Sangue Azul



Capítulo 3 - Sangue Azul







- Céus!

Remo suspirou ao ver o estado em que o loft se encontrava naquela manhã. Metades de quaisquer coisas se mostravam visíveis, enquanto Harry e Andrômeda pareciam estar sumindo debaixo da poeira. Aos poucos o bruxo foi reconstruindo em sua mente o apartamento em que Sirius morara, sem conseguir encaixar uma coisa ou outra daquelas que estavam a sua frente.

A janela da sala dava para os fundos do prédio e vivia incomodamente fechada, por mais que todos os visitantes de Sirius reclamassem de seu hábito. Perto dela um banquinho de três pernas e uma luneta, algo estranho, pois o amigo nunca fora um grande fã de Astronomia.

- Queria poder ter feito um café-da-manhã decente, - Andrômeda comentava sem parar o serviço - mas parece não haver sobrado uma única panela em bom estado. O que Sirius fazia com elas quando era jovem?

Exausto do trabalho pesado e da noite mal-dormida, Harry deixou-se cair no chão. Olhou de relance para Remo, os braços apoiados no joelhos e as mãos segurando o espanador.

- Vocês deviam respirar um pouco de ar puro... - Remo comentou e começou a andar até a janela.

- NÃO ABRA - Andrômeda gritou, com um acento de desespero na voz, e parou o que estava fazendo.

O ex-professor respirava fundo, boquiaberto, como uma criança pega em flagrante. Queria se desculpar. Mas se desculpar por quê? Harry esboçava o mesmo ar interrogativo: todas as outras janelas estavam abertas, por que não aquela?

- Por favor, não - Andrômeda relaxou um pouco a voz, mas continuava tensa. - Não queremos visitas inoportunas... - ela disse numa voz quase morta e voltou a seu trabalho, como se a questão estivesse resolvida.

Harry e Remo se entreolharam intrigados e as mãos do homem definitivamente largaram o puxador.

- Leve Harry para dar uma volta, Remo - Andrômeda sugeriu sem esmorecer nos afazeres.

- Achei que eu não pudesse sair daqui de dentro - Harry questionou-a ainda mais espantado.

- E não pode - ela respondeu sem olhar para qualquer um dos dois. - Leve-o para dar uma volta, Remo.

O bruxo demorou ainda alguns segundos para se mover, analisando as linhas do perfil de Andrômeda. O nariz já sentia os efeitos da gravidade e perto dos olhos escuros concentravam-se rugas ainda minúsculas, agravadas mais pelas preocupações de ser mãe de uma auror que pela idade. Ele sempre achara que o rosto de Andrômeda era ambíguo como a dona: se às vezes demonstrava segurança incondicional, ao mesmo tempo era a face do medo do mundo. Ainda jovem, ouvira Sirius sonhar a mulher que a prima viria a ser. Mas Andrômeda nunca seria a mulher perfeita para ele, pela simples razão de que ela sabia temer.

- Vamos, Harry.

O menino se levantou um tanto enraivecido.

- Quer saber, não vou. Não vou antes que me explique porque não podemos abrir aquela janela! - ele encarou Andrômeda Tonks, a fúria esvaindo por todos os poros.

- Vamos, Harry - Remo apertou sua mão firmemente, dizendo com o olhar que poderia lhe explicar tudo no caminho.

Harry não se importou:

- Vamos, diga, o que afinal estamos fazendo aqui?

A prepotência do garoto despertara os ânimos da bruxa.

- Eu não pedi a sua ajuda para a minha busca, Harry. Eu apenas lhe propus abandonar aquela casa, pois penso que, assim como a mim, ela não lhe proporciona boas lembranças. Mas se quiser voltar para o Largo Grimmauld, podemos cuidar disso nesse exato instante.

Harry engoliu a raiva que aumentava indigestamente.

- Me desculpe - baixou a cabeça. - Não quero ir embora.

- Não pense que está tratando com qualquer pessoa, Harry - ela continuou, a voz bastante áspera. - Não se esqueça de que eu também sou uma Black.

Remo pôs a mão no ombro do rapazinho e puxou-o para a porta da rua. Ele mexera em algum ponto delicado para Andrômeda e ela estava descontando a frustração em Harry. Tirá-lo dali realmente era uma boa idéia.

O garoto não ofereceu resistência deixou-se conduzir pela sala empoeirada até a porta, sem olhar para trás. Não sabia se estava irado ou envergonhado, só sabia que queria sair dali. O rosto de Andrômeda nunca se parecera tanto com o de Bellatrix.

Andrômeda deixou os olhos tristes seguirem os dois bruxos e tão logo sentiu que já estavam distantes foi até a grande janela. Como o resto da casa, ainda estava coberta de poeira. Ela deixou que o dedo indicador deslizasse sobre o pó e inconscientemente escreveu seu sobrenome no vidro. Seu sobrenome? Não, ela havia abdicado dele há muito tempo.

Fechou os olhos pensando em tudo o que deixara pra trás. Enfim, um fogo lhe invadiu as veias. Ela arriscaria tudo, mas não perderia aquela chance. As mão moveram-se rapidamente para os puxadores e em menos de um segundo a janela estava aberta:

- Venha, Bella! Não se demore... por favor...








Fora do loft, Harry e Lupin caminhavam em silêncio pela praça mal-cuidada a menos de duas quadras do local onde estavam se escondendo há apenas dois dias. O garoto finalmente soltou as palavras.

- Ela... ela parecia a... Bellatrix. - a voz do garoto murchou.

Foi a vez de Lupin demorar para responder. Tinha que escolher as palavras com cuidado. Responder que as duas sempre foram muito parecidas de nada iria ajudar naquele momento, apenas aumentariam a ojeriza que Harry estava começando a ter de Andrômeda.

- Eu não diria isso... bem... Andrômeda foi sincera com você. Ela é uma Black. Todos tem esse lado... hum... hostil.

- Sirius não era assim - Harry retrucou no ato.

- Sirius não era assim? - Remo sorriu, surpreso. - Você já se esqueceu das circunstâncias em que o conheceu, Harry?

- Ele ficou doze anos em Azkaban injustamente! Qualquer um iria querer matar o causador de um absurdo desses.

- Muito bem. Então foi culpa de Azkaban... - Remo concordou contrariado. - E todo o comportamento dele no ano passado...

O menino não deixou o ex-professor continuar:

- Naquela casa é impossível alguém não ficar deprimido!

- Certo! Eu pensei em lhe contar como era o Sirius que eu conheci em meu primeiro ano de escola, mas provavelmente você também teria uma justificativa para todas as falhas dele. Sei o quanto ele foi importante pra você, Harry, m...

- O quanto ele É importante - o garoto corrigiu apressadamente.

Remo ficou mudo e pela primeira vez teve raiva que Harry fosse tão parecido com Tiago, especialmente em sua mania de nunca querer ser contrariado. Melhor não contar nada mesmo. Certamente o garoto se voltaria contra ele antes do final da história.

- Ahn, professor Lupin, como Sirius era no primeiro ano de Hogwarts? - a curiosidade venceu Harry, ainda que suspeitasse que ouviria uma versão nada amigável de seu padrinho.

- Você certamente não vai querer saber. Quer um sorvete? - ele tentou mudar de assunto ao avistar um carrinho de picolés parado na pracinha.

- Por favor, conte. Desculpe, é que pensar que Sirius era como elas é...

- Ele era exatamente como elas, Harry - Remo disse sem perder a calma. - É o que Andrômeda acabou de lhe dizer: todos eles tem o mesmo sangue correndo nas veias. E todos eles já foram muito mais parecidos um dia. Ao menos essa era a impressão que eu tinha aos 11 anos. - ele disse entregando um sorvete de uva ao garota e pegando um picolé de limão para si. - Hoje amanheci com vontade de escutar as toadas do Big Ben. Algum problema em irmos até lá?

- Prof. Lupin, eu realmente gostaria de ouvir...

- Eu lhe conto tudo no caminho. O metrô fica aqui perto.








Não preciso lhe contar como é a cerimônia de seleção, mas posso dizer que, como todas as crianças ingressantes, eu sentia borboletas voarem dentro do meu estômago. Provavelmente mais do que as outras, pois teria um segredo para carregar nos próximos sete anos e aquilo me parecia uma tarefa impossível. Meus olhos acompanhavam cada criança que se sentava no banquinho, com o chapéu escondendo-lhes os olhos. Meu medo crescia: e se nenhuma das casas fosse apropriada para um lobisomem?

Um garoto sardento e invocado desapareceu sobre o chapéu.

- Avery, Sean.

Uma garota loura que olhava diretamente para a casa que sabia que a abrigaria.

- Black, Narcisa.

Um moleque de ar entediado e carrancudo.

- Black, Sirius.

Uma loirinha alegre e espevitada que eu tinha conhecido no trem.

- Dearborn, Alice.

Uma ruiva de ar mais perdido que o meu.

- Evans, Lílian.

Eu decorava cada rosto em busca de alguém que se parecesse comigo, que pudesse me dar uma pista de para onde eu iria.

- Lupin, Remo. Grifinória!

Grifinória. Meu coração se alarmou naquele instante. Os rostos do garoto entediado, da menina que não parava de falar e da tímida me vieram a mente. Não, eu não era como eles. Eles eram normais!

- Remo! - eu vi a loirinha se levantar e cutucar a menina ruiva a seu lado, sua mãe, que deu um sorriso sem-graça de quem está procurando um lugar para se esconder de toda aquela loucura. - Esse é o garoto de quem eu te falei, com quem conversei no ônibus.

- Que conversou ou que te escutou a viagem inteira? - o garoto de ar enfadonho, Sirius, retrucou sem olhar para Alice, que arregalou os olhos e ficou púrpura.

Vi Lílian fazer uma careta de desagrado para ele e se levantar:

- Prazer, Lílian Evans - e me ofereceu a mão direita.

- Remo Lupin.

- Lupin? - Sirius, ainda sem olhar para nós, perguntou para si mesmo. - Nunca ouvi falar dessa família.

- Não sou de nenhuma família tradicional. Meu avô era trouxa - respondi incerto e senti os olhos de Sirius me analisarem.

- Trouxa? O que é um trouxa? - Lílian franziu a testa e antes que eu ou Alice pudéssemos responder, seu pai se sentava à mesa.

- Ei, não serviram nada ainda? Meu estômago já está roncando... - ele falou como se todos ali fossem seus velhos conhecidos. Uma pessoa pelo menos era. - Ai, não, você caiu na Grifinória? - ele perguntou com os olhos em Alice.

- Muito engraçado, Tiago. - Alice fuzilou-o com os olhos. - Deixem-me apresentá-los ao Tonto Potter.

Tiago começou a rir, sem ligar muito para nós:

- Perdi um galeão. Apostei com seu irmão que você cairia na Corvinal.

- Bem feito!

- Bem feito nada! Ele disse que você ia pra Lufa-lufa! Eu quis dizer que você era muito inteligente pra ir pra lá, mas ele disse que era tradição da família...

- Lufa-lufa... A casa dos Perdedores... - Sirius balbuciou, deixando todos quietos.

Somente neste instante percebi que havia um outro garoto sentado quase a minha frente. Alice se deu conta ao mesmo tempo:

- Quem é você?

Ele se assustou com todos aqueles rostos virados para ele de uma vez e gaguejou ao responder:

- Pe-pepepe-pedro Pe-titi-grew.

- Lílian Evans - sua mãe levantou a mão, identificando-se.

- Também não é um nome conhecido - eu comentei lembrando em seguida que sua mãe não sabia o que eram trouxas.

- Casa de Perdedores é a casa pra onde aquele mané ali for escolhido - Tiago ressuscitou o assunto.

Todos viramos os rostos para o chapéu seletor novamente.

- Snape, Severo. Sonserina!

- A Sonserina não é uma casa de perdedores... - Sirius retrucou, não muito confiante no que dizia. Tiago olhou para mim indagando qual era a do garoto sentado ao meu lado. - O chapéu deve ter errado...

- Eu não acho que a Lufa-lufa seja uma casa de perdedores - Lílian estava analisando os alunos com trajes cheios de detalhes em amarelo e bronze.

- Falou a entendida em mundo mágico... - Sirius desafiou. - Você sequer sabe o que são trouxas! No mínimo deve ser uma sangue-ruim...

Senti o braço de Tiago indo por cima de mim e fiz questão de sair do caminho. Seu pai era menor que Sirius, mas o tinha agarrado pelo colarinho de forma desajeitada o suficiente para sufocá-lo se quisesse.

- Retire o que disse.

Sirius mal podia falar, quanto mais se retratar.

- Solta ele! - sua mãe interveio, ao ver que todos os rostos do salão estavam começando a se voltar para eles.

Tiago achou que realmente não valia a pena.

- A Sonserina é uma casa de perdedores, sim. E você devia estar lá com eles! - Tiago levantou e empurrou Sirius, que olhou de relance para a mesa da Corvinal e saiu, indo sabe-se lá para onde. - Sujeitinho idiota! Quem ele pensa que é?

- Um Black! - Alice suspirou ao responder.

Pedrinho parecia ter entendido o mesmo que Tiago.

- Um Black? Na Grifinória? - seu pai parecia inconformado.

- Alguém pode me explicar o que é um trouxa? - Lílian cansou de pescar palavras e nomes na conversa.

- Você deve ser uma nascida trouxa. - Eu comecei a explicar para sua mãe, quando a comida finalmente apareceu. - Alguém que nasce numa família onde ninguém tem sangue-mágico.

- Também tem os meio-a-meio - Alice continuou enquanto se servia de batatas. - Filhos de bruxos com trouxas.

- Eu não tô acreditando que aquele chapéu pôs um Black na Grifinória... - Tiago lamentava. - Eu vou dormir no mesmo quarto que um Black? A Alice e um Black na mesma casa que eu? Merlim, o que eu fiz pra merecer tanto castigo?

- Ei, não me ponha no mesmo saco que aquele imbecil...

Quem ouvisse isso naquele dia se recusaria a acreditar que tinha saído da boca da mesma pessoa que um ano mais tarde escreveria cartas apaixonadas para Sirius todos os dias.

Lílian agora parecia incomodada. Imagino que sentia-se diferente de todos nós, pois, ao que tudo levava crer, era a única que não tinha herdado sangue mágico da família. Pedrinho era tão puro-sangue como Alice, Sirius ou Tiago, e eu também tinha uma longa geração de antepassados bruxos por parte de minha mãe.

Continuamos a comer ouvindo as bobeiras de Alice e Tiago, que falavam sem parar. Havia também outras duas garotas no nosso ano, mas as duas pareciam ter se tornado amigas ainda no trem e não nos incluíram em sua conversa particular.

Quando as sobremesas começaram a aparecer, uma garota muito bonita de longos cabelos negros com o uniforme da Corvinal chegou até nossa mesa.

- Com licença, algum de vocês viu um rapazinho...

- ...estúpido, arrogante e preconceituoso? - Tiago a interrompeu. - Graças a Merlim ele nos livrou de sua companhia.

O rosto de Andrômeda se contraiu em discordância e ela mordeu ligeiramente o lábio:

- Acho que não estamos falando da mesma pessoa.

- Foi a única pessoa que deixou a mesa, - Lílian, que agora entendera a altura da ofensa, retrucou enfezada. - Se não é o mesmo ainda estaria aqui.

A corvinal deu um suspiro.

- Céus! O que ele aprontou dessa vez?

- Você é irmã dele? - Tiago supôs e eu percebi o quanto eles eram parecidos na fisionomia. Os mesmo olhos, o cabelo negro e liso caído graciosamente sobre o rosto, o rosto de traços marcantes, a voz estranhamente calma em todos os momentos.

- Prima. - ela esclareceu sem entender muito bem a pergunta.

- Ah, bom, eu já estava estranhando... DOIS Blacks fora da Sonserina...

- Andrômeda BLACK, em carne, osso e magia. Já vi que vocês não vão me ajudar a achar meu primo. De qualquer forma ele vai dormir no mesmo quarto que vocês. Você, - ela olhou para mim - quero que entregue esse bilhete a Sirius. É muito importante! Seja lá o que ele tenha aprontado, peço desculpas em nome dele.

- Chamar alguém de sangue-ruim pode ser desculpado? - Alice disse num muxoxo.

Andrômeda a encarou:

- Certamente não foi você. Com essa carinha... Você é irmã do Dearborn, não é?

Alice apenas acenou que sim com o rosto.

- Foi você? - Ela olhou para Pedrinho e mudou logo de idéia. - Não... Foi você, não foi?

Os olhos verdes de Lílian mostraram-se ainda mais perdidos. Aposto que deve ter pensado que Andie lia mentes.

- Bem, a minha família é um tanto... hum... tradicional...

- ...mente preconceituosa - Tiago sibilou e Andie fez que não ouviu.

- Vou lhe dar um conselho. - ela se virou para Lílian. - Está vendo aquela loira sentada na mesa da Sonserina? É minha irmã. Não deixe que ela ou os amigos dela saibam que você é nascida trouxa. Acredite, isso vai lhe evitar problemas.

Assim, Andrômeda deixou nossa mesa...








- Impossível! - Harry contradisse o ex-professor. - Meu pai e Sirius eram amigos. Todo mundo diz isso.

- Eu não disse que não eram... Nossa estação é essa! - ele levantou e saiu no transporte coletivo rumo às catracas.

- Como não, Professor Lupin. Você acabou de me contar...

- Acabei de lhe contar como era Sirius assim que entrou em Hogwarts. Da única maneira que podia ser: um bruxo preconceituoso e mesquinho, preocupado com a linhagem de seus colegas de quarto.

- Não pode ser... Se ele era assim, ele devia ter ido parar na Sonserina... - Harry retrucou enquanto passava pela catraca.

- Não, faltava a Sirius a coisa mais importante para ser um sonserino, Harry. A ambição. E o chapéu com certeza percebeu que Sirius tinha potencial para mudar.

- Eu ainda não entendi como isso aconteceu se ele...

- Por incrível que pareça, Harry, a mudança toda aconteceu por causa de Bellatrix.








Naquela noite, quando voltamos para o quarto, Sirius não estava lá. Tiago achou ótimo:

- Por mim ele pode dormir ao relento todos os dias - e deu de ombros.

Pedrinho quase não abrira a boca naquela noite - a não ser para comer - e continuou calado no quarto. Eu resolvi deixar o bilhete sobre a cama, assim, Sirius o encontraria em algum momento e eu não teria que falar com ele.

Não faço idéia de a que horas ele entrou, mas sei que o fez e saiu antes que eu ou algum dos outros garotos acordasse. O bilhete havia desaparecido e a cama estava desarrumada, denunciando que estivera presente no quarto.

O dia seguinte teríamos nossas primeiras aulas e nós não nos surpreendemos ao vê-lo logo cedo conversando com duas garotas que vestiam capas com o emblema da Sonserina. Uma delas era a irmã de Andrômeda, que você conhece como a mãe de Draco Malfoy. Narcisa Black era sem dúvidas a garota mais bonita de nosso ano, mas de longe já parecia ser a mais arrogante. E um sobrenome como o dela ajudava a manter essa idéia. A morena eu viria a conhecer melhor: Bellatrix.

Sirius não se demorou na conversa com as duas e pouco depois estava sentado em nossa mesa, a uma boa distância. Ao vê-lo sentar, Tiago se empertigou. Espetou o mesmo bolinho uma dúzia de vezes sem levá-lo a boca, quando finalmente resolveu colocar pra fora o que estava pensando:

- E então, já acertou a sua transferência? A Sonserina é perfeita para perdedores como você.

Vi a boca de Sirius se contorcer, seca de vontade de responder, mas ele se conteve. Por algum motivo não queria provocar discussões e eu achei que o bilhete de Andrômeda tivesse a ver com isso. Como se meus pensamentos a tivessem evocado, segundos depois a menina estava a postos em seu uniforme azul, vindo diretamente em nossa direção:

- Finalmente! Achei que você estivesse fugindo de mim! - ela se sentou, sorrindo alegremente, à frente de Sirius.

Ele lançou-lhe um olhar de desprezo, mordeu o lábio inferior e começou a brincar com o prato de cereal, quase zombando da presença da prima.

- Tem algo de errado com você, Sirius? - ela estranhou e ele só balançou a cabeça em negativa.

Andie olhou para nós sem entender muito bem a reação de Sirius, pegando Tiago no meio de uma imitação medonha do ar de tédio de nosso colega de quarto.

- Pelo visto você ainda não se acertou com os outros garotos da sua casa - ela estava desconcertada.

- O que você quer, Andie? - Sirius cortou o assunto.

- Na-nada. Eu te fiz alguma coisa? Já sei, foi o bilhete. Escute eu não...

- Não foi o bilhete.

- Então...

- Então o que?

- Por que você está me tratando assim? - ela começava a aparentar revolta.

- Estou te tratando normalmente, Andrômeda. O que você queria? Que eu desse vivas por ter te encontrado logo no café da manhã? Eu te vi no café durante os 11 anos da minha vida. Isso não é nenhuma novidade...

- Oh, me desculpe, Lorde Black - ela começou a responder furiosa. - Eu não pretendia interrompê-la nessa hora tão sagrada. Passe bem! - e saiu pisando duro pelo salão.

Eu não pude deixar de concordar quando logo em seguida Tiago lembrou que era ela quem estava defendendo o primo na noite anterior. Realmente Sirius não era digno sequer da nossa boa vontade; assim, eu, Tiago e Pedro nos recusamos a passar a manteiga para ele quando nos pediu, achando que esta era uma ótima forma de revidar a sua falta de sociabilidade.

Pouco depois as garotas chegaram. Alice estava radiante e Lílian, despenteada:

- Bom dia! - a loira sentou-se à minha frente, piscando muito, em aparente estado de euforia. - Consegui horários para todos. A primeira aula será de transfiguração. A professora é Minerva MacGonaggal. Sim, Tiago, é a mulher que nos recebeu no Hall de Entrada e chamou os alunos para serem sorteados. Meu irmão disse...

- Ei, e o meu? - então nos demos conta de Sirius havia se aproximado.

- Tá falando comigo? - Alice fitava-o incrédula.

- Você está com os horários, não é? Eu quero um.

- Diga a palavrinha mágica! - Tiago retrucou com um sorriso maldoso nos lábios.

- Qual delas você quer? - e sacou a varinha - Talvez um Accio!

Justamente o horário que estava nas mãos de Lílian voou diretamente para as de Sirius. A timidez parecia ter ido embora, porque sua mãe não agüentou aquela malcriação:

- Bastava pedir "por favor", seu babaca!

- Como é que é? - ele não acreditou na reação inesperada.

- É, você é um babaca, seu idiota!

Eu estava começando a ficar apreensivo. Meus colegas estavam arrumando confusão logo no primeiro dia de aula. Aquilo não ia acabar bem.

- Eu não estou falando disso... - o ar de desprezo só ia aumentando. - Só estou admirado de que uma sangue-ruim como você ache que vai ouvir um por favor saindo da minha boca. Gente da sua laia sequer devia ter o direito de pisar nesses tapetes.

Antes que qualquer um de nós pensasse em reagir, Sirius pôs o horário no bolso e saiu dali cantarolando.

- Que grande idiota! - foi tudo o que eu consegui dizer.

Lílian parecia profundamente abalada.

- O que foi que eu fiz pra ele?

- Não liga - Alice tentou consolar. - Como o Lupin disse, ele é um grande idiota.

- Fica com o meu. - Tiago entregou o horário dele para Lílian. - Eu não vou precisar.

- Como assim, não vai precisar? - Alice esqueceu do incidente num instante.

- Horários são pra quem leva livros nas aulas... Eu não pretende sair carregando peso por aí...

- Ah, lógico, você vai seguir as aulas sem livros... Certamente você é um gênio que nem precisa de livros...

- Não começa, Alice. Só me diz qual é a primeira aula que eu descubro onde fica a sala. Agora eu tenho que ir. Tô com pressa!

- Transfiguração. - eu respondi, vendo Alice ficar enfezada.

Tiago correu dali, parecendo realmente muito interessado em alguma coisa. Tendo perdido completamente a fome, eu também resolvi me levantar e com surpresa percebi que o outro garoto de meu quarto estava me seguindo.

Aguardei uns instantes até que ele me alcançasse. Pedrinho parecia ainda mais branco que no dia anterior, e até um tanto assustado. Pouco depois eu entendi o porquê.

- Ele fez um feitiço!! Um feitiço correto! Nós sequer tivemos aula e ele já sabe um feitiço.

- Ora, não é assim um feitiço tão...

- Nós só vamos aprender feitiços convocatórios no terceiro ano!!! - seus olhos agora estavam esbugalhados de terror. Certamente estava pensando no que mais Sirius sabia fazer com uma varinha.

- Ele deve ter aprendido ao ver a mãe dele fazendo serviço de casa - tentei tranqüilizá-lo.

E assim voltamos ao nosso dormitório para pegar o material que usaríamos naquele dia.








- Quer dizer que Sirius odiava a minha mãe? Não, não pode ser... - Harry estava tão envolvido no relato que não percebera que já haviam chegado ao Big Ben havia meia hora.

- É um relógio bruxo, sabia? Por isso nunca está atrasado. Mas os trouxas pensam que é apenas mais uma relíquia histórica da engenharia produzida por eles.

- Ahn? Ah, tá... Mas… eu-eu…

- Sei que é difícil pra você ouvir isso; mas tenho certeza que foi pior para Lílian.








Cerca de uma hora depois, tive minha primeira aula de transfiguração, junto com a turma da Sonserina. Estávamos todos sentados em pares: eu e Pedrinho; Lílian e Alice; Sirius e... Narcisa. Nenhum de nós esperava mesmo que ele se sentasse com um de nós, mas ao ver a professora fechando a porta da classe eu finalmente notei a falta de Tiago na sala.

Já havia se passado cerca de cinco minutos de aula quando a cabeça de cabelos absolutamente despenteados apareceu na porta.

- Com licença, é aqui a aula de Transfiguração do primeiro ano? - ele perguntou muito polidamente.

Minerva acenou afirmativamente com a cabeça devagar, bastante desgostosa.

- Sei que a senhora deve estar se perguntando o porque do atraso, professora. Bem, eu passei quase toda a manhã procurando por um dos monitores para saber do meu horário e só consegui encontrar um há cerca de uns quinze minutos...

Pude ouvir Alice comentando com Lílian baixinho: "que mentiroso!" MacGonaggall também não parecia muito satisfeita com a história.

- Sei que em quinze minutos eu poderia estar aqui, mas acabei pegando uma escada que começou a se mover logo em seguida e aconteceu que eu me perdi.

Lembrei que ele estava atrasado para alguma coisa. Certamente a "coisa" levara mais tempo que o previsto, e agora estava inventando aquela história toda.

- Resolvi pedir informações para um fantasma que estava passando, mas ele deve ser novo por aqui, pois me mandou para o sétimo andar, dizendo que esta sala estava em reforma. Eu bati lá mas...

- Certo, certo. Sente-se logo, Sr...- ela o cortou perdendo a paciência.

- Potter. - ele respondeu com um sorriso orgulhoso que logo se apagou.

- Sr. Potter. Agora que você já sabe onde é sala, espero que o atraso não se repita. Sente-se que a aula já começou.

O único lugar vago era ao lado de um sonserino, o mesmo que ocasionara a primeira discussão entre ele e Sirius: Severo Snape.

Notando que Tiago ainda estava parado no mesmo lugar perto da porta, MacGonnagall se enfureceu:

- Sente-se de uma vez, Sr. Potter. Já está atrasado! Se não quiser assistir a aula, a porta ainda está aberta.

Ele andou mudo até o lugar ao lado de Snape. Não trazia mochila, nem livros. Como havia dito a Alice, precisava apenas de uma varinha.

A antipatia entre os dois alunos foi mútua. Sequer se cumprimentaram. Vi Tiago balbuciar alguma coisa para o besouro que tentávamos transformar num botão, mas acredito que nem mesmo Snape tenha conseguido entender. Sirius estava bem ao meu lado, e se eu não ouvia sua voz, ouvia a prima repetir tudo o que ele dizia numa voz esganiçada:

- Uma sangue-ruim? Tem uma sangue-ruim na sua casa? Quando Bellatrix souber... Acho que ela sequer vai voltar a falar com você. Como assim você não tem culpa? Francamente, Sirius, como foi que você foi parar na Grifinória? Bom, ao menos é melhor que a Lufa-lufa. É lógico que Andrômeda não achou ruim! Ela anda com sangue-ruins, Sirius!!! Bella me contou tudinho! Só não contou a mamãe e papai por pena... Você tem isso escrito? Você tem que entregar isso a Bella. Como assim não vou contar nada a ela? Ela é minha irmã, Sirius! E nós temos que zelar pelo nome de nossa família!

Narcisa continuou falando sem parar enquanto o primo, de mau humor, transformava o besouro em botão, então num dedal, daí num broche, e assim por diante. Eu me limitava ao exercício proposto. Transformei o besouro num botão na terceira tentativa e passei a ajudar Pedrinho na mesma tarefa, mas o mais longe que ele conseguira fora sumir com as patas do inseto.

Tiago entediara-se rapidamente e, sem ter com quem conversar, começara a brincar com o besouro na mesa de Alice, transformando-o em botão, antes que a menina acabasse de dizer o feitiço. Alice levou alguns minutos para perceber a brincadeira e, por fim, brigou com ele.

Lílian era pessoa mais interessante naquela sala. Não tinha intimidade com a varinha, e olhava com cara de dó para o pequeno animalzinho.

- Srta. Evans, creio que pedi para transfigurar o besouro, não para observá-lo fugir de sua carteira!

- Ah, claro! - mas Lílian não estava desconcertada. Como eu descobriria logo, ela não costumava ter vergonha de nada. - Professora, posso fazer uma pergunta?

A sala toda olhou pra ela. Alguns por falta de algo melhor pra fazer, mas a maioria porque estava certa de que ela iria pedir para a professora demonstrar o feitiço novamente.

- Quer que eu explique outra vez? Muito bem, é só...

- Não!

- Não?

- É só uma dúvida.

MacGonaggall parecia surpresa. Fez um gesto para que Lílian continuasse.

- Bom, é que esse besouro é um ser vivo. E bom, um botão não é vivo. Se eu deixar ele transformado em botão mais que alguns segundos ele não vai respirar e vai morrer!

- Como? Onde você ouviu isso?

- Ora, professora, é muito óbvio. Besouros são vivos, botões, não. Besouros respiram, botões, não. Respirar é uma condição essencial à vida, logo, se ele não respirar, ele vai estar morto quando eu rebesourá-lo!

Ao ouvir o "rebesourá-lo" Tiago começou a gargalhar, e com ele o resto da turma, com exceção de Sirius e Snape. Foi uma das poucas vezes que vi MacGonangall segurar o riso.

- Você pode "rebesourá-lo" bem rápido, se quiser - ela respondeu de bom humor e voltou a acompanhar o trabalho dos outros alunos.

Eu continuei observando Lílian. Logo na primeira tentativa ela executou o feitiço corretamente, o que deixou Alice com uma pontinha de ciúmes. Só conseguira na segunda. Rapidamente ela o destransformara, coisa que eu ainda não tinha conseguido fazer. Ninguém podia negar que Lílian realmente tinha jeito com a varinha.

E eu não era o único que notara:

- Como assim ela já fez e desfez o feitiço 15 vezes sem errar? Sangue-ruins não conseguem nem levitar penas, Sirius! Você está vendo coisas... Devia consultar um oculista.

- Olha pra ela então, sua tapada! - Sirius se exaltou na briga com a prima. A sala toda olhou para os dois.

- Por Merlim, não me façam acreditar que o chapéu seletor errou na escolha dos alunos da minha casa. - MacGonnagall voltara a ficar séria. - Um chega atrasado... - Tiago ruborizou levemente -, a outra fez perguntas impertinentes - Lílian ficou roxa - , e agora você, rapazinho, está gritando em sala de aula.

- Me desculpe, professora. Não vai acontecer novamente.

Prevendo que iria arranjar confusão com a diretora de nossa casa, Sirius mudou de alvo. Parou de prestar atenção em Lílian para analisar Tiago, que ocupava seu tempo livre levitando bolinhas de papel do lixo e arremessando-as em alguns alunos da Sonserina. Logicamente só fazia isso quando tinha certeza que a professora não estava olhando. Eu voltei a prestar atenção na voz de Narcisa.

- É da minha casa, sim. Ele é estranho, não? Bella desconfia que ele é meio-a-meio. Só isso explicaria essa aberração na Sonserina, não acha?

Não, ele não estava observando Tiago, estava observando Snape. Eu não olhava para o casal de primos a meu lado, pois sabia que isso denunciaria que eu estava ouvindo a conversa, mas um estranho silêncio me convenceu que algo estava para acontecer. E aconteceu.

Um grito abafado na frente da sala e o rosto de Snape completamente afundado na lata de lixo. Aparentemente, o cesto havia caído sobre sua cabeça. Tiago, a seu lado, ria compulsivamente, tentando adivinhar quem tinha tido uma idéia tão brilhante. Só não passava pela sua cabeça que ele seria acusado disso.

- Muito bem. Quem foi o autor dessa brincadeira de mal gosto? - MacGonnagall enfureceu-se com a sala.

Narcisa levantou-se depressa.

- Professora, quero que a senhora saiba que odeio injustiças, e estou certa de que a senhora não favoreceria sua casa numa situação dessas. Está claro como água que foi um grifinório! A rivalidade entre as casas é notória...

- Cala a boca, Centopéia! - ele a puxou.

Após alguma luta, Snape se desvencilhou da lata na cabeça.

- Eu sei quem foi, professora. - e olhando duramente para Tiago: - Foi ele. Está jogando bolinhas de papel nos alunos o tempo todo. Pode reparar, a sala está cheia delas...

- Peraí. Eu realmente joguei as bolinhas, mas não mandei a lata de lixo na sua cabeça. Realmente foi uma idéia divertida, mas infelizmente não foi minha.

- Agora chega! Por toda essa bagunça na minha aula, a Grifinória perdeu 50 pontos. E quero você na minha sala depois dessa aula para discutirmos a sua detenção, Sr. Potter. E se alguém fizer mais alguma gracinha, a sala toda cumprirá detenção no final de semana.

Na saída da aula, Tiago parecia mais contente do que nunca. Não, não estou ficando louco. Ele estava realmente contente:

- Aposto que bati um recorde! Duvido que alguém tenha conseguido uma detenção mais rápido do que eu!

- Com certeza ninguém nunca perdeu tantos pontos de uma casa sem sequer ganhá-los antes - Alice retrucou irritada. - Você tem idéia do que acabou de fazer, Tiago. Nós perdemos 50 pontos no Campeonato das Casas!!!

- Ah, você recupera eles rapidinho respondendo as perguntas chatas dos professores, Alice!

- Ei, ruiva, espere um pouco.

Eu, Rabicho, Tiago, Alice e Lílian estacamos. Era quem nós pensávamos que era?

- Cuidado! Ficar a menos de dez passos de mim pode ser contagioso! - Lílian foi irônica.

- Ra. Ra. Ra. Muito engraçado! Vou te dar uma chance de contar a verdade, ok? Já percebi que você só estava querendo tirar onda comigo - Sirius falou calmamente.

- Contar que verdade? - Lílian estava pasma.

- Que você tem sangue bruxo, oras! Uma sangue-ruim não seria tão rápida...

- E eu parei pra ouvir isso? Ai, meus sais!

Lílian saiu andando sem olhar para trás pensando no absurdo da situação. Alice deu uma última olhada em Sirius, revirou os olhos e saiu atrás da mais nova amiga.

- Cara, você se superou - Tiago levantou as sobrancelhas, como eu o vi fazer centenas de vezes depois para Pedrinho. - Ele tem sangue mágico tanto quanto nós ou não estaria aqui. Já pensou nisso?? Trouxas sequer enxergam Hogwarts.

- Sério? - Pedrinho arregalou os olhos.

- Eu tenho duas primas mais velhas aqui elas me disseram que sangue-ruins nunca chegam à metade da capacidade de um bruxo sangue-puro...

Eu olhei rapidamente para Pedrinho lembrando que ele era um sangue-puro e, bem, Lílian tinha se saído mil vezes melhor que ele naquela primeira aula.

- Eu não me lembro de ter dito isso... Especialmente nessa linguagem chula que você está usando.

Andrômeda nos encontrara no corredor. Estava acompanhada de uma outra corvinal de cabelos espessos e enrolados, que reprovava Sirius apenas com o olhar.

- Bella disse - ele retrucou mal-humorado.

- Ah, Bella disse. Quer dizer que o Cão Maior voltou a obedecer a Orion? Cheguei a achar que ele preferia a liberdade.

- Eu-eu não estou obedecendo ninguém. É só que isso é verdade e...

- Eu não acho que isso seja verdade - a garota ao lado de Andrômeda se intrometera.

Eu tinha pensado em aproveitar a deixa pra sumir dali. Pedrinho já tinha feito isso bem antes, mas Tiago me segurou: "E perder a briga? De jeito nenhum!"

- Bem, uma vez que você não passa de uma mentirosa, só posso confiar nela - Sirius ignorou a amiga de Andrômeda e despejou a raiva que estava sentindo.

- Eu? Menti no quê? - Andie se espantou.

- No quê? Olha isso aqui, Andrômeda! Onde é que está tudo o que você me disse? Um bando de alunos tão tapados quanto Regulus, que levam séculos para transformar besouros em botões! E eu cai nessa droga de casa que é a Grifinória. Eu só vejo uma mansão maior com um pouco mais de elfos domésticos... Aliás, é pior, porque está tudo impregnado de sangue-ruins...

Ele não pôde acabar seu desabafo, porque Andrômeda lhe dera um tapa na face. O som ecoou no corredor.

- Não jogue a culpa de suas frustrações em cima de mim. Se não consegue ver o que eu vejo, azar o seu, Sirius, porque Hogwarts é infinitamente diferente da nossa casa. A começar pelos nascidos trouxas, como a minha AMIGA Ethel, que a cada dia me surpreende de alguma forma. Não porque eu duvide de sua capacidade, mas porque ela conhece um mundo inteiro que eu sequer sabia que existia antes de deixar o Largo Grimmauld. Corra pra debaixo da saia de Bellatrix e passe os próximos sete anos deprimido por não ser um sonserino! - ela berrava a altos brados.

- EU NÃO QUERIA SER UM SONSERINO!!! - ele retrucou ainda mais alto.

- Não? - a resposta a desconcertou.

- Não - ele confirmou, emburrado.

- Queria, sim - foi a vez de Tiago se intrometer.

- Não queria, não.

- Na seleção, você disse...

- ...que os sonserinos não eram perdedores. - Sirius cortou Tiago.

- Ah, eles são sim - a amiga de Andie entrou na discussão.

- Não são!

- Sirius, pra que casa você queria ter ido? - Andrômeda ignorou todos os outros.

Subitamente, ele se deu conta de que não queria responder àquilo que era tão óbvio: já havia dito que a Lufa-lufa era uma casa de perdedores, e ele não era um; não queria estar na Grifinória, tampouco na Sonserina...

- Você queria ter ido pra Corvinal!!! - Andie concluiu às risadas, apontando para o primo. - É por isso que está tão bravo comigo!!! Ah, Sirius, eu também queria que você estivesse na minha casa.

- Eu não queria ir pra Corvinal - ele falou num tom nada convincente, enquanto repelia o abraço que a prima apenas um ano mais velha tentava lhe dar. - E eu... eu... Ah, você é louca!

Sirius se desvencilhou da prima e saiu andando praguejando contra todas as casas. Andrômeda exibia um sorriso de apaixonada:

- Eu sabia que ele continuava sendo o MEU Si... Oh, oh! Melhor a gente ir andando, Ethel.

- O casal vinte está vindo?

- Exatamente. Tchau pra vocês!

Eu e Tiago nos entreolhamos e vimos as meninas saírem correndo. Pouco depois um casal de Sonserinos atravessava o corredor, provavelmente o tal casal vinte de que haviam falado. Como elas tinham adivinhado que eles passariam por ali, isso eu nunca vim a descobrir.



Naquela mesma tarde Sirius teve outras oportunidades de ver Lílian se sair muito bem como bruxa. Em uma ou outra coisa que ela tinha dificuldades - achou a nossa estufa realmente medonha com tantas plantas "esquisitas"- Alice estava sempre pronta a ajudar. Como Andrômeda havia falado pouco antes a respeito de Ethelvina, Lílian e Alice se achavam mutuamente interessantes e viriam a ser as melhores amigas uma da outra em todo o período escolar.

A aula de Herbologia colocou outra nascida trouxa no caminho de Sirius, uma corvinal ainda tímida e perdida, que saiu chorando da estufa no meio da aula sem conseguir fazer a professora entender o porquê. Eu e Tiago, que havíamos feito dupla nessa aula relegando Pedrinho a uma desconhecida de uniforme azul, imaginávamos o motivo.

Durante toda a semana foi assim, nós e Sirius sentados o mais longe possível. Andrômeda fazia freqüentes visitas a nossa mesa, mas sempre acabava sendo ignorada ou deixada falando sozinha. À noite, ele se refugiava num canto da Sala Comunal olhando para o teto totalmente entediado. Acredite ou não, isso tudo durou até o Dia das Bruxas, ou seja, dois longos meses.

O fim de nossa guerra contra o representante da família Black foi resultado de dois fatores que eu não poderia enumerar em ordem de importância: um deles foram as constantes detenções de seu pai - pelo menos uma a cada duas semanas. O outro, como já disse, foi Bellatrix. Vou contá-los em ordem cronológica, apesar de terem acontecido num espaço de pouco menos de quatro horas.

Na manhã de 31 de outubro Tiago saíra cedo do quarto, sem que nenhum de nós três notasse. Fiquei sabendo o porquê durante o café da manhã: havia descoberto uma passagem secreta que dava nos arredores da entrada da Sonserina. Imaginou que seria uma ótima oportunidade para aprontar com seu outro arquiinimigo, Severo Snape. E já programara tudo: armaria sua armadilha bem na entrada da Sonserina (que ele descobrira onde ficava já no terceiro dia de aula) e a usaria quando Snape estivesse saindo para a festa, assim ele teria que voltar para o dormitório e não participaria da comemoração.

- E por que é que ele não pode vir à festa? - Pedrinho fez uma pergunta justa.

- Oras, por quê? - ele retrucou como se fosse óbvio. - Porque eu não quero. - e deu o assunto por encerrado.

Entretanto, o tiro saiu pela culatra. Logo atrás de Snape, vinha o diretor da Sonserina, que levou um banho de excremento de salamandra. Tiago não foi rápido o bastante para alcançar seu esconderijo e acabou na sala de Dumbledore que não teve outra alternativa senão mandá-lo limpar as prateleiras da biblioteca durante a festa como punição. Sirius seria mandado para lá cerca de duas horas depois.

Sempre gostei das festas de Dia das Bruxas, não só por conta dos banquetes, mas por serem uma ótima oportunidade de reunir todos os alunos no Salão Principal, ao mesmo tempo. É incrível como Hogwarts consegue reunir tanta gente diferente sob um mesmo teto. Em dois meses de aulas, algumas coisas já tinham se tornado habituais. Lílian e Alice estavam sempre juntas; Sirius deixava o quarto todas as noites por volta da meia-noite, retornando às duas, fato que sabíamos porque Pedrinho sempre acordava por volta das duas com vontade de ir ao banheiro e acabava acordando eu ou Tiago com o barulho que fazia ao tropeçar nos malões; Andrômeda insistia em tentar conversar com Sirius na frente de todos, o que não conseguia, mas por vezes eu os vi rindo e trocando confidências escondidos debaixo de alguma escada; e os alunos nascidos trouxas - em nosso ano eram quatro - eram perseguidos veladamente por um grupo de alunos da Sonserina.

Lílian era constantemente importunada por um deles, um jogador do time de quadribol do quinto ano, David Greengrass. Por mais que muitos dos alunos soubessem, nunca havia provas contra eles. Eram rigorosamente discretos e tinham um pacto entre si, que sempre lhes garantia álibis contra as acusações.

Mas naquela noite houve uma testemunha: Sirius! Você provavelmente vai me perguntar qual a valia disso, uma vez que as idéias de Sirius permitiriam que ele fizesse parte daquele grupo, entretanto, naquela noite Greengrass não estava sozinho. Vou lhe contar a história como a ouvi da boca de Sirius. Eu não estava lá para saber se o relato é tendencioso. É apenas o que sei.

Lílian estava levemente resfriada pela mudança de temperatura e decidira procurar a enfermaria antes de se aventurar pelo Salão Principal. Sirius vinha de lá por conta de um tombo de vassoura (contrabandeara uma para dentro da escola e só a usava em horários estranhos, por isso fugia do quarto de madrugada) e ao ver a ruiva vindo em sua direção, decidiu se esconder. Andava evitando Lílian, pois ainda não concordava muito com a idéia de conviver com sangue-ruins, mas já admitia que ela levava jeito para magia.

A garota continuou seu caminho, fungando e tossindo um pouco. Sirius estrahou quando ela parou na frente de um quadro e começou a discutir com ele, mas ele sempre achara ela meio louca mesmo, até perceber que ela estava hipnotizada. Só se deu conta disso quando Greengrass saiu de uma passagem secreta logo ao lado do quadro. Mas junto da risada do capitão do time da Sonserina, havia uma risada feminina, uma risada que ele conhecia muito bem.

- Muito bem, Bella. Hoje eu sou seu escravo. Você manda, eu executo.

- David, David. Assim eu vou ficar mal acostumada!

- A garota mais bonita da escola merece...

A garota mais bonita da escola merece? Quem era aquele idiota pra falar uma coisa daquelas. Ela era uma Black, ela não era pra qualquer um, ela era... Bellatrix. Ela daria um fora naquele babaca em segundos.

Mas ela não deu. E começou a fazer de Lílian seu brinquedinho:

- Imite um macaco! Agora, - transfigurando uma lança decorativa em um espanador - limpe esse lugar! Está imundo! Oh, não, acho que não. Isso é tarefa para elfos domésticos e nós sabemos que sangue-ruins como você estão bem abaixo dos elfos...

Sirius observava tudo aquilo de seu canto. Acho que as conversas diárias com Andrômeda finalmente estavam fazendo efeito, porque ele começou a achar aquilo tudo errado.

- Eu não disse que ia ser divertido, minha estrela?

David agarrou Bellatrix pela cintura e a puxou para si. Ao ver a prima beijar o colega de casa, Sirius saiu de seu esconderijo:

- Reprimenda!

O capitão sonserino foi jogado longe sem que uma única faísca atingisse Bellatrix. Sirius sempre teve ótima pontaria.

- O que você pensa que está fazendo?

- O que eu estou fazendo? Por favor, Bella, dê-se seu devido valor!

- Como? - os olhos verdes cintilavam de raiva. - Seu idiota, estragou tudo!

Vendo que Lílian estava prestes a despertar do transe, Greengrass fugiu antes que aquilo pudesse lhe encrencar. A reação de sua mãe foi a esperada. Dois membros da família Black a sua frente, sendo que um deles deixara claro desde o primeiro dia de aula que a odiava. Ela não duvidou de nada.

Sirius sempre soube o quanto Bella poderia ser fria. Disse que costumavam ser ótimos amigos antes da menina entrar em Hogwarts, mas que desde então ela passara a tratá-lo com desprezo. Quando ele entrou na escola, ela passara a ser amigável novamente.

- Bella sempre foi divertida. É inteligente, sabia enganar nossos pais com maestria. Acho que nunca a vi sendo punida por nada. Ao lado dela você poderia provar de todas as coisas proibidas, aventurar-se por lugares desconhecidos, ser o que quisesse. Bella sempre foi a única que sempre fez o que bem quis na Mansão. E eu... bem, eu sentia falta disso... - Sirius nos explicou tempos mais tarde quando já éramos todos amigos.

Mas a partir daquela festa das bruxas ela voltaria a se importar apenas consigo mesma. Os olhos rápidos tomaram conta da situação e ela viu o uniforme de um rapaz de amarelo passar a sua frente. Disparou um feitiço contra Lílian que a fez gritar e desmaiar:

- Alguém! Por favor, alguém me ajude! - ela gritava parecendo realmente desesperada. - Por Merlim!

O tal rapaz voltou. Era o monitor-chefe, um aluno da Lufa-lufa.

- O que está havendo aqui?

Bellatrix estava abaixada com Lílian nos braços, completamente desacordada:

- Meu primo, meu primo ficou louco. Está desesperado por ter ido para a Grifinória, quer que eu o ajude a ser transferido para a Sonserina...

- Bella, eu... - Sirius assistia a cena atônito.

A voz de Bellatrix se tornou chorosa:

- Eu disse que não posso fazer nada. Mas ele disse que se eu não o ajudasse, ele atacaria a primeira pessoa que visse na frente, e essa coitadinha passou. Nós temos que levá-la pra enfermaria.

- É claro, claro. Faremos isso. E você, garoto, para a biblioteca! Você vai cumprir detenção com um garoto que já está lá. Depois Dumbledore terá uma conversa com você.

- Mas eu...

- Eu disse AGORA!

Sirius obedeceu. Frustrado, subiu as escadas devagar, invadido por um torpor desagradável. Ele confiara em Bellatrix, mas ela não hesitara em acusá-lo para salvar a própria pele. Andrômeda estava certa sobre ela. Estaria certa sobre todo o resto também? Bem, só cabia a ele querer descobrir.

Enquanto isso, eu, Alice e Pedrinho aproveitávamos a festa na medida do possível. A lourinha não parava de olhar o relógio de pulso, até que, após uma hora de começada a festa, Alice resolveu subir.

Quando eu voltei a sala comunal, Alice chorava desesperada. Contou aos prantos, a história de que Lílian tinha sido atacada por Sirius. Nenhum de nós duvidou. Só faltava Tiago para compartilhar nossa raiva. Imagine o meu choque, quando o vi entrar pelo retrato da mulher gorda rindo e conversando... com Sirius.

- Nossa! Vocês ainda estão acordados? - ele estranhou. - Achei que a festa acabava as dez... Foi até meia-noite?

- O que você está fazendo com ele? - eu não consegui segurar.

- Ele atacou Lílian!!! - Alice choramingou.

Tiago arregalou os olhos o máximo que pode e começou a se afastar do novo amigo

- Não, eu... Tiago... Eu te disse, armaram isso pra mim. Eu nunca toquei num fio de cabelo da ruiva...

- Por que eu acreditaria em você? - Tiago se esquivou.

- Porque... porque... - Sirius procurava desesperadamente um motivo. Tinha passado quase dois meses sem ter um único amigo; não queria perder o que fizera naquela noite.

- Ela está na ala hospitalar - Pedrinho acrescentou.

- E não deve sair de lá tão cedo - eu frisei.

- Não fui eu, caramba! Foi minha prima! - ele passava as mãos pelos cabelos negros nervosamente.

- Andrômeda? Ora, não me faça rir! - Alice ironizou.

- Lógico que não foi ela! Foi Bella! Bella e aquele idiota do Greengrass.

Eu via Tiago tentado a acreditar em Sirius.

- Não foi! Foi você! - eu berrei, irritado com aquela hesitação de Tiago. - Você nunca gostou dela! Admita!

- Eu nunca disse o contrário. Sequer disse que gosto dela agora! Só disse que não fui eu! Por Merlim, pensem direito. Eu nunca escondi que não gostava da ruiva, e se eu a atacasse era óbvio que a culpa ia cair sobre mim, não acham?

- É, faz sentido - Tiago coçou a cabeça.

- A Evans vai confirmar tudo isso. Ela viu a minha prima. Não tenho certeza se ela viu o Greengrass, mas... Eu juro que não fui eu. Eu até admito que fui eu quem enterrou aquela cesta de lixo na cabeça do Snape no primeiro dia de aula, mas não toquei na Evans.

Tiago começou a rir, para irritação de Alice, que ainda não acreditava na história:

- Esqueceu que ele te ferrou com essa historia? A Grifinória perdeu 50 pontos e você pegou a detenção!

- Ah, mas valeu a pena. A cara do Seboso Snape foi hilária, e a detenção, bem, a detenção foi proveitosa. Quer saber, eu acho que a gente tem que esperar a Evans acordar. Se ele estiver mentindo ela vai dizer... Por enquanto eu te dou meu voto de confiança, Sirius. - Tiago esticou a mão para Sirius, que selou o acordo. - Agora, voltando aquele assunto, acho que o intercâmbio de informações pode ser útil pra mim e pra você, Black, e eu estou disposto a negociar.

Tiago deu uma piscadela e desapareceu na escada que levava ao dormitório.

- Ela vai confirmar minha história, eu garanto! - e Sirius seguiu Tiago, confiante.



Na manhã seguinte, Lílian já estava melhor, mas Madame Pomfrey achou que seria melhor que ela ficasse na enfermaria, não pelo feitiço, mas pela gripe que estava mais forte. Ela não se lembrava de nenhum detalhe da noite anterior, a não ser que tinha visto o casal de primos. Não nutria qualquer simpatia por Sirius, assim, não o eximava da culpa, mas, tendo em conta que ninguém lhe apresentara provas concretas contra Sirius, Tiago achou que valia a pena continuar a amizade:

- Estamos fazendo comércio de informações, entende? - ele tentava me explicar. - E, bem, ele tem idéias legais. Nós dois não suportamos o Snape e como as primas dele estão na Sonserina, ele sabe de alguns pontos fracos daquele seboso... E bem, temos que admitir que ele anda menos agressivo com a Evans.








- A verdade é que, depois daquele Dia das Bruxas, Sirius mudara de comportamento. Não se tornara amigo de Lílian, nem tentava uma aproximação, mas já não a provocava ou ofendia. Era visto constantemente com sua prima Andrômeda para cima e para baixo. Começara a ajudar Pedrinho com o dever, embora fossem incontáveis as vezes que eu o via contando até dez para não perder a paciência com perguntas imbecis. E, acima de tudo, começara a achar que os sonserinos eram perdedores. Logicamente ele não mudou do dia pra noite. Não perdeu o ar arrogante; mas, bem, se Sirius não fosse arrogante, ele não seria um Black. E ao menos até o fim daquele ano, ele ainda tinha orgulho de seu sangue azul.

- Mas ele passou a odiar a própria família, não foi? Ele odiava a casa do Largo Grimmauld.

- Essa é outra história que Andrômeda poderia contar melhor do que eu. Sei que Regulus é um dos maiores responsáveis pela aversão que Sirius passou a ter de sua família. E Tiago tem a ver com a outra parte, mas infelizmente seu pai não está aqui para contar.

Os dois ficaram algum tempo em silêncio, fitando o grande relógio londrino pela primeira vez com intenção de saber que horas eram.

- Acho que Andrômeda já teve o tempo de que precisava. Vamos voltar, Harry.

O garoto apenas acenou com a cabeça que sim. O caminho de volta não foi demorado. A história que Remo acabara de contar não saía da cabeça de Harry. Era estranho pensar em Sirius daquela forma. Queria poder conversar com ele, confirmar tudo aquilo, recriminá-lo por acreditar em Bellatrix... e pedir desculpas a Andrômeda. Tinha sido rude; ela lhe fizera um favor e ele a pagava com ingratidão.

Harry abriu a porta decidido a falar com ela, Remo logo atrás dele:

- Andie, Andie, eu queria...

As palavras ficaram engasgadas em sua garganta. Em meio a um grande tumulto de janelas estilhaçadas, uma cadeira quebrada e muitos papéis e fotos rasgadas, Andrômeda chorava compulsivamente. Impulsivamente, Harry e Remo correram para junto dela, abraçando-a, sem perguntar nada. Um pouco mais calma após um feitiço de animação executado por Remo, a bruxa conseguiu falar:

- Vocês devem estar achando que um furacão passou por aqui, não? É, de certa forma foi - ela respirou fundo e puxou uma foto pela metade onde ela, Narcisa e Sirius apareciam bastante desconfortáveis.

Harry reparou que na outra metade, jogada no chão, estavam Bellatrix e um rapazinho parecido com Sirius.

- Sabe, Harry, algumas lembranças deveriam ser realmente apagadas. - e acabou de rasgar a foto.

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