Nisi qui sit facere...
N.A.: É, gente, demorou mas voltei das férias! *bronzeada* E cá está o capítulo 14, que todo mundo tava esperando! Alinhais, obrigado pelos 201 comentários!!!!E outra coisa: pela primeira vez, os comentários de um único capítulo ultrapassaram uma página!
Lis Noir: Que bom que você gostou do capítulo 13. Quanto à Lily e ao Sev, ela ainda está confusa, não sabe por qual que tem mais sentimento. Portanto, não vá contando com os ovos dentro da galinha! (Eu sempre quis dizer isso). Tomara que você goste do quatorze!
Ana_Weasley_Black: *olha tonta para o gigantesco comentário da Ana* Eu sou sua autora preferida? *fica corada que nem um rabanete* Sério, Ana, você não sabe como me deixa feliz! Eu repeti o poema do Remus nesse capítulo porque o poema tá no capítulo sete, e fica complicado pro povo ler de novo. Eu até faria um livro, se eu não soubesse que vou ser presa por violação de direitos autorais *risada de pessoa internada num hospício* Ah, menina, você não precisa me elogiar tanto que eu fico sem jeito *vermelhinha* A minha fic não é tão boa assim, não, tem tanto autor melhor que eu... Eu só não te adiciono porque eu realmente não tenho MSN. Valeu por tudo!
Flavinha Snape Kal: Antes de tudo eu quero agradecer pela propaganda que você tá fazendo da minha fic no fórum. Valeu por gostar tanto dela! Que bom que gostou do 13, e tomara que goste ainda mais desse! Beijos!
Jeehh: Green Eyes é linda, né? I love Coldplay. Eu estou pensando em colocar uma música do Coldplay no capítulo 16, só que vou ter que ver se dá certo. Quanto ao Lucius, ele também aparece nesse capítulo aqui, ele e a Narcissa. E é, James e Sirius vão ter que pelejar muito pra se recuperar no conceito da Lily. Quero dizer, tem Sirius/Lily no capítulo 16, mas o James ainda vai esperar um pouco. E eu também adoro a Bella. *pessoa que escreveu Sirius/Bella, Remus/Bella e tem mais projetos* Você já leu A Queda da Casa dos Black, da May Malfoy? Se não leu, devia ler, a fic é tudo. Bem, eu procurei no FF. Net e como a única fic em português com o nome de Crawling in the Dark é a minha, suponho que seja minha, sim. Se você ler as duas, deixa review lá! Harry filho do Sirius ia ser interessante... Imagina o Harry cópia do Sirius? *suspira* Quanto à minha quadrilogia, você freqüenta o fórum do 3 Vassouras? Postei o trailer da primeira lá. É tão bonitinho... Ah, meu nome não é Elizabeth, não, mas meu nome é irrevelável *risada sombria*. A única pessoa que sabe é a Dana Norram (e eu duvido que ela se lembre), porque eu mandei dois comentários numa fic dela, um com meu nome verdadeiro e um com meu apelido. Valeu pelo comment! P.S.: uma femme Lily/Bella/Cissy? *pira com a idéia* Uau, seria demaaaais!!!!
Ana Lily Diggory: Ih, agora você vai ter que mudar o disfarce pra vir aqui. *risadinha* Hihihi, eu também li o Harry Potter e o Enigma do Príncipe em dois dias. Na verdade, o meu recorde é pra Ordem da Fênix: 702 páginas em três dias! Agora, dizer que eu escrevo como a JK, não precisa tanto... *corando* Pra chegar ao nível dela, preciso de muito ainda... Beijos!
Luh Black: Antes de tudo, valeu por betar a minha song. Eu vou esperar o resultado do challenge e publicar. Muito obrigadaaaaa!!!! E, bem, eu não escrevo tão bem assim não. Só tenho alguns surtos de inspiração... Mas não pare de escrever! mesmo que no começo você não escreva muito bem, toda história é um treinamento para você consolidar um estilo e uma forma de escrever. Sempre em frente! E, quanto à Lily, tadinha, não é culpa dela. Odeia ela não... Valeu!
Gabriela Twilight: Que bom que eu consegui corresponder ao que você esperava do Remus! A verdade é que eu não imagino ele sendo o corajoso. Eu sempre penso que ele respeitaria os desejos dos amigos... Daí saiu isso. Apesar de estar esculachando com a amizade dos Marauders nessa fic, eu a acho muito bonita. Por isso, quando posso coloco essas cenas. Lógico que não dá pra ficar assim a fic inteira... Por exemplo, o próximo capítulo vai ter uma briga feia... Mas, bem, eu faço o que posso. E, quanto ao final, eu estou é fazendo uma loucura. *risadinha* Já mudei umas cem vezes. Eu também tô esperando pela sua volta triunfal, hein! Atualiza a Lies logo! Tomara que goste do 14! Beijinhos!
Trinity: aAAAAH, uma leitora nova! *desmaia* OK, agora você me fez pensar um pouco. Na verdade, eu nunca tinha olhado sobre aspecto, afinal, não sou praticante (o máximo que eu escuto de missas é a cantoria da Igreja Batista do lado da minha casa), e a religião da qual eu mais entendo não é nem a minha, é o mormonismo, porque eu precisei fazer um trabalho daqueles ultra-hiper-mega. Colocar isso foi apenas um reflexo, não tive a intenção de ignorar as religiões evangélicas nem nada assim. Vou ver se consigo alterar, OK? De qualquer forma, obrigada, e continue lendo!
B. Black: É, bem, que bom que você gostou do capítulo 13. O Remie é tudoooo... *abraça o Remus* bem, a Lily está estressada com Sirius e James, mas logo as coisas vão se consertando, tanto que o capítulo 16 é Sirius/Lily. Tomara que goste do quatorze! Beijos!
mayara_evans_potter: AAaaah, uma leitora nova! *capota* Não fica com ódio da Lily, não, tadinha... Ela só está confusa... Não sabe pra quem dar esperança... Mas a enrolação acaba logo, no capítulo 17. Daí vamos ver quem a Lily escolhe! Valeu!
lizandra oliveira: Tem problema nenhum ter demorado a responder. Tamos aqui pra isso! Bem, eu não acho que a infância do Snape tenha sido algo bom. Temos a referência no Harry Potter 5, de que ele um adolescente arredio e calado, sem amigos. Eu imagino que ele tenha passado por muita coisa quando era pequeno, e eu tenho certeza que a JK quis dar o sinal que a mãe dele sofria com violência doméstica. Eu também achari legal ver Voldie/Lily, mas nunca procurei uma... Vou ver se tem. Quanto a sua fic, eu vou dar uma passadinha nela sim, OK? Bem, eu realmente tentei pegar o lado obscuro dos Marauders, mesmo porque, essa fic é obscura. Sobre quem a Lily vai se decidir, isso só veremos no capítulo 17 (olha, tá quase lá!). Mortes importantes no HP 7... Eu imagino que seria Voldemort e Peter Pettigrew. Ou Snape, mas tô mais pro Peter provando porque ele é um grifinório *falou a fã do Peter*. Tomara que curta o capítulo 14! Beijinhos!
belinha_st: Que bom que você curtiu o capítulo 13! Ele ficou legalzinho mesmo, eu até gostei. O momento de que você falou vai acontecer no capítulo 18, que aliás tem um nome bem sugestivo (que eu não vou contar, hihihi). Os outros momentos eu não digo quando acontece... *risadinha* Bem, tomara que você goste desse capítulo também! Beijos!
Lady_Blonde: É que tá entrando na reta das tragédias, por isso fica mais empolgante... Você vai ver esse capítulo e o próximo então! A fic tem 21 capítulos, contando com o epílogo. Ou seja, falta sete. Valeu!
Ana Carol Evans Potter: Que bom que você tá curtindo a minha fic! Eu quis fazer uma coisa original, por isso saiu essa bagunça. Bem, sobre te adicionar no MSN, eu não tenho MSN *baixa a cabeça e se declara a atrasada* Eu nunca arranjo tempo pra fazer... Mas valeu mesmo assim. Beijos!
N.A.: Explicando o nome do capítulo: a frase "Nisi qui sit facere insidias nit metuere" significa "Ignora o temor da traição aquele que não sabe praticá-la" (Vide nota em "Guerra dos Mascates", José de Alencar). Então, seria mais ou menos assim: Ignora o temor da traição aquele que não sabe praticá-la — e o contrário também vale, ou seja, aquele que sabe trair teme a traição.
Os olhos de Severus corriam pelo ambiente.
O que poderia separar aqueles três rapazes que estavam sentados um pouco mais à frente?
O que poderia afastá-los, fazê-los brigar, fazê-los ficar longe de Lily?
O quê?
— Sr. Snape?
— Sim? — despertou Severus subitamente, encarando o rosto bondoso e magro do Prof. Kettleburn.
— Será que o senhor pode me dizer alguma coisa sobre os centauros?
Severus pensou um pouco.
— São híbridos de cavalos e homens que…
— Nossa, são híbridos de cavalos e homens! — disse uma voz alta. — Ninguém poderia imaginar que centauros são híbridos de cavalos e homens!
Risadinhas, e Severus se voltou para o dono da voz. Que só poderia ser James Potter, lógico.
— Sr. Potter… — começou o Prof. Kettleburn.
— Potter! — disse outra voz. — Será que você não consegue deixar de ser idiota nem por um momento?! Como você é irritante!
Era óbvio que era Lily, constatou Severus com prazer. E o rosto furioso de James fez o estômago do sonserino dar uma prazerosa remexida.
— Sr. Potter, respeite o Sr. Snape e deixe-o terminar de falar — disse Kettleburn calmamente. — Srta. Evans, creio que teve a melhor das intenções, mas eu sou o professor aqui, e, portanto, repreender o Sr. Potter cabe a mim.
— Desculpe, professor — disseram os dois grifinórios em coro, Lily tão vermelha quanto seus cabelos.
— Se repetirem o ato, serei forçado a descontar pontos da Grifinória — disse o professor, sereno. — Sr. Snape, continue a sua explanação.
— Bem — disse Severus, tentando retomar a concentração, pois a fúria que nutria pelo professor por ter repreendido Lily atrapalhava seus pensamentos —, centauros são híbridos de cavalos e homens possuidores de uma magia muito antiga e tradicional. Eles possuem uma técnica de adivinhação milenar baseada no movimento das estrelas e dos planetas, e acreditam com firmeza que tais movimentos influenciam os grandes movimentos dos humanos, como as guerras, as tragédias, e outras coisas do tipo.
— Perfeito, Sr. Snape — disse o professor. — Dez pontos para a Sonserina. Como o Sr. Snape disse, os centauros são…
Mas, mesmo antes do professor terminar a frase, os pensamentos de Severus já haviam tomado outro rumo. E novamente ele olhava para os três garotos.
Remus Lupin prestava muita atenção no que Kettleburn dizia, ouvindo cada palavra como se fosse a coisa que ele mais desejasse fazer.
Sirius Black bocejava e olhava para a floresta. Seus olhos brilhavam de um modo estranho, como se imaginasse aventuras e brincadeiras que gostaria de executar.
James Potter bagunçava o cabelo com uma das mãos, enquanto olhava para Lily. Era apenas esse seu divertimento: olhá-la e pretendê-la.
Como separar os três?
Como?
Como separar os três?
Como?
Era a mesma dúvida que perseguia Peter Pettigrew há muitos meses atrás. Desde janeiro, mais precisamente e, olha, já estavam em março. Desde que Snape o encurralara em um corredor e sussurrara palavras cheias de veneno, que correram por suas veias e enegreceram seu mundo. Seus amigos.
Eram seus amigos, e ele tinha que separá-los. Seus amigos.
Onde é que ele tinha ido se meter.
Não havia a quem pudesse recorrer, a quem pudesse pedir ajuda, a quem pudesse suplicar. Não havia ninguém capaz de estar ao seu lado e dizer: “Calma, Peter. Deixa que eu faço isso pra você.” Não havia ninguém para delegar a tarefa mais difícil de sua vida. Pela primeira vez, Peter contava só consigo mesmo.
— Merda, merda, merda, merda — xingou. — Merda de garota, merda de Snape, merda de amor, merda de amizade. Merda de tudo.
— Ei, Peter, que é isso?
Peter se sobressaltou. James e Sirius entravam no dormitório e tinham ouvido seu desabafo.
— É, Peter, por que está xingando? — perguntou Sirius.
Houve um detalhe que não escapou aos olhos bem treinados de Peter: os olhares dos amigos tinham um brilho estranho, característico. Brilho que surgia nos olhos dos dois apenas quando iriam aprontar.
— Eu dei uma topada no beliche — mentiu apressadamente. — O que é que vocês vão fazer?
— Nós? — repetiu James com uma cara de inocência que não convenceu a Peter. — Como assim, Peter?
— Eu sei que vocês vão aprontar alguma — disse Peter com um sorriso. — E quero saber o que é.
Sirius riu e deu um tapa no ombro de Peter que projetou o outro para a frente.
— É, Peter, cada vez mais você prova que é um verdadeiro Marauder — ele disse sorrindo.
— Ótimo — disse Peter, esfregando o ombro. — Mas não me enrola, o que é que vocês vão fazer?
— É uma longa história, Wormtail — disse James —, mas vamos resumir: naquele dia em que nós brigamos, o Moony nos falou, sem querer, que gosta de uma garota.
Peter abriu a boca, chocado. Por Merlin, será que a maldita Lily Evans não poderia parar de atormentá-los por um segundo que fosse?
— Bem, só que ele não disse quem é — disse Sirius. — E nós ficamos com medo de perguntar, por causa da nossa briga, sabe, do clima chato.
— Então, nós ficamos quebrando a cabeça: como é que vamos descobrir esse segredinho do Moony se não perguntarmos a ele?
— E, agora há pouco, eu tive a idéia do milênio! — exclamou James. — É fácil! É só olharmos na mochila do Moony, ver se tem algo que nos ilumine! E então, Wormtail, quer nos ajudar?
Peter não tinha a menor vontade de se intrometer naquilo. Mas… quem era ele para negar alguma coisa aos dois amigos?
— Tá legal.
James e Sirius trocaram sorrisos. Sorrisos iguais, em rostos diferentes. Sorrisos que ele mesmo não queria que fossem tão idênticos.
Sorrisos que nunca deixariam de existir, não importava quantas criaturas egoístas como ele e Snape existissem no mundo.
Sirius foi até o beliche de Remus e vasculhou o vão embaixo da cama, até encontrar uma mochila. Com um gesto, atirou-a para James, que abriu-a com o esganamento de um cão faminto. Peter se esticou para olhar o conteúdo.
— Nossa, que cheiro — disse James, fungando.
— Cheiro de quê? — perguntou Sirius, se levantando e indo até os amigos.
— Cheiro de coisas de poções — disse James. — Parece uma mistura de tudo quanto é tipo de coisa.
— Depois, quando eu digo que o Moony estuda demais, as pessoas acham que eu estou exagerando… Mas, nossa, tem muita coisa aí dentro. Como vamos conseguir olhar tudo?
— Simples — disse James. Abriu a mochila de Remus e despejou todo o seu conteúdo na cama.
Peter revirou os olhos:
— Quero ver você arrumar isso tudo.
— Detalhes, Wormtail, detalhes — disse James, apanhando alguns rolos de pergaminho. — Uau, isso aqui é aquele trabalho do Flitwick?
— É — disse Sirius, lendo por cima do ombro do outro. — Putz, ainda nem comecei o meu.
— Vamos guardar isso daqui e… por que diabos o Moony carrega um livro dentro da mala?
— Por que será que as pessoas levam livros dentro da mala, Prongs? — perguntou Sirius em tom sarcástico.
— Não, eu quero dizer, por que ele carrega um livro com tirinhas dentro da mala? — disse James, abrindo o volume que tinha em mãos, e que exibiu uma porção daqueles quadrinhos engraçados que costuma-se publicar em jornal.
Sirius tomou o livro das mãos de James e leu:
— Uh, lados desconhecidos de Remus Lupin…
— É…
Peter, para não ficar sem ter o que fazer, apanhou a primeira coisa que viu pela frente: um pergaminho cuidadosamente enrolado e amarrado com uma fita vermelha. Abriu-o e começou a ler o conteúdo, na letra caprichosa, mas estranhamente apressada de Moony:
Noites passadas em claro
Gemidos sufocados no travesseiro
Olhos ardidos de lágrimas
Lágrimas por te amar e não poder dizer
Lágrimas por te sentir e nada poder fazer
Por sentir rachar meu coração despedaçado!
Morre a pretendida confissão nos lábios
Desabafo meu inferno apenas em alfarrábios
E cá estou eu, moribundo e condenado!
Noites passadas em claro
Gemidos sufocados no travesseiro
Olhos ardidos de lágrimas
Lágrimas por amá-los demais pra confessar
Por estar em silêncio vendo-os disputar
Seu amor inocente enquanto morro desprezado!
Sofrimento, solidão, desgraçada ironia
Ver teus lábios rubros, morrendo de agonia
Deixar-me consumir em amor desesperado!
Noites passadas em claro
Gemidos sufocados no travesseiro
Olhos ardidos de lágrimas
Dor, por que não traz contigo o fim do meu viver?
Porque sempre tenho eu de suplício padecer?
Afogar o meu amor em versos desbotados?
Lágrimas por ver teus cabelos e não poder tocá-los
Por ver teus olhos verdes e não poder admirá-los
Por tentar esquecer e ser sempre derrotado!
Noites passadas em claro
Gemidos sufocados no travesseiro
Olhos ardidos de lágrimas
Eca! Que coisa mais melosa! Remus escrevia poemas? Ia mostrar a James e Sirius, e os três iriam se divertir muito e…
Peraí. Cabelos… Olhos verdes… Caramba, aquela era uma descrição de Lily completa! Era um poema escrito para a chata da Evans! Será que eles nunca…
Opa. Poema escrito para Evans. Poema que comprovava a atração de Moony por Evans. Poema que, se fosse lido por James e Sirius, os faria saber que também Remus amava Evans.
A solução para todos os seus problemas estava ali, nas suas mãos. Era só mostrá-la a Snape.
— Ei, Wormtail, que é que é isso? — perguntou James, ao ver que o amigo segurava o pergaminho como se fosse um tesouro.
— Ah, nada — disse Peter. — Deve ser uma lição de Runas Antigas, está tudo em rúnico.
— Eca, rúnico — disse James, e achou infinitamente mais interessante um manuscrito de Poções com anotações ao pé da página, onde Remus parecia ter escrito os nomes deles e desenhado algumas coisas.
Peter apertou o pergaminho com força, olhando para os dois amigos, que agora riam vendo os desenhos desajeitados de Remus no pergaminho.
— Agora, vamos voltar a ser os mesmos.
— Disse alguma coisa, Pete? — perguntou Sirius, olhando curioso para o amigo.
— Não, nada, Sirius. O que é isso aí? — perguntou, indicando um desenho estranho onde quatro bolas com pernas andavam entre espetos.
— Eu não sei — disse James. — Acho que somos nós em noite de lua cheia.
— Olha, Wormtail, é você! — exclamou Sirius, apontando algo que parecia uma formiga no chão.
— Vou ter uma conversa séria com Remus a respeito disso — disse, fingindo-se aborrecido.
Os três riram sem parar, e, por um instante, Peter pôde sentir que voltariam a ser os Marauders. Bastava que a maldita Evans se afastasse, e finalmente voltariam a ser os Marauders.
Dia seguinte.
Andar de mãos dadas pelo castelo parecia uma diversão muito ingênua para os outros lufas-lufas. A maioria dos amigos preferia coisas mais interessantes, envolvendo, de preferência, contato labial e outras coisinhas mais.
Mas, para Frank e Alice, não havia prazer maior que caminhar assim, no corredor. Para Frank, não havia nada mais delicioso que sentir a mão delicada de Alice entre as suas mãos firmes, e poder olhar seu rosto que irradiava alegria, e sentir que aquela linda garota gostava dele. Que o amava. Para Alice, não havia nada mais maravilhoso que sentir Frank ao seu lado, segurando sua mão. Sentir a firmeza delicada daquele suave aperto. Sentir o amor que ele sentia por ela irradiar e sentir-se amada.
E era por isso que Frank Longbottom e Alice Trapp andavam juntos pelo castelo. Era por isso que tantas pessoas que falavam às suas costas os admiravam internamente; e por isso que professores e fantasmas viam os dois de mãos dadas, e sorriam, quase sentindo o amor que aqueles dois nutriam um pelo outro. Era por isso que todos sempre adoravam ter Frank e Alice por perto, ambos esbanjando alegria e animação, sempre juntos.
E, mesmo as sonserinas, que não ligavam muito para sentimentos, não puderam deixar de sentir uma pontinha de inveja, quando Frank entrou no Salão Principal e foi até Alice, sentando ao seu lado e puxando-a para um inocente beijo apaixonado. E não houve um rapaz que não desejasse estar no lugar de Frank quando as mãos delicadas de Alice tocaram seus ombros e um lindo sorriso lhe foi oferecido.
A não ser talvez, os rapazes que já tinham garotas a adorar. O que foi o caso do outro rapaz que estava chegando.
— Ei, Moony! — disse Frank, vendo o amigo de cabelos castanhos se aproximar. — Vem cá, vem tomar café com a gente!
Hesitante, o rapaz se aproximou. Frank andava preocupado. De umas semanas para ali, Remus andara mais cabisbaixo e soturno do que de costume, e ele sabia que não era mais por causa da briga. Havia algum outro motivo.
— Olá, Frank, Alice — disse ele, se sentando. — Dormiram bem?
— Uma maravilha — disse Frank. — Onde estão os outros?
— Eh… James e Sirius foram treinar, o jogo contra a Corvinal está se aproximando, e Peter foi assistir. Daisy e Lily estão fazendo revisões na Sala Comunal, e disseram que depois vêm para tomar café. Depois eu também vou revisar algumas matérias, mas vou comer primeiro porque não jantei ontem e estou pra morrer de fome.
— Você não devia ficar sem comer — repreendeu Alice. — Vai ver é por isso que anda tão abatido.
— Abatido?
— É, pálido, com olheiras… Sério, Remus, às vezes parece que tem uma tempestade andando em cima de você.
Remus sorriu triste. Apanhou um prato, e encheu-o de torradas, começando a passar generosas camadas de geléia por cima. Frank observou-o na tarefa e de repente exclamou:
— Ei, Remie, sabe que dia é hoje? Três de março!
— E?…
— “E” é que daqui a sete dias é seu aniversário, tonto!
Remus olhou curioso para Frank, depois sorriu:
— Você lembra?
— Como se eu pudesse esquecer mesmo! — riu Frank, se lembrando da estrondosa e assustadora explosão no Salão Principal no dia dez de março do ano anterior em que, por algum estranho motivo, todos os sonserinos ficaram sujos de comida.
— Imagino o que é que os seus amigos estão aprontando para esse ano! — sorriu Alice.
— Eu sinceramente espero que nada — disse Remus. — Ano passado já foi horrível ter que suportar o interrogatório de McGonagall por duas horas até ela se convencer que eu não fui responsável por aquilo.
— Eu lembro — riu Frank. — Flitwick me arrastou pro interrogatório também. Isso que dá andar muito junto com vocês.
— Nem vem que você também apronta as suas que eu sei — disse Alice, puxando levemente a orelha de Frank, que deu um gemido de dor e olhou para a namorada como um garotinho emburrado.
Remus riu:
— Todo mundo apronta de vez em quando, Alice. Não culpe o Frank.
— É, não me culpe, Alice — disse Frank, esfregando a própria orelha.
— Eu sei que todo mundo apronta — sorriu Alice. — Mas monitores não deveriam fazer isso, não é?
Remus e Frank coraram.
— Eh… bem… tecnicamente…
— Tipo, se você não levar tudo ao pé da letra…
— Existe um furo nas regras, você vai ver…
— Frank Longbottom e Remus Lupin.
— Ah, Alice, não seja cruel — disse Remus, inocentemente. — Nós não fazemos nem um terço do que James e Sirius fazem.
— É, e com eles você não briga — disse Frank com cara de emburrado.
— É porque eles assumem. Além disso, não são monitores.
Remus riu:
— Prongs e Padfoot? Monitores? Hogwarts iria ver seus piores dias…
— Não ia sobrar uma pedra em pé neste castelo — comentou Frank.
— Com certeza — apoiou Alice. — Agora, os dois, terminando este café, para irmos à biblioteca estudar.
— Ah, Alice, hoje é sábado — choramingou Frank.
— Não, Alice tá certa, Frankie — disse Remus, que engolia pedaços inteiros de torradas. — É melhor terminarmos para ir estudar.
Frank suspirou e ergueu as mãos ao céu:
— Eu me rendo!
— Então, coma — disse Alice calmamente.
Frank riu e tomou o suco todo de um só gole. Melhor não desafiar Alice.
Severus Snape estava fazendo uma silenciosa sessão de revisão na biblioteca.
Parecia imperturbável em sua leitura, mas quem pudesse observar seus pensamentos a fundo, poderia ver que havia perturbação naqueles olhos negros. Extrema perturbação.
A verdade é que já havia se passado mais de um mês desde que ele lançara o desafio para si mesmo — e também para Pettigrew —, mas não conseguira nenhum avanço. Os três pareciam ter uma amizade tão solidamente construída que nada, nada que ele pensasse, poderia derrubá-la. Cada plano que ele montava era desmontado logo após, e chegara março, março, e ele ainda não tinha nenhuma idéia. Nenhuma.
E estava a ponto de atirar aqueles livros no chão e ser expulso da biblioteca quando uma figura peculiar surgiu na porta. Uma figura que era raro que se encontrasse ali, especialmente desacompanhada. Especialmente quando não havia o mínimo sinal de Marauders por perto.
Peter Pettigrew andou hesitante, no que recebeu um olhar furioso de Madame Pince. Ele deu um sorriso torto para a bibliotecária, indicando o interior da biblioteca, e ela permitiu a sua entrada, numa espécie de misto entre aprovação e desaprovação. Cada passo hesitante, ele caminhou para dentro do recinto, seus olhos correndo até as janelas e a porta, como que avaliando todas as saídas possíveis e imagináveis.
Seus olhos nervosos e aguados correram da porta para as mesas e as estantes, sem parar em nenhum lugar por mais que cinco segundos, e depois pelas carteiras, até ele dar com Snape. Um tremelique sacudiu levemente seu corpo, e ele se aproximou, lentamente, como se cada passo fosse pesado e difícil.
Severus, na defensiva, observou-o se aproximar com olhos agudos, e se sentar na mesma mesa que ele. Segurando firmemente a varinha por debaixo das vestes, Severus falou, a voz ácida:
— O que você quer, Pettigrew?
— Me siga — disse Peter apenas, e levantou-se apressadamente.
Severus Snape cogitou realmente se aquilo poderia ser uma armadilha. Mas vários fatos foram se opondo uns aos outros em sua mente: se fosse uma armadilha, porque diabos os Marauders achariam que ele seguiria Pettigrew? O Marauder apenas não queria ser visto na companhia de Snape — não queria que nada o comprometesse. Após um breve intervalo de resolução, quando ele viu que Pettigrew já ia sumindo pela porta, Severus levantou-se e o seguiu.
Os pés gorduchos de Pettigrew desapareceram na escadaria, e o guiaram até o sétimo andar. Depois, foram por um corredor, e, quando ele chegou ao mesmo corredor, apenas viu uma porta. Procurando alguma entrada por onde o Marauder pudesse ter passado, nada encontrou. Então, inspirando fundo, e rezando para que nada acontecesse, entrou.
Pettigrew o esperava em uma sala que ele jamais tinha imaginado na vida. Mesas limpas, escrivaninhas com pergaminhos e tinteiros, um grande tabuleiro com pecinhas que parecia do tipo que os grandes generais usam para montar estratégias de guerra, mapas e outras coisas do gênero formavam o ambiente, que Snape olhou atordoado.
— Que diabo de lugar é esse? — perguntou Severus.
— A Sala Precisa — disse Peter sem encará-lo. — Não vá espalhar que ela existe por aí, porque isso é um segredo. Por isso o trouxe pra cá.
— Isso é uma passagem ou o quê?
— Isso é uma sala especial. Ela se transforma no que a pessoa precisa. Eu precisava de um lugar para discutir com você sobre o seu plano, então a sala se transformou nisso — disse Peter. — Além disso, não estamos localizáveis, porque eu preciso que ninguém nos ache.
— Espantoso — murmurou Severus, passando uma mão levemente pela parede. — Por mais tempo que eu esteja aqui, Hogwarts sempre me surpreende.
— É, é, mas vamos logo com isso — resmungou Peter, impaciente, agitando um rolo de pergaminho no ar.
Severus acompanhou com o olhar o movimento do pergaminho:
— O quê exatamente é isso?
— Isso, Snape, é a prova que você pediu.
Os olhos do sonserino cintilaram.
— Uma prova capaz de separá-los?
— Talvez — disse o outro. — Leia e julgue por você mesmo.
Num ato quase simbólico, Peter estendeu o pergaminho a Severus, que o tomou com uma solenidade tal que parecia estar recebendo um prêmio. E, de certa forma, era um prêmio.
Cada verso escrito naquela letra apressada e desesperada era como um bálsamo de alegria sendo jogado na sua alma. E, quando terminou de ler, voltou-se para Peter com um sorriso sinistro.
— Agora, veremos do que é feita a amizade de vocês.
— Eu ainda não sei porque fiz isso — sussurrou Peter. — Você vai destruir com o meu grupo e eu o entreguei para você.
— Você fez isso porque é egoísta, Peter Pettigrew — sorriu Severus. — Você fez isso porque é miseravelmente egoísta.
Peter engasgou:
— Eu não sou egoísta!
— Ah, é. É tão egoísta que é incapaz de dividir os amigos com a imagem de uma garota.
— Pare com isso!
— Você não quer ouvir a voz que desnuda seus erros frente aos seus olhos, não é?
— Eu te odeio, seu desgraçado!
— Olha que interessante! Temos algo em comum… Eu também te odeio!
Peter olhou-o, ofegante e vermelho. Furioso. Não sabia o que responder, não sabia o que pensar, só sabia que queria esmurrar a cara daquele canalha até arrancar de seu rosto aquele maldito sorriso — mas, por outro lado, sabia que esmurrá-lo só o faria sorrir mais.
Ainda sorrindo, Severus disse:
— Por mais que eu nutra ódio por você e você por mim, Pettigrew, estamos do mesmo lado e lutando pelo mesmo objetivo agora. Cada um com seus motivos, porém temos o mesmo objetivo. E por isso, eu aconselharia você a não relatar nada a seus amáveis colegas de dormitório, ou o nosso plano vai por água abaixo.
E, antes de sair, acrescentou:
— Você foi parar na casa errada, Peter Pettigrew. Está me parecendo que você teria se dado muito bem na Sonserina.
E foi, deixando Peter atordoado e morrendo de raiva de si mesmo.
— Olhem aqui, James Potter e Sirius Órion Black, eu só vou lhes perguntar uma vez. Onde — está — o meu — poema?!
James e Sirius se olharam com cara de interrogação, depois voltando-se para o rosto de Remus, que, eles notaram, parecia sacudido de fúria reprimida — suas unhas se alongavam como garras e seus cabelos deixavam a forma sempre cuidadosamente arrumada para se tornar algo pior do que os cabelos de James. Dessa forma, Remus conseguia ficar realmente assustador.
— Que poema? — disse James.
— Não se façam de tontos — sibilou Remus, e James e Sirius recuaram. — O poema que eu escrevi e estava na minha mala, preso com fita vermelha. Onde ele está?
— Já perguntou duas vezes — arriscou Sirius, e se arrependeu logo em seguida, quando Remus deu um passo à frente com uma expressão realmente selvagem no rosto.
— Onde foi que vocês o esconderam? — perguntou ele com uma calma visivelmente forçada. — Sério. Eu sei que mexeram na minha mala, e eu…
— Como sabe que mexemos na sua mala? — perguntou James surpreso.
— Feitiço de Alarme, James. Eu o uso praticamente desde que nos conhecemos, porque eu logo adivinhei que vocês poderiam fazer coisas assim. Porém, eu nunca me importei, enquanto não sumisse nada. Mas o meu poema…
— Nós nem sabemos que maldito poema é esse! — exclamou Sirius. — Nós não vimos poema algum!
— Sei — disse Remus descrente. — Por que vocês foram mexer na minha mala, pra início de conversa?
James e Sirius trocaram um olhar culpado, e foi o primeiro que respondeu:
— Bem, você deixou escapar, aquela vez, pouco depois da azaração, do Snape, sabe, que ama alguém.
Remus empalideceu. Sirius prosseguiu:
— Então, nós não falamos nada na hora, porque tava aquele clima chato. Mas depois, fomos percebendo que você parecia mesmo triste, e cada vez mais triste, e então decidimos fazer alguma coisa sem que você soubesse.
— Só que não sabíamos de quem você gostava — disse James. — Daí…
— “Daí” digo eu — disse Sirius. — Daí o James teve a idéia de fuçar sua mala pra ver se a gente descobria alguma coisa.
— Mas não descobrimos nada, e então… bem, então, foi isso. Nós nem fazemos idéia de que poema é esse. Aliás, a gente nem sabia que você escrevia poemas!
— Você escreve poemas?
Remus olhou bem para Sirius e para James, e viu a pura inocência no olhar deles — se é que algum dos dois fosse realmente inocente. Então, fraquejou.
— Droga, se não foram vocês… Eu devo ter perdido… Desculpe tê-los acusado…
— Não foi nada, se tivéssemos visto o tal poema, provavelmente seríamos mesmo os culpados — sorriu James. — Quer que a gente te ajude a procurar?
— Não! — exclamou Remus. — Se vocês acharem-no, vão ler, e eu nunca os perdoaria… nem me perdoaria… se lessem.
— Nossa, Moony, o que é que tem nesse tal poema? — perguntou Sirius. — Relatos secretos da vida dupla do monitor certinho?
— Não, Padfoot… — disse Remus febrilmente — …relatos secretos da vida suja do monitor certinho. Agora, se me dão licença, preciso realmente encontrá-lo.
— Por que não experimenta um Accio, Moony? — perguntou James, preocupado.
— Porque o enfeiticei para bloquear Feitiços Convocatórios… — lamentou o outro, saindo do dormitório.
E deixando James e Sirius com a pulga atrás da orelha:
— Vida suja do Moony? — repetiu Sirius incrédulo.
— Olha, Sirius, eu não sei o que é que tá escrito nesse tal poema… — disse James — …mas, seja lá o que for, é melhor não nos metermos nisso.
— Ué, por quê? Seria interessante descobrimos os segredos do Remus. Quem sabe é outra coisa como ser lobisomem, que ele esteja exagerando?
— Algo me diz, Sirius, que não é exatamente isso… E que nós dois não vamos gostar nada de saber. Algo me diz.
Lily caminhava solitária pelo corredor. Quem visse seu semblante pálido, seus cabelos embaraçados, e sua cara de cansaço, logo pensaria que era mais uma aluna estafada pelos estudos, mas quem a conhecesse melhor e soubesse ler seus olhos verdes, saberia que ela estava triste. Que havia algo que a deixara triste.
A deixara triste saber que mais uma pessoa sofria por causa dela. A deixara triste saber que pessoas sofriam por causa dela. A deixara triste saber que a única solução para esse sofrimento seria que ela escolhesse um deles, mas, que mesmo isso poderia só intensificar o sofrimento dos outros. E a deixava definitivamente desesperada pensar que estava num beco sem saída.
E, para piorar, agora acabava de trombar com um dos responsáveis pelo seu tormento.
— Remus! — exclamou, ao ver o rapaz caindo no chão, como sempre acontecia quando eles se trombavam.
— Lily! — exclamou Remus, vendo a garota que estendia sua mão para ajudá-lo.
Ele segurou aquela mão delicada, e fechou os olhos enquanto se levantava, aproveitando todas as sensações daquela doce e delicada mão. E, quando os dois se encararam, o rubor veio às faces de ambos.
— Parece que a gente sempre tromba — disse Remus, sem graça.
— Parece, na verdade, que você não olha onde anda — disse Lily, levemente repreensiva, embora um brilho divertido refulgisse em seus olhos.
Sua frase causou apenas tristeza em Remus. É lógico, por que pensar que era o destino deles se esbarrarem por aí, como se realmente houvesse algo de importante ligando os dois? Por que pensar que poderia haver algo mais entre eles apenas porque Remus parecia ter uma tendência a se chocar com Lily?
— Ei, Remus, não falei nada para magoar — espantou-se Lily, ao ver como o ânimo de Remus teve uma queda abrupta. — Eu disse alguma coisa?
— Não, imagine, Lily… — sorriu Remus, evitando olhar para o rosto da bela garota. — Eu… que… ah, bem… eu estou ficando um pouco desesperado.
— Por quê? — perguntou ela, temendo a resposta.
— Não precisa se assustar — apressou-se a dizer Remus. — É que… eu… eu… eu perdi o… poema.
— O nosso poema?
Aquele “nosso”, como se o poema fosse um segredo que eles dividiam, soou delicioso aos ouvidos de Remus.
— É… Eu… ele estava na minha mala, você lembra… Mas não está mais… Só James e Sirius mexeram na mala e eles juraram que não foram eles…
— E você acredita no que aqueles dois juram?
— Não, mas eu acredito no que eu vi nos olhos deles. Eles estavam dizendo a verdade. Não sabem que poema é. O problema é que eu nem imagino quem possa tê-lo pegado.
— Será que você não o perdeu?
— Não, eu não o perderia! Não desde que você falou que gostou dele…
Lily corou violentamente, e Remus ficou ainda mais rubro que ela, os dois encarando o chão como se fossem encontrar poemas pululando entre o piso de mármore trabalhado.
— …Qual foi a última vez em que o viu? — perguntou Lily, após alguns minutos de um silêncio envergonhado.
— Quando o enrolei e prendi com uma fita… Logo após termos nos despedido… naquela noite — a mera lembrança da noite servia para deixar Remus encabulado e, ao mesmo tempo, próximo do paraíso.
— E nunca mais o pegou?
— Não, por isso não posso tê-lo perdido. Tenho medo que alguém possa encontrá-lo.
— Mas, se alguém encontrar… Não vai saber que é você. Que sou eu.
— Mas e se James e Sirius encontrarem o poema? — sugeriu Remus, e Lily se arrepiou.
Remus rodando no teto seria demais até mesmo para ela.
— Tentou usar um Feitiço Convocatório?
— Enfeiticei o pergaminho para bloquear esse tipo de feitiço — suspirou Remus. — Bem, Lily, vou procurá-lo melhor. Talvez esteja na biblioteca, ou em algum lugar por aí… — a voz dele expressava que ele não tinha a mínima esperança.
Lily ficou observando-o partir. Cada passo hesitante, sem fé. Sem fé não só no fato de que iria encontrar seu poema, mas sem fé na própria vida. E Lily chorou silenciosamente por Remus.
Noite. Severus procurou algum sossego na solidão do dormitório, para pensar em como faria tudo, mas não o encontrou. Pouco após ele ter entrado, Lucius o seguiu.
— Príncipe.
— Que foi, Lucius? — perguntou Severus. — Não vê que eu preciso de um pouco de paz?
— Eu estou pouco me lixando se você precisa de paz. Faz uma droga de um mês que você está me evitando. Por que está me evitando?
— Porque não quero ouvir as suas lamúrias e a sua moral sonserina — resmungou Severus.
— Por que teria que ouvi-las? Só por que está apaixonado por uma sangue-ruim?
Severus fechou os olhos brevemente, como que pedindo paciência.
— E depois quer servir o Lorde — zombou Lucius. — Acho que Ele não irá gostar nada de ter um servo apaixonado por uma mera trouxa.
— Lily não é uma mera trouxa — disse Severus antes que pudesse se conter —, e, por acaso, eu já sou um Comensal da Morte? Sou? Você por acaso é meu superior? Eu tenho que prestar contas a você? Não. Então, pelo amor de Merlin, deixe-me em paz.
— Você envergonha a Sonserina, Príncipe Mestiço.
— E você me enche o saco, Lucius Malfoy.
— Eu deveria contar pra todos o seu amor pela sangue-ruim grifinória… Realmente deveria…
— E eu deveria contar para Narcissa o seu amor pela monitora da Corvinal… Realmente deveria…
Lucius o olhou chocado, e Severus riu:
— Ah, Lucius, a sua sorte é que eu não aprecio escândalos. Gastam muita energia e são pouco produtivos em si. Mas que as pessoas têm medo deles, ah, tem…
— Eu juro que, se você contar alguma coisa para Narcissa, eu te mato.
— Me matar não vai fazer Cissy esquecer que o noivo dela a trai com uma monitora da Corvinal.
— Mas vai ser bem prazeroso, sem dúvida.
— Nem sempre o que é prazeroso é útil, Lucius — disse Severus. — Você, como sonserino, devia saber disso. Afinal, quem é a maior vergonha para a Sonserina?
— Ora, seu…
— Agora, por favor, me deixe em paz. Tenho um plano para preparar, e a Sala Comunal está lotada de pessoas com conversas fúteis que me desconcentram.
Por algum motivo, a idéia de um plano pareceu interessar imensamente a Lucius:
— Plano? Contra quem?
— Contra os Marauders — replicou Severus, desenrolando o pergaminho onde estava o poema de Lupin.
— Contra os Marauders? — repetiu Lucius, deliciado. — O que exatamente você vai fazer?
— Eu vou separá-los — disse Severus, saboreando cada palavra. — Eu descobri algo que pode fazê-los brigar, e vou usar contra eles. A questão é quando.
— Quando?
— Sim, quando.
Lucius não pôde deixar de sorrir.
— Você quer uma ocasião especial para fazê-los brigar? Semana que vem, sábado.
Severus o olhou, indagação nos olhos negros.
— O que acontece de especial sábado que vem?
— Sábado que vem é dez de março, Príncipe.
Os olhos do sonserino se arregalaram.
— Dez de março…
— Isso. Agora, se quiser, use esta informação — disse Lucius, dando as costas para Severus. — Eu vou lá embaixo falar com Narcissa. E eu não disse nada que possa te ajudar, OK?
— OK. — Regra nº 1 de um sonserino: nunca se envolva em nada que você não tenha certeza absoluta que dará certo. Se não der certo, negue até a morte.
Lucius sorriu:
— Tchau, tchau, pequeno traidor do sangue — e saiu.
Deixando Severus a pensar que Remus Lupin iria receber um presente muito especial em dez de março.
Uma semana depois.
Severus Snape se sentou no Salão Principal e separou vários pedaços de pergaminho, sob o olhar curioso de Narcissa:
— O que é que você está fazendo, Sev?
— Mandando cartas, Cissy.
— Hum…
Um suspiro.
— Narcissa Druella Black, continue lendo as minhas cartas e você vai ver do que é que eu sou capaz quando estou realmente furioso.
— Ai, credo, Sev! — disse Narcissa. — Eu não estava lendo, só estava espiando um pouquinho.
— E eu sou a Lula Gigante. Deixe-me escrever em paz.
— Ei, Cissy, Príncipe! — era Sarah Saint-Clair, colega dos dois. — É melhor vocês tomarem cuidado hoje!
— Por quê, Sarah? — perguntou Narcissa.
— Hoje é aniversário do Remus Lupin, e eu aposto que os Marauders vão aprontar alguma com a gente. Fiquem precavidos.
Severus terminou de escrever em um pergaminho, e passou para outro, com um sorriso sinistro. Narcissa suspirou:
— Ah, é uma droga estudar com esses quatro vândalos. Você não pode relaxar. Por Slytherin, a cada passo que você dá é uma armadilha!
— Se tudo der certo hoje, Narcissa, nunca mais você precisará se preocupar em caminhar pelos corredores.
Narcissa olhou curiosa para o outro:
— Do que você está falando?
— Você verá, Cissy. Você verá.
Remus Lupin despertou extraordinariamente cedo naquele dia. Lógico que iria se prevenir para um possível peça que James e Sirius tentassem pregar nele (o que quase sempre acontecia logo que ele acordava), então saiu do dormitório antes que alguém pudesse sonhar em acordar, e foi para a biblioteca. Madame Pince observou aquele rapaz entrar com cara de perseguido e suspirou:
— Feliz aniversário, Lupin.
— Obrigado, Madame Pince — disse Remus em voz baixa.
Desde os incidentes do ano passado e retrasado, todos se lembravam do dia do aniversário de Remus Lupin.
— Olha, Lupin, se os seus amigos vierem aprontar na minha biblioteca…
— Tudo bem, Madame Pince — disse Remus, humilde. — Eu não vou ficar na biblioteca por muito tempo — olhou o relógio. — Tenho quase uma hora até eles acordarem. Quando eles acordarem, eu vou pra outro lugar, juro.
— Está certo — disse a bibliotecária. — Se é assim, pode ficar.
Remus agradeceu com um aceno de cabeça e se dirigiu para uma mesa solitária perto da janela, apanhando um livro. Madame Pince acabou sorrindo. Esse menino era um rapaz tão aplicado…
Passou-se algum tempo, vários minutos em que o grifinório folheara e folheara páginas de livros, sem realmente se concentrar em nada, quando ouviu um farfalhar de asas do lado de fora da janela.
Uma coruja bicava o vidro, parecendo decidida a alcançar Remus. O rapaz abriu a janela para permitir a passagem dela, e, tão logo viu-se dentro da biblioteca, a coruja esticou a perna, onde estava amarrado um pedaço de pergaminho. Imaginando que deveriam ser bilhetes de aniversário, Remus desenrolou-o e permitiu a partida da coruja.
Mas não eram felicitações. Era um bilhete realmente estranho.
Moony,
Venha nos encontrar na Shrieking Shack. Temos um presente para dar a você.
Prongs e Padfoot.
P.S.: Não deixe de vir.
Sirius decidiu passar no campo de quadribol antes da aula. Nem ele nem James e Peter sabiam onde Moony se metera — o que não era problema, iriam mesmo se encontrar durante as aulas — e, assim, a travessura do início da manhã, que envolvia acordar Remus de um jeito engraçado, não tinha dado certo. Mas lógico que a travessura maior e melhor, reservada para o jantar, não iria falhar.
E, como sempre, eles iriam se divertir muito, ele pensou, enquanto apanhava a sua vassoura para um vôo solitário.
Como sempre acabava acontecendo quando estava sozinho, seus pensamentos voaram. E chegaram a uma pessoa.
Lily Evans.
“Quando eu digo que vou enlouquecer, ninguém acredita em mim”.
Mas será que é destino dos Black, essa obsessão louca, Sirius? Pelo amor de Merlin, livre-se desse amor doentio!
“Você acha que eu não tento? Acha? Acredite, eu tento. Tento mais que tudo.Mas não dá. Aliás, insinue de novo que isso tem a ver com o meu maldito sangue Black, que você vai sofrer as conseqüências.”
Como vou sofrer as conseqüências? Sou sua consciência, Sirius. Eu sou a única que pode te atormentar o quanto quiser sem que você possa me deter. É esse o conceito de consciência, sabia?
“Sabia, coisinha venenosa. Infelizmente sabia.”
Nesse instante, o curso dos pensamentos de Sirius foi interrompido por algo que se chocou bruscamente contra a sua cabeça. Ele foi forçado a fazer uma manobra no ar para se manter na vassoura, e só após se firmar conseguiu enxergar o que o tinha atingido.
Era uma coruja-das-torres, do tipo que o colégio oferecia. Sirius revirou os olhos, pensando no que aquela desorientada estaria fazendo no campo de quadribol, e desviou a vassoura. A coruja, porém, foi atrás dele, perseguindo-o e bicando-o.
Após algum tempo daquele joguinho, Sirius se irritou e exclamou:
— Que é que você quer, diabo de coruja?
A coruja pousou no seu ombro e esticou a perna, onde um pedaço de pergaminho estava enrolado. Sirius o retirou cuidadosamente, e a coruja partiu.
Intrigado, o rapaz desenrolou o bilhete.
Padfoot,
Me encontre na Shrieking Shack. Precisamos acertar um negócio sobre a peça que vamos pregar hoje.
Prongs.
James tomava café no Salão Principal.
Observou, com certo prazer, que os companheiros ao seu lado, e também das outras mesas, pareciam relativamente temerosos em relação a ele. Bem, a travessura só seria mais tarde, ele não poderia perder mais aulas. Não depois das duas detenções por causa de Snape e a última porque ele azarara um sextanista de nome Wilkes.
O som de passos anunciou a chegada de Frank Longbottom e Alice Trapp, e o casal se sentou ao seu lado.
— Aí, James — cumprimentou Frank.
— Oi, James.
— Fala, Frankie, Alice.
— E aí, James, cadê o Remus? A gente queria dar os parabéns.
— Desapareceu — disse James com ar risonho. — A gente nem viu ele sair do dormitório. Acho que ele está na biblioteca.
— Ah — disse Frank. — Esperto ele. Eu ainda me lembro dele chegando na enfermaria com a pele toda empolada, que nem no ano retrasado.
James e Alice riram.
— E o Sirius, cadê?
— No campo de quadribol, acho — disse James. — Ele disse que queria voar um pouco para desestressar. Normalmente, eu também faria isso, mas tô com muita fome.
— Tá com tanta fome que tá comendo até papel?
James estranhou.
— Papel?
Alice apontou o pergaminho que boiava no mingau de aveia de James. Ele apanhou o bilhete e sacudiu-o para tentar secá-lo. Então, leu-o.
Prongs,
Me encontre na Shrieking Shack. Precisamos acertar um negócio sobre a peça que vamos pregar hoje.
Padfoot.
— Ah, pessoal, preciso ir — disse James. — Depois a gente se fala.
Se James fosse um pouco mais observador, teria notado a ausência de um certo sonserino na mesa. E o sorriso realmente sinistro de Lucius Malfoy.
Remus esperava há alguns minutos. O que diabos aqueles dois estavam aprontando? Coisa boa não deveria ser. E ele, que vivia sete anos com eles no mesmo dormitório, ainda não sabia reconhecer uma peça. Droga, caíra como um patinho!
Se James e Sirius não aparecessem em cinco minutos, ele iria embora. Aquilo era uma promessa.
Barulhos no túnel. Remus ficou atento, tentando escutar. Pareciam passos. Isso, finalmente os dois estavam chegando.
Para sua surpresa, porém, quem entrou foi só James. E parecendo atordoado.
— Moony? Que está fazendo aqui?
— Como assim, o que eu estou fazendo aqui? Você e Six me chamaram!
— Te chamamos? Como assim? Padfoot me mandou um bilhete dizendo que deveria encontrá-lo aqui…
— Hã?
— Ei! — disse uma nova voz vinda do túnel. — Tem uma reuniãozinha aqui e ninguém me avisou?
Sirius emergiu da abertura e Remus e James o encararam atônitos.
— Sirius, explique-se!
— Explicar o quê?
— Você me chamou aqui pra discutir o nosso plano! — exclamou James.
— Eu? Foi você que me chamou aqui!
— Gente, tem alguma coisa errada — percebeu Remus. E, olhando nervoso para os lados: — Acho que caímos em uma armadilha.
— Mas ninguém sabe disso aqui! — exclamou Sirius.
— Ninguém a não ser…
Mais passos. Os três Marauders silenciaram quase totalmente, e só era ouvido o som das três respirações, pesadas e ansiosas.
Severus Snape saiu calmamente do túnel.
— Você! Foi você que nos chamou aqui! — gritou James.
— É, fui eu. Mas não se preocupe, Potter. Eu não tinha nenhuma intenção… A não ser entregar um presentinho para o Lupin.
Remus estreitou os olhos, e James e Sirius o encararam.
— O que é que você quer, Snape?
— Entregar isso. Acho que você perdeu.
E, diante dos olhos arregalados de Remus, Severus tirou um pergaminho atado com uma fita. Uma fita vermelha.
Vendo o mal-estar súbito do rapaz, James e Sirius perguntaram, a uma só voz:
— O que é isso, Remus?
— Leiam, Potter e Black. Vão gostar, prometo — disse Severus, entregando o pergaminho na mão dos dois. — A propósito, Lupin, feliz aniversário.
E saiu com um sorriso no rosto.
James e Sirius abriram o pergaminho, e juntando as cabeças, leram. A cada verso aumentava a palidez dos dois, e, ao final, eles encararam Remus sem saber o que dizer.
N.A.: Fortes emoções!!! Sobre a minha fic nova, eu ainda tenho que achar o trailer para publicar. Daí eu publico, juro!
Prévia:
James Potter. Sirius Black. Remus Lupin. Três amigos, três irmãos. Três culpados, três criminosos. O crime? Amar a mesma garota. Verdades cruéis e diferenças antigas vem à tona em...
"— Isso é que é a bosta desse negócio chamado verdade."
N.A.: Eu sempre quis escrever um capítulo com esse nome, hauahuahau.
Quem se interessar, leia:
Matar ou Morrer
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=15209
Incondicionalmente
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Shining Like a Diamond
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Os Outros
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Você Não me Ensinou a te Esquecer
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=15847
Fogo
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=16020
N.A.: Comentem!
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