Quase



Harry abriu os olhos, assustado. Tinha quase certeza de que ouvira uma explosão. Ficou em silêncio até os batimentos cardíacos diminuírem. Nos segundos que se seguiram, Harry pôde lembrar onde estava. Observou a madeiras do teto e das pilastras de sua cama, sentiu o lençol macio sobre seu corpo e identificou o ronco sonoro de Rony na cama ao lado.

-- Talvez eu tenha sonhado. – o garoto murmurou baixinho.

Seus olhos pesavam novamente quando se assustou com outra explosão, um pouco mais fraca desta vez. Harry se levantou em um salto, colocou os óculos e olhou em volta. Rony ainda roncava e permitia que um fio de baba atingisse o travesseiro. Harry olhou para a janela e calculou que o sol havia nascido há cerca de uma hora. Ele colocou o roupão e saiu do quarto sem fazer barulho. As escadarias e salões estavam silenciosos e nem os sussurros dos fantasmas, normalmente muito comuns, eram audíveis. Devia ser sete da manhã! Rapidamente Harry se dirigiu para fora do castelo. A brisa da manhã tomou-lhe o rosto e ele acordou por completo. Agora ele podia ver e raciocinar melhor...

Uma nova explosão aconteceu e Harry correu na direção do som. Chegando perto de uma elevação ele viu uma silhueta conhecida. Lá estava o corpo de Hermione, envolto em um roupão amarelo claro, de costas para ele, sentada com as mãos segurando os joelhos e o cabelo dançando com a brisa. Por um instante Harry ficou eufórico. Logo em seguida parou. Porquê aquela reação? Porque estar tão feliz de ver a amiga de quem se despediu ontem à noite antes de dormir? Uma nova explosão pegou Harry de surpresa e o fez dar um passo para trás. Isso deve ter chamado a atenção de Hermione pois ela se virou assustada e viu Harry à alguns metros. Constatado a identidade do amigo ela lhe sorriu. Harry não esperou pelo convite e em poucos segundos ele estava sentado ao lado da melhor amiga.

-- Por que está aqui tão cedo? – Harry perguntou

-- Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta... – Hermione sorriu

Antes que Harry respondesse uma nova explosão surgiu, desta vez acompanhada de um clarão e Harry desviou o olhar para o outro lado. Bem à frente deles, no final do gramado, ele viu Pâmela e Olívio com varinhas em punho.

-- O que está acontecendo? – Harry ficou intrigado.

-- Olívio está ensinando duelo para Pâmela. Ela parou os estudos antes de completar quinze anos, precisa ser atualizada. Seus avós e Olívio se revezarão nas aulas e eu vou ajudar-lhe em poções até as nossas aulas começarem...

-- Por isso está aqui? – Harry voltou a encará-la.

-- Não! Vou ajudá-la à tarde. – depois de um momento de silêncio ela suspirou – Só não consegui dormir até mais tarde, foi isso.

Harry esquadrinhou o rosto da amiga com cuidado. A conhecia muito bem para saber que aquilo não era inteiramente verdade. Algo a preocupava... Não saberia dizer o quê, mas achou que ela não lhe diria se perguntasse, não agora.

Hermione notou o silêncio do amigo e virou o rosto para encará-lo.

-- O que foi?

-- Não sei... – ele disse e era a pura verdade.

-- Você pode ajudá-la também, sabia? Viria a calhar se ela soubesse como conjurar um patrono e mesmo voar em uma vassoura. Não há ninguém melhor para ensinar-lhe isso do que você. – ela sorriu e o empurrou de leve com o ombro.

Harry gostou do contato. Talvez por isso tenha respondido com o mesmo movimento. Ela ainda sorria para ele, olhando-o nos olhos. Menos assustada ou preocupada do que há minutos atrás. Gostava dos olhos dela, ele pensou, sempre tão expressivos e intensos. Sua mente se perdeu contemplando-os. Poderia ter passado um século que ele não se incomodaria de ficar ali, analisando os olhos e o sorriso da amiga. Mas algo estranho começou a acontecer. O sorriso de Hermione foi desaparecendo e assim como ele, sua expressão tornou-se mais grave. Não sabia se era ele, ela ou ambos, mas seus corpos estavam se aproximando e suas visões fixavam-se na boca um do outro. Devagar, suas pálpebras começaram a pesar e Harry soube que estava preste a beijar sua melhor amiga. Já havia passado por momentos parecidos, mas aquele era especial, ele contava os segundos para sentir a maciez dos lábios de Hermione. Estava eufórico e ao mesmo tempo aterrorizado. Podia sentir o leve cheiro do perfume de Hermione invadir suas narinas, podia prever as vibrações de ambos os corpos, seria a qualquer momento agora...

-- Ahh!!!!!!!!

O grito vindo do outro lado de onde estavam invadiu a esfera que haviam criado em torno de si naquele momento tão íntimo. Hermione e Harry moveram os rostos para o casal que duelava e observaram Pâmela caída no chão com Olívio aos seus pés examinando-a preocupado.

Harry se ergueu e ajudou Hermione a se levantar. O toque de suas mãos foi como um despertar angustiante. Ele quase beijara a melhor amiga!!! Por poucos segundos os dois se olharam entendendo a gravidade da situação e, sem mais delongas, ao mesmo tempo, desviaram o olhar e correram para Pâmela.

-- Eu disse para ficar atenta! – ouviram Olívio dizer quando chegaram perto. – O que estava fazendo...

-- Atrapalhando... – Pâmela respondeu parecendo extremamente chateada consigo mesma.

-- Do quê... – Olívio parou a pergunta na metade. Conhecia Pâmela e leu em seus olhos o que ocorrera, só não podia dizer agora.

-- Você está bem? – Hermione perguntou temerosa.

-- Estou bem! Foi só um susto. Desculpe se... se os preocupei.

-- Talvez seja melhor voltarmos ao castelo. – Olívio disse – Podemos tomar um café...

-- Certo! – Hermione e Harry se manifestaram ao mesmo tempo, e isso os fez se calar rapidamente.

Os dois casais de amigos seguiram em silêncio para o castelo e entraram bem à tempo de verem o Sr. E a Sra. Weasley surgirem no corredor de entrada.

-- Aí estão vocês! – Molly disse exasperada. – Queria muito ver você, Pâmela! E Harry e Hermione também, é claro! Onde está o meu Rony e Gina.

-- Estou aqui, mamãe! – A voz de Gina soou no corredor e logo seu rosto sardento surgiu ao lado deles. – Mas aposto que Rony está roncando no dormitório. – continuou com deboche.

-- Ah, então terá que chamá-lo, Arthur. – Molly disse empurrando o marido pelo ombro. – E você e Hermione precisam vir comigo, Harry! Tenho que fazer preparativos para a estada de Pâmela aqui antes do café da manhã.

-- Então é melhor que Gina ou Pâmela a ajude, Sra. Weasley. – Hermione disse apressadamente – Acho melhor alguém avisar a cozinha para preparar o café. Em breve o Prof. Dumbleodore e a Profra. McGonagal irão levantar...

Sem esperar resposta, Hermione saiu e andou rapidamente para o fim do corredor, em poucos segundos sumiu em uma curva. Harry a viu se afastar e teve um aperto no coração. Ela o estava evitando, não havia dúvidas!






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