Parte I
–– Ah, como senti falta deste bar! –– exclamou um dos guerreiros, adentrando junto com um grande número de pessoas o estabelecimento mais freqüentado do vilarejo: o bar dos Longbottom.
O rapaz tinha a pele um tanto suja e o rosto marcado por algumas cicatrizes, provavelmente de combates, mas isso não impedia que sua beleza estonteante se sobressaltasse incrivelmente. Ele tinha os cabelos negros e muito lisos, mas agora extremamente bagunçados, caindo-lhe de um modo displicente pelos olhos azul-acizentados, no que o rapaz jogava-os para trás charmosamente, levando ao delírio as mulheres a sua volta.
–– Vamos para a mesa de sempre, Sirius. –– falou Tiago, que já havia se despedido de Lílian, pois ela teve que voltar para casa graças às ordens do pai.
O homem concordou, assentindo, e logo os amigos foram para uma mesa bem no centro do bar, onde podiam observar e serem observados por todos, seguidos de mais dois rapazes.
–– Enfim, em casa! –– exclamou o que vinha mais atrás, puxando uma cadeira para sentar. Largou-se nela em seguida, sendo imitado pelos outros. –– Vamos pedir as bebidas de sempre?
Ele era um pouco mais baixo que os outros três, mas possuía os ombros largos e o corpo muito musculoso, não deixando de ter, portanto, o aspecto de guerreiro. Possuía os cabelos bem claros e lisos, combinando em uma mistura interessante com seu par de olhos castanhos, e dando-lhe uma falsa impressão calma e pacata. Era um dos rapazes mais bonitos e fortes daquele lugar, e tinha o rosto com feições até delicadas, apesar do olhar travesso e intimidante.
–– Claro que sim, meu caro Pedro. –– o quarto rapaz disse, sorrindo ligeiramente, enquanto levantava o braço e chamava o homem que já voltara para trás do balcão. –– Frank, traga quatro cervejas para nós!
Aquele era Remo Lupin, o herdeiro da mais próspera fazenda da região. Era o melhor domador de cavalos do vilarejo e possuía a montaria perfeita. Ele tinha os cabelos castanhos um pouco ondulados e os olhos amendoados em uma tonalidade muito bonita, cor-de-mel. Era bastante alto, com um porte muito bonito e o ar sério, mas a verdade é que tinha o coração mais inocente dentre aqueles quatro rapazes, os marotos.
Frank assentiu, e logo correu para servir o mais rápido possível os quatro mais famosos e admirados guerreiros de todo o vilarejo. Enquanto ele esgueirava-se pelas várias pessoas que se amontoavam em seu bar para festejar a vitória de sua legião, um mensageiro do governador de Westville, mas conhecido como rei Dumbledore, apareceu na entrada no bar. Cumprimentou Frank acenando discretamente com a cabeça, e rumou sem falar com mais ninguém para as escadas no fundo do bar, que o levariam aos quartos alugados no andar de cima do estabelecimento. Ele olhou para um papel que trazia nas mãos, consultando o endereço, e deu três batidas na porta do segundo quarto no corredor. Não demorou muito, e uma bela morena abria a porta, colocando apenas a cabeça à mostra, como seu costume de segurança.
–– Em que posso ajudá-lo? –– perguntou a mulher, já imaginando do que aquela visita se tratava, por conhecer as tradições dos povoados daquela época.
–– A senhorita é Helena Jabor? –– quis saber antes o homem, no que ela logo assentiu. –– Trago uma mensagem do senhor Dumbledore, de Westville, aquele que supervisiona o povoado em nome de nosso rei supremo. –– falou o mensageiro, pomposamente, enquanto entregava um pedaço de pergaminho enrolado para a mulher.
Ela agradeceu rapidamente, e fechou a porta em seguida, enquanto o mensageiro retornava para os terrenos do rei, com sua missão cumprida. Helena, então, pegou uma capa que era de sua mãe, em um tom de vinho muito bonito, aonde a barra chegava a arrastar no chão, e colocou-a por cima de seu corpo, com o capuz pendendo para trás. Certificou-se de que sua espada já estava presa a sua cintura, pegou a chave do quarto, que até então estava jogada em cima de uma pequena mesa de madeira, e saiu pela porta. Foi, em seguida, em direção às escadas que a levariam ao primeiro andar, e pôde ouvir a madeira usada para construí-las rangendo alto ao menor passo dado. Com o barulho emitido e a silhueta diferente de Helena surgindo, a mulher acabou atraindo algumas atenções no bar, que voltaram seu olhar para aquela estrangeira, cujo ninguém tinha alguma informação, ou sabia de onde viera.
–– Quem é aquela? –– Sirius logo perguntou, observando com atenção a mulher que, agora, já alcançava os primeiros degraus, mas nenhum de seus amigos soube responder.
Tudo o que ele conseguiu identificar foi aquela capa vinho, que cobria todo o corpo dela, deixando apenas seu rosto à mostra. Seus cabelos castanho-escuros caíam com pequenas ondulações por cima do capuz, contrastando com sua pele pálida, e fazendo seus olhos negros destacarem-se ainda mais. O seu olhar, assim como a própria estrangeira, era diferente do das outras mulheres daquele vilarejo; era firme, gélido, petrificante. Ela andava com a cabeça erguida, e com aquelas duas pérolas negras no lugar dos olhos encarando desafiadoramente qualquer um que cruzasse seu olhar com o dela.
Enquanto a mulher atravessava o bar, esgueirando-se entre mesas e cadeiras e atraindo muitos olhares curiosos, Sirius rapidamente levantou-se, postando-se no caminho de Helena. Ela encarou-o seriamente, erguendo uma sobrancelha, como se perguntando se o homem realmente ficaria em seu caminho, no que ele apenas abriu um sorriso pelo canto da boca.
–– Meus amigos e eu gostaríamos de dar boas-vindas a essa tão bela forasteira! –– ele exclamou, erguendo seu copo de cerveja no alto, como se brindasse.
–– E eu gostaria que o senhor saísse do meu caminho. –– respondeu a mulher, o olhar cortante, a voz firme e fria.
Sirius pôde ouvir a gargalhada de seus amigos na mesa logo atrás de si e, depois daquela resposta extremamente grossa da morena, ele preferiu não mais insistir em uma tentativa de conversa. Jogou seu corpo um pouco para o lado, abrindo caminho para ela, no que a mulher passou rapidamente por ele.
Os pais de Helena foram assassinados quando ela completava sua décima segunda primavera, então tinha sido criada em grande parte por seu irmão. Recebera o tratamento de um verdadeiro guerreiro, para realmente conseguir ser um, e de tanto perder as pessoas que mais amava, havia se acostumado a não fazer mais amigos, e não se apegar a ninguém, preferindo manter o menor contato possível com qualquer pessoa.
Sirius olhou-a distanciar-se, saindo pelas portas do movimentado bar. Ela foi em direção a um dos cavalos que estavam amarrados do lado de fora, e o rapaz riu internamente ao ver o animal um tanto magro e aparentemente bem mais fraco que a mulher agora acariciava. Mas, em seguida, surpreendeu-se com o jeito perfeito com que ela montou seu cavalo, e surpreendeu-se mais ainda quando a viu saindo em disparada com aquele animal que parecia ser de um nível bem mais baixo do que o que sua legião usava. Provavelmente, a estrangeira o havia feito correr só para se exibir, mas logo um pouco mais à frente, o cavalo não agüentaria aquele trote rápido, e diminuiria o ritmo. Sirius, então, foi despertado de seus pensamentos quando sentiu duas mãos macias percorrem sua barriga, e logo se virou para trás a fim de galantear a mulher que se aproximara. Ela era loura, com os cabelos desgrenhados, mas aparentemente lisos, até um pouco abaixo dos ombros. Era muito magra, e trajava um vestido azul com branco cheio de remendos.
–– Que tal comemorarmos esta noite o seu retorno? –– perguntou a loura, enquanto andava agarrada a Sirius até a mesa de seus amigos.
Ele piscou marotamente para ela, assentindo em seguida. A mulher deixou que um largo sorriso se estampasse em seu rosto e, após isso, voltou para a mesa que antes ocupava com suas amigas.
Frank já havia servido as quatro cervejas para os marotos, quando Sirius sentou novamente em sua cadeira. Olhou de soslaio para a loura, que já se distanciava sorridente, e voltou a encarar os amigos. Deu, em seguida, um longo gole em sua bebida, satisfeito por perceber que, mesmo com o bar completamente lotado, aqueles quatro prestigiados rapazes ainda tinham uma nítida preferência.
–– É exatamente por isso que não troco Westville por lugar nenhum. –– disse, erguendo seu copo no ar, como que sugerindo um brinde, no que os outros três amigos logo ergueram seus copos também.
–– Isso o quê? –– Tiago perguntou, deixando que um sorriso malicioso brincasse no canto de seus lábios. –– As mulheres? –– completou, referindo-se ao fato de que, mal o amigo levara um fora de uma morena, e já vinha outra loura para não deixá-lo sozinho.
–– Também. –– Sirius respondeu risonho, pesando o novo palpite. –– Mas principalmente a glória! –– e brindou com os amigos.
Os quatro, então, beberam todo o conteúdo existente em seus copos de uma só vez.
–– Que os deuses deixem os lobos em suas colinas, e as mulheres em nossas camas! –– exclamou Pedro, no que os outros gargalharam, e bateram novamente os copos, agora vazios.
Remo limpou, com as costas da mão, uma pequena gota de cerveja que chegou a escorrer pelo canto de seus lábios, na euforia de querer beber tudo em um só gole, e bateu com força o copo na mesa, apenas para fazer barulho, assim como os outros rapazes, chamando com isso ainda mais a atenção das mesas ao redor.
–– Traga mais uma rodada, Frank! –– pediu Remo, sacudindo o braço no ar, e tendo a certeza de que seria rapidamente servido.
Mas, dessa vez, não foi o dono do bar quem foi pessoalmente levar as quatro cervejas. Uma mulher bem mais baixa do que eles, e com a silhueta fina, adentrou correndo o estabelecimento e foi direto para trás do balcão. Colocou uma espécie de avental por cima de seu vestido azul-escuro e rapidamente pegou a bandeja das mãos de Frank, a fim de ajudá-lo a servir os clientes. Deu um rápido beijo em seu marido, e foi na direção da mesa dos quatro rapazes, com um largo sorriso estampado no rosto. Aliás, não havia momento algum em que aquela doce e simpática mulher não estivesse sorrindo; aquilo já se tornara sua marca registrada. Ela tinha os cabelos muito compridos, caindo lisos, mas um pouco mal penteados, quase até sua fina cintura. Seus olhos eram castanhos, quase acinzentados, e a mulher tinha um rosto redondo, com as bochechas ligeiramente rosadas destacando-se naquela pele pálida.
–– Aqui está, rapazes! –– ela exclamou, apoiando a bandeja sobre a mesa e entregando aos quatro suas cervejas.
–– Obrigado, Alice. –– Remo agradeceu, sorrindo de volta para a velha amiga.
–– Ei, Tiago... –– chamou Alice, no que o maroto prontamente lhe reservou toda a sua atenção. –– Lílian me pediu para avisar a você que ela está te esperando na casa dos Evans mais tarde.
Tiago assentiu, sorrindo ligeiramente pelo canto dos lábios, enquanto dava um longo gole em sua cerveja. Mas, de repente, ele parou de beber, e quase chegou a cuspir o líquido de volta. Largou o copo e levantou-se imediatamente, colocando duas moedas sobre a mesa.
–– Esqueci completamente, tenho que visitar o rei Dumbledore! –– exclamou, despedindo-se brevemente de todos e rumando para o lado de fora do bar.
Perguntou-se momentaneamente onde estava seu cavalo, Xanto¹, e chegou a assobiar baixinho chamando-o, quando se lembrou que, provavelmente, o tinham levado para o estábulo, assim como os outros animais que estavam com os guerreiros na batalha, para tratar corretamente deles. Resignado, Tiago ainda pensou em pegar “emprestado” um cavalo qualquer, mas acabou decidindo ir a pé mesmo, no final das contas.
N/A: Já que eu estava há um bom tempo sem atualizar essa fic, resolvi postar a primeira parte do capítulo dois, mas assim que eu terminar o capítulo, posto o resto aqui! Ah, tenho um pequeno alerta: Pedro Pettigrew não será aquele idiota-gordo-feio-comilão que a maioria dos leitores está acostumado a ler nas fics, ele será um perfeito maroto. Quem não for capaz de tirar essa imagem dele, então sugiro que nem continue a ler essa fic ;)
¹ - Xanto foi um dos cavalos dados de presente por Posêidon a Peleu, o pai de Aquiles, assim como Bálio, cujo cavalo de Sirius levará o nome. Espero que não se incomodem, mas é que eu adoro essas referências da mitologia grega :D
Perguntaram-me se a fic terá animais mágicos, ou algo relacionado ao mundo de Harry Potter. Não, não terá, apenas uma das personagens praticará bruxaria, mas nada parecido com a história da J.K. Rowling. Bom, é isso gente, quem pudesse comentar, eu ficaria muito grata! Beijos a todos
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!