Ato II - Cena III - A Viela
Cena III – A viela
Os passos apressados que ecoavam vazios pelos corredores do castelo iam, aos poucos, transformando-se em uma corrida. Os rubros cabelos da garota esvoaçavam à medida que ela aumentava o ritmo, apertando contra si um livro. Ofegando, a ruiva derrapou ao dobrar o corredor, mas não se importou, retomando o ritmo.
Ainda correndo, ela puxou uma das mangas da capa para checar as horas. No pequeno visor do relógio de pulso a palavra “atrasada” piscava para ela de modo debochado. Lily revirou os olhos e ergueu o olhar, deparando-se com James a poucos centímetros dela.
Lily tentou frear com os olhos ligeiramente arregalados, mas tornou a derrapar.
-Potter! – ela chamou-lhe a atenção.
James virou-se para ela, tão ou mais surpreso do que a ruiva, e só teve tempo de erguer as mãos para amparar o impacto antes que Lily esbarrasse nele. O rapaz cambaleou um pouco para trás, segurando os ombros da ruiva com força e depois se inclinou para frente, a fim de se manter em equilíbrio.
Os dois permaneceram estáticos. James ainda segurava o braço da ruiva, fazendo com que ela continuasse junto a si. A ruiva estava com a cabeça um pouco erguida e encarava o rosto corado do maroto a poucos milímetros do seu. Ambos estavam ofegantes e podiam sentir o hálito quente que os lábios entreabertos um do outro deixavam passar. O ar se misturava, enquanto sustentavam os olhares.
-Eu... – James murmurou e recostou a sua testa a dela, antes de roçar o seu nariz ao da ruiva, fazendo com que isso ocorresse momentaneamente com os lábios. – Só queria... – ele suspirou e Lily notou que ele fechara os olhos.
Os lábios se encontraram devagar, como se ambos receassem o contato. Foi um beijo tímido a princípio, mas que aumentara a intensidade de forma gradativa enquanto James descia as mãos dos braços para a cintura dela e chegava até as costas, envolvendo-a num forte abraço. À procura de ar, eles separavam os lábios momentaneamente e os uniam num beijo profundo. James percorreu uma das mãos pelas costas dela e alcançou a nuca. Alisou-a lentamente e chegou até o rosto quando notara que Lily diminuía os beijos e separava-se dele de forma gentil.
Os dois apenas se encararam por vários minutos, ainda abraçados. James soltou um longo suspiro ainda sentindo o gosto doce dela em seus lábios. Era muito melhor do que ele imaginava...
-Desculpe. – foi a única coisa que ele conseguiu dizer num tom completamente rouco.
Lily apenas assentiu e deu um passo para trás, apertando o livro contra si, enquanto desviava o olhar do dele.
-Tudo bem. – ela meneou a cabeça, como quem espanta algo. – É melhor entrarmos.
-Evans... – passado o momento de êxtase, veio o de desespero. E se ela entendesse tudo errado?
-Tudo bem, Potter. – ela sorriu de forma tímida. – Foi só um beijo.
-É. – ele pareceu um pouco decepcionado. – Só um beijo. – ele forçou uma risada. – Nenhum dos dois queria que isso acontecesse, não é? E foi só um beijo; o que há de mais nisso?
Ela apenas assentiu, dirigindo-se para a porta ao lado deles e abrindo-a calmamente. James ficou mirando o corredor deserto por alguns instantes antes de seguir o mesmo caminho que ela.
-Foi só um beijo. – ele repetiu para si mesmo, enquanto entrava na sala com uma calma que não sabia possuir no momento. “E que beijo...” completou em pensamento, enquanto sorria.
O grupo que se inscreveu para representar “Romeu e Julieta” estava reunido há mais de uma hora e ainda não parecia entrar em um consenso. Opiniões divergiam completamente, fazendo o grupo se dividir em pequenas panelinhas. Os amantes de Shakespeare teimavam em seguir a peça à risca e outros mais liberais resmungavam, dizendo que ela deveria sofrer algumas adaptações a fim de surpreender o público no final. Alguns diziam que as espadas deveriam ser substituídas pelas varinhas e os sobrenomes Montecchio e Capuleto serem substituídos por Slytherin e Gryffindor em homenagem a Hogwarts e a antiga desavença entre os seus fundadores, que perdurava até os tempos atuais entre seus alunos. Os sonserinos, no geral, discordavam de tudo o que os outros falavam, o que era motivo suficiente para pôr mais lenha na fogueira. E a discussão perdurava, enquanto William Shakespeare certamente deveria estar se revirando no túmulo diversas e diversas vezes...
-Eu prefiro armas de fogo trouxas. – um Corvinal falou com um sorriso no rosto. – Dá muito mais emoção do que espada e é mais segura do que uma varinha.
-Mais segura do que uma varinha? – uma garota retrucou, rouca. – Ficou louco? Isso pode matar alguém!
-Não as que os profissionais de cinema usam. – o garoto explicou, ofendido. – De festim, eu acho.
-Ah, e onde é que vamos achar uma dessas? – Skeeter indagou, intrometendo-se na discussão. – Atravessando o Atlântico numa vassoura e assaltando Hollywood? – muitas pessoas riram, enquanto outras franziram o cenho, sem entender absolutamente nada.
-Eu ainda sou a favor das varinhas. – James falou com um meio sorriso no rosto. – Todos nós já estamos acostumados com elas e não corre o risco de ninguém sair com o olho furado ou a bunda espetada depois. – muitos dos presentes riram.
-Mas sai num estado muito pior, não é, Potter? – Lily retrucou com um meio sorriso. James a encarou firmemente e sentiu-se ligeiramente quente. – Eu ainda sou a favor das espadas. – ela falou, voltando a atenção para os presentes. Muitos concordaram.
-Não temos como conseguir espadas, Evans. – Jorkins ponderou, pensativa.
-E não tem como simularmos um feitiço ou avaliar com que intensidade iremos lança-lo em nosso oponente. – ela rebateu, encarando a lufa-lufa com os olhos estreitados. – E as varinhas de brinquedo não dão a emoção que uma peça de Shakespeare é capaz de demonstrar. Uso de varinhas será perigoso. Alguém pode sair machucado, principalmente se os rivais na peça serem rivais na realidade também.
-Mais aí é que está a graça, Evans. – Sirius falou num riso breve. – Deixará tudo mais real. – Eu estou com o James.
-Desse jeito não chegaremos a lugar nenhum... – Lily respirou profundamente.
-Sugiro que façamos um sorteio. – James avaliou, lançando um olhar discreto para Rita, sendo retribuído quase que de imediato. – O sorteado tomará as rédeas da situação, podendo adaptar o roteiro a seu bel-prazer. Se o mesmo não quiser, ele indicará alguém. Três indicações negadas e faremos um novo sorteio. – ele lançou um olhar para todos os presentes. – Quem está de acordo?
Inicialmente um pequeno murmurinho invadiu a sala, para, logo depois, mais da metade das pessoas que ali estavam presentes levantarem a mão.
-Ótimo. – James falou com um meio sorriso, levantando-se calmamente da cadeira em que estava e sentando-se no chão. – Então... – ele conjurou um pequeno pote, fazendo-o aparecer no centro da sala. – Agora, cada um deverá pôr um papel com o seu nome dentro desse pote e deixarem suas varinhas à mostra. – James colocou a sua na sua frente e sorriu. – Para prevenir fraudes.
Todos – os sonserinos um pouco relutantes – rapidamente fizeram o que James havia dito e ele apenas sorria ao pegar alguns murmúrios como “Por isso que ele é capitão do time de Quadribol” e “Nossa, ele é maravilhoso”. Alguns minutos se passaram até que o pequeno pote tivesse relativamente cheio.
-Quem irá pegar? – uma garota indagou, ligeiramente curiosa.
James coçou a cabeça, um pouco envergonhado.
-Eu não cheguei a pensar nesse detalhe. – muito dos presentes reviraram os olhos.
-Eu posso. – Lovegood se pronunciou, depois da sala estar imersa em um profundo silêncio. Todos se entreolharam e depois olharam para James. O maroto apenas deu de ombros.
Vendo que não houve nenhuma contrariedade a respeito disso, o corvinal se levantou calmamente da cadeira em que estava e se dirigiu ao pote. Depois de alguns minutos remexendo nos papéis – caso que gerou muita impaciência para os presentes –, ele finalmente retirou um de lá e abriu-o calmamente.
Um silêncio reinaria na sala se não fossem alguns resmungos dos sonserinos. Lovegood estreitou os olhos, como quem está a decifrar a letra.
-Rita Skeeter? – algumas pessoas resmungaram contrariadas. James procurou o olhar da loira entre os presentes e sorriu consigo mesmo. Ele estava apenas começando...
N/A: Temos aqui o fim do Ato II. Na próxima atualização teremos o "Ato III - A Trama", onde teremos as escolhas dos papéis das personagens. XD. Então, vamos aqui a uma parte do próximo capítulo.
"-Terceiro candidato a Romeu que se acidenta essa semana. – ela comentou, lançando um olhar para Rita, quer murmurava um feitiço, fazendo com que uma fala mudasse um pouco. – Será que o papel é amaldiçoado?
A loira gargalhou gostosamente.
-Deixa de inventar coisas, Bertha. – ela falou, mirando a garota calmamente. – Olhe o primeiro nome da lista.
- Sirius Black. – ela deu de ombros. – Certo; o que isso tem a ver?
-Ele ser maroto não te diz nada...? – Rita arqueou uma sobrancelha. – Três acidentaram-se dois dias antes dos testes para Romeu e mais dois desistiram. – ela sorriu de forma presunçosa. – Só falta dois."
E até a próxima. XD
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