Tobias Snape



Mas um belo dia, toda a vida correta e estruturada que Eileen construía com tanto esforço desmoronou diante de seus olhos. Parecia um dia normal como qualquer outro, parecia mais um dia de neblina em Londres, parecia mais um dia de primavera... Mas não era...
Como de costume, Eileen saiu cedo de casa naquele dia, aparatou perto da entrada do Ministério, que naquela época não era uma cabine telefônica e sim uma porta com aspecto velho e sujo e foi para seu departamento. O Sr. Watson, um senhor elegante de meia idade, já a aguardava com uma pequena cartinha lilás na mão. Ao vê-la entrar, adiantou-se em dizer.
- Bom dia, querida Eileen, deixe suas coisas em sua mesa e vamos logo, temos um caso um tanto quanto complicado para resolvermos hoje... Vai envolver obliviação e também retirada de poderes mágicos de uma faca trouxa.
- O que aconteceu, Peter?
- Bem, parece que um trouxa foi seriamente ferido com uma faca enfeitiçada após ter sido submetido à maldição cruciatus.
Eileen sobressaltou-se.
- A cruciatus? Por Merlin! Há muito eu não ouvia a menção deste feitiço... Trata-se de um... De um bruxo das trevas então? O que está havendo?
- Bem, ainda não sabemos ao certo, no entanto, os aurores já estão no encalço de tal bruxo e nossa tarefa é remover o trouxa do hospital de trouxas para o St. Mungus e depois reverter a magia da faca, que ainda é perigosa se alguém tocá-la.
Aparataram em um beco, ao lado do hospital dos Trouxas e caminharam calmamente até sua entrada. Ao entrarem, olharam ao redor, fazendo um breve reconhecimento do local. O hospital estava bastante cheio de pacientes e funcionários, estes últimos andando apressados de um lado para o outro.
“Não será difícil”, pensou Eileen.
Dirigiram-se ao balcão de informações e perguntaram sobre um paciente chamado Tobias Snape.
- Parentes?
- Sim, sou seu irmão. - respondeu o Sr. Watson, conjurando rapidamente um documento falso onde lia-se “Gerald Snape”.
A atendente olhou rapidamente o documento, depois olhou suas anotações de registros de entrada e saída de pacientes, voltou-se para um escaninho com as fichas dos pacientes recentemente internados, pegou a ficha de Tobias Snape e leu-a rapidamente. Franziu o cenho e olhou desconfiada para o Sr. Watson.
- Não me lembro de ter contatado nenhum parente do Sr. Snape até agora...
Eileen rapidamente murmurou alguns feitiços, com a varinha escondida sob seu sobretudo e implantou rapidamente um pequena memória falsa na pobre atendente.
- Ora... Pensando melhor... Ah sim, me desculpem, eu liguei para o senhor há menos de meia hora! O senhor veio rápido! Vou pedir a uma enfermeira para acompanhá-los. Irvin! Venha aqui um instante!
A enfermeira aproximou-se pegou a ficha da atendente e acompanhou o Sr. Watson e Eileen pelos corredores do hospital.
- Bem, o caso de seu irmão é uma grande incógnita... Não estamos entendendo ainda o que ocorre com ele! Quando suturamos os corte, as linhas simplesmente se dissolvem na pele de seu irmão! Sei que estão em uma situação muito delicada, mas gostaria de pedir permissão para escrever para uma revista científica a respeito do caso dele! É um caso único na ciência, o senhor compreende. - O Sr. Watson e Eileen entreolharam-se.
Entraram no pequeno quarto em que mantinham Tobias Snape sozinho, devido ao interesse no caso dele.
- Quem é o médico que o está tratando, enfermeira?
- É o Dr. Benson. Logo estará vindo para conversar com o senhor.
- E mais alguém esteve aqui? Viu meu irmão?
- Não, por enquanto não. Mas gostaríamos também de pedir ao senhor permissão para trazer alguns alunos para observarem este caso, se o senhor não se importar, é claro.
- Bem... Mais tarde conversaremos sobre isso, gostaria de conversar com o Dr. Benson primeiro.
- Claro, senhor, claro.
Minutos depois, o Dr. Benson estava entrando no quarto, mal conseguindo esconder sua animação com o caso científico que poderia significar um Nobel em medicina. Mal entrou no quarto e, discretamente, Eileen puxou sua varinha e, com um feitiço não verbal, fez com que ambos, o doutor e a enfermeira, adormecessem no mesmo instante. Depois murmurou “obliviate” e fez com que ambos esquecessem Tobias Snape para sempre. Peter realizou outro feitiço não verbal para, ao menos, estancar o sangue de Snape, até que pudessem chegar ao St. Mungus.
Eileen retirou de dentro de seu sobretudo uma capa da invisibilidade e, com a ajuda de Peter, cobriu o corpo desacordado de Tobias Snape.

Foi então que Eileen viu seu rosto. Era pálido, de cabelos castanhos e fartos, lábios finos e agora muito brancos, devido à perda de sangue, mas ainda assim muito belos e delicados. Olhou para o rosto daquele homem por cerca de cinco segundos e naquele instante ela soube. Soube que aquele não era um homem qualquer. Soube que não conseguiria mais parar de ver seu rosto em seus sonhos. Soube que encontrara, enfim, o amor e este estava diante de seus olhos, mesmo que os dele estivessem fechados. E sem perceber, muito vagarosamente, foi perdendo, aos poucos, seu acurado dom da legilimência, pois sua mente estava sendo tomada por um sentimento que não permitia interferências, nem dela mesma...
- Eileen? O que houve? Você está se sentindo bem?
- O quê? Ah, sim, desculpe, vamos.
Com auxílio do feitiço “locomotor Tobias Snape”, que estava sob a capa de invisibilidade, removeram-no do hospital até o beco, onde, segurando muito firmemente os braços de Tobias, aparataram-no ao Hospital St. Mungus.
Lá chegando, os curandeiros prontamente o levaram para um quarto no andar de acidentes mágicos, dentre eles estava Alphard.
“Alphard!” pensou Eileen. Ela havia esquecido que ele existia. Só sabia que Tobias Snape existia. Ele ajudou os outros curandeiros a levá-lo até o quarto e voltou rapidamente para beijar Eileen e dizer:
- Puxa, estava com saudades, mas agora tenho que trabalhar. - Eileen não se moveu e mal retribuiu o beijo. Alphard olhou nos olhos de Eileen e naquele instante ele também soube. Soube que algo mudara e que perdera Eileen para sempre... Não disseram nada um ao outro, apenas fixaram os olhos um no outro durante vários segundos. Então Alphard disse, com os olhos úmidos:
- Adeus, Eileen.
- Adeus, Alphard.
E Alphard seguiu os outros curandeiros atrás da maca que levava Tobias.

***

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