Cápitulo Único



Depois de uma longa briga de Ron com Hermione, ele se encontrava sentado no sofá do apartamento em Londres que dividia com a namorada, Harry e Ginny.
O motivo das brigas era sempre o mesmo, Ron estava com ciúmes das cartas que Krum enviava para Hermione, mesmo sabendo que, agora com vinte e cinco anos, ele já estava casado e tinha uma filha pequena. Ele não acreditava que Krum tivesse deixado de gostar de Hermione. Sempre falava sobre um “amor reprimido”. Para Hermione isso era patético, assim como para Ron o fato de Hermione sentir ciúmes de Lilá era mais patético ainda. Ele não se correspondia mais com ela e nunca mais a vira depois do sexto ano de Hogwarts. Mesmo assim, Hermione a citava em todas as brigas que os dois tinham.
- Por que ela sempre briga comigo? – ele murmurou para si próprio.
- O que disse, Ron? – indagou Hermione, em tom mandão, como uma mãe que coloca o filho de castigo e dá uma bronca se ele ousa reclamar. Ela acabara de sair do quarto que dividia com Ginny e carregava uma pesada trouxa de roupas.
- Nada, Mione – ele respondeu, rabugento. – Por que você teima em carregar a trouxa de roupas na mão se pode usar magia?
- Pelo simples fato, Ron – ofegou Hermione, colocando a trouxa em cima da mesa de jantar e parando para respirar - de que você está sentado em cima da minha varinha e estava, até alguns momentos atrás, ignorando tudo que eu dizia.
- Desculpa, Mione – Então levantou e entregou a varinha para ela.
- Obrigada – agradeceu Hermione, pegando a varinha da mão do Ron e encantando o saco de roupas para que flutuasse.
- Mione, eu queria...
- Agora eu não posso conversar. Tenho muito serviço a fazer.
- Mione, você sabe que temos um elfo doméstico, por que teima em fazer as coisas?
- Você já se esqueceu de que eu sou totalmente contra qualquer tipo de trabalho escravo?
- Não, Mione, mas...
- Não me venha com essas historias de que os elfos gostam de trabalhar sem salário! – disse ela, ficando brava e encarando Ron nos olhos. – Quem trouxe o Monstro para trabalhar aqui foram você e o Harry!
No momento em que Hermione terminou a frase, Monstro passou se arrastando por ela com cara de nojo.
- Sangue-ruim! O que diria minha senhora se soubesse que eu trabalharia para uma sangue-ruim nojenta... o que diria...
- Mas ele pode trabalhar para você também... Você não precisa lavar as roupas de todos. E outra, pelo modo como essa Coisa te trata, você devia era enchê-lo de serviço para que ele aprenda a te respeitar. – Ron falou, calmo, porém receoso.
- Não sei se você percebeu, mas não tem nem roupa sua e nem roupa do Harry aqui.– respondeu, brava. – E não trate Monstro como um ser inferior! Ele pode até ser bem estranho , mas não é totalmente ruim, ele só é incompreendido.
- Vai, Mione, não comece a brigar... – indignou-se Ron.
- Brigando? Você acha que eu estou brigando? – ela gritou, ficando vermelha de raiva – EU NÃO ESTOU BRIGANDO!
- Não está? Então, por que está gritando comigo? – Rony gritou.
- Eu não estou gritando com você! E não gostei do seu tom! – ela disse, largando a varinha e fazendo, conseqüentemente, todas as roupas caírem, se esparramando pelo chão.
Monstro passou de volta, reclamando, no momento em que as roupas caíram no chão.
- Sangue-ruim ingrata! Lavo todas as roupas da casa e é assim que você me agradece...
- Do meu tom? – disse Ron, ignorando o comentário maldoso de monstro e ficando cada vez mais indignado. – Você já viu como você está falando comigo? Aposto que com o Vitinho você não fala assim! – gritou Rony.
Pronto, ele havia tocado na ferida. Hermione odiava quando ele falava assim. Ron sabia que Vítor estava casado, por que tinha que falar assim? Será que ele não percebia o quanto isso a magoava?
- Quantas vezes eu vou ter que falar que Vítor está casado e tem uma filha? – ela gritou.
- Pois eu não acredito que ele não pense mais em você! – Ron gritou devolta. Os dois estavam falando tão alto que pareciam estar em extremidades opostas de um campo de Quadribol.
- Pois acredite! Quem ainda gosta de você com certeza é a Lilá!
- Pelo menos ela não me manda uma carta a cada dois dias!
- Como é que é? Então quer dizer que vocês ainda se correspondem? – gritou Hermione.
- Não, Mione... Eu... – Ron disse, tentando se consertar. Ele não se correspondia com ela. Sabia disso. Porque foi tão burro? Tudo por causa de um elfo doméstico! Mas Monstro ia lhe pagar, ah se ia...
- Não, Ron, não conserte. Eu já entendi tudo – disse Hermione, lágrimas escorrendo pelas suas bochechas vermelhas e se perdendo em seus lábios.
Rony disse alguma coisa que Hermione não entendeu. Não queria ouvir mais nada. Só o que fez foi desaparatar no momento em que Rony tentou abraçá-la.
Queria ir para longe, longe de Ron, longe daquele apartamento, longe de seus sonhos e esperanças de que o namorado algum dia pudesse entender os seus sentimentos, enfim, longe de tudo que lembrasse Ronald Bilius Weasley.
Iria para o centro de Londres, a um lugar que ninguém conhecesse. Iria para a casa de seus pais falecidos, apenas para observar a casa onde fora criada e relembrar como era bom ter pais. Agora ela entendia como Harry se sentia tendo os pais mortos por Voldemort. Ia andando, como uma trouxa, uma pessoa desprovida de poderes mágicos. Quem sabe assim poderia se lembrar de quando andava de mãos dadas com sua mãe, aos sete anos.
Percorreu seu caminho para o centro da cidade, andando rápido, os rostos passando, e finalmente estava em casa.
Sentou-se na grama mal aparada e olhou para a casa destruída pelo tempo e pelo ataque de Voldemort, chorando cada vez mais intensamente.
As janelas estavam estilhaçadas, pedaços de madeira foram colocados sobre as janelas pelos antigos moradores da rua, a porta da casa estava arranhada e quebrada em certos pontos, as paredes estavam sem pintura e o telhado continha buracos. No jardim, a antiga bicicleta que Hermione ganhara de aniversário de dez anos, um ano antes de ir para Hogwarts, jazia enferrujada depois de tantos dias de chuva sobre a grama. Era uma aparência horrível para uma casa antigamente freqüentada por uma família de classe média. Ela lembrava de como a casa era bonita, a grama bem aparada, as janelas sempre brilhantes e transparentes, a parede bem pintada, a cerca, que hoje estava quebrada, bonita e alinhada, e da bicicleta, hoje jogada sobre a grama, encostada graciosamente ao lado da porta, sua cesta cheia de margaridas.
Se lembrar de como sua casa era antes é uma tortura para Hermione. A saudade a consumia e a tristeza roubara o lugar de sua antiga felicidade. Agora, sem pais, o que ela mais temia era a perda de Ron, seu único motivo de alegria. Parecia que todo o seu ciúme e seu medo de perdê-lo o distanciara dela, mas ela sabia que o amava. E ele não percebia que a magoava com seus comentários sobre Vítor. A única coisa que Vítor vinha lhe pedindo em cartas era que ela fosse madrinha de sua filha. Hermione dizia que não podia, pois Ron sentiria ciúmes e, a pedido de Vítor, não contava nada ao namorado. O motivo, ela não sabia muito bem, mas achava que era para evitar possíveis brigas entre ela e Rony. Cada vez que pensava nas coisas que já abrira mão para não magoar Ron, chorava mais. Era possível alguém ser tão egoísta? Enquanto ela fazia de tudo para lhe agradar, ele continuava se correspondendo com Lilá. Como ela poderia ser tão idiota a ponto de pensar que algum dia ele havia pensado nela? Não, Ronald Weasley não poderia pensar nela, afinal, ela era apenas uma mulher de cabelos crespos que lhe controlava e roubava todo o seu tempo. Isso era o que ele pensava dela, com certeza era. É claro que ele não resistiria a Lilá, afinal, ela é loira e bonita, tem todas as pessoas que quer aos seus pés. “Não, não pense assim, Hermione. Você está sendo um tanto infantil” ela pensou.
Olhava distraída para frente, apenas percorrendo seu caminho, percorrendo um caminho
através da multidão.
O tempo passava e cada momento se tornava mais torturante. Rostos entravam e saíam de sua cabeça, lembrando de todos os seus parentes.
Como a vida poderia ser tão cruel com ela? Ela sempre fora uma aluna exemplar, sempre deu muito orgulho aos pais. Sua mãe... Por Merlim, antes de ser atacada ela havia lhe contado que estava novamente grávida depois de tantas tentativas em vão. Sua mãe sempre quis ter mais de um filho, mas a única que conseguira ter fora Hermione. Uma doença trouxa que impedia as mulheres de ter filhos. Depois de tantas tentativas, ela conseguira engravidar novamente.
Por Merlim, nunca houve encontro mais feliz!

*ínicio do flash back*

Hermione foi até a casa dos pais com todos os Weasleys, que tratavam sua família maravilhosamente bem, e Harry.
Depois de abraçar sua mãe e parabenizar seu pai, Hermione não cabia em si de tanta alegria. Teria um irmão. Aquele irmão que sempre quis. Já estava pensando em nomes na casa de seus pais.
Saíram de lá para voltar para a sede da Ordem da Fênix. Ela, Harry e todos os Weasleys, estavam hospedados lá, escondendo-se de algum possível atentado de Voldemort.
No dia seguinte Ron à e lhe disse, sério:
- Mione, aconteceu uma coisa.
- O que, Ron? O que pode ter acontecido de tão sério pra você estar com essa cara? Pense pelo lado positivo, afinal, eu vou ter um irmão! Ou irmã, não sei, mas quero um irmão! – Hermione deu um sorriso de orelha a orelha, sem se importar que estava de camisola e tinha tirado as cobertas. Olhou para a janela, o tempo estava horrível. O céu estava escuro e chovia muito.
- Mione, é meio complicado te dizer isso... – Ron começou, triste.
- O que aconteceu Ronald? – perguntou Hermione, começando a se preocupar.
- É, é... Chegou esta carta hoje de manhã na ordem. – ele disse entregado-lhe um pedaço de pergaminho.
”A marca negra foi conjurada hoje durante a madrugada em cima de uma casa trouxa, no centro de Londres.
Parece que a família era de classe média.
Hoje de manhã os aurores foram até o local do crime e constataram que todos estão mortos.
Esperamos que venham até o local do crime para receber mais informações.”
Hermione lia com mais atenção a cada linha. Não entendia como aquilo poderia ser importante para ela, não que não se importasse, mas estava tão feliz com a gravidez da mãe que não tinha vontade de sofrer pela a desgraça alheia.
- Okay, e o que isso tem a ver comigo? – ela perguntou, feliz.
- Er... Mione, acho melhor você se trocar e ir para a sala, mamãe quer falar com você. – ele disse.
- Okay! – ela lhe respondeu.
Então, ouvindo sua resposta, Ron virou-se e saiu do quarto, deixando Hermione sozinha encoberta pelas sombras.
Tomou um banho demorado e se trocou cantando e feliz. Iria ter um irmão!
Desceu a escada, três degraus por vez. Quando estava perto da sala de jantar da casa dos Black, ouviu uma conversa na cozinha.
- Molly, não fique assim, você sabe que...
- Não, Arthur! Nós fomos imprudentes! Sabíamos que estávamos correndo riscos! Sabíamos da insistência de Você-Sabe-Quem para atingir o Harry! E agora, o pior aconteceu... Por Merlim, como vou falar isso...
- Senhora Weasley? – perguntou Hermione, receosa.
- Hermione, querida, sente-se. – disse a senhora Weasley, com cara de pena, desviando logo do assunto anterior.
- Que foi, senhora Weasley? O que houve? – perguntou-lhe Hermione, começando a se preocupar mais.
- Bom, ocorreu um ataque de Você-Sabe-Quem, como você já deve saber, e...
- E... ? – ela perguntou nervosa.
- Bem, seus pais... eles... – começou a Senhora Weasley, um pouco nervosa também. – Por Merlim, como eu vou te falar isso... Eles, eles foram os atacados, querida. Eu sinto muito.
- O QUÊ? MEUS PAIS? NÃO PODE TER SIDO, MINHA MÃE ESTÁ GRÁVIDA! ONTEM MESMO NÓS ESTAVAMOS LÁ NA CASA DELES E... – ela não conseguiu prosseguir. A felicidade que sentia foi se esvaindo de seu corpo tão rapidamente que ela sentiu uma imensa dor. Não uma dor física, antes fosse. Seu coração doía cada vez mais.
- Querida, não pudemos fazer nada. – disse a senhora Weasley abraçando-a.
Hermione se desvencilhou depressa do abraço e correu para o jardim onde chovia. Ron à seguiu.
No meio do jardim Hermione pôs-se a chorar.
- Por quê? – ela gritou. – Por que com eles? Minha mãe estava grávida! Por quê?
Rony não disse nada, apenas a abraçou.
- Por que... Por que... – Hermione suspirava ao peito de Rony, as lágrimas escorrendo pelas suas bochechas e se misturando com a chuva.
- Mione, eu sei que deve ser complicado, mas eu gostaria que você sempre se lembrasse que tem a mim – ele disse, escolhendo as palavras a dedo.
- Eu sei, sempre terei – ela afirmou, olhando-o nos olhos.
- Eu te amo, Hermione – ele disse, beijando-a.
As lágrimas de Hermione, juntavam-se com a chuva e se misturavam ao beijo. Não foi o que se poderia chamar de primeiro beijo perfeito para Hermione, mas foi um beijo sincero, cheio de amor e ternura.
*fim do flash back*

Essa lembrança era tão dolorosa para Hermione que ela se deitou sobre a grama, fechou os olhos e começou a chorar. Decidiu não ficar mais naquele lugar. Gostaria de se lembrar das coisas boas que passou com os pais, não da morte deles.
Voltou para sua casa. Não havia ninguém nela. Provavelmente Harry e Ginny saíram para jantar, já que Harry pediria Ginny em casamento, como havia lhe contado um dia antes. Como queria que ela e Rony fossem iguais a Harry e Gina! Tão felizes! Provavelmente eles não chegariam tão cedo. Mas onde Rony estaria? Aquela noite seria um tanto solitária para Hermione.
Hermione precisave de Ron, e agora sintia sua falta, agora se perguntava...
- Rony, cadê você? Sinto sua falta... – ela suspirava. Lembrou-se de tantos momentos felizes que passaram juntos.

*ínicio do flash back*

Ela estava fazendo bolo do modo tradicional, como uma trouxa, do jeito que sua mãe havia lhe ensinado, Harry e Ginny não estavam em casa e Rony estava tomando banho.
Hermione era um tanto atrapalhada na cozinha e fazia a maior sujeira se decidia fazer comida do modo normal. Estava batendo a massa na batedeira então... a batedeira pifou. Suspirando por sua falta de sorte, pegou o pote na mão e começou a bater. Aquilo era chato e cansativo, mas Hermione estava fazendo com amor. Como estava de costas para a porta da cozinha, não viu que alguém acabara de entrar. Essa pessoa lhe agarrou pela cintura, o perfume que ela emanava entrara por suas narinas de um modo que pôde identificar o dono rapidamente. Ronald Weasley.
- Ah, você não tem jeito mesmo, não é? – ela disse feliz, virando-se para lhe dar um beijo rápido.
- Não, não tenho! – ele respondeu, em tom brincalhão. – Posso provar? – ele perguntou esperançoso, olhando para a travessa de bolo.
- Pode, mas não asseguro que esteja bom, a batedeira quebrou.
- Ah... O quê? – confundiu-se Ron.
- Nada. Pega logo – ela disse, esticando a travessa que ele aceitou. Passou o dedo pela massa do bolo e colocou na boca.
- Olha... Não digo que está ruim, mas... o bolo da minha mãe é mais gostoso – ele afirmou fazendo uma cara de nojo para Hermione.
- O quê? Como ousa... ? – Brincou Hermione. – Pois então tome isso... – e arremessou uma pelota de massa no rosto de Ron.
- Ei! Eu acabei de tomar banho!
- Bem feito, assim você aprende a nunca mais falar mal da minha comida!
- Ah, é assim é? – e então, Ron pegou outra pelota de massa e jogou no rosto de Hermione.
- Ei!
- Só retribui a gentileza!
- Tá bom então... – e começou uma verdadeira guerra de massa. Hermione jogava daqui e Ron jogava de lá, até que ele escorregou e caiu de costas no chão.
- Ai... – Choramingou, não conseguindo se levantar.
Essa foi a brecha para Hermione. Ela se jogou de joelhos no chão e pegou o resto da massa de bolo que estava dentro do pote e jogou todo na cabeça de Rony, esfregando nos cabelos do ruivo. Essa com certeza seria a cena mais cômica que alguém poderia presenciar, mas, como não tinha ninguém em casa, as únicas pessoas a presenciarem aquilo foram Ron e Hermione.
- Ei, isso é covardia!
- Não, não é. Chama-se oportunismo.
- Você é cruel! – Ron suspirou, fazendo uma cara triste.
- Você ainda não viu nada! – Hermione brincou.
- Pois eu aposto que posso ser mais cruel que você!
- Duvido!
- Ah, é?
- Pois é, não vejo como você pode ser mais cruel que... – Ron a cortou. Levantou-se, pegando Hermione de surpresa. A segurou pelos braços e a deitou no chão, dando-lhe um beijo.
Quando finalmente pararam de se beijar, Hermione falou:
- Isso não foi ser cruel!
- Não?
- Não! Eu gostei! Viu, ganhei a aposta!
Então os dois caíram na risada.

*fim do flash back*

Com certeza essa era uma lembrança muito feliz para Hermione.
Hermione só conseguira pegar no sono depois de muito tempo. Não conseguira pregar os olhos a noite inteira. Pensava no Ron, pensava em como ele tinha sido egoísta e não ignorava o fato de ter sido egoísta com ele.
Ginny entrou devagar no quarto, sem sapatos, tomando cuidado para que Hermione não a ouvisse. Sentou-se discretamente em sua cama, colocou os sapatos no chão e, sem se importar que não estava de pijamas, se deitou calmamente. O sono demorava a chegar, pois a noite tinha sido maravilhosa.
Harry havia lhe pedido em casamento. Quando Hermione acordasse, ela iria dar-lhe a noticia e avisar que ela e Ron seriam os padrinhos do casório. Ficou pensando durante muitas horas, sem se mexer, para não acordar Hermione.
Fechou os olhos e estava quase dormindo quando...
- ROOOOOOOOOOONN!!! – Hermione gritara. Ginny deu um pulo da cama e percebeu que Hermione estava sentada com os olhos sobre as mãos e soluçava uma vez ou outra. Estava chorando.
- Mione! O que foi, que aconteceu...? – Perguntou Ginny, levantando-se e indo abraçar a amiga.
- Nós brigamos, Gi. Acabou. Ele saiu de casa. Eu não sei mais o que fazer... – e chorava cada vez mais.
- Calma, Mione, ele volta, calma...
- Como você pode ter tanta certeza Gi?
- Esqueceu que eu sou irmã dele? E ele te ama loucamente, Mione, não vai sair assim, sem mais nem menos...
- Ginny, você se lembra daquela brincadeira que fizemos no dormitório das meninas?
- Não, Mione... Qual? – Ginny perguntou, se aliviando pelo fato de Hermione parar de chorar.
- Aquela... Verdade ou Desafio.
- Ah é! Claro! A gente pegou a poção da verdade da sala do Snape... Muito comédia... ele ficou uma semana procurando a poção e depois colocou a culpa no Harry! Coitado... – E então Ginny riu. – Mas por que você está me perguntando isso?
- Como a gente era boba, né? Você tinha treze anos e eu quatorze... Nos juntamos no dormitório, só você e eu, porque eu me negava a jogar com um monte de meninas fúteis...
- É verdade, éramos bobas mesmo. E quando nós confessamos nossos amores? Eu disse que gostava do Harry e você disse que gostava do Ro... – mas parou ao ver a amiga baixar a cabeça e uma lágrima molhar o lençol de sua cama.
- Eu me lembro... Nos esquecemos completamente da brincadeira e começamos a suspirar. Aí veio o Krum... – disse Hermione para uma Ginny atenciosa. – Ele estragou minha vida. Não que eu não tenha gostado de “namorar” com ele, - disse Hermione fazendo um gesto que significava aspas com os dedos - de sua amizade, mas, por causa disso, eu perdi o Ron uma vez e agora o perdi de novo...
- Como assim namorado entre aspas? – perguntou Gina. – Você não namorou mesmo com ele?
- Nunca o beijei.
- O quê? – Ginny perguntou, pasma.
- Isso mesmo... Meu primeiro beijo foi no dia da morte dos meus pais, com o Ron... – ela olhou para Ginny e uma lágrima silenciosa escorregou pelo seu rosto.
- Mione, eu...
- Ginny, o que eu faço se o Ron estiver mesmo com a Lilá? – perguntou Hermione, cortando a amiga. – Quer dizer, parece que ele não pensa uma vez sequer em mim...
- Com a Lilá? – surpreendeu-se.
- É que nós dois discutimos enquanto você não estava em casa...
- Prossiga.
- Na verdade, eu odeio admitir isso mas, foi tudo culpa do monstro.
- Droga, eu já falei para o Harry dar roupas a ele, quem disse que ele me ouve? Mas, - ela falou, observando o rosto cabisbaixo de Hermione. – isso não vem ao caso. Continue.
- Eu estava nervosa, comecei a gritar, então, Ron mencionou o Víctor. Ele está casado, Ginny, por que o Ron tem que falar sempre dele?
- Mione, todos nós sabemos que o Ron odeia o fato de você ter ido ao baile com o Víctor... Mas o que te levou a pensar na Lilá?
- Bom, eu revidei. Eu disse que ele provavelmente ainda se corresponde com ela.
- Mesmo sabendo que não é verdade? – indagou Ginny.
- Não tenho tanta certeza.
- Por quê?
- Por que ele disse que ela pelo menos não lhe escreve a cada dois dias. – Hermione respondeu, lutando contra suas lagrimas.
- Bom, em todo caso, ele não está com a Lilá. – Ginny disse, decidida. – Tampouco deixara de pensar em você, tenho certeza. E acho que deveria parar de pensar nisso.
- Eu tento...
- Mione, passaram-se tantos anos! Pare de mergulhar em suas lembranças e viva o presente, pense no futuro!
- Sabe, você tem razão. Acho que vou procura-lo amanhã! – disse Hermione, limpando as lágrimas do rosto.
- Isso! Essa é a Hermione que eu conheço!
- Por isso que eu te adoro, Ginny.
- Eu sei – ela disse, em tom convencido.
- Você é tão modesta... – disse Hermione, meio rindo.
- Vamos, temos que dormir! Amanhã é um novo dia!
- Ok! – disse Hermione, deitando-se na cama. – Mas, por que você ainda está de vestido, hein Ginny? – disse ela, lançando-lhe um olhar malicioso.
- Ah! Eu esqueci de contar pra você!
- O que?
- Harry me pediu em casamento!
- O-que...? – disse Hermione, pasma, soletrando as palavras.
- Isso que você ouviu. E você e o Ron vão ser os padrinhos.
- E por acaso você perguntou se eu quero?
- Não perguntei porque você não tem querer.
- Ah, claro, a senhora Ginevra Molly Weasley Potter está com toda moral ultimamente.
- Sim, estou – então Ginny se deitou e rapidamente pegou no sono.
- Boa noite.– disse Hermione, mas não houve resposta, ela já havia dormido. – Boa noite, Ron – ela disse em pensamento. Era muito bom ter uma amizade verdade com a qual pudesse contar sempre. Ginny era essa amiga.

É sempre em tempos como estes
Quando eu penso em você
E me pergunto
Se você alguma vez pensa em mim

- Mione! Acorda! – disse Gina, correndo pela casa e gritando feito louca.
- O que foi, Gina? Onde é o incêndio? Cadê o Ron? Ele voltou?
- Odeio desapontá-la, mas não, ele não voltou – Hermione baixou o rosto. – Mas tinha isso na mesa de cabeceira do quarto deles. Ginny esticou a mão e lhe entregou um envelope.
Hermione o pegou e abriu rapidamente.
”Mione, sei que você está cansada de ter um cara feito eu ao seu lado. Sou um bobo, uma criança. Bem, você sabe que não sou muito bom com as palavras, mas eu vou tentar dizer o que eu preciso. Ontem, depois da nossa briga, eu esperei sentado no sofá da sala pensando onde você estaria. Depois de horas imerso em pensamentos e lembranças, eu deduzi que você estaria na antiga casa de seus pais, mas quando eu aparatei para lá, você não estava.”
-Céus! Ele deve ter ido para lá no momento em que eu voltei! - pensou Hermione, mas voltou rapidamente para a carta.
”Me dei por vencido. Mione, eu não mereço o seu amor! Você merece alguém bem melhor do que eu... Quem eu sou? Eu sou apenas mais um auroror cara que trabalha no Ministério como tantos outros.
Não sei se eu te daria algum futuro, algum luxo. A única coisa que eu teria para te oferecer é meu amor. Mas, eu sei que, só amor não sustenta um lar, não sustenta uma família.
Provavelmente você deve estar se perguntando por que eu não te pedi em casamento, não é? Eu esperava ser mais bem sucedido. Esperava uma promoção que nunca veio. Por Merlim! Será que é tão duro dizer que o meu amor me separa de você? Penso tanto no que será de nós se vivermos juntos que acabo esquecendo o que estamos vivendo hoje. Agora eu lhe pergunto, você acha que você merece um cara como eu? Você é brilhante, merece coisa melhor.”
Hermione deixou escapar duas lagrimas teimosas que caíram no pergaminho e borraram a tinta.
“Por isso, Hermione, eu estou lhe deixando o direito de achar uma pessoa melhor do que eu...”
Hermione virou o pergaminho e percebeu que as letras estavam borradas. Não era ela que havia as borrado desta vez.
”...para lhe dar o grau de vida que você merece. Estou partindo hoje, rumo à França.
Não vou aparatando, mamãe disse que é muito arriscado, e nem vou de pó de flu, dizem que é uma viajem muito longa. Acho que vau de navio ou avião (aqueles artefatos que você provavelmente conhece) as duas horas da tarde. Mione, eu peço que você nunca, nunca se esqueça que eu lhe amei muito, e ainda te amo.
Com muito amor, Ron.”
Hermione se levantou de um pulo e se virou para Ginny.
- E aí, o que a carta dizia? –a amiga perguntou, esperançosa.
- Que horas são?
- Meio-dia, porque?
- Meio-dia? Só tenho duas horas!
- Duas horas pra que Hermione?
- Para encontrar a pessoa que amo.
- O que aconteceu?
Hermione não respondeu. Entrou no banheiro, escovou os dentes e se trocou rapidamente.
Quando ela ia saindo apressada pela porta da cozinha, disse:
- Ah! Ginny, eu quase me esqueci, diga ao Harry que eu estou muito feliz por vocês dois – deu um beijo na bochecha de Ginny e aparatou.
Não, ela não podia deixar que Ron fosse embora. Não iria viver apenas como uma lembrança. Pois tudo estava tão errado, e seu lugar não era vivendo em sua preciosa lembrança, e sim ao seu lado.
Aparatou no Ministério. Iria procurar o chefe do Ron. Entrando em todos os departamentos possíveis a procura de alguém que soubesse a respeito, ela não conseguiu encontra-lo. Subiu todos os andares até achar aquele em que a Ministra da Magia se encontrava. Achou uma porta. E essa porta se recusava a abrir.
- Vai, portinha bonitinha... Abre... – Mas tudo que a porta respondia era:
- Senha?
- Que saco, agora tudo tem senha...
- No que posso ajudar, senhorita Granger? – ela ouviu alguém falar atrás dela. Virou-se e viu a Ministra da magia encarando-a com seus olhos cerrados. Minerva McGonagall agora era Ministra da Magia.
- Professora, quero dizer, senhora, me desculpe tentar invadir seu escritório, mas eu preciso muito ter uma informação sobre uma pessoa que...
- O senhor Weasley, eu suponho.
- Sim, ele, ele foi transferido para a França, não sei de que modo ele vai, mas eu preciso muito falar com ele e...
- Não precisa se explicar, senhorita Granger. – disse Minerva, a encarando com seus olhos penetrantes. – Ele não foi do modo trouxa, como provavelmente ele lhe disse, nós achamos arriscado.
- Não foi?
- Ele está em uma das plataformas de trem. – Falou Minerva.
- Trem?
- Sim, como o expresso de Hogwarts, você poderá encontrá-lo na plataforma 5 ½, King’s Cross.
- Professora, eu, eu não sei nem como agradecê-la...
- Não é necessário, senhorita Granger – disse Minerva, calma. – O amor tem razões que a própria razão desconhece.
Ouvindo essas ultimas palavras, Hermione pôs-se a correr pelos corredores do Ministério. Aparatou na estação de King’s Cross e procurou pela plataforma número 5, supondo que era só se jogar contra a pedra para desaparecer de um lado e reaparecer do outro.
- Vai, Hermione... – disse ela, olhando freneticamente para todas as plataformas que passavam por ela.

Pois eu preciso de você
E eu sinto sua falta
E agora eu me pergunto...

Achou a plataforma. Olhou diretamente para a passagem, torcendo para que nenhum trouxa a visse. Correu com toda força que tinha em suas pernas, esperando que fosse igual a Hogwarts. Atravessou o portal com sucesso. Procurou freneticamente por uma cabeleira ruiva, mas essa cabeça não aparecia.

Se eu caísse
No céu
Você acha que
Eu me perderia no tempo?
Pois você sabe que eu andaria
Mil milhas
Se eu pudesse apenas te ver... esta noite

Ouviu o maquinista gritar:
- Embarque para a viagem até a estação bruxa de Paris, França!
- Ah, não – ela disse, correndo mais uma vez daquela forma desesperada. – Ron estava quase subindo no trem, quando Hermione gritou:
- RON!
- Hermione... – ele disse baixinho. – Com licença um instante por favor.
Então, bufando, o maquinista consentiu.
- Mione, o que você faz aqui? – Ele perguntou.
No primeiro momento, Hermione não fez nada, apenas o abraçou.
- Me desculpa, Ron – ela pediu, chorando.
- Mione, desculpar pelo quê? – perguntou Ron.
- Por ter feito você pensar que eu não te merecia.
- Mas Mione... – Ron não terminou a frase, pois Hermione o calou colocando seu dedo indicador sobre os lábios dele.
- Quem não te merece, sou eu – disse Hermione. – Você sempre fez tudo para me agradar. Eu nunca soube agradecer.

E eu, eu não quero que você saiba
Eu, eu me afogo em sua lembrança
Eu, eu não quero que isto acabe
Eu, eu não...

- Última chamada para o embarque para a França! – gritou o maquinista.
- Mione, Eu, eu tenho...
- Ron, vá.
- O que...?
- Se você quiser perder dias, meses, anos ao meu lado, é uma escolha sua. Só quero que você saiba que eu te amo muito. Nunca vou esquecer de você e nunca me casarei com outra pessoa que não seja você.
E então, Hermione deu as costas para Rony.
- Mione, espere!
- Filho, entre no trem. Sabe, eu não tenho o dia todo! – disse o maquinista, segurando-o pelo braço.
- Ora, me solte! Eu cansei de todos vocês! Parem de decidir a minha vida! Tire minha mala de dentro daquele trem.
- Mas o senhor...
- AGORA.
- Sim, sim senhor...

Percorrendo meu caminho para o centro da cidade
Andando rápido
Os rostos passam
Eu, eu estou em casa

- Droga de mala... – murmurou Ron, enquanto atravessava o portal que dava para a plataforma dos trouxas. Depois de horas caminhando pelas ruas de Londres, avistou Hermione. – Mione! – ele chamou.
- Ron? Eu... eu pensei que você tivesse ido embora!
- Mas eu não fui.
Estavam andando rápido. Pararam em frente a porta da casa em que moravam. Ron largou o malão no chão.
- Rony, e toda aquela historia de que você não poderia sustentar uma família?
Raios e trovões começaram a ser vistos e ouvidos. Um temporal prometia acontecer.
- Dane-se! Dane-se tudo, Hermione. Eu só quero viver novamente com a pessoa que eu amo.
- Rony, eu não posso aceitar isso... você estará desperdiçando uma grande oportunidade de emprego – então Hermione virou as costas e recomeçou a andar.
Olhando distraídamente para frente
Apenas percorrendo meu caminho
Percorrendo um caminho
Através da multidão
Gotas grossas de chuva começaram a cair naquele fim de tarde. Rony correu atrás de Hermione. Não podia deixar que ela, agora, partisse. Como ela mesma disse, seria jogar uma oportunidade única no lixo.

E eu ainda preciso de você
E eu ainda sinto sua falta
E agora eu me pergunto...

- Mione! – Rony gritou. Ele estava totalmente molhado pela chuva. Ela virou devagar para ele. Estavam a metros de distância. – Casa comigo?
Hermione saiu correndo ao encontro de Rony. Um grande sorriso se abriu em seu rosto e uma felicidade imensa a tomou. Quando conseguiu passar seus braços pelo pescoço do ruivo, Ron não teve dúvida. Deu-lhe um beijo. Um beijo apaixonado, de quem ama de verdade e quer viver ao lado da pessoa para o resto da vida. Hermione colocou suas mãos no rosto do menino e ele a enlaçou pela cintura. Muitas pessoas na rua pararam para olhar a bela cena. Muitas cochichavam, outras sorriam e algumas falavam mal daquela cena.

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- Harry, vem cá! – disse Gina, que estava na janela.
- O que foi?
- Olha pra baixo! – ela disse feliz.
- Graças a Merlim! Eles se entenderam!
- Eles não ficam lindos juntos?

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Quando finalmente selaram o beijo, Rony perguntou:
- Posso encarar isso como um sim?
- E você ainda tem dúvida?! – disse Hermione, feliz.
- Olhe, como no dia do nosso primeiro beijo, sob a chuva.
Então, dando-lhe um sorriso, Hermione o beijou. Ninguém poderia dizer quanto tempo ficaram juntos sob aquele temporal. A chuva que procedera foi cada vez mais densa, mas eles não estavam mais se importando, pois, como uma grande professora um dia disse, o amor tem razões que a própria razão desconhece.

Se eu caísse
No céu
Você acha que
Nós nos perderíamos no tempo?
Pois você sabe que eu andaria
Mil milhas
Se eu apenas pudesse te ver...

Se eu caísse
No céu
Você acha que
Eu me perderia no tempo?
Pois você sabe que eu andaria
Mil milhas
Se eu apenas pudesse te ver...
Se eu apenas pudesse te abraçar
Esta noite

fim

N/A: Essa foi a minha primeira fic Ron/Mione, espero que tenham gostado e que comentem! :)

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