Capítulo Único



LAÇOS ETERNOS

Hermione estava terminando o relatório que o Ministro havia pedido com urgência. Estava quase no fim, mas não conseguia prestar atenção no que escrevia pois o telefone não deixava...

[i]Hoje, ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção,
o meu mundo desabou.[/i]

Atendi com um pouco de irritação, mas quando ouvi a voz de Gina do outro lado da linha... chorando... senti meu coração se apertar.

[i]Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha
me informava que o meu melhor amigo,
meu companheiro de jornada, meu ombro camarada,
havia sofrido um grave acidente,
vindo a falecer quase que instantaneamente.[/i]

Eu tinha sonhado com aquilo, mas nem dei importância. Esses sonhos aconteciam de maneiras diferentes durante a guerra, mas agora, depois de tanto tempo não achei que significasse nada. Nunca acreditei em adivinhação...

[i]Lembro de ter desligado o telefone,
e caminhado a passos lentos para meu quarto, meu refúgio particular.[/i]

Sentei em minha cama e olhei para meu criado-mudo. As fotos que ali estavam me fizeram chorar ainda mais!

[i]As imagens de minha juventude
vieram quase que instantaneamente a mente.
A escola, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira
até altas horas da noite, os amores não correspondidos,
as confidências ao pé do ouvido, as colas,
a cumplicidade, os sorrisos... AHHHHH... os sorrisos....
Como eram fáceis de surgir naquela época.[/i]

Mesmo com todos os problemas que enfrentou sempre teve um ótimo senso de humor. Corajoso, companheiro, confidente, amigo...

[i]Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo...
das lágrimas e despedidas, e principalmente, das
promessas de novos encontros.
Lembro perfeitamente de cada feição do melhor amigo
que já tive em toda a vida: em seus olhos a promessa
de que eu nunca seria esquecida. E realmente, nunca fui.[/i]

Naquele dia em que nos despedimos na estação de trem, em frente a plataforma 9 ¾ eu lembro das lágrimas nos olhos dele. Do abraço apertado que ele me deu e do sorriso no seu rosto.

Quando eu pensei que minha carreira iria por água abaixo foi pra ele que confessei meu desespero e ele nunca desistiu de mim.

[i]Perdi a conta das vezes em que
ele carinhosamente me ligava quando eu estava no fundo do poço.
Ou das mensagens - que nunca respondi -
que ele constantemente me enviava,
enchendo minha caixa postal eletrônica de esperanças
e promessas de um futuro melhor.[/i]

[i]Lembro que foi o seu rosto preocupado
que vi quando acordei depois daquela batalha sangrenta.
Lembro que foi em seu ombro
que chorei a perda de meu amado pai.[/i]

[i]Foi em seu ouvido que derramei
as lamentações do noivado desfeito.[/i]

Ele sempre esteve lá quando eu mais precisei. Mesmo quando ele também sofria, ele nunca me deixou na mão.

Lembro que quando terminei com Rony eu sofri demais, mas foi ele que me ajudou a superar e a conseguir manter a amizade que tanto lutei pra não perder.

[i]Apesar do esforço para vasculhar minha mente,
não consegui me lembrar de uma só vez em que tenha pego
o telefone para ligar e dizer a ele o quanto era
importante para mim contar com a sua amizade.
Afinal, eu era uma mulher muito ocupada.
Eu não tinha tempo.[/i]

Nas vezes que ele ligou me chamando pra sair, pra passear, pra visitá-lo... Eu nunca disse sim, já estou indo ou me espere...

[i]Não lembro de uma só vez em que me preocupei
de procurar um pergaminho e enviar para ele,
ou qualquer outro amigo, com o intuito de tornar o seu dia melhor.
Eu não tinha tempo.[/i]

Nunca sequer enviei uma coruja apenas pra saber como ele passou o dia, se tudo deu certo... se tinha novidades.

[i]Não lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa,
como aparecer de repente com uma garrafa de vinho
e um coração aberto disposto a ouvir.
Eu não tinha tempo.[/i]

Nunca fui até ele e perguntei se sentia falta de algo, se precisava de ajuda.

[i]Não lembro de qualquer dia em que
eu estivesse disposta a ouvir os seus problemas.
Eu não tinha tempo.[/i]

Ele sempre estava ali pra me ouvir, mesmo por telefone. E eu nunca me dispus a ajuda-lo. Afinal, ele sempre fora mais forte que eu.

[i]Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas.
Não me dignei a reparar que constantemente
meu amigo passava da conta na bebida.
Achava divertido o seu jeito bêbado de ser.
Afinal, bêbado ou não ele era
uma ótima companhia para mim.[/i]

Mesmo nas festas de final de ano, quando enfim achava tempo, não reparava que ele estava mudado, que estava triste ou melancólico. Afinal, ele sempre alegrava a festa. Não dava pra perceber nenhuma diferença. Mas eu conhecia o Harry melhor que ninguém... e nem mesmo assim, eu vi.

[i]Só agora vejo com clareza o meu egoísmo.
Talvez - e este talvez vai me acompanhar eternamente
- se tivesse saído de meu pedestal egocêntrico
e prestado um pouco de atenção e despendido
um pouquinho do meu sagrado tempo,
meu grande amigo não teria bebido até não agüentar mais
e não teria jogado sua vida fora ao perder o controle
de um carro que com certeza,
não tinha a mínima condição de dirigir.[/i]

Quem sabe se com algumas palavras ou com um simples “eu preciso de você” ele percebesse quanta importância tinha e que nada de ruim aconteceria, que ele poderia contar comigo.

[i]Talvez, ele, que sempre inundou o meu mundo
com sua iluminada presença, estivesse se sentindo sozinho.
Até mesmo as mensagens engraçadas
que ele constantemente deixava em minha secretaria eletrônica,
poderiam ser seu jeito de pedir ajuda.
Aquelas mesmas mensagens que simplesmente
apaguei da secretária eletrônica, jamais se apagarão da minha consciência.[/i]

Eu lembro de tudo o que ele me dizia, de todas as palavras carinhosas e cheias de alegria, dos votos de sucesso e progresso, de bom dia, boa semana...

[i]Estas indagações que inundam agora
o meu ser nunca mais terão resposta.
A minha falta de tempo me impediu de respondê-las.[/i]

Tudo isso, num segundo, acabou. E agora não tem mais como voltar o tempo. Nem a magia mais antiga faria com que ele vivesse novamente e entrasse por esta porta agora.

[i]Lentamente escolho uma roupa preta
- digna do meu estado de espírito - e pego o telefone.
Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hoje
e quem sabe nem amanhã, nem depois,
pois irei tirar o dia para homenagear
com meu pranto a uma das pessoas que mais amei nesta vida.

Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo,
entre lágrimas e remorsos, de que para isto,
para acompanhar durante um dia inteiro
o seu corpo sem vida, eu TIVE TEMPO![/i]

Minha melancolia aumenta a cada passo. E quando vejo seu corpo inerte sendo levado para além do véu eu sinto que ele foi tudo pra mim, e eu não consegui ser nada pra ele quando mais precisou.

[i]Descobri que se você não toma as rédeas da tua vida
o tempo te engole e te escraviza.
Trabalho com o mesmo afinco de sempre,
mas somente sou "a profissional" durante o expediente normal.
Fora dele, sou um ser humano.

Nunca mais uma mensagem da minha secretária eletrônica
ficou sem pelo menos um "oi" de retorno.
Procuro constantemente encher a caixa eletrônica
dos meus amigos com mensagens de amizade e dias melhores.
Escrevo cartões de aniversário e de natal,
sempre lembrando as pessoas de como elas são importantes para mim.
Abraço constantemente meus amigos e minha família,
pois os laços que nos unem são eternos.
Esses momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado é pouco.[/i]

Por mais que eu sofra por tê-lo deixado sozinho, eu sei que ele jamais me culparia por isso... porque ele era meu amigo! Ele me entendia, me amava, me cuidava e sabia que mais do que tudo... eu o amava também!


** FIM **

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.