fui muito esperto. Queria ter a mulher mais bela da noite ao meu lado.

Dizendo isso, lhe ofereceu o braço. Gina corou. Ainda bem que sua maquiagem disfarçava.

Os convidados começaram a chegar. Reclamando da tremenda chuva que caia. E os círculos viciosos de conversas fúteis se iniciaram. Sir Alfred sempre estava por perto, mas ela deu um jeitinho de escapar até o jardim.

Não estava com vontade de ficar naquele meio. Sua única curiosidade era sobre os hóspedes, mas até o momento eles não tinham descido ainda. O que era uma tremenda falta de educação.

Enquanto isso admirava as orquídeas do jardim de inverno.

Elas eram tão delicadas. E uma voz a trouxe para realidade.

- Miss Virginia, Sir Alfred está chamando-a até a sala.

Gina saiu logo atrás de Josh.

A sala esta cheia de convidados. Andou até Alfred, que estava na companhia de duas pessoas que não lhe eram estranhas. Mas também não tinha certeza de quem eram.

Foi se aproximando. Aquele conjunto. Olhos acinzentados. Cabelos platinados. Ombros largos. Sorriso desdenhoso. Pele de porcelana. Não podia ser... Draco Malfoy não podia estar na sua ilha. No seu refúgio.

Parou. Iria fugir dali antes que os insultos, as palavras duras a marcassem.

Tarde demais. Alfred já a havia visto. Agora teria que enfrentar os perigos de se estar ao lado de Malfoy.

Andou devagar até eles. Isso era demais. E ainda nem tivera tempo para se preparar. Um encontro desse era demais.

- Deixe eu lhes apresentar a alma de minha casa. Essa mulher é a perfeição em pessoa. Não saberia viver sem sua ajuda.

Não. Alfred não poderia fazer isso com ela.

Virginia, essa é Ingrid minha sobrinha.

Uma morena curvilínea com um sorriso estonteantemente enjoado acenou com a cabeça dizendo:

- Ah, titio foi essa moça quem nos mandou até aquele hotel pavoroso.

“Ah, então esse era o casal do cais. Bem feito para essa antipática e o ridículo do Malfoy” pensou Gina dando um sorriso amarelo.

- Mas não tem problema, querida, você está aqui. – disse Alfred querendo acalmar o ânimo exaltado da sobrinha.

- E antes que eu me esqueça, este é o senhor Malfoy. – disse Alfred enquanto Gina cruzava o seu olhar com o de Draco.

Este fingiu que não era um riquinho esnobe que havia estudado com seu irmão e chamava sua mãe de coelho e tomou sua mão entre as dele e deu um beijo suave depois de dizer:

- Encantado de conhecê-la Virginia.

“Não. Não. Isso não está acontecendo. Draco Malfoy não está fingindo que não me conhece. Não está sendo gentil comigo. Meu Deus. Me proteja! Aí tem coisa”.

Gina apenas sorriu em retorno. Tinha que sair dali. Não estava entendendo o jogo daquela cobra venenosa, e não queria ficar ali pra entender.

- Bem, agora com licença. – disse ela se dirigindo a copa.

- Espere um pouco. – disse Alfred. – Ainda falta algo.

Ele foi andando ao centro do salão. E num gesto que a fez congelar. Iniciou a tocar uma colher delicadamente numa taça. As conversas outrora agitadas transformaram-se num silêncio sepulcral. E então ele iniciou:

- Boa noite senhores. Como vocês todos sabem, hoje os chamei aqui para prestigiar a companhia dos nossos recém-chegados minha sobrinha Ingrid e um amigo que há muito não via, Draco Malfoy. Mas hoje também é uma data especial, pois uma das pessoas que fazem parte da minha vida, e faz com que as coisas ao meu redor aconteçam está completando mais um aninho de vida. – E apontou para Gina.

- Por favor, Virginia, venha até aqui.

Gina não sabia onde colocar a cara. Realmente essa noite estava cheia de surpresas. O que não era nada bom. E foi-se dirigindo ao centro da sala se postando ao lado de Alfred com todos os olhares em torno de si.

- E gostaria que todos a saudassem com um brinde.

Em um instante um tilintar de copos e vivas vieram de todos os lados.

E ao olhar para o canto onde Malfoy estava ele sorriu e inclinou a taça em sua direção. O que significava aquilo? Ele estaria brincado? Não estava gostando desse jogo. Mas não custava nada jogar um pouco. Com este pensamento se encaminhou até Malfoy sorridente.

- Obrigada pelo drinque e desculpe pelo erro de mais cedo. – disse Gina num sorriso falsamente belo.

- Não tem importância. Não para mim. Mas garanto que Ingrid não gostou nada, nada. Tenha cuidado com ela.

- Não precisa se preocupar. Já cuidei de muitas cobras peçonhentas, Sr. Malfoy. – disse frisando bem o nome Malfoy.

- Interessante. – Disse se aproximando sorrateiramente de Gina. – Então creio que você deva ser bastante acostumada com cobras, não é mesmo, Virginia.

- Não tanto quanto você. Posso garantir. – disse sorrindo sem notar que Alfred se aproximava com uma taça de vinho na mão a entregando a Gina.

- Ah, que bom que vocês estão se dando bem. Fico feliz e triste ao mesmo tempo. Ia esperar para falar pela manhã, mas já que estamos aqui e vejo que estão se entendendo, Virginia, querida, sei que não posso viver sem você... Mas meu amigo Malfoy está precisando de uma guia, e quem conhece essas ilhas tão bem? Quem gosta de explorá-las e é uma exima mergulhadora? Você. Então achei por bem destinar sua companhia à ele durante o período em que ele ficará conosco explorando a região.

O vinho que a ruiva começara a ingerir fora expelido de modo escandaloso. Não acreditara no que ouvira. Não. Ela não ia viajar com Malfoy. E muito menos para ilhas desertas. Isso nunca.

- O que você disse Alfred? – falou como se não tivesse entendido bem.

- Bom, eu penso que você será uma excelente companhia para Draco. E além de tudo, conhece muito bem esses caminhos. E quando ele chegou hoje mais cedo, dizendo-me que precisava de alguém que o acompanhasse, me veio logo você a mente.

Ela engoliu a seco.

- Mas creio que o Sr. Malfoy ficaria mais à vontade com um guia congratulado Alfred. – disse na esperança de Malfoy concordar com ela. Ele também deveria estar achando aquilo um tremendo absurdo. E a reposta veio em seguida para deixá-la mais atordoada.

- De maneira nenhuma. Será uma honra tê-la ao meu lado. Tenho a certeza que Alfred apenas me indicaria a melhor pessoa. E se ele disse que esta pessoa é você. Faço questão. – concluiu com um sorriso tremendamente debochado.

O que diabos esse homem queria? Ela não tinha a menor idéia. Conversaria com Alfred na manhã seguinte. Nem por todos os diamantes do mundo iria acompanhá-lo nessa viagem. E não sabia por que raios ele estava tão interessado nela.

Achou melhor se retirar ou talvez não conseguisse agüentar. E extravasasse.

- Bem, amanhã poderemos falar melhor sobre isso. Agora acho que vou descansar um pouco. Estou realmente cansada.

E subiu em direção a escada. Aquela festa havia sido pior do que ela mesma imaginara. Mas tinha a esperança do amanhecer.

Continua?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.