Frio como o fogo e quente como



Dor. Era isso o que ela sentia. Seu coração sangrava ao se partir em incontáveis pedacinhos. Ela nunca, em toda a sua vida, imaginara que algum dia sentiria tanta dor em seu coração.



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Anos antes ela havia sido obrigada a escolher entre um sonho de criança e seu verdadeiro amor. Fez a escolha certa, sabia disso.

Ela havia realmente amado Harry Potter durante cada um dos incontáveis anos de sua juventude. Mas esse amor acabou por se extinguir quando ela se deu conta que ele nunca seria correspondido. Na verdade não foi só isso que fez esse amor desaparecer. Ela sabia qual era o outro motivo, apenas não queria admitir.

Depois de muito se torturar entre lágrimas e lamentos resolveu assumir o verdadeiro desejo de seu coração. Não conseguia, não queria acreditar no que estava fazendo. Ela simplesmente deixara de amar o herói para amar o vilão. Pelo menos era assim que as outras pessoas pensavam, ou pensariam, se soubessem o que se passava em sua mente e coração. Mas ela não pensava assim. Na sua mente os papéis estavam invertidos. O herói deles era seu vilão, pois foi ele quem mais a machucou, foi ele quem destruiu todas as suas fantasias sem dó nem piedade. Já o vilão deles sempre fora para ela um amigo. Quando ela precisava de alguém com quem conversar era sempre ele quem estava lá, pronto para ouvi-la, pronto para confortá-la. Isso já fazia muito tempo, mas ela sabia que ele nunca a abandonaria. E agora ela via com seus próprios olhos toda sua família e amigos tentando destruí-lo. Não podia deixar isso acontecer. Não se perdoaria se o amor de sua vida fosse destruído por aqueles que diziam amar-lhe. Se eles realmente a amavam não fariam aquilo, não matariam seu príncipe encantado. Ela tentou conversar com eles, tentou fazê-los desistir, mas foi inútil. Depois de tentarem mil-e-uma vezes ver se ela não estava mais uma vez sendo comandada pelo maldito diário resolveram ignorar seus pedidos.

Ela sofria cada vez mais ao ver amigos e parentes tentando acabar com suas esperanças. Até que um dia, cansada de tudo o que estava acontecendo, ela resolveu fazer o que lhe parecia mais certo, e ao mesmo tempo mais insano. Arrumou as malas e partiu para a guerra. Mas desta vez lutaria do lado do Lord das Trevas.

Foi recebida exatamente como esperava. Ele atendeu seu pedido de se apresentar perante ela apenas com a imagem de quando tinha dezesseis anos. Eles lutavam lado-a-lado em todas as batalhas. Era difícil para ela enfrentar seus amigos e seus familiares em duelos mortais. Certa vez lançou um Avada Kedavra em um sobrinho. Não tinha realmente a intenção de acertá-lo, mas o garoto era tão estúpido que, em uma tentativa frustrada de se desviar do feitiço, acabou por ser acertado pelo mesmo. Chorou durante dias. Não acreditava no que havia feito. Mas sabia que esse era o preço a ser pago por tudo o que fizera. Mas mesmo com todos os acontecimento ruins a sua volta ela não se deixava abater. Pois sabia, tinha exatamente o que queria. Estava ao lado do amor de sua vida, e sabia que ele ficaria com ela até o fim.

Ele não a amava, sabia disso. Tom Riddle era incapaz de amar alguém. Mas existia alguma coisa entre eles que os mantinha unidos. Ela não sabia como, mas tinha a certeza que ele estaria sempre ao seu lado para protegê-la.


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Ele realmente a amava, ela era um ser tão frágil. Ele queria protegê-la. Conhecia cada um de seus mais profundos segredos desde os onze anos de idade dela. Ela sempre fora uma pessoa alegre e sorridente. Doía-lhe vê-la chorando por ter lutado contra seus familiares e não poder fazer nada para que ela parasse de sofrer. Certa vez pensara em desiludi-la. Pensou em dizer a ela que ainda era tão ou mais tola do que quando a conhecera. Pensou em dizer que a estava enganando de novo apenas para que ela o abandonasse e voltasse para o lado de sua família, para que não pudesse mais vê-la chorando por ter acertado um feitiço imperdoável em alguém que amava por mero acidente. Ela não admitia que fora por acidente. Mas ele a conhecia melhor do que a si próprio. Sabia que ela jamais teria coragem de matar alguém, ainda mais sendo esse alguém um de seus tão amados sobrinhos.

Mas ele não a desiludiu por dois motivos.

O primeiro era que embora ele soubesse o que ela estava passando sabia que ela estava fazendo aquilo por livre e espontânea vontade e não por medo, como os outros faziam. Ela gostava de enfrentar o mundo apenas para estar com ele. Ele podia ver em seus olhos, podia sentir em seus beijos. Ela o amava. Isso o deixava sem reação por não saber se ela sofreria mais longe da família e perto dele ou longe dele e perto da família. Mas a resposta se estampava nos sorrisos que sua pequena menina Virgínia lhe dirigia. Ela sofreria muito mais sem ele.

A segunda era que apesar desse amor ele ainda era praticamente a mesma pessoa. O amor não aquecera seu coração, como fazia com todas as pessoas apaixonadas. Ele a amava profundamente, a amava como não amara nem sua própria mãe. ( Ela era uma sangue-ruim, não se esqueçam.) Mas o sangue que corria em suas veias ainda era tão frio como um aiceberg ( acho que é assim que se escreve ). Ele nunca deixaria ninguém saber que algum dia o mais poderoso bruxo das trevas amou alguém. O amor era um sentimento para os fracos e ele era forte. Os outros comensais achavam que Virgínia não passava de seu brinquedinho, que logo ele se cansaria e jogaria fora. Mas ele não poderia deixá-la ir. Era egoísta demais para isso. Depois de tê-la tido uma vez não conseguiria mais viver sem ela. Vê-la sofrer lhe doía, mas lhe doeria muito mais viver sem ela. E se algum dia ela fizesse menção de abandoná-lo ele a acorrentaria em algum calabouço frio e mal-cheiroso. Ele suportaria a dor de vê-la sofrer como refén, mas não superaria a dor de viver sem ela. Não mais.



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E lá estava ela agora. Depois de tudo o que havia passado para ficar ao lado de Tom ela teve que vê-lo sangrar até a morte. Não conseguia mais chorar, pois não restavam mais lágrimas. A dor em seu peito ia crescendo e começava a sufocá-la. Ela já não conseguia mais respirar quando viu o causador de seu maior sofrimento. Era ele. Mais uma vez ele a estava fazendo sofrer. Agora certamente ele voltaria para casa e seria recebido por todos com a maior festa do mundo mágico. Não. Ela não deixaria isso acontecer. Ele não sairia imune dali depois de ter acabado com suas últimas esperanças de vida. Ela poderia morrer naquela batalha, afinal que motivos agora ela tinha pra continuar vivendo? Mas se ela morresse ela o levaria consigo até o inferno se fosse preciso. Mas não o deixaria vivo para voltar pra casa e ser recebido por todos com uma festa por ter matado Tom Riddle. Ela realizaria o sonho do amor de sua vida. Que ironia do destino, não? Ela, a pessoa que amara e sofrera por ele durante anos agora o mataria. Ela tinha uma chance única de matar Harry Potter e não a perderia. Foi o que fez. Ele estava de costas para ela. Parecia confuso sem saber que caminho seguir. Com muito esforço ela levantou a varinha e lançou o feitiço, que o acertou em cheio. Estava feito. Vingou a morte de seu amado. Mas e agora? O que seria de sua vida a partir dali? Tudo o que tinha era Tom. Não poderia voltar para sua família depois de tudo o que fizera e se fosse encontrada por algum comensal certamente seria morta, pois isso só não acontecera antes porque Tom a protegia. Foi então que lembrou-se de uma conversa que tivera com Tom há muitos anos atrás.


“ - E o que seria de você se eu resolvesse te abandonar um dia pequena Virgínia?

- Você não faria isso.

- Como pode ter tanta certeza? - sua voz era ao mesmo tempo fria e sensual como alguém que quer chegar a algum lugar com segundas intenções.

- Não tenho. Mas você é meu amigo, é a única pessoa que eu tenho agora. Sei que não é o melhor ser do mundo, muito ao contrário, mas você não faria isso comigo. Eu confio o suficiente em você pra saber que não faria.

- E o que aconteceria com você se eu fosse pra algum lugar onde você não poderia ir?

- Posso ir a qualquer lugar com você Tom, você sabe disso. Iria até o inferno atrás de você. Eu nunca vou te deixar em paz. Pra se ver livre de mim você teria que me matar primeiro e depois transformar meu corpo em chamas. Isso se eu não resolvesse virar um fantasma e te perseguir por resto da eternidade.”


Era isso. Ela iria à qualquer lugar atrás dele, nem que esse lugar fosse o inferno. E foi com esse pensamento que lançou um Avada Kedavra na própria cabeça e caiu sem vida no chão ao lado do corpo de Tom Riddle ou, como muitos preferem, Lord Voldemort.




Quem visse aquela cena certamente acharia uma coisa lamentavelmente triste e ao mesmo tempo trágica. Mas aquela era a cena mais linda do universo. Aquela era a cena de um amor que ultrapassou todas as barreiras da vida pra existir. Virgínia sabia muito bem que quem amava era o pior e mais cruel bruxo de todos os tempos. Mas mesmo assim quando ele foi morto o amor falou mais alto e ela não suportando a dor de viver longe de sua companhia tirou a própria vida.

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