Dentro do trem



Capítulo 2
Dentro do trem.

Nossa, Diário! Francamente! Se eu soubesse como ia ser meu dia hoje, com certeza nem tinha levantado da cama! Eu pensei que meu dia de ontem tivesse sido ruim, mas ele não chega nem perto do dia de hoje...
Ontem à noite eu deitei em minha cama e tentei dormir. Só tentei mesmo, porque conseguir mesmo que é bom nada... O bilhete do inútil do Potter não saiu da cabeça! Não é um pesadelo? Flashes horríveis passavam em minha mente... A coruja chegando em casa, Petúnia pegando o bilhete, o Potter bagunçando o cabelo (um gesto horrível, diga-se de passagem), as palavras horríveis que ele escreveu, ele me chamando para sair, ele sorrindo daquele jeito...
Eca!! Melhor eu parar por aqui, porque se eu continuar relatando o que a minha cabeça maluca ficou imaginando, sou capaz de vomitar nas suas páginas!
Como eu fui dormir muito tarde, coloquei o relógio para despertar cedo, afinal eu teria que embarcar no expresso de Hogwarts às 11 horas da manhã. Sabe o que aconteceu?
Assim que eu abri meus olhos hoje, olhei para o lado e vi que o relógio que fica do lado da cama marcava dez horas da manhã! Fiquei furiosa. Meu cérebro travou e eu só consegui pensar no nome da minha irmãzinha adorável. Sem pensar uma segunda vez, berrei o nome dela e desci a escada furiosa com o relógio na mão.
“Por que você fez isso?” – Minha cara devia estar ótima. Estava de pijama, meu cabelo tava uma bagunça total e eu estava irada. E sabe o que ela fez? NADA! Olhou-me com a cara mais deslavada do mundo e disse um “bom dia” como se nada tivesse acontecido.
Parei, respirei fundo e contei até três. Discutir com Petúnia não me adiantaria nada, só me faria perder mais tempo. Sem pensar uma segunda vez, virei as costas para ela e subi em direção ao banheiro. Tomei um banho, penteei o cabelo de qualquer jeito, coloquei uma roupa, olhei no relógio e... 10h50min.
Eu só tinha dez minutos. Peguei minhas malas, fechei meus olhos e concentrei todas as minhas forças no meu destino: Plataforma nove e meia. Aparatei. No segundo seguinte eu estava numa estação olhando para um trem vermelho lotado de bruxos. Tinha conseguido!
É claro que eu já havia passado no teste de aparatação, mas era a primeira vez que eu tentava fazer isso sem um instrutor.
Passei a mão instintivamente no cabelo e fui em direção a porta do trem mais próxima. Já estava quase chegando lá quando o meu distintivo de monitora-chefe caiu de uma das malas.
Deixei o malão e a gaiola da coruja no chão e me abaixei para pega-lo. Como se azar fosse pouco, quando eu me levantei, adivinha quem eu vi? Isso mesmo! O Potter. Ele me olhou daquele jeito sedutor que ele olha para qualquer ser que use saia, abriu um sorriso enorme e começou a falar comigo, como se fossemos amigos íntimos.
“Como foram suas férias, Lily?”
“É Evans para você, Potter!”
“Recebeu meu bilhete, Lily?” – continuou ele ignorando totalmente o meu comentário e fazendo questão de acentuar o “Lily”.
“Sai da minha frente, Potter.”
“Sabia que você iria adorar!” – exclamou sorrindo.
Minha paciência já estava acabando. Acordei atrasada e ainda teria que aturar o Potter antes mesmo de chegar à Hogwarts. Era muito azar para uma pessoa só.
Obstinada a não fazer um escândalo no primeiro dia de aula, resolvi ignorar o comentário dele, revirei os olhos e repeti bem devagar para ver se aquele ser acefálico me compreendia.
“SAI-DA-FRENTE!”
“Se não o que, Lily?”
Fechei os olhos e repeti:
“É EVANS para você”
“Você vai ser sempre Lily para mim”
Isso já era demais! Tirei minha varinha do bolso e apontei para ele. Para minha completa irritação, ele continuou imóvel, sorrindo.
“A Srta. Monitora- Chefe não vai querer se meter em confusões no primeiro dia de aula, não é?”
Bom... Pelo menos ele não me chamou de Lily... Antes, porém, que eu pudesse pensar em algo para responder para ele, uma sextanista da corvinal passou por ali dizendo que era melhor agente subir porque faltavam só três minutos para as onze horas.
Convencido pelas palavras da garota, Potter olhou para mim e disse um “nos vemos depois, Lily.”...Francamente! Qual parte do “é Evans para você” será que ele não entendeu?
Irada com o Potter, entrei no trem e fui ver se achava a Amanda. Ela estava sentada no último vagão, na poltrona mais próxima da janela, como em todos os outros anos anteriores. Usava um jeans trouxa cor de laranja, uma blusa roxo-berrante e um tênis verde... Ela é tão... Singular... Nem sei como o pessoal consegue acha-la esquisita!!! (risos)
“Eu acho que ele gosta de você” Ela foi dizendo assim, logo de cara, como se já estivéssemos absortas numa conversa de horas e horas.
“Eu costumava a dizer ‘oi’ para minhas amigas que eu não vejo há um mês...” – Ok. Eu estava sendo grossa, mas poxa vida! Eu estava tendo um dia péssimo!
“Ai, Lílian!” ela fez um gesto com a mão indicando para que eu me sentasse “isso é desnecessário! ‘Oi’ eu te digo toda hora...”
Minha cara devia estar horrível mesmo porque foi só eu olhar para ela com uma expressão um pouco mais brava que ela já foi logo continuando:
“Mas se você faz tanta questão, oi!”
Dei um pequeno sorriso. Amanda era incrível! Antes que eu pudesse pensar algo além disso, ela continuou.
“Eu acho que ele gosta de você”
“ahn?” murmurei com uma cara de visível incompreensão.
“ele... O Potter!” Ela completou, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
“Você só pode estar... Maluca!”
“Por que? O Potter também é gente!”
“Mas...” – Pode até parecer estranho, mas essa fala da Amanda foi como uma pancada na minha cabeça... “O Potter também é gente”... Eu acho que nunca tinha pensado isso...
“Não importa. Ele não é capaz de gostar de ninguém!”, respondi ainda um pouco atônita com a nova informação.
“De você ele gosta...” Continuou ela com seu ar sonhador típico.
“Não!” Falei quase gritando, mais para mim mesma do que para Amanda. “Ele só quer que eu seja mais uma das conquistas dele... Mais um troféu”.
“Como você pode saber?” “Você nunca conversou com ele direito!”. – Esse jeito da Amanda já estava me deixando irritada... Por que raios ela queria falar sobre o Potter? Fiz uma cara de tremendo desgosto, e respondi com um ar de final de conversa.
“Olha, Amanda” “Eu não quero falar sobre o Potter!”
O bom entre Amanda e eu é que nós realmente nos entendemos. Ela me conhece bem o suficiente para saber o que eu gosto e o que penso.
“Tudo bem... se você prefere assim... Mas olha... Eu se fosse você não seria tão rude com o pobre rapaz!”
“...Pobre rapaz?” – Repeti. Desde quando Potter, o ser mais tonto, infantil e idiota da escola era um “pobre rapaz”? Nós não devíamos estar falando do mesmo Potter...
Amanda parou um pouco para pensar. Já ia começando a falar quando eu inventei uma desculpa, dizendo que teria que monitorar os vagões. Se eu conhecia bem a Amanda, e pode crer que eu conheço Diário, ela ia ficar falando sobre o Potter durante horas. E tudo que eu definitivamente não precisava era falar sobre aquela coisa.
Saí daquele último vagão, onde se encontrava Amanda, para monitorar os outros... Francamente... Ter que ficar mandando os pivetinhos do primeiro ano se comportar era uma tarefa tão... Patética!
“Desculpa...” – Murmurei baixinho para uma pessoa que eu havia esbarrado em um dos corredores dos vagões. Acredita, Diário, que eu estava pensando no que a Amanda me disse? “Eu se fosse você não seria tão rude com o pobre rapaz”.
“Tudo bem...” – respondeu uma voz conhecida e extremamente simpática. – “Ah, é você, Evans!” “Como vai?”.
Era o Remo Lupin. Ele estava magro, pálido, com alguns machucados pelo corpo, alguns lugares da cabeça não tinham cabelo, e sob a luz do sol parecia mais branco ainda.
“Peguei uma gripe forte no verão...” – Explicou ele... Será que eu tinha sido tão obvia?
“Ah...” – murmurei simplesmente– “Você está indo fazer a ronda?”.
“Para falar a verdade, ainda não” “Eu ia procurar o Thiago...” – Fiz uma careta ao ouvir aquele nome que tenho certeza que Lupin notou, pois deu um sorrisinho divertido. “Você sabe como ele é... Já sumiu”. – Continuou ele, ainda simpaticamente.
Se tinha uma coisa que eu não entendia era como Lupin, um garoto inteligente, responsável e monitor, andava com tipos como Pettigrew, Potter e Black.
“Bom... Então ta, Lupin” “Não quero te atrapalhar”.
“Nos vemos em breve, Evans...” – Disse ele com um tom de adeus na voz.
Ele deu o primeiro passo e já estava quase indo embora quando um garoto de cabelos negros apontou no outro extremo do vagão: Potter.
Ele gritou o nome do amigo, e eu juro que até tentei me virar de costas e sair de fininho, mas ele foi mais rápido. Ai diário! Só mais um minutinho! Só mais um minutinho e eu teria saído dali despercebida e não precisaria falar com aquele idiota... Ai... O que será que eu fiz para merecer isso?
“Lily... Que prazer reencontra-la!” – Exclamou ele abrindo um sorriso desprezível que ia de orelha à orelha quando reparou que eu estava ali.
Por que eu, diário? Por que eu? Falar com Potter uma vez num dia já não era o bastante?
Parei, olhei para ele e revirei os olhos: não podia estar mais claro que eu estava odiando o encontro.
“É Evans, Potter.” “E-V-A-N-S”.
“Você sabia que você fica linda quando fica brava, Lily?”
“Para você é EVANS!” – Ai que raiva, Diário! Eu não mereço o Potter!
Até pensei em virar de costas e deixa-lo falando sozinho, mas por uma estranha razão, a voz de Amanda ecoou em minha mente. “Eu se fosse você não seria tão rude com o pobre rapaz”.
Eu deveria estar ficando maluca. Iria continuar a conversar com o Potter...
“Ok, Potter.” “O que você quer?”
“Que você aceite sair comigo”
“Hm... Olha Potter, eu estou num ótimo dia e não quero começar o ano com brigas, então vou fingir que não escutei o que você disse”. – comentei sarcasticamente.
“Eu preferia sinceramente que você me desse um beijo”
Ta vendo, Diário? Eu tentei ser legal com ele! Custava ele conversar sobre um assunto normal?Eu nem queria muito... Um “como vai você” já estava de bom tamanho...
Virei de costas e comecei a andar, já estava quase saindo do vagão quando lembrei de uma coisa.
“Hey, Potter!” – Chamei. – “Vem cá!”
Ele olhou para Remo de uma forma significante, sorriu e chegou perto de mim.
“Eu sabia que você ia mudar de idéia” – Aquela voz divertida, o sorriso bobo e o olhar penetrante dele me fizeram esquecer o que eu realmente queria falar com ele e ter uma idéia...
“E você não é nenhum pouquinho convencido...”
Parece que Potter realmente estava achando que eu queria um beijo dele, ou qualquer coisa do gênero... Foi só eu dizer essas palavras secas que ele fechou a cara e perguntou o que eu queria.
Sorri.
Black e Lupin estavam passando por perto... Era uma ótima hora para fazer uma “brincadeirinha”...
“Um beijo para começar, já estaria bom.” – respondi sorrindo.
Black e Lupin pararam perto de nós e olharam para mim com uma expressão de profunda descrença e depois lançaram ao Tiago um olhar encorajador.
A cara do Potter foi impagável, Diário! Parecia até uma criancinha em dia de natal!
“Sério?” – Ele perguntou com um sorriso bobo no rosto.
Olhei bem nos olhos dele e sorri.
“Não!!!” – Disse achando muita graça... Ele havia acreditado... “Eu ainda não estou maluca pra querer te beijar!”
As reações foram bem diversas: Lupin olhou para o Potter com uma expressão de quem lamenta, Black começou a gargalhar e Potter me olhou como se eu fosse um ser de outro mundo.
“Você não é a Lily!” – Ele exclamou depois de digerir o acontecimento, com um tom de voz nada típico.
“Não?” – Perguntei ironicamente – “E posso saber por quê?”.
“A Lily é... séria!”. “A minha Lily nunca fez brincadeiras...”
“Sua Lily?” – Perguntei erguendo uma sobrancelha, ainda com um ar divertido. Nem um milhão de galeões poderia tirar meu humor depois de ver a cara do Potter achando que eu o beijaria.
“Pelo menos você não me corrigiu...” – concluiu ele como se isso fosse bom.
“Não fique achando que vai ser sempre assim...”. “Eu estou muito bem humorada no momento para te corrigir”.
Um silêncio bem constrangedor seguiu as minhas falas. Olhei pela janela: O sol estava sumindo aos poucos e nuvens negras encobriam o céu, sinal de que pegaríamos chuva durante a viagem.
“A companhia de vocês está muito agradável” – começou Lupin olhando para todos nós com um sorriso simpático – “Foi ótimo ver a cara de bobo do Tiago, mas infelizmente, eu tenho que fazer a ronda... Monitorar os vagões, sabem como é...”.
Sabe, Diário? Foi até bom que o Lupin tivesse lembrado da ronda... Eu também era monitora... Era o meu dever fazer isso. Olhei para ele e pedi para que me esperasse, pois ia junto.
Antes de ir, porém, aproximei-me do Potter e lhe dei um beijo de leve na bochecha.
Ele me olhou como se tivesse mil dúvidas e simplesmente disse:
“Essa definitivamente não é a Lily que eu conheço”.
Atravessei o vagão com um Lupin sorridente ao meu lado. Foi uma situação até divertida... Ele não parava de ficar me olhando pelo canto do olho, como se duvidasse que eu estivesse e minha sã consciência.
“Posso te fazer uma pergunta?” Ele perguntou quando já estávamos começando a monitorar o terceiro vagão.
“Claro” Respondi simpaticamente.
“O que aconteceu com aquela Lílian que xingava, gritava, azarava e não podia nem sequer olhar nos olhos do Tiago?”
“Hm...” – Parei e pensei – “Ela está descansando um pouco...”.
Lupin me olhou, sorriu e eu retribuí.
Olhei para a janela mais próxima. Começava a chover. O tempo estava escuro e todos os vagões se iluminaram magicamente.
Minhas pernas já começavam a doer de tanto andar, e eu sem querer soltei um pequeno muxoxo de insatisfação.
“Lílian... Vai descansar. Eu termino isso sozinho” – Falou Lupin, pois ouvira meu murmúrio... Sabe, as vezes eu acho o Lupin meio estranho... Ele tem uma audição ótima e um olfato super apurado...
“Ah, não, Lupin...” “Eu te ajudo...” Comecei a dizer, mas tenho certeza que minha voz soou falsa.
“Evans, não precisa se preocupar, eu consigo terminar isso”. Lupin retrucou sorrindo para mim.
“Ok, então...”. Não adiantava negar. Eu estava péssima e precisava descansar.
Atravessei os vagões à procura daquele em que Amanda e eu nos sentávamos, ainda revendo mentalmente a cena com o Potter...
Num certo ponto da minha caminhada, começou a esfriar. Minhas mãos estavam geladas... Coloquei-as no bolso da jaqueta que eu usava e senti algo estranho... Um pedaço de pergaminho.
Peguei o bilhete e o aproximei de meu rosto. Uma névoa branca começava a pairar sobre o trem e ficava muito difícil ler. Com um esforço tremendo consegui identificar o bilhete que o Potter me mandara no dia anterior.
Uma onda de calor percorreu meu corpo, mas não era porque o tempo estava esquentando. Era pura raiva!
Tinha ficado tão entretida em zoar com a cara do Potter que me esqueci do maldito bilhete. Parei no meio do corredor e li outra vez as palavras ali escritas...
Meu corpo foi tomado por um ódio tão grande que eu esqueci o frio, esqueci a dor nas pernas e se eu não tivesse esbarrado com o professor Slughorn, acho que teria matado o Potter...
“Srta. Evans?” Questionou ele, como se não me reconhecesse.
“Sim... Er... Professor” Respondi ainda nervosa quando percebi de quem se tratava. Será que ele não podia sair da minha frente e me deixar matar o Potter só um pouquinho?
“Para onde uma Srta tão delicada como você estava indo tão... eufórica assim?” – Perguntou ele com seu sorrisinho infantil e ingênuo. Esse professor é tão... Estranho! Ele fica agradando um grupinho seleto, que pensa que vai poder garantir-lhe bons contatos ou honrarias futuras...
“Não importa, não é mesmo?” Continuou ele após ver meu olhar de reprovação. Será que ele não podia ir embora logo? Eu ainda tinha que fazer um bilhete descer pela garganta do Potter!
“Bom, Lílian. Eu vou ser breve. Vai haver uma pequena reuniãozinha naquele antepenúltimo vagão ali, se a Srta puder comparecer....” – continuou ele com um ar receoso, como se estivesse pisando em um campo minado.
Revirei os olhos e bufei. Odiava ser antipática com professores, mas eu precisava sair dali o mais rápido possível. “Tudo bem... Se puder, eu vou” – falei finalizando a conversa e me desviando dele sem sequer me despedir.
Onde andaria o Potter?
Parei no primeiro vagão que vi e perguntei para um grupinho de meninas fúteis se alguma delas tinha visto o Potter.
“Sabia que mais cedo ou mais tarde ela ia aceitar sair com ele” – murmurou uma das meninas para as outras após me responder que não. O que eu estava fazendo? Aposto que amanhã cedo toda Hogwarts vai dizer que estou namorando o Potter... Mas quer saber? O que me importa a opinião delas?
Continuei à procura do idiota do Potter durante algum tempo, entretanto, achei melhor não perguntar para mais ninguém, senão logo, logo iriam dizer que o Potter e eu já estávamos com data marcada para o casamento.
Ouvi um barulho de passos se aproximando e ouvi uma voz conhecida me chamar:
“Lílian”. “Que bom que eu te encontrei!”
Virei-me para trás. Era Amanda.
Virei os olhos e olhei para ela.
“Ainda ta de mau humor, é?”
“Se quer mesmo saber, estou!” Respondi sem me importar se estava sendo ou não grossa. Eu só queria achar o Potter.
“Estranho...” Comentou ela pensativa “Acabei de encontrar o Sirius e ele disse que você estava contente”
“Sirius...?” “Sirius Black?” Perguntei. Amanda concordou com a cabeça. “Desde quando você o chama pelo primeiro nome?”
As bochechas de Amanda ficaram escarlate e ela começou a tropeçar nas próprias palavras.
“Er... É... Que... Hum...” “Ah, Lílian!” “Eu não vim aqui falar do Black”
Ela fez questão de acentuar o sobrenome do Maroto.
Olhei para ela desconfiada... Aí tem coisa, Diário. Escreva o que eu digo!
“Então sobre o que você veio falar?” “Fala logo que eu ainda tenho que matar o Potter!”
“Ahn?” Ela me olhou assustada. “Você vai matar o Potter?”
“Depois te explico, Amanda. Agora fala logo!!” Eu já estava começando a ficar impaciente...
“Ah... Sim...” Amanda falou como se estivesse recordando algo que há muito esquecera.
“Então...?” Retruquei impaciente. Eu não tinha tempo para ficar esperando a Amanda se lembrar do que ela tinha a dizer.
“Ah!” “Lembrei” comentou ela com um sorriso distante.
“E o que...?”
“Você foi fazer a ronda e me deixou lá sozinha” Falou Amy bem devagar.
“continua!” Falei quase gritando após uma pausa dela.
“Ah, claro!” retrucou ela como se estivesse voltando de um devaneio. “Você não reparou...?”
Por que ela não ia direto ao ponto? Eu já estava prestes a deixa-la falando sozinha quando lembrei de quando brigamos sério pela primeira e única vez.

[flash back]
“Amanda!” “Você não vai assim pra Hogsmead, vai?”
“Vou, por quê?”
“Olha para você!”
“O que tem?”
“Olha pros seus brincos... São Horríveis!” “A sua roupa... Parece feita de néon!”
“feita de que..?” Perguntou ela ingênua.
“Ah... Esquece”
“O que foi, Lily?”
Parei e revirei os olhos para ela do jeito que só eu sei fazer.
“É por isso que ninguém gosta de você!” Desabafei “Você é muito... desligada!” “Sempre se veste de uma forma.... Ridícula!”
Um segundo após ter dito essas palavras, fechei meus olhos e fiz uma expressão de nojo... Nojo de mim mesma... Estava julgando a Amanda pela roupa que estava usando... Do mesmo modo que faziam aquelas garotas idiotas...
Se eu já me sentia mal, piorei quando abri os olhos e vi o rosto de Amanda. As feições ingênuas transformaram-se em tristes; Os olhos se encheram de lágrimas e ela me olhou com profunda melancolia.
“Você... Não...” Amanda parou e limpou uma lágrima que lhe escorria pela face “Eu pensei que você fosse diferente!” Falou ela quase gritando. As lágrimas escorriam e Amanda já não mais se importava em limpa-las.
“Eu pensei que você fosse minha... Amiga!”
Naquele instante me senti o pior dos seres humanos. O mais cruel dos terráqueos... Pior até mesmo do que o Potter. Vislumbrei o rosto dela por uma fração de segundos e Amanda virou-se de costas correndo em direção ao castelo.
“Amy...” Murmurei indo de encontro à ela, mas ela me ignorou.
[fim do flash back]

“...Reparei em que?” Perguntei mais pacientemente. Tudo que eu não precisava era brigar com a Amy outra vez... Aquela semana em que não nos falamos foi a pior de toda minha vida escolar.
“Nas minhas vestes e nas de todo mundo, ué!”
Era verdade... Todo mundo já estava com o Uniforme.
“Mas... Já estamos chegando?”
“Já... Você não reparou?”
“Não...” Murmurei simplesmente. Como eu não havia reparado que já era hora de me vestir? Culpa do Potter! Fiquei tão distraída em procurá-lo que me esqueci do tempo.
“Você está mais desligada que eu!” Comentou Amanda contente.
Segui-a até nosso vagão, peguei minha mala e vesti meu uniforme.
Até pensei em procurar Potter novamente, mas quando eu ia saindo do vagão uma quartanista me entregou um bilhete.

“Cara Lílian,
Dentro de cinco minutos estaremos nos reunindo naquele vagão que te mostrei.
Iremos discutir assuntos importantes para o ano letivo em poções, e creio que você, como monitora-chefe não vá querer ser prejudicada.
Atenciosamente,
Professor H. Slughorn”

Fiquei meio confusa... Procurava Potter e o matava ou ia ao encontro do Professor?
Se ele realmente fosse discutir “assuntos importantes para o ano letivo em poções” eu não poderia faltar... O sétimo ano era muito importante... As matérias eram mais complicadas...
Pensei um pouco e decidi ir ao encontro do Professor, mas eu teria feito melhor se não tivesse ido, Diário!
Era tudo papinho do Slug. Ele queria mesmo era reunir o pessoalzinho do seu clube... Mas tenho que admitir que ele foi esperto... Pegou meu ponto fraco: Os estudos.
A reunião foi a mesma coisa chata de sempre “Que carreiras pretendem seguir?” “Eu posso ajuda-los...” “tenho ótimos contatos no ministério!” “Nada me deixaria mais orgulhoso do que vê-los bem numa carreira profissional”
Sinceramente?
Tive uma vontade enorme de estuporá-lo ou confundi-lo para sair de lá... Mas como eu não podia fazer isso, mantive-me sentada com um sorrisinho falso durante todo tempo.Vez ou outra eu colocava a mão no bolso do sobretudo e sentia o bilhete que Potter me mandara durante o verão e minha vontade de mata-lo aumentava mais...

“Bom, crianças...” “Já está na hora de desembarcarmos” “Aguardo vocês na próxima reunião”.

Francamente... se o trem demorasse só mais um pouquinho pra chegar à Hogsmead eu acho que arranjaria uma desculpa qualquer para sair dali... Tava ficando insuportável!

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