Palavras ditas



Capítulo 8 - Palavras ditas




Gina se considerava uma pessoa razoável...Um tanto encrenqueira, verdade, mas mesmo assim muito sensata...Talvez fosse por isso que tinha quase caído de susto quando ouviu a estória do irmão.


Primeiro, o noivado que ele tanto lutou para manter acaba em um segundo. Depois, ele some. Sem dar explicações, sem sequer dizer se estava vivo.Certo, até aí Gina não tinha ficado muito surpresa. Mas o resto, no entanto, era outra estória.


Tinha passado o dia inteiro procurando ele em todo canto que existia no mundo bruxo, foi até em lugares trouxas. Foi em abrigos, hospitais, manicômios...Nada dele.


Cansada e quase desistindo ela resolveu voltar ao ponto de partida: o apartamento do irmão.


E lá estava ele!


Não só estava lá como estava preste a ir embora, segundo ele, para sempre. Mas não só isso, não. Tinha mais...Muito mais. E ele contou tudo para ela, para sua sincera e grande surpresa.


Agora Gina estava sentada na cama, ainda chocada, observando ele arrumar malas e mais malas, da maneira que ele sempre fazia: mal. Ela não podia deixar de reparar como ele não tinha nenhum jeito com feitiços domésticos...Sinceramente, ele precisava voltar para o primeiro ano de Hogwarts, se Hogwarts ensinasse esse tipo de feitiço..."Você está doida, Gina? Pensando em feitiços numa hora dessas!"


Mas não dava para culpa-la, sinceramente. Sua mente ainda estava tendo dificuldades em absorver o fato que seu irmão e Hermione Potter tinham dormido juntos.


Mais que dormido, é claro. Mas ela preferia não pensar nisso agora.
Hermione Granger...Quer dizer Hermione Potter, tinha dormido com seu irmão...Para logo depois sair correndo algumas horas antes e feito um estrago tão imenso em Rony que ele estava pronto para ir até o fim do mundo.


Seria alguém em uma poção polisuco? Porque, certamente, não podia ser Hermione! Ela teria que ter uma razão muito muito muito muito forte para fazer algo parecido!


E quanto a Rony? Está certo que ela mesma discordava do casamento com Lilá...Mas dormir com Hermione?! Não era bem isso que ela tinha em mente para ele quando os dois se falaram pela última vez:


- Rony...Repete.


- Foi isso que eu falei, Gina...Que coisa, se você não acredita, eu estou pouco me lixando! - ele quase gritou, estava cada vez mais irritado graças ao um par de calças que se recusava a dobrar e entrar no malão velho de Rony.


- A questão aqui não é se eu acredito...E eu acredito. A questão é: o que deu na cabeça de vocês?


- Pergunte para a Hermione! Porque eu gostaria de saber!


- Ela não vez tudo sozinha fez? Quero dizer...Sabe, é necessário DUAS pessoas...Ou inventaram alguma coisa que eu não sei…? - falou Gina em um tom de piada, fingindo estar sinceramente curiosa para aprender uma nova técnica. - Ou quem sabe ela fez e você só...


- Gina, por favor! Você é minha irmãzinha...Não piore mais as coisas! - ele fez uma pausa, sacudindo a cabeça e soltando um suspiro - Eu...Eu só segui em frente porque achei que ela me amava...ok? Eu sei que fui idiota em pensar nisso e tudo mais...


Gina o interrompeu:


- Espera um pouco...Você disse: amava? Hermione te ama? - ela abriu um sorriso, feliz pelo irmão. Sabia muito bem que Hermione sempre fora o amor da vida dele. E amar ele seria razão forte o suficiente para Hermione fazer algo daquilo, sem dúvida.


- Correção: eu achei que ela me amava. Hermione ficou feliz em me corrigir, como sempre.


- Rony...Se ela não te ama, então porque dormiu com você? Não faz sentido.


- Olha, eu não quero falar mais sobre isso, ok? Só te contei porque...sei lá. Eu sumi sem dar explicação e não queria fazer isso outra vez. Só quero te avisar que eu vou embora, e desta vez, sem intenção de voltar. E quero de avisar o porque disso, para vocês não ficarem bolando teorias idiotas...


- Você não está fazendo sentindo algum! Isso tudo é besteira! Você me contou porque tem dúvidas, é claro! Você não sabe o que fazer, como sempre...E está querendo que eu te ajude. Só não quer admitir!


- Ache o que você quiser, não faz diferença. Eu vou embora mesmo!


- Ah sim...É tão fácil ir embora, não? É o que você sempre faz. Está na hora de crescer Rony. Fugir do problema não vai fazer ele sumir. Não mesmo.


- E o que você entende disso? Você não passou por nada do que eu passei. Nada. Então, faz o favor e me poupe o discurso...E você tem sempre um discurso, não? Foi assim com a Lilá também. Para de tentar arrumar a minha vida!


Rony tentava fechar freneticamente o seu malão lotado de roupas mal dobradas. Enquanto falava ele ia fazendo força em cima dele, querendo fechar, mas não funcionava.


Gina tinha se cansado da pequena batalha homem versus malão. Ela se levantou da cama, apontou a sua varinha para o objeto e com um feitiço simples organizou tudo e o fechou facilmente.


Rony a olhou, irritado:


- Eu não tento arrumar a sua vida, Ronald. Eu arrumo ela. Eu sei que você está com raiva. Eu sei que você deve ter ficado muito magoado com o que Hermione fez você passar. Mas isso só está fazendo você esquecer o principal: Hermione. Não. Faz. Isso. Ela não trai, não mente, certo, mente um pouco...Mas o fato é: Ela fez isso porque deve ter realmente se sentindo feliz com você. Eu me lembro quando ela me contou que demorou muito tempo até que...bem, até que ela e Harry...Dormissem juntos.


Rony virou o rosto, parecendo enojado só com o pensamento.


- Ela disse que precisou ter certeza absoluta que aquilo era certo. Hermione não ia simplesmente cair nos seus braços sem uma razão muito boa mesmo.


- Ela mudou.


- Não tanto assim. Fale com ela, Rony.


- Não tenho mais o que falar com ela, ok? Ela já me falou a razão: estava confusa. Só isso.


- Se isso fosse realmente verdade, você não me contaria tudo isso. Você mesmo duvida das palavras dela...Rony, me diz...Ela não desabafou com você na noite anterior? Não confessou o quanto estava infeliz com Harry?


- Ela também falou que ainda amava ele.


Gina o ignorou e continuou:


- Se ela está infeliz...Não importa o que aconteceu entre vocês dois, você precisa ajudar ela. Ela está com problemas, Rony.


- Não sou eu que tenho que resolver os problemas dela! Ela tem o marido para isso!


- Para de ser teimoso. Escuta, lembra o que eu te falei sobre a Lilá...?E devo acrescentar que eu estava certa. Rony, eu falei que ela não era a pessoa certa para você. E sabe quem é?


- Me poupe, Gina. Será que você podia ir embora agora? Tenho muita coisa para empacotar.


- Hermione é a pessoa certa para você. Não deixe essa chance passar...Vá atrás dela.


Rony suspirou, obviamente cansado das tentativas de Gina, no entanto, ela sabia que estava conseguindo o convencer. A questão era: deveria mesmo convencer ele daquilo? Se ele fosse atrás de Hermione...Estaria fazendo a coisa certa, ela tinha certeza, mas a que preço?


Uma pitada de tristeza veio à tona quando Gina se lembrou de Harry. O que seria dele?


- Olha, Gin...Estou cansado de toda essa maldita estória! Eu só quero ir embora.


- Fugir, você quer dizer.


- Que seja! Dane-se! Chame como quiser!


- Então você não ama ela!


- Ótimo porque eu não quero amar ela! Não quero amar mais alguém que não sente o mesmo por mim! Chega dessa agonia! Cansei! Já deu o que tinha que dar. Deu para perceber Gina?


- Como se você tivesse algum controle sobre isso! Veja só você! Ela acabou de magoa-lo e mesmo assim você não consegue odiá-la! Admita!


- Não significa que não possa tentar!


- Você não controla isso, Rony!


- Você não acha que eu não sei isso?!


De repente ele deu um forte chute em uma das malas que estava no chão, o movimento rápido assustou um pouco Gina, mas depois ela sentiu pena dele...Rony tinha se sentado em cima de um malão e colocado as mãos no rosto. Gina se aproximou:


- Não fuja, Rony. E não a deixe fugir. Lute por ela.




***






Talvez tenha sido o encontro surpresa com Cho, talvez tenha sido qualquer outra coisa, mas de repente Harry teve uma grande vontade de fazer algo fora do normal, algo surpreendente.


Passou a manhã inteira agitado. Não conseguia se concentrar em nada, no almoço ao invés de pedir para que alguém trouxesse a comida, como de costume, ele preferiu ir até a cafeteira do ministério.


De tarde, continuou do mesmo jeito. Até Percy estranhou:


- Harry...Harry...Pode prestar atenção um pouco? Eu estou falando com você!


Percy não parava de falar sobre algum assunto que Harry não tinha ouvido nem um pouco. Ele estava mais preocupado em olhar a janela falsa de sua sala.


Era um direito especial do ministro escolher o que ela mostrava. Hoje ele tinha escolhido uma grande praia deserta ensolarada com dançarias de hula-hula, ao contrário do campo vazio e cinza de sempre.
Ele estava trocando sorrisos com uma das dançarinas quando Percy fechou a janela bruscamente:


- Alô!? Pode olhar um pouco para mim?


- Desculpa, Percy. Não sabia que você era ciumento. - riu Harry, finalmente se virando para o assistente.


- Ha ha. Muito engraçado. O que te deixou de tanto bom humor, hein? A srta.Chang?


Harry ficou sério, para a felicidade de Percy:


- O que vocês dois fizeram? Trabalho eu sei que não foi, já que fui eu que tive que cuidar de tudo, e de novo, devo acrescentar.


- Só o fato de não trabalhar me deixou de bom humor, Percy.


- Ah sim. Certo. - disse Percy, fingindo-se convencido.


- Então...O que temos para hoje? - perguntou Harry, cortando o assunto.


- Como eu estava falando antes...Você vai adorar o compromisso de hoje. Uma visita a St.Mungos para inaugurar a nova ala para as vitimas do Crucio.


Finalmente, algo que valia a pena! Foi um dos primeiros projetos que ele aprovou quando se tornou ministro. Ele e Neville trabalharam juntos por muito tempo para ver aquilo se tornar realidade. Neville, professor de Herbologia na época, pesquisou poções e plantas para ajudar na melhora dos pacientes que tinham sofrido com o feitiço Cruciatus. Apesar de não conseguir ser capaz de ajudar seus pais, pois o caso deles fora grave demais, Neville conseguiu criar poções que avançaram muito o tratamento.
E finalmente depois de anos, haveria uma ala inteira dedicada a isso, com enfermeiras e medi-bruxos especializados não só em cura física, mas mental também.


Era uma das realizações que ele realmente podia dizer que tinha orgulho.


- Irá ser uma cerimônia simples, mas a imprensa vai estar em peso, é claro. E aposto que Hermione e Neville também vão aparecer.


- É claro que vão. Nada teria sido feito se não fossem eles! Percy, hoje eu sabia que algo bom ia acontecer...Bem, para falar a verdade, não sabia, mas suspeitava! Alguma coisa que me surpreendesse!


- Que bom,Harry... - meio que riu Percy, estranhando a animação do ministro. - Mas não se anime muito ainda, tem três horas para o evento.
- Mal posso esperar!


E não podia mesmo. Além de ver algo tão importante se concretizando, também iria encontrar velhos amigos...Provavelmente Lupin estaria lá e Neville, todos os Weasley...Quem sabe Rony viria com Lilá...E, é claro, Hermione também estaria lá.




***






- Hermione? Hermione, você está me ouvindo?


- Ah, desculpa, Neville...O que você disse mesmo?


- Os repórteres estão começando a chegar...Bonnie quer saber onde eles vão ficar.


- Ah...Não sei.


- Não sabe?


- Eu...Eu não sei, Neville...Decida você...Eu tenho que fazer uma pausa.


- Certo...


Ela saiu, quase correndo, deixando um Neville confuso e todas as preparações para a cerimônia que ia começar em uma hora.


Desde que tinha posto os pés em St.Mungos, melhor...Desde que tinha acordado, sua vida tinha virado de ponta cabeça.


Não conseguia se concentrar, não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido!


Tinha se esquecido completamente da inauguração.


Passou a manhã inteira esquecendo nomes de pacientes, receitas de poções, como pronunciar corretamente feitiços de cura...E ela era Hermione, por Merlin!


Andava pelos corredores do hospital como se nunca tivesse passado por eles. Parecia um fantasma sem rumo.


E agora tudo iria piorar. Teria que atuar no seu papel mais famoso, a esposa sorridente do ministro.


Hermione tentava se concentrar no fato que se tratava de um evento importante e realmente bom. Algo que realmente valia a pena.


Tentou apenas pensar nas vidas que aquilo iria ajudar. Ela mesma tinha sofrido com o Cruciatus, e tinha ajudado a cuidar de outras vitimas.


Era algo muito maior que ela mesma. Muito maior que problemas fúteis como romance. E além disso...Esses "problemas" eram passado. Isso. Passado. Não tinha prometido a si mesma nunca mais pensar naquilo? Não prometera fazer Harry feliz a todos os custos?


- Sim. - disse em voz alta.


- Sim o quê?


Hermione se virou assustada, depois soltou um suspiro de alívio. Era apenas Neville:


- Erm...Nada. Só pensando alto.


- Eu imaginei. Você...Você está bem, Hermione?


Não, eu não estou bem, Neville! Que pergunta mais...


- Estou ótima...Só nervosa com a cerimônia. - respondeu ela, ignorando seus pensamentos e colocando novamente o velho sorriso no rosto.


Por um momento temeu que Neville não tinha acreditado, mas mentir era agora parte dela:


- Não fique! Vai dar tudo certo...E você e Harry já participaram de tantas coisas assim, que já deve uma segunda natureza.


- Ah...É, claro.


Os dois ficaram em silêncio e Neville a fitou por um longo tempo, como se esperasse que ela contasse algo. Mas por fim, desistiu:


- Então...Vamos até o saguão? Já devem estar nos esperando.


- Está certo...Era para lá que eu ia mesmo. - mentiu novamente Hermione.


Ia ser uma longa noite.




***






- E finalmente...Gostaria de agradecer a todos aqueles que ajudaram a trazer essa visão à vida. Sem vocês...Nada disso seria possível. Muito obrigado. Agora, vamos ao que interessa. Vamos cortar essa faixa e começar o processo de cura!


Um...dois...três...e aplausos.


Harry acenou para o público que o aplaudia animadamente. Sorrindo ele cortou a faixa vermelha de inauguração, abrindo pela primeira vez a Ala Harry Potter para Tratamento e Cura das Vitimas do Feitiço Cruciatus, chamada assim para homenageá-lo.


A faixa estava cortada e agora a imprensa era o próximo passo, todas as lentes estavam viradas para ele. Mas ele já não se perturbava com isso, estava acostumado agora com as câmeras e seus flashes o cegando.
Automaticamente ele partiu para apertar mãos, não notando mais de quem elas pertenciam. Podia ouvir a voz de Percy atrás dele, lutando para acalmar os pedidos dos repórteres:


- O ministro agradece sua presença...Não, ele não vai comentar sobre a greve de Gringotes...Sim, sim, ele está honrado com a homenagem. Foi uma surpresa agradável. Ele irá agora para a festa...Não! Eu já falei que ele não vai comentar o assunto dos duendes!


De alguma fora os dois passaram pela multidão, chegando até a sala do diretor do hospital. Lá estavam Neville e Hermione, esperando por eles.
Logo que Percy empurrou, quase literalmente, todos os repórteres para longe da porta, ele a fechou, deixando o local finalmente em silêncio.


Harry se aproximou de Neville lhe dando um grande abraço:


- Parabéns, Neville! Finalmente conseguimos!


Neville ainda possuía o mesmo rosto redondo e continuava algumas vezes atrapalhado, mas tinha ganhado confiança ao longo dos anos. Agora ele trabalhava em St.Mungos, junto com Hermione, mas pretendia voltar para Hogwarts no final daquele ano. Harry tinha uma pitada de inveja dele, queria poder fazer o mesmo. Gostaria de rever o lugar que fora sua casa por sete anos.


Agora Neville sorria, emocionado:


- Sim, finalmente. Talvez agora...Talvez agora o sofrimento seja menor.
Se ele falava de si mesmo ou das vítimas do feitiço, Harry não sabia.


- Foi um belo discurso, Harry. - continuou Neville, se recompondo.


Harry sorriu, mas lembrou do comentário nada sutil de Hermione na festa da noite retrasada. Preferiu não falar mais nada sobre o assunto.


Falando em Hermione...Harry a olhou para apenas para vê-la de olhos fixados no chão...Será que havia alguma coisa de interessante lá ou talvez ela estivesse querendo evitar o olhar dele?


- Bem, bem...Está na hora de irmos. Esse convite vai nos levar até a festa. - anunciou Percy, interrompendo o silêncio que havia se formado e tirando de seu bolso uma chave de portal.


Os quatro colocaram suas mãos no convite e foram instantaneamente enviados até o Hall de Entrada do Ministério da Magia.


O local estava lotado e havia bandejas cheias de petiscos flutuando entre os convidados. Em um palco improvisado estava Celestina Warbeck, cantora favorita, Harry lembrou, da Sra.Weasley. E em volta da estátua havia uma pista de dança improvisada.


Instintivamente Harry se virou para o lado, procurando por Hermione. Era costume os dois atravessarem um salão juntos, mas ele não a encontrou, ao invés viu Neville:


- Você viu a Hermione?


- Acho que ela acabou de ir naquela direção - respondeu Neville apontando para o elevador do ministério.


Harry ia segui-la quando foi surpreendido por uma mão em seu ombro, se virou e encontrou Lino Jordan e Katie Bell.


Em poucos minutos estava rodeado de pessoas. Cumprimentava, ouvia atentamente, mostrava-se interessado em alguma conversa nada interessante, elogiava aqueles que necessitavam de elogios e esquecia-se de procurar por Hermione.


Assim passou grande parte da noite. Finalmente a fila de pessoas que queriam falar com ele diminuiu e então Harry começou a sentir a falta de algumas pessoas.


Não tinha visto nenhum Weasley a não ser Percy e Carlinhos. O que era incomum, ele mesmo garantia que eles fossem todos convidados e eles, normalmente, faziam questão de vir.


Depois de conseguir escapar de Mafalda Hopkirk e seu pedido para um aumento, Harry se aproximou de Carlinhos, que se mantinha afastado da multidão em um canto isolado:


- Ei, Harry.


- Ei. Onde está o resto da Toca? Achei que iriam querer vir. Nem Rony veio.


- Você não sabe, então?


- O que houve?


Percy se aproximou dos dois também, com uma cerveja amanteigada na mão:


- Olá, Harry. Você já falou com...


- O que aconteceu? - perguntou novamente Harry, se dirigindo a Carlinhos, não querendo ser interrompido.


- Você não recebeu a coruja que a Gina enviou?


- Não. Não recebi nada...Ela mandou para o meu escritório?


- Não, acho que não. Talvez tenha mandado Pichi para sua casa. - Carlinhos fez uma pausa para pensar - É...Me lembro até que Hermione respondeu.


- Mas do que vocês estão falando afinal de contas? - falou Percy, irritado.


- O noivado de Rony acabou. - disse Carlinhos solenemente.


Harry abriu um pouco a boca, surpreso. Não fazia nem três dias e o amigo e a noiva estavam comemorando? O que tinha acontecido?


- Você está brincando, não? Depois de todo o dinheiro que ele gastou com ela... - riu Percy, realmente acreditando de que se tratava de uma piada.
- Se você não se enfiasse em trabalho, Perce, saberia que Lilá acabou com o noivado ontem.


- Mas...Mas por quê? - perguntou Harry, ainda surpreso.


- É uma boa pergunta. Ninguém sabe, ela não explicou nada.


- E Rony? O que ele disse sobre isso?


- Rony sumiu.


Foi a vez de Percy abrir a boca de susto:


- Sumiu? Como assim, sumiu?


- Sumiu. A Toca inteira ficou louca, é claro. Mamãe parecia que ia ter que ser internada em St.Mungos de tão forte que foi o choque. Gina procurou ele o dia todo, mas, até onde sei, não achou.


Bem, isso realmente era algo surpreendente. Está certo que Harry nunca havia posto muita fé em Lilá, mas acabar um noivado tão próximo da data do casamento? Havia algo de muito errado acontecendo.


Mas a noite tinha reservado mais surpresas para Harry. Depois de conversar com Carlinhos ele encontrou com Neville novamente, quando o assunto da festa se esgotou, Hermione virou o tópico da conversa:


- Eu não vi ela em toda a noite. - começou Harry - Não sei onde ela foi.


- Harry...Talvez eu esteja sendo meio intrometido...Mas, a Hermione está bem?


Harry fitou por uns instantes Neville:


- Pelo que eu sei, está...Por quê?


- Nada...Bobagem minha.


Os dois ficaram em silêncio durante alguns minutos só olhando de longe a festa se desenvolver. Por fim, Neville tomou coragem:


- É que...Ela faltou ontem.


Harry não disse nada. Estava prestando atenção em Perkins, o bruxo que trabalhava junto com o sr.Weasley. Perkins estava um tanto alto e cantava o hino do Ballycastle Bats em cima da estátua da Irmandade Mágica (o centauro não parecia muito feliz com isso).


No entanto, Neville conseguiu chamar a atenção de Harry quando continuou:
- Quando eu perguntei porque ela faltou...


- Espera aí, Neville. Hermione não faltou, ela fez hora extra.


O rosto redondo de Neville mostrava confusão:


- Hora extra? Quando?


- Ontem à noite, é claro.


- Hmm...Harry, não pode ser. Meu plantão foi das nove da manhã até as duas da noite. Hermione não veio para St.Mungos.


Se ela não estava em St.Mungos, onde tinha passado o dia? E mais: onde tinha passado a noite? O que estava acontecendo com Hermione? Em um dia, brigava de uma hora para outra, em outro, sumia e evitava ele?


Harry tinha uma sensação ruim sobre tudo aquilo, Hermione não era assim. Algo estava acontecendo.




***






Hermione se sentia patética. Desde o começo da festa tinha se escondido em um dos elevadores, apenas com uma taça de vinho como companhia.
A taça ficou vazia em poucos minutos, mas ela não teve coragem suficiente para sair e pegar outra.


Não tinha coragem de olhar nos olhos de Harry, não tinha nem coragem de ficar perto dele. Que bela ex-aluna da Grifinória ela era!


Mais cedo ou mais tarde ela teria que sair dali. Todos deviam estar comentando: onde está a esposa do ministro?


"Ela está se escondendo no elevador e tentando, sem sucesso, parar de pensar em Rony..."


As coisas podiam ficar mais patéticas?


Ela tinha jurado esquecer aquilo, jurado se concentrar em Harry e apenas em Harry. Mas não conseguia.


Toda vez que fechava os olhos, lá estava os cabelos ruivos, as sardas, os braços dele envolta de sua cintura, sua respiração suave em seu pescoço...


- Que droga! - ela murmurou, frustrada, para si mesma. - Sinceramente, Hermione, você costumava ser mais determinada!


Ela costumava ser tanta coisa...


Hermione olhou para a porta do elevador que tinha a fechado com um feitiço. Estava sendo ridícula...Ficar ali escondida era ridículo. Ela era uma mulher adulta e estava na hora de se comportar como uma.


Tomando o máximo de coragem que podia juntar ela abriu a porta e voltou para a festa.


A primeira coisa que fez foi pegar uma taça de vinho de umas das bandejas flutuantes. A segunda foi evitar qualquer conhecido, infelizmente, sem sucesso.


Mal tinha tomado um gole de vinho e Percy a achou:


- Hermione! Finalmente encontrei você!


- Olá, Percy.


- Está gostando da festa?


- Muito.


- E quanto tempo você já participou dela? Cinco minutos?


- Por aí. - resmungou Hermione. A última coisa que ela queria ouvir agora era um dos sermões de Percy sobre a importância da "diplomacia" (Ou melhor, a importância de puxar o saco dos influentes).


- Você tem uma grande reputação, e com isso há grandes responsabilidades. E o ministro só tem a lucrar com a sua pre...


- Você está totalmente certo. - interrompeu imediatamente Hermione, pegando de surpresa o ruivo, que estava acostumado a não ser ouvido.


- S..Sim...Sim, estou.


- Agora, Percy...Com licença.


Ela simplesmente saiu de perto dele. Como Penélope agüentava ele era um mistério.


Hermione estava felizmente sozinha novamente. Mantinha-se longe da multidão e apenas observava a festa.


Talvez esse tenha sido seu erro, pois agora voltava a pensar em Rony. E se...E se ela nunca conseguisse tirar ele de sua cabeça?


- Hermione?


Ela se virou assustada para descobrir quem a chamava. Harry:


- Ah...Oi.


"Se controle, se controle...Não desvie o olhar..."


- Achei você finalmente! Onde estava todo esse tempo?


- Em nenhum lugar...Só...Por aí.


- Ah.


Aquilo não estava dando certo...Nada certo. Ele ia suspeitar de algo!



- Você já sabe o que aconteceu com Rony?


De repente Hermione sentiu seu coração acelerar e ela logo desviou seu olhar para o chão:



- Erm...Não...O q-que aconteceu?


- Você não sabe mesmo? - agora a voz de Harry parecia indicar que ele estava a dando uma segunda chance para dizer a verdade...Ou talvez era a imaginação dela.


- Não, não sei.


- O noivado dele com Lilá foi desmanchado.


- Ah...Que ruim. - foi o máximo que ela conseguiu articular, estava tão nervosa que era capaz cair aos pés de Harry e pedir perdão a qualquer segundo.


- E tem mais. - continuou Harry - Ele desapareceu. Ninguém sabe onde ele passou o dia. Eu isso me lembrou de algo, até engraçado...Onde você...?


"Ah Meu Merlin! Ele sabe! Ele sabe de tudo! O que faço?"


Ela o interrompeu quase desesperadamente:


- Que coisa, não? Bem, Harry eu preciso ir, tomei vinho demais e agora tenho que procurar um banheiro.


E assim ela quase saiu correndo de perto dele. O seu coração parecia que ia saltar de sua boca, suas bochechas estavam vermelhas e ela suava frio.


Não foi em direção de banheiro algum, estava desnorteada e acabou por atravessar o meio do salão onde agora casais dançavam em volta da estátua.


Tentava ao máximo desviar de todos, mas acabou trombando com alguém. Alguém ruivo.


- Hermione, precisamos conversar.


Era definitivamente a voz de Rony.





N/A: Olha, grandes desculpas sobre a descrição do Ministério, eu esqueci completamente como é o lugar em detalhes, principalmente o elevador...E nem sei se a tradução do nome da fonte é Irmandade Mágica, talvez seja Fraternidade...Bem, quando a preguiça passar eu vou ver no livro

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