Tarde Demais
Capítulo 12 – Tarde Demais
Hermione observou triste enquanto Harry saia de sua vida. Por algum tempo a única coisa que prendia seu olhar era a aliança na palma de sua mão.
Fora melhor assim, tinha que ser. Nenhum dos dois era feliz.
Ela suspirou e tentou não se preocupar com o dia seguinte...As explicações, os repórteres...
Um pequeno sentimento de agrado lhe atingiu quando ela percebeu que depois que os tablóides se cansem da separação, ela nunca mais seria procurada para entrevistas nem teria que ir a festas que não queria, voltaria ser Hermione Granger, ex-aluna da Grifinória, uma boa medi-bruxa e não esposa do ministro.
Hermione saiu do quarto e olhou para o corredor onde há algum tempo Harry e Rony haviam brigado.
E foi ai que o fato realmente foi absorvido. Seu coração começou a bater rápido.
Rony!
- E tem mais: Eu não vou mais ser um problema para você. Estou indo embora, permanentemente. Não tem mais nada para mim aqui.
Ele estava indo embora!
Agora...Justamente agora que eles tinham chance eles ficariam separados mais uma vez. Ele iria embora sem saber que ela tinha contado a verdade para Harry...
Não! Ela não podia deixar isso acontecer! Não iria ficar parada enquanto ele saía da sua vida outra vez.
Mas onde acha-lo? Por onde começar?
Um choque de adrenalina passou por sua mente, e ela voltava andar para um lado e para outro, buscando uma resposta.
Era o momento de pensar com lógica. Era o momento de Hermione agir.
Começou eliminando uma viagem por vassoura. Vôos internacionais eram estritamente proibidos, além de perigosos.
Aparatar?
Não. Mesmo que Rony tivesse muita habilidade, o que ele não tinha, era arriscado e cansativo demais.
- Flú...E porta-chaves. – ela concluiu em voz alta.
Não foi preciso mais do que um minuto para concluir que flú não era uma opção. Rony estava indo embora...de vez. Estaria levando malas com ele, e flú não era capaz de levar mais que uma maleta além da própria pessoa.
E isso significava...Estação de Viagens Internacionais. Porta-chave.
Ela estava correndo antes mesmo que suas pernas pudessem obedecer. Sua varinha na mão, aparatando assim que chegou no hall de entrada do hospital – o único lugar onde era permitido aparatar.
Quando o “pop” soou e seus olhos se abriram estava parada na frente da Estação. Na verdade na frente de um galpão velho e vazio, aos olhos de um trouxa comum.
Hermione estava calma agora. De repente tudo parecia que iria dar certo. Rony iria estar lá dentro, ela ia correr em sua direção o parando na hora exata. No momento certo. E ele não ia ir embora, os dois ficariam juntos. Ia dar tudo certo.
Ela entrou no lugar, que mais parecia uma estação de trem trouxa, com a "pequena" diferença que não havia nem trens ou nem trouxas, com um traço de esperança.
Os olhos de Hermione atravessaram o local lentamente absorvendo cada metro quadrado. O lugar estava vazio...Afinal já era madrugada.
Hermione sentiu um frio na barriga quando percebeu o que queria realmente dizer com “vazio”.
Não havia ninguém lá. Rony não estava lá.
Ela ficou estática. Teria errado em suas suposições? Estaria ele já nos Estados Unidos? E se não, onde estava?
Hermione sentiu suas pernas ficarem bambas. A pouca confiança que ganhara há pouco tempo, se esvaindo.
Sentiu cansaço e acabou se sentando na cadeira vazia da fileira almofadada de espera mais próxima. Ainda olhou a estação mais uma vez, sem querer perder a esperança.
O lugar tinha um tamanho razoável e quem sabe Rony estava em algum lugar que ainda não vira. Estava tão concentrada na busca que levou um susto quando uma mão tocou seu ombro e uma voz lhe chamou a atenção:
- Com licença, moça. Posso ajudar?
Ela virou o rosto e mesmo sabendo que voz não pertencia a Rony, teve um surto de esperança de que realmente era ele. Estava enganada, é claro. Se tratava de um funcionário da Estação.
- Posso ajudar? Você tem uma passagem? – o bruxo continuou relutante.
- Ah...Não, não tenho, desculpe. Estava procurando alguém, na verdade. Mas...Acho que ele não está aqui. – ela suspirou, reconhecendo a derrota finalmente e se levantando.
- Ah, você está procurando o jogador do Puddlemore não é mesmo? – o homem deu um sorriso maroto, como se achasse que ela era uma fã em busca de um autografo – Eu achei estranho que ele fosse viajar em um horário tão estranho mas...Deve ser por causa do assédio, né? Ele faz sucesso com as...
Ele só poderia estar falando de...Rony. Mas Hermione precisava ter certeza então o interrompeu.
- Jogador do Puddlemore? Ruivo, alto com sardas?
O bruxo assentiu com sua cabeça.
- Esse mesmo.
Hermione temia a resposta para sua próxima pergunta, mas tinha que faze-la.
- E-Ele já foi? – disse com sua voz falhando.
O homem pareceu entender que a situação era delicada. Ficou em silêncio por alguns segundo, parecendo pensar bem na sua resposta. Depois tossiu incomodado e disse sério:
- Sinto muito mas ele não está mais aqui...
Hermione abaixou o rosto, triste e cansada.
Pronto. Aí estava a resposta. O ultimato para sua esperança. O fim de tudo. Era tarde demais. Chegara tarde demais.
Rony já devia chegando nos Estados Unidos e ela teria que se controlar para não chorar.
Ela sentiu uma forte dor de cabeça, como se tudo de ruim que havia acontecido acumulou em seu cérebro.
Pensou que talvez fosse melhor lançar um feitiço de memória em si mesma, para poder esquecer tudo aquilo...aquele pesadelo sem fim...
Mas então o bruxo continuou a falar, a assustando. Hermione rapidamente olhou para ele, arregalando seus olhos e abrindo um pequeno espaço no seu coração para a esperança voltar:
- ....Há algum tempo atrás chamei ele dizendo que o porta-chave estava pronto...Aí ele se levantou, pegou as malas começou a vir para cá, mas aí parou e de repente foi na direção oposta. Não pegou o porta-chave.
- Para onde ele foi? – Hermione conseguiu formar, por um milagre, a pergunta sem engasgar de nervosismo. Nada a tinha preparando para tamanho choque, parecia que estava andando naquela montanha-russa que seus pais a levaram quando tinha 7 anos. Não sabia se ia agüentar mais reviravoltas como aquela sem antes explodir.
O homem apontou para uma porta ao longe.
- Banheiro. – ele disse. – Acho que...
Hermione não esperou que ele terminasse, correu para direção da porta do banheiro masculino.
Ao se aproximar só podia ouvir o som de uma voz abafada. Seu coração pulou, imaginando que a voz pertencia a Rony.
Havia um som de água correndo por uma torneira aberta e conforme ela entrou no banheiro viu na entrada algumas malas uma sob a outra. E mais à frente ela encontrou aquilo que procurava.
Rony estava parado em frente ao espelho do banheiro, se apoiando com uma das mãos em uma das pias. Enquanto a outra estava em seu rosto.
Hermione fez a única coisa que conseguia fazer, chamou por ele.
- Rony?
Ele tirou a mão do rosto e virou o olhar para ela. Pela sua expressão Hermione deduziu que estava surpreso mas quando ele a respondeu sua voz estava calma e séria:
- O que você está fazendo aqui, Hermione?
Ela não se intimidou com o tom. Não ia deixar que ficassem separados mais uma vez.
- Harry sabe de tudo. Contei para ele o que aconteceu entre nós. Acabou.
Rony soltou um suspiro, pegando a toalha mas próxima e enxugando seu rosto. Não falou nada. Hermione não sabia se ficava confusa, triste ou com raiva.
- Você não vai falar nada? - ela ousou perguntar.
Ele a encarou novamente.
- Falar o quê?
- Meu casamento acabou. Você não precisa ir embora mais.
- Não? E por que não? Sabe, eu percebi uma coisa... – ele passou a mão no cabelo ruivo antes de continuar, com um sorriso fraco – Não quero ser o seu último recurso, Hermione. Assim como você não queria ser o meu no quarto ano.
- Último recurso? Do que está falando?
- Quarto ano, Baile de Inverno...Lembra? – ele disse em um tom inocente.
- Eu não estava falando dessa parte. Como assim meu último recurso?
- Você é a esperta do trio. Descubra – Rony falou com um aceno de mão.
Não estava sendo sarcástico, pelo seu tom parecia que estava comentando o tempo. Seria possível uma mudança tão drástica em apenas algumas horas?
O que aconteceu com o Rony que há um tempo atrás dançara com ela?
- Você nunca foi, nem é o meu último recurso, Rony!
- Talvez você pense assim...Mas – desta vez sua voz tinha um tom perigoso – Não é o acontece.
- Se isso tem a ver com Harry...
Ela a interrompeu, a máscara de calma caindo:
- Obvio que tem! Mesmo depois que ele viu...Você ficou com ele! Escolheu ele! E onde eu fico nisso tudo? Você vem correndo atrás de mim agora, mas o que garante que você não vai querer voltar para ele se ele querer?
Ela o interrompeu, raiva começando a surgir em sua voz. Rony estava sendo injusto e acima de tudo, não acreditava nela.
- Eu falei para você...Eu expliquei! Não podia magoa-lo! Mas quero ficar com você!
- É, mas...Eu não acredito nisso. Então acho melhor nem começarmos uma coisa que não tem futuro.
Ela se aproximou dele, raiva tomando conta totalmente de si. Depois tantos dias sofrendo, triste, deprimida...Depois de tantas dúvidas e medos...
Ela nem percebeu que havia dado um tapa no rosto de Rony. Quando o percebeu, não se arrependeu, estava com raiva demais para isso. Ela guardou a mão, mas não determinação de fazer Rony perceber algumas verdades.
- Eu te amo e não se atreva a duvidar disso, seu grande – seu grande trasgo! Não depois do que passamos. Você acha que ia correr atrás de você, quando Harry estava inconsciente e machucado? Além do mais eu percebi uma coisa também, Rony. Percebi que quando mais eu enganava Harry, mas estava sendo injusta com ele. Fiquei para contar para que o casamento estava terminado. E não se atreva dizer que só fiz isso porque ele nos viu! Harry merecia a verdade! Teria contado para ele mesmo que nada tivesse acontecido em St.Mungos! Eu sei que durante esses últimos dias fui uma completa incapaz. E que tudo isso é minha culpa...Mas, droga! Eu te amo, querendo ou não! Você me irrita, me deixa louca mas eu te amo! Naquele dia...Quando Harry venceu Voldemort e você...você disse que me amava...Eu fui covarde. Eu te amava também mas fingia que não, porque tinha medo de perder a sua amizade. Você era importante demais para eu arriscar te perder. E eu me escondia atrás de explicações ridículas que chamava de “lógica”. Devia ter tido coragem de dar pelo menos uma chance para nós dois...Não cometa o mesmo erro, Rony, por favor...Só peço uma chance...
Ela parou de falar, havia dito tudo aquilo tão rápido que perdera o fôlego. Ficou olhando Rony, esperando por alguma reação...qualquer reação dele...
Quando não houve nenhuma, segurou as lágrimas e continuou sua argumentação desesperada...Ela não ia desistir!
- Você sabe que o que eu estou falando é verdade! Não finja que não! Se você acha que eu vou te deixar ir para o Estados Unidos para nunca mais voltar depois do que aconteceu entre nós...Está muito eng...
Em um súbito ela foi interrompida. E pela primeira vez na sua vida gostou disso.
Seus lábios foram calados pelos de Rony em um beijo intenso. Hermione se rendeu completamente, colocando seus braços em volta do pescoço dele e fechando seus olhos.
Não sabia porque aquilo estava acontecendo, só aproveitava o momento, pela primeira vez sem buscar lógica ou razão.
Só sabia que Rony estava a beijando e que isso era maravilhoso.
- Você fala demais. - ele riu terminando, para a decepção de Hermione, o beijo. - E rápido demais...Achei que ia desmaiar...Estava até ficando roxa de falta de ar.
- Agora não estou mais - ela sorriu.
Rony gentilmente passou sua mão na bochecha dela.
- Não...Agora você está vermelha mesmo - ele disse, ainda rindo.
Hermione não conseguiu evitar, ficou mais vermelha. E isso fez que ele risse mais ainda.
- Ei, você também está! - ela protestou.
- É claro! Depois daquele tapa que você me deu! Doeu, sabe? - ele reclamou, passando a mão no lugar onde a mão de Hermione havia feito contato nada sutil.
- Vai me dizer que você não mereceu? - ela riu.
- Certo, certo...Desisto! - Rony sorriu.
Ela o abraçou, fortemente. E ficaram assim, em silêncio, por alguns minutos.
Infelizmente, era a natureza de Hermione questionar e se perguntar sobre uma explicação para tudo. Ela tinha que perguntar...
- Rony...O que fez você mudar de idéia? - ela perguntou em voz baixa, metade de si querendo a resposta enquanto a outra queria só continuar com ele sem questionamentos.
Ele demorou até responder, soltando um suspiro que fez Hermione temer que talvez ele não tivesse mudado de idéia...
- Ouvir você dizer que me amava. Só isso bastou para eu perceber que não ia conseguir viver sem ouvir sua voz. E o quanto eu senti sua falta.
Ela sorriu. E os dois continuaram abraços, respirando calmamente. Mal parecia que estavam em um banheiro público...Na verdade, Hermione sentia-se como tivesse voltado a Hogwarts e estivessem embaixo de um céu estrelado e uma lua linda.
Sentia-se feliz.
Depois de um tempo daquela maneira...Algo passou em sua mente.
- Quer dizer que todo aquele meu discurso foi à toa? - ela perguntou, fingindo indignação.
- Erm...É... - ele riu.
Ela arregalou os olhos.
- Você nem ouviu uma palavra do que eu disse depois, não é Ronald Weasley? - novamente ela fingiu irritação.
- Erm...Desculpa...não... - ele riu, desta vez o riso revelando um certo nervosismo.
- Eu não acredito! Eu abrindo o meu coração...Falando sobre os meus sentimentos por você e você nem presta a atenção! - Hermione disse forçando um tom melodramático.
Rony passou a mão no cabelo, nervoso.Porém logo depois reconheceu que ela estava brincando com ele e riu.
- É claro que não ouvi! Estava ocupado olhando coisas mais interessantes...
- Que coisas interessantes?! Aqui só tem privadas! - ela perguntou, tentando futilmente esconder um sorriso.
- Eu estava me referindo as suas coisas interessantes... - ele respondeu, piscando para ela.
Hermione ficou mais vermelha que um pimentão.
- Ronald Weasley! - ela começou a protestar mas ele a interrompeu novamente a beijando.
Ela nunca pensaria que algum dia iria gostar tanto de ser interrompida!
Infelizmente existia uma coisa chamada "respirar" e os dois tiveram que se separar em busca de fôlego.
- Se você acha que toda vez vai me fazer esquecer de ficar brava só me beijando está muito enganado, ouviu? - ela disse rindo.
- Mas eu posso pelo menos tentar, não posso?
- Fique à vontade - ela riu.
Os dois se preparavam para outro beijo quando uma nova voz entrando no banheiro os interrompeu:
- licença? - era o funcionário da estação. - Desculpa interromper mas...Já são quase três horas da manhã e...não tem nenhuma viagem agendada para o resto da madrugada...e...erm...eu queria ir para casa.
Rony soltou uma risada. Hermione ficou um tanto vermelha, mas sorriu também.
- Mil desculpas, senhor. Nós já vamos embora. O senhor está mais que liberado - se desculpou ela.
O homem agradeceu e foi embora, resmungando que precisava de café extraforte. Hermione primeiramente o seguiu, mas parou quando percebeu que Rony não se movera.
Ele estava no mesmo lugar, olhando para suas malas encostadas em uma parede.
Hermione se aproximou, uma expressão de confusão no rosto.
- O que foi?
Ele passou a mão no cabelo ruivo, uma mania dele que Hermione já começava a adorar.
- Minha vida é um caos... - ele suspirou, o tom de sua voz revelando que ele guardava feridas que ela não conhecia, ainda. - Tem certeza que quer ficar comigo?
Hermione segurou a mão dele, e lhe deu um sorriso de certeza.
- Tenho.
Dê mãos dadas os dois saíram de lá, com as malas de Rony levitando atrás deles.
Hermione sorriu e olhou para o seu ruivo. Absorvendo cada sarda, cada fio de cabelo ruivo e cada centímetro de seu corpo. Vendo ele ali, junto com ela fez Hermione concluir, feliz, que nunca é tarde demais para ser feliz. Haviam cometido erros no passados que os afastaram, erros que nunca deviam ter acontecido, mas não importava mais.
Agora começariam suas vidas juntos. Não importava se encontrassem obstáculos, se brigassem, se discordassem....Não importa se suas vidas não fossem perfeitas.
Afinal, nada é perfeito. E ela não queria que fosse.
FIM
N/A: Mas espere! Ainda tem o epílogo! :P
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