Couldn't Cry Tonight (Único)
Couldn't Cry Tonight
Não pude chorar essa noite
I woke up from my dreams
Eu acordei de meus sonhos
Fighting every old nightmare that used to haunt me
Lutando contra todos os antigos pesadelos que costumavam me assombrar
And you
E você
You were so far
Você estava tão longe
I was afraid
Eu estava com medo
Uma lágrima esquiva rolou pelo rosto da jovem. Como tivera medo, tanto medo daquele momento... E ele simplesmente acabara. Da maneira errada, mas acabara. E, por algum motivo, ela não pôde chorar; não sentiu a dor da perda. A mão que comprimia a sua não era a que ela queria que estivesse ali, mas não tinha importância. Ela perdera, e não podia chorar.
— Não se preocupe, haverão outros, querida... – murmurou Harry, suspirando.
A jovem virou o rosto, a expressão vazia, o rastro seco da lágrima que não fora um choro, mas um suspiro pesado de alívio. O moreno tocou-lhe a face pálida, afagando-lhe os cabelos ruivos, controlando o pranto. O medibruxo trouxe-lhes um emaranhado de cobertores, a expressão pesarosa porém firme de quem já passara por aquela experiência.
— Era um menino... – murmurou o doutor. – Sinto muito.
— Obrigado – disse Harry, a voz embargada.
O moreno pegou nos braços a criança que tanto quisera. Era um bebezinho atarracado, um prematuro de sete meses, os lábios arroxeados, a pele lívida. Contemplou o cadáver do filho por alguns instantes, até estendê-lo para Gina. A ruiva virou o rosto, suave, numa negativa clara e cheia de repulsa.
I fought the will of looking at those eyes
Eu lutei contra a vontade de olhar pr'aqueles olhos
The eyes that were yours, only yours
Os olhos que eram seus, apenas seus
I couldn't feel sorry because I wasn't allowed
Eu não pude sentir muito porque eu não tinha permissão
I couldn't look at that face
Eu não pude olhar pr'aquela face
— Gina, é nosso filho... – Ele engoliu em seco, surpreso pela reação da esposa.
— É um cadáver, Harry – murmurou a ruiva, sibilante. – Não vai crescer para brincar, me chamar de mãe, conhecer o pai.
— Isso não o torna menos humano – replicou o moreno, exasperado. – Por favor, ao menos olhe para nosso filho.
Ela fechou os olhos e não respondeu. Nosso filho. O filho que Harry tanto queria. O filho que Harry tanto exultava. O filho que Harry nunca poderia lhe dar. O filho que não era de Harry. Ela virou o corpo inteiro, enroscando-se numa posição quase fetal sobre o leito. Repudiava a criança morta porque nunca mais teria outra. A esperança de uma família só dela morrera com aquele bebê.
I was waiting for you
Eu estava esperando por você
I wanted you to be with me now
Eu quis que você estivesse comigo agora
'Cause I...
Porque eu...
I couldn't cry tonight
Eu não pude chorar essa noite
I couldn't fight your memories
Eu não pude lutar contra suas memórias
I was ashamed because I was yours
Eu estava envergonhada porque eu era sua
And now I'm nothing
E agora eu não sou nada
Because you left
Porque você me deixou
*** Flashback ***
Ela estava em pé nos braços do loiro, rendida sob os beijos suaves e apaixonados que lhe esquentavam a pele.
— Draco, não, por favor, você sabe que eu sou casada, agora...
— E você não ama o menino-que-sobreviveu, Gina... – Ele continuava, os beijos dissolvendo a resistência da jovem, acariciando-lhe a pele úmida que o roupão não escondia.
— Isso não torna isso que estamos fazendo certo... Draco, por favor, me deixa explicar... Pelo amor que você tem a mim, Draco, pára.
O rapaz suspirou, descolando os lábios do pescoço da amante e baixando a cabeça. Gina ajeitou o roupão nos ombros e ergueu o rosto do loiro, fitando-o fundo nos olhos.
— Eu quero um filho, Draco – disse ela, simplesmente, o olhar suplicante e tímido. – Harry nunca me dará um. Nunca me dará o filho que eu quero, porque eu quero um filho seu, meu amor. Seu.
— Gina... É fácil suportar nossos encontros sociais sem dizer uma palavra sobre o tempo durante o qual estivemos juntos. Posso até não demonstrar nenhuma reação quando você sai com Potter para dançar e ele te afoga, beijando a boca que deveria estar sob a minha. Até compreendo que nos encontremos esporadicamente, para não mais que algumas palavras e beijos. Mas eu nunca poderia ver meu filho e fingir que ele nascera do homem que roubou a mulher que eu mais amei na minha vida.
— Mas eu quero um bebê... – Ela mordeu o lábio, chorosa. – Você casou porque engravidou uma garota, Draco, e ela mal te olha. O filho é todo seu. Eu quero um filho para mim. Um filho que eu possa amar, só eu, sem sentir nele o peso da obrigação, das correntes com as quais eu me prendi quando me casei com Harry. Um filho gerado por amor.
O loiro baixou os olhos por um instante, para então erguê-los e murmurar:
— Eu posso lhe dar um filho, sim, Gina. Mas eu preciso que você entenda uma coisa: preciso que você se lembre que ele não será do seu marido.
A ruiva acenou com a cabeça, sentindo que aquela seria a única vez em que realmente seria amada. Harry era morno, apressado, distante. Com Draco, era tudo diferente. Ele a completava. Mesmo tendo outra família, outra vida, longe de Gina, ele a completava, a amava. E ele deu-lhe o filho. Duas semanas depois do encontro com Draco, ela sabia que estava grávida. Cedo demais para qualquer certeza médica, mas ela sabia. Era o suficiente.
There's nothing but dust
Não há nada além de poeira
Our hearts were broken
Nossos corações foram quebrados
We torn ourselves apart
Nós nos dilaceramos
Oh, I miss the kiss you gave me when you turned me into a woman
Oh, eu sinto falta do beijo que você me deu quando me tornou uma mulher
I miss those days like the desert miss the rain
Eu sinto falta daqueles dias como o deserto sente falta da chuva
Quando Harry soubera do bebê, ficara radiante. Passara a cobrir a esposa de agrados e carícias, a amar a criança. Gina não podia dizer-lhe que o filho não era dele. Ela parara de encontrar Draco, porque o marido não a queria mais fora de casa. Ela sorria quando se lembrava de quem era o filho, e entristecia-se ao lembrar que enganava Harry para poder ter a criança. Ele nunca a perdoaria.
E tudo acabara. Como começara, acabara. Draco morrera numa investida da Ordem, o corpo encontrado rijo e esmigalhado sob as fundações da casa onde Gina concebera o filho, sete meses atrás. A ruiva entrara em trabalho de parto, as contrações irrepressíveis, a dor de perceber que o amado morrera. Harry desesperara-se, e a levara para o hospital, mas ela não pensava em mais nada, a não ser no cadáver do amante.
*** Fim do Flashback ***
Os pensamentos se dispersavam, e continuaram dispersos depois que Harry oferecera-lhe o corpo do último vestígio de Draco em sua vida.
— Gina, por favor... – Ele se irou, erguendo-se e dando a volta no leito para encarar a mulher. – Já não basta você ter matado nosso filho, agora nem o quer olhar?!
Contendo a náusea que a dominara assim que o marido fizera-lhe aquela acusação sem precedentes, ela conseguiu mumurar um fraco "Como?", ao que Harry continuou:
— Sim, Gina, você matou nosso filho. Seu colapso nervoso interferiu em alguma coisa no bebê. Ele já estava morto quando você abortou.
I'm not strong enough to handle with it
Eu não sou forte o bastante para lidar com isso
I know it so surely because...
Eu sei isso com tanta certeza porque...
I fought those old nightmares
Eu lutei contra esses antigos pesadelos
I miss the kiss you gave me
Eu sinto falta do beijo que você me deu
And it makes me not to cry today
E isso me faz não chorar hoje
A ruiva sentiu que sua alma a deixava quando Harry contou-lhe aquilo. Frenética, desesperada, ela estendeu as mãos, buscando sem ver o corpo do filho. O moreno entregou-o, sem entender o que ela pretendia, tendo repelido com tanta gravidade a criança e agora querendo-a com tanta força. Gina apertou o corpo frio do filho entre os braços, sentindo as lágrimas duras que não a queriam deixar, sufocando-a. Não tinha mais certeza do que queria, mas sabia que não podia deixar que Harry se iludisse por mais tempo. Sem encará-lo, a ruiva chamou-o, num fio de voz, e murmurou:
— O meu filho perdeu o pai logo antes de ter nascido. Draco era o pai desse filho. Você nunca teve nada a ver com ele.
Ela fechou os olhos, cansada. Ouvia Harry chamando-a, cada vez mais longe, mais insólito... Ouvia os gritos dos medibruxos, tentando reanimá-la, os choques disparados com precisão para ressucitá-la, a ira e o pesar de Harry... E, de súbito, não ouvia mais nada. Nada, nenhum som, até sentir uma mão firme em seu ombro, e o voz que tanto amava sussurrando-lhe ao ouvido:
— Aqui eu posso criar nosso filho... – O rapaz tocou com a ponta dos dedos a face da criança que dormia, serena, nos braços de Gina. – Aqui eu posso te amar para sempre.
E ela sorriu.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!