O primeiro dia de aula



O primeiro dia de aula

O café da manhã foi agitado. Os professores chegaram, foram informados da situação e re-introduzidos aos antigos alunos, Olívio e Pâmela. Hermione e Harry não ficaram sozinhos em nenhum momento. Rony seguia Harry em todo canto e quando não era Gina que estava com Hermione era a professora McGonagal, que a avisava dos seus deveres como monitora, cargo que a menina já tinha se esquecido de exercer.

Todos pareciam bem frustrados com a súbita retirada das férias, mas ninguém estava pior que Harry. Ele estava no limite! Queria falar com Hermione, queria falar com Pâmela, queria que Rony parasse de seguí-lo ou simplesmente explodisse. O que, contudo, mais desejava era se esconder debaixo de uma mesa ou dentro de um armário. Fingir que sua cabeça não girava quando pensava no que ocorrera semanas antes, fingir que não sentia uma revolução na barriga toda vez que pousava os olhos em Hermione, fingir que não estava tudo diferente e assumir que estava com medo.

-- Harry... – o rapaz se assustou quando uma voz doce e insegura sussurrou seu nome atrás de si.

Harry voltou o corpo para ver Hermione olhando-o ansiosa. Por alguns segundos ambos permaneceram calados se olhando. Ambos sentiam como se estivessem finalmente se reencontrando. Embora Hermione falasse com ele diariamente nas últimas semanas, o tom e a urgência na sua voz fizeram Harry perceber que a Hermione de três semanas atrás voltava para vê-lo.

-- Finalmente está sozinho... – Hermione quebrou o silêncio tentando parecer descontraída, mas seu sorriso nervoso a condenou.

-- Não estou mais... – Harry disse sem pensar. A voz saiu profunda e levemente emocionada, parecendo estranha até para os próprios ouvidos do garoto.

Este último comentário fez Hermione perder a fala novamente. Eles estavam em frente ao quadro da mulher gorda. Harry havia retardado o passo propositalmente tentando se afastar de Rony aproveitando que Olívio o entretinha com relatos sobre os últimos jogos de quadribol ao qual participara pela liga mundial. Graças a isso, Hermione se encontrou com ele quando subia as escadas.

-- Você está bem? – Harry disse de repente, impelido pelo desconforto do segundo momento de silêncio.

-- Estou... Você? – Hermione retrucou automaticamente, como se as palavras fossem difícil de formular.

-- Acho que devíamos... – Harry começou a falar, dando alguns passos cautelosos na direção da amiga.

-- Cara! O que você ta esperando? Ah, oi Mione! – Rony surgiu de repente no topo da escada. – Temos que ir... Os alunos vão chegar a qualquer momento!

Harry e Hermione foram, assim, brutalmente arrancados de sua quase conversa para por em prática o plano de Dumbleodore. O bruxo achava que os alunos não deveriam saber da chegada antecipada dos Weasley, Hermione e Harry, para não causar transtornos. Ainda naquela manhã os gêmeos foram embora, após incansáveis despedidas à Pâmela, e o próprio Dumbleodore voltara para seu posto como ministro. O plano era simples! Eles só deveriam chegar alguns minutos atrasados, juntando-se ao aglomerado de estudantes na entrada do castelo, alegando terem recebido uma carona do pai de Rony e Gina. As malas já haviam sido refeitas na noite anterior e tudo que precisavam era esperar na cabana de Hagrid e de lá saírem na hora certa sem serem notados.

A lembrança do plano fez Harry lamentar sua sorte. Amaldiçoou Rony baixinho e se perguntou se um dia estaria à sós com Hermione. Ao menos, ele se alegrou de repente, o olhar dela estava tão frustrado quanto o dele agora. Isso queria dizer que ela também queria estar à sós com ele? Oh! Ela parou de fugir? Não iria mais evitá-lo? Harry não pensou muito no que as emoções que se rebelaram em seu peito queriam dizer, mas ao menos reconheceu o alívio e a alegria no meio deles.

Graças a isso, as horas seguintes passaram rapidamente e logo estavam adentrando o salão principal para a ceia junto com os demais alunos. Nenhum deles pareceu desconfiar da história contada e o momento eufórico do reencontro de amigos e colegas tomou lugar por parte da noite.

Antes de chegarem à mesa da Grifinória, os quatro amigos passaram por alguns alunos da Corvinal e dentre eles estava Luna. Estava diferente! Embora o olhar permanecesse característico e imaginativo, o corpo desenvolvera elegantemente, os cabelos loiros estavam longos e com cachos nas pontas e seus acessórios não eram mais tão escandalosos, embora ainda peculiares.

-- Olá! Senti saudades! Como foram de férias? – ela disse com voz musical

-- Olá, Luna! – todos disseram com exceção de Rony. Pararam um momento para saudá-la também. Harry e Gina gostavam muito dela e Hermione aprendera a apreciar seu modo calmo e avoado de ser. Apenas Rony parecia abster-se de fazer qualquer comentário quando o nome da menina surgia em alguma conversa.

-- Papai me deu algumas cópias da nova edição da revista para dar aos meus amigos. Trouxe uma para cada! Espero que gostem! – ela disse entregando-lhes embrulhos caprichosamente embrulhados. – Você vai gostar da reportagem da página doze, Ronald.

Rony pareceu acender como uma tocha de tão vermelha que sua face ficou de repente. Luna já havia partido para sentar-se em sua mesa e Rony continuou seguindo-a com os olhos, até eles encontrarem os rostos intrigados dos amigos e da irmã.

-- Nós... Nós conversamos por carta nessas férias! – ele se limitou a dizer, ainda ruborizado, enquanto andava dignamente para a mesa de sua casa.

Gina foi atrás do irmão para tentar saber mais sobre as cartas e Harry e Hermione os seguiram calados. Sentaram um do lado do outro e esperaram pacientemente a seleção dos alunos do primeiro ano.

Quando tudo havia terminado a professora McGonagal, a atual diretora, se ergueu e todos silenciaram suas conversas. Com um rápido agitar de varinhas ela mudou a decoração do salão de vermelho e amarelo – cores da Grifinória – para negro.

O assombro tomou conta dos alunos e a professora então começou a discursar com pesar.
-- Dou boas vindas à todos os nossos alunos, antigos e novos, desejando que esse ano seja produtivo e agradável. Voltamos a nos ver, no entanto, em circunstâncias sombrias, quando lembramos da ausência de um de nossos alunos. – a professora parou um momento olhando todos com gravidade e depois continuou com voz cerimonial. – antes do período letivo começar fui comunicada da morte de um dos alunos e por ele estamos de luto hoje. Malfoy...

Harry endireitou o corpo ao ouvir o nome e com os músculos retesados pareceu entender, de repente, que havia se esquecido de algo muito grave. Sua mão automaticamente buscou a de Hermione por baixo da mesa e assim que a sentiu fechou os dedos fortemente ao redor dela, assustando a amiga. Em segundos o dia de seu aniversário voltou-lhe à mente e ele pôde ver as cenas como em um filme. Logo após terem descoberto o “segredo” de Pâmela, a garota desmaiara e os amigos começaram a se recuperar do susto. Harry e Hermione foram cuidar de Pâmela, Giny fora chamar os pais saindo rapidamente pela lareira com o auxílio do pó de flu. Fred reorganizara magicamente os móveis da casa e Rony e George terminaram de amarrar os comensais e desmascará-los.

Só quando todos estavam identificados é que sentiram o peso das revelações. Caído no chão, com o pescoço em um ângulo anormal e o pulso já denotando não existir mais vida ligada à carne, jazia Draco. Fora ele que caíra da escada com o feitiço de Hermione. O comensal que atacara a menina depois disso era a mãe de Draco e obviamente ficara enlouquecida ao ver o destino do filho. Os demais comensais eram desconhecidos para os amigos, exceto pelos pais de Goyle. Hermione tremia desesperada com o que aconteceu. Harry a abraçava forte, mas não conseguiu acalmá-la antes de um quarto de hora ter passado.

-- Harry, seu idiota! – Harry pensou nervoso – Achava mesmo que todo o crescente nervosismo de Mione era por causa do quase suposto beijo? Não viu que ela já estava incomodada antes disso? Seu imbecil!!! Ela estava com medo do início das aulas!!!

Harry voltou os olhos para a mesa da Sonserina. A professora McGonagal ainda discursava, todos os alunos olhavam em sua direção, com exceção de três. Goyle, Pansy e Crabble olhavam fixamente para Hermione. Seus rostos hostis, vidrados na garota, denotavam mais do que implicância ou rancor. Seus olhos poderiam penetrar a carne de Hermione se assim quisessem. Não havia dúvida na intenção que os traços das bocas apertadas demonstravam. Vingança! Hermione não estaria em segurança neste ano ou nos próximos.

Harry apertou a mão de Hermione mais forte, chegando a machucá-la.

-- Harry... – Hermione sussurrou assustada. – Você está me machucando!

Harry voltou o rosto para amiga lentamente e quando seus olhos se encontraram ela pôde ver o que ele pensava. Sua expressão então tornou-se séria e ela não precisou desviar os olhos para saber que certos alunos da Sonserina a observavam. Harry afrouxou o aperto, mas não soltou a mão de Hermione. Seus olhos olhavam diretamente os de Hermione e ele pôde perceber o quão perigosa era a situação. A gravidade da expressão de Hermione o fez perceber que o perigo era real. Seus inimigos eram poderosos! Estavam no sétimo ano, já sabiam muito sobre magia e um feitiço simples, feito mentalmente, deixaria poucos rastros e poderia ter conseqüências monstruosas.

Harry não sabia o que as emoções do seu peito lhe diziam, mas a reles possibilidade de ver Mione machucada o fez prender a respiração. Se pudesse parar o tempo... Ficar ali, olhando para ela para sempre, impedindo-a de sofrer com o que quer que fosse... Harry não fez nenhum esforço para desviar o olhar. Ficou admirando Hermione, seu olhar cativo no dela, em um deleite quase sublime pelo simples fato de ela não desviar os olhos também.

Da mesa da Lufa-lufa Luna podia ver os dois amigos se encarando. Hermione com a cabeça levemente inclinada para trás e Harry com o rosto abaixado olhando a amiga diretamente no rosto. Ambas as expressões sérias e entregues uma para a outra. Pareciam conversar sem palavras. Se entendiam perfeitamente. O contraste dos ombros largos de Harry e de sua altura com o delicado corpo de Hermione, deixavam a cena romanticamente vitoriana. Luna suspirou! Há algo mais encantador que o amor nascido de uma amizade?

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