Novas descobertas



- Soube que este ano haverá cursos especiais contra as Artes das Trevas! – era o comentário entre os sextanistas, mas o assunto mais caloroso girava em torno dos resultados dos NOMs, a graduação básica. Dali, de acordo com seus desempenhos, seguiriam caminhos específicos.

Durante as férias, Heloísa recebera os seus. Não estava apta a nada que envolvesse só magia bruxa. A não ser que determinados “talentos” fossem necessários ou sua capacidade humana de concentração, dedução e síntese, estava difícil entrever qual caminho seguir. Mais uma vez questionou Dumbledore sobre sua condição de “bruxa”. Não que ela se iludisse. Com dezesseis anos, já sabia claramente que não era bruxa. Mas o que era, afinal? O diretor sorria com simpatia, demonstrando concordância e admiração com a maturidade da moça.

- Por que tudo deve ser classificado, criança? Estude. Estude muito. Aproveite o tempo que está aqui para aprender. Um outro mundo a aguarda lá fora, se você quiser e estiver preparada para ele. No momento certo, eu a enviarei.


Depois do banquete de abertura do novo ano letivo, Heloísa poucas vezes viu Severus. Soube que ele fora excelente nos exames, em todas as matérias. Seus caminhos se distanciavam dia a dia. Via-o cada vez mais se isolar, fechar-se em si mesmo. Tentara se aproximar várias vezes, mas ele continuava irredutível na sua máscara de indiferença. Porém, ela já tinha dezesseis. Sua força de “penetrar” o insondável era bem maior então, e ela sabia que ele estava ali dentro daquele universo obscuro esperando, se escondendo.

Ele andava às voltas com coisas perigosas, obcecado, diziam alguns sonserinos pelos corredores, com práticas e idéias sombrias demais para serem murmuradas abertamente. Estava fascinado com um lado avesso de poder e força. Não adiantaria muito insistir em tocá-lo então. Heloísa compreendeu que era uma escolha dele.

- Por que não podemos ser ao menos amigos? – sussurrou entre suspiros curtos, entrecortados.

O corredor já se esvaziara, e ela o olhava, encostada na parede, meio acuada por sentimentos que a angustiavam. Snape não a olhava de frente. Virado para a parede, olhava o chão, enquanto chutava insistentemente o rodapé.

- Fala comigo... – tentou ela mais uma vez, baixinho.

Ele se virou, encarando-a com os olhos negros, gelados, cortantes. A boca ríspida, apertada.

- Você é alguém que não serve! Aliás, você não é ninguém! Não é bruxa, não tem nada, nem inteligência!

Ela sentiu que ele falava dos NOMs.

- eu não sei pra quê que você serve – continuou ele –, mas não serve pra mim! Nem amizade com alguém como você me interessa! Pára de falar comigo, pára de me olhar, não fica me cercando por aí porque está me envergonhando! Você não sabe da minha vida, não sabe nada de mim, não se ache no direito de me constranger assim! Eu não sou um desses seus amiguinhos estúpidos que precisam de amizade melosa! Eu tenho amigos muito poderosos agora, e logo eu vou ser um ...

Ela o olhava sem acreditar. Já nem o ouvia mais. Então compreendeu que era a escolha dele. Parecia que tinha bastado ao seu coração.
~~~~~~~~~//~~~~~~~~


- Heloísa! Heloísa! – o belo rapaz de sorriso doce, carismático, vinha em sua direção com os braços abertos.

Ela abraçou Lupin fortemente, cheia de alegria em revê-lo, retribuindo o carinho.

Seguiram abraçados pelos jardins até o lago, conversando animados. Lily juntou-se aos dois, e passaram todo o tempo livre contando suas aventuras de férias. Lupin permaneceu bem perto de Heloísa, vez ou outra mexendo em seus cabelos cacheados, afastando-os dos ombros, alisando suas costas, segurando sua mão. Distraída, ela não reparava o brilho nos olhos dele, de que era dirigido só a ela. Estava acostumada a vê-lo assim, feliz, aberto, carinhoso. Não pensou que isso tudo tivesse endereço.

- Preciso ir, meninas! Tenho um trabalho extra para entregar. Mas eu quero muito ver vocês de novo.

Despediu-se, beijando as duas. Heloísa sentiu o calor dos lábios dele em seu rosto, a boca entreaberta, a pressão contínua, demorada. Não sabia o que pensar, achou aquilo estranho, como se algo estivesse sendo sussurrado dentro dela, mas não conseguia entender o quê.

- O Remus está diferente, não é? – perguntou para Lily.

A ruiva grifinória a olhou por uns instantes sem saber se falava algo ou não.

- Você sabe que ele está interessado em você, não sabe? – perguntou, por fim.

- Em mim?! Como assim, interessado...? – Heloísa estava surpresa.

- Ah, Heloísa! Já tem tempo isso! Vai me dizer que não reparou?

- Nem por um minuto! Só estranhei o beijo dele, agora há pouco... Achei intenso, quente... Ele nunca me falou nada! Você está brincando, não é?

Lily ria abertamente. De repente, ficou séria e perguntou:

- Você já beijou alguém? Quero dizer... beijo mesmo... na boca, de verdade...

- Não, de verdade, não... só na imaginação... – estava séria também, falavam de coisas sérias.

- Por que você acha que ele está interessado em mim? Ele já te falou algo? – perguntou baixando a voz, como se debatessem segredos, aproximando-se da amiga.

- Mais ou menos. O Remus é muito discreto. Ele é uma graça, não é? Ele está sempre me perguntando coisas sobre você.

- Como o quê? – perguntou, insistente.

- Ah... coisas... Se você já tinha me dito se gostava de alguém... Se você já tinha me falado dele...Se ainda estava interessada no Severus...

- Ele perguntou, é? E ele fala de mim?

- Mais de uma vez ele disse que te acha bonita.

- Ah, você está brincando...

Ela ficou lembrando do beijo. Da pressão, do calor úmido no rosto. Sentia o corpo todo quente e ficou desconcertada. Ele era uma gracinha de garoto, tinha um jeito apaixonante, mas já vira meninas bonitas suspirando por ele. Heloísa sabia que não era feia mas não era bonita feito Lily ou outras alunas, algumas estonteantes, que havia na escola. Era normal, comum. Nem alta, nem baixa, nem gorda, nem magra. Comum.

”Com certeza ele está confundindo nossa amizade”, pensou. “É simpatia. Só.”


- Mas o que você disse à ela? – perguntou Lupin assustado, o rosto corado de vergonha.

- Não falei nada de mais! – disse Lily, constrangida. – Só que achava que você estava a fim dela! Tô mentindo?

Ele não conseguia nem falar. “E agora, o que fazer? Essa situação pode botar abaixo dois anos de amizade! E se ela se chatear e se afastar? Todo mundo sabe do interesse dela pelo Snape, todo mundo!”

Após a aula da tarde, se encontraram no corredor. De frente um para o outro, esperaram os alunos passarem, olhando-se encabulados. Aproveitando a sala vazia, ele a segurou suavemente pelo braço e a levou para dentro, fechando a porta.

- Eu queria te dizer... Quero dizer... Não pense que... – ele gaguejava, ansioso.

- Não, claro! Claro! Eu sei que é conversa da Lily! Eu sei que você não está interessado assim em ...

- Eu estou. – Foi rápido, incisivo.

Ela ficou lívida. Sem esperar resposta, ele a abraçou, inclinou-se e a beijou na boca. Foi imediato, assustador. Largou-a de repente, olhando-a, sondando uma reação. Ela piscava, com a boca entreaberta, segurando a respiração. Quando o olhou nos olhos, sentiu seu rosto ferver. Inspirou e segurou o ar. Olhando-a ali, envergonhada e quente, sem conseguir falar, sem conseguir respirar direito, ele sentiu seu peito explodir. Aproximou-se, sorrindo suave, abraçou-a e novamente a beijou.

Os lábios se massageavam, pressionando-se carinhosamente. As línguas se procuravam inexperientes, quentes, ansiosas. Ambos sentiam o fogo crescendo, e ele a apertou de encontro a si. Nenhum dos dois sabia direito onde botar as mãos, ora se abraçando forte, ora se alisando esfogueados. Suas bocas se desencontravam, buscando partes um do outro, buscando gostos, cheiros, texturas, e novamente se procuravam com sofreguidão, tentando responder às ondas de paixão e hormônios que mal conseguiam segurar. Sentiam os corações pulsando rápidos nos lábios, nas línguas; o gosto da saliva um do outro, o calor, a umidade. Mal conseguiam respirar, relutantes, com as bocas percorrendo rostos, queixos, pescoços. A sensação do corpo dela assim, colado ao dele, ao alcance de suas mãos, deixava-o aceso. Como um bicho. Ela sentia o corpo dele mexendo, forte, pressionando e esfregando o seu, latejando.

Quando sentiu, perigosamente, aquela impressão de que o sangue escorria todo de sua cabeça, descendo gelado pela coluna, algo a alertou para parar antes que fosse muito tarde. Ela levou as mãos ao peito dele, tentando segurá-lo longe o suficiente para suas bocas se afastarem. O garoto resistiu, ainda sugando os lábios dela e segurando-a pelos quadris. Quando finalmente se separaram um do outro, entreolhavam-se surpresos, confusos e risonhos.


- Onde você andou a tarde toda, Moony? – os garotos grifinórios de sua turminha o esperavam na sala comunal. – Você é monitor, esqueceu, cara?! E as suas responsabilidades?! – brincaram com ele, percebendo a agitação em que ele se encontrava.

- Despenteado... desarrumado... todo vermelho... Já sei: foi dar uns amassos! – Sirius gozou com a cara dele. – Quem foi? Quem? Quem?– quis saber o amigo com insistência, rindo e despenteando ainda mais o cabelo dele.

Remus não respondeu. Deixou os companheiros rindo lá embaixo e subiu para o dormitório. Precisava tomar banho, se arrumar, se esfriar. Já estava quase na hora do jantar. Quando eles chegaram ao Salão Principal, ela já estava sentada à mesa lufa-lufa. Olharam-se envergonhados, sorrindo muito um para o outro. Lily, mais adiante na mesa grifinória, ria sozinha. As colegas não entendiam de quê. No fundo do Salão, à mesa sonserina, um par de olhos negros acompanhava tudo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.