Primeiro Fim de Semana Em Hogs
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Capítulo VI – Primeiro Fim de Semana Em Hogsmeade
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O primeiro fim de semana em Hogsmeade do novo ano letivo estava próximo e, como
de praxe, um burburinho muito animado tomava conta do Salão Comunal da
Grifinória, principalmente entre os alunos do 3º ano, que iriam pela primeira
vez ao povoado onde só habitavam bruxos. Todos estavam muito animados, alguns
extasiados até demais, exceto porém, pelos alunos de 1º e 2º anos que não tinham
permissão para o passeio e se mostravam extremamente aborrecidos e enciumados
com a alegria exagerada dos colegas mais velhos, mas não tanto quanto a Monitora
Chefe da Grifinória, Hermione Granger. No seu caso, estava apenas extremamente
aborrecida com a baderna, que não conseguia dar cabo. Gostava de aproveitar os
minutos que tinha antes da sua ronda noturna para ler algum livro, rever alguma
matéria ou fazer o dever de casa, coisas completamente impossíveis de serem
feitas com toda aquela bagunça lhe tirando toda a atenção e dando-lhe dor de
cabeça.
Embora gostasse muito do povoado, Hermione há muito tempo deixara de se importar
com o passeio, ficando no castelo a maioria das vezes, estudando, revendo
matérias, aproveitando os jardins do castelo com seu gato quando o tempo
permitia ou, simplesmente, para aproveitar toda a tranqüilidade que tomava conta
de Hogwarts, tranqüilidade esta que ela tanto apreciava.
Gostava muito de ver as novidades no povoado, parar com os amigos no bar 3
Vassouras, comprar os doces na DedosDeMel... mas, desde o ano anterior, isso
havia se tornado inviável, pois não tinha mais companhia para desfrutar desses
lugares tão legais. Harry e Rony sempre marcavam com alguma garota e ficavam a
tarde toda no Café de Madame Puddifoot; Gina, se não estava com algum namorado,
estava com as amigas da mesma turma; Neville sempre estava com os outros garotos
do 7º ano, quando também não estava com alguma namorada da Lufa-Lufa... enfim, a
grande sabe-tudo Hermione Granger, a aluna exemplar e monitora-chefe perfeita,
ficava totalmente sozinha, sem qualquer companhia para passear e se divertir no
vilarejo. Por outro lado, das diversas vezes que ficou sobrando, aproveitou para
conhecer outro lado do povoado, um lado que ninguém se interessava em conhecer,
o lado estritamente residencial e suas belezas naturais, como prados, morros,
bosques, uma pracinha muito bonitinha e muito bem cuidada que ficava escondida
entre as casas, longe do burburinho do centro comercial. Se ela tivesse
novamente a companhia de seus amigos, levaria-os para conhecer essas maravilhas
que havia descoberto... se tivesse um namorado, certamente não perderia seu
tempo em bares e cafés super lotados, nada pessoais e barulhentos. Havia lugares
muito gostosos e realmente românticos para se namorar em Hogsmeade, que não
fosse num capitalista centro comercial tumultuado de adolescentes bruxos.
Sonhava até, algum dia, comprar uma casa perto do rio que desembocava montanha
abaixo, margeado por uma mata densa de um lado e que se perdia floresta adentro.
Um lugar divino, em sua opinião, de um silêncio que jamais ouvira, uma paz muito
fácil de alcançar... mas, nesse momento, tudo o que queria era estar bem longe
desse tumulto e falatório sobre Hogsmeade, que já estava tirando-a do sério!
Fechando o livro com rudeza, levanta-se da sua poltrona preferida que fica em
frente à lareira. Crookshanks, que a acompanhava silenciosamente, pula de seu
colo e já se adianta aos pés da escadaria que leva aos dormitórios femininos,
pois já sabia que era pra lá que sua dona pretendia rumar. Ele simplesmente
odiava aquela empolgação toda, aquelas risadinhas, aquele falatório exasperado,
o “calor humano” que se formava naquele salão. Não fosse por Hermione, ela
estaria em qualquer lugar de Hogwarts que não tivesse qualquer alma viva. Aliás,
ele ainda só suportava essa tortura de estar em Hogwarts, que lhe trazia uma
amargura imensa por esfregar em sua cara uma condição que não poderá nunca mais
desfrutar, por causa de Hermione Granger. Por ela, arderia a eternidade no fogo
do inferno... que, de certa forma, seu inferno era Hogwarts e todas as
lembranças que esse lugar lhe trazia. Não que alguma vez a Escola de Magia e
Bruxaria tenha lhe sido ruim, muito pelo contrário, e é aí que mais incomodava.
Ele jamais teria de volta sequer o eco daquela época...
Hermione subiu correndo a escadaria, acompanhada do gato em seu encalço. Seus
amigos estavam tão entretidos em seus planos para o próximo sábado, que nem
sequer repararam que ela havia se retirado. Entrou em seu dormitório e jogou-se
pesadamente na cama, deitando aos pés da mesma de modo que pudesse ver o céu
noturno estrelado pela janela aberta próxima. Mantinha-se quieta. Crookshanks
subia na cama, colocando-se ao lado da dona, observando atentamente aquele rosto
bonito banhado pela luz fria da lua crescente que adentrava o dormitório. Fora o
burburinho do Salão Comunal, não parecia que mais nada havia perturbado Hermione,
que mantinha seu semblante sereno e até mesmo com o esboço de um sorriso,
enquanto observava atentamente a lua através das janelas de vitrais abertas.
Felizmente, o orgulho de Malfoy não permitiu que a fofoca sobre o ocorrido entre
ele e o gato na sala de Snape se espalhasse por todo o castelo. Obviamente ele
não permitiria que seus amigos comentassem uma palavra sequer e Severus e Filch,
claro, também não diriam nada, não por qualquer respeito ou consideração pelo
garoto Malfoy, mas porque não é do feitio de ambos. Isso permitiu que Hermione
não viesse a saber do caso, embora, muito provavelmente, ela daria pulos de
alegria... bem, talvez fosse interessante que apenas ela ficasse sabendo da
história que a deixaria muito satisfeita. Mas é melhor que fique como está, sem
ninguém, além dos presentes naquele momento, saber que o gato da monitora chefe
da Grifinória bateu de frente com Draco Malfoy, o futuro grande comensal da
morte, como Severus falou.
Por outro lado, isso era preocupante. Ele bem sabia da dupla atividade de
Severus Snape, como espião da Ordem da Fênix e falso Comensal da Morte, então
ele estava a par de tudo que rondava nesse meio, inclusive sabia quem eram os
tais cinco novos comensais que ali estudavam. O estranho disso tudo é que o
garoto Malfoy ainda não o era, principalmente sendo filho de quem era, Lucius,
que ele sabia muito bem que este era o comensal mais fiel e importante de
Voldemort... então, algo realmente grande nas trevas aguardava o garoto Malfoy.
Por precaução, o melhor era mesmo se prevenir, pois tinha certeza que o loiro
aguado iria se vingar da sua insolência “_Provavelmente tentarão me matar a
pauladas ou, ainda, me fazer de cobaia para experiência com feitiços... bem,
nada que não tenha passado e me safado, mas a menina...”
Crookshanks olhou fixamente para o rosto de Hermione, que percebeu o interesse
do felino. Com um sorriso, Hermione carinhosamente passou a mão pelo dorso do
gato, puxando-o levemente para que deitasse sobre seu peito, apoiando a cabeça
no ombro da garota como se fosse um bebezinho. Enquanto um braço envolvia o
gato, a outra mão acariciava sua cabeça. Nesta hora, todas as preocupações
esvaíram da mente do felino. Aquele carinho, aconchego, calor e perfume de
lírios o deixavam tão leve e extasiado como se experimentasse um nirvana.
Certamente, ele devia muita à Hermione. Depois que a menina entrou em sua vida
há quatro anos, tudo se tornou muito mais suportável, sua condição se tornou até
mesmo agradável. Jamais fora tratado com tanto afeto em toda a sua vida, fosse
de um jeito ou de outro. Jamais soube o que é receber um carinho e atenção.
Jamais sequer imaginou ser possível alguém se dedicar a algo sem esperar
absolutamente nada em troca. Hermione lhe mostrou um outro lado da moeda, uma
outra forma de vida possível e, por mais incrível que pareça, fora justamente o
tipo de pessoa que ele tanto desprezava que o mostrou isso e que, em outra
época, talvez ele a tratasse da mesma forma ou ainda pior que o garoto Malfoy,
por exemplo. Um leve tremor passou por seu corpo, que o fez arranhar levemente a
veste da menina e apertar os olhos. “Não, o que importa é este momento! E é tudo
muito diferente... já se foram vinte anos! Hermione é a benção que eu não
mereço...”
_Estava pensando numa coisinha e acho que você vai gostar, Shanks...
Hermione sussurrava ao gato sem desviar os olhos da janela aberta.
O gato virou apenas a cabeça, para tentar ver o rosto da dona... Hermione
parecia contente com alguma coisa.
_Faz tempo que não vou à Hogsmeade... estou com um pouquinho de saudade de
passear pela pracinha e pelo bosque, ver aquelas casinhas, o rio... e você nunca
esteve lá, né? O que é culpa minha, já que nunca o levei...
Hermione levantava-se, pondo-se sentada na cama, colocando o persa imenso
sentado ao seu lado. Olhava-o com um sorriso, acariciando a cabeça do gato, que
a fitava com curiosidade.
_Neste sábado, quando teremos a primeira visita à Hogsmeade do ano, levarei você
junto, Shanks, para que conheça o vilarejo... e para brincar num lugar diferente
dos jardins de Hogwarts. Lá, pelo menos, podemos passear por entre a mata, há um
bosque com trilhas, coisa que não podemos fazer na floresta daqui. E você poderá
exercitar um pouco seus instintos e pescar uns peixinhos lá no rio...
O gato respondeu com um ronronar e roçando a cabeça no braço da menina. Era o
seu jeitinho de dizer que aprovara a idéia. “Já estava cheio daqui mesmo e...
faz tantos anos que não vou ao vilarejo que deve ser como uma primeira vez”. Uma
coisa do que aquele gato não poderia reclamar era que sua dona o deixava
trancado em casa. Mesmo nas férias, quando Hermione viajava com os pais para
diversos lugares, Crookshanks também ia curtir as férias e as viagens.
_Já está na hora da minha ronda... e aí, Shanks? Vai ou fica?
Hermione já se adiantava quando Crookshanks pulou da cama e foi aos saltinhos
para perto da dona, visivelmente mais animado, afinal, iria rever Hogsmeade
depois de duas décadas e, talvez, até encontrassem a casa onde viveu quando
jovem. Seria mesmo um sábado e tanto!
*
Faltavam apenas mais trinta minutos para o fim da ronda de Hermione, que
caminhava pelos corredores desertos silenciosamente. Crookshanks a acompanhava
adiantado, para prever qualquer coisa antes que chegasse de surpresa até sua
dona. Ele sempre se mantinha atento a tudo e agora o fazia ainda mais; temia
alguma brincadeira de mau gosto por parte do garoto Malfoy, querendo se vingar
do que aconteceu na sala de Severus. Ouviram passos se aproximando. Enquanto
Hermione ficava em prontidão para flagrar a aparição de quem quer que fosse,
Crookshanks apenas revirava suas orelhas, sentando-se e esperando o dono dos
passos surgir na esquina do corredor. Pela excelente audição de felídeo, Shanks
já sabia de quem se tratava.
Severus Snape surgia após a curva do corredor, vindo também de sua ronda, embora
aqueles corredores não fossem de sua jurisdição. Hermione respirou fundo,
segurando o fôlego. Nunca era bom cruzar com o Prof Snape, pois qualquer mínima
vacilada iam-se pontos da Grifinória. Seu corpo inteiro gelou como se tivesse
sido jogada numa piscina de gelo quando viu seu gato, todo animadinho,
levantar-se e correr até o professor, roçando-lhe as pernas. Por um momento,
Hermione desejou ter um infarto ali mesmo, pois, só assim, talvez, ela
conseguisse se livrar do carão que tomaria e dos pontos que a casa perderia!
Se antes ela apenas desejou sofre um infarto, agora tinha certeza que estava
preste a ter um, com o que acabava de presenciar. Nem em seus sonhos mais
nonsenses presenciaria tal acontecimento. Snape apenas sorriu para o bichano que
roçava-lhe as pernas, abaixando-se um pouco para alcançar uns tapinhas no lombo
de Shanks. O gato, muito satisfeito, retribui com um miado manhoso e volta
correndo para junto de sua dona. A garota, por sua vez, permanecia estática como
uma estátua... poderia-se até jurar que seu coração e respiração haviam parado.
_Está se sentindo mal, Srta Granger? Está pálida como um fantasma... minha
súbita aparição a assusta tanto assim? Talvez não fosse apropriado a senhorita
ser uma monitora chefe, fazendo essas rondas...
Snape já estava apenas alguns metros próximo à garota. Um sorrisinho sarcástico
desenhava em seu rosto.
Ao ouvir sobre a sua inapropriação como monitora chefe, Hermione parecia ter
acordado daquele estado petreficado.
_N-não pro-professor... é que... é que... o Shanks!
Gaguejando, a menina parou uns instantes, engolindo seco e se controlando para
encarar o temível professor.
_Me desculpe professor! Eu não esperava que Crookshanks agisse dessa forma, ele
nunca faz isso, juro! Ele só se comporta assim com alguns dos meus colegas e eu
não esp...
Hermione, ainda nervosa, foi interrompida com um sinal de Snape, que parecia se
divertir com o nervosismo da menina.
_Acalme-se, senhorita. Digamos que o felino e eu somos “velhos conhecidos”...
ele costuma passar algumas horas na minha sala nas masmorras.
A menina, com surpresa, leva a mão na boca, para abafar um gritinho. Seus olhos
estão arregalados e sente algum suor escorrer por sua testa.
_Pe-perdão, professor! E-eu não sabia disso! Vou dar um jeito para que isso não
se repita, eu prometo!
_E me privará de companhia tão agradável, senhorita? Gatos são muito
interessantes e excelentes companhias. Não se preocupe com isso, a presença do
felino não me aborrece. Mas a senhorita deve ficar alerta com outros que também
admiram o bichano...
_C-como assim, professor?
Crookshanks dá uma olhada apreensiva para Severus, tendo a certeza de que ele se
referia ao incidente com o garoto Malfoy. Gostaria que Severus contasse a
Hermione o que aconteceu e lhe aconselhasse a ter cautela... mas duvidava muito
que o faria. Para dizer isso somente, ele teria que dizer muito mais. Conhecendo
Severus como conhecia, tinha quase certeza de que ele próprio estaria por perto
de sua dona caso haja algum problema por parte de Malfoy, ao menos era o que
esperava, já que era mais certo o garoto se ferrar nas mãos de Hermione que o
inverso...
_Digamos que o seu gato não seja muito apreciado por todos... da mesma forma que
a senhorita não é.
Com um sorrisinho mordaz, Snape prossegue sua caminhada, com a capa se
esvoaçando as suas costas. Hermione enxuga com as costas da mão o suor da testa,
suspirando aliviada por finalmente se ver livre da presença do professor, embora
esse encontro não tenha durado sequer cinco minutos. Mas é sempre muito bom sair
ileso de um encontro com Snape, sem levar um fora qualquer ou perder alguns
pontos. Mais calma, olha para baixo, na direção de Crookshanks, que está parado
em pé, ao seu lado, olhando na direção onde o professor foi, balançando
raivosamente sua grossa cauda.
_Gato... acho melhor você parar de aprontar por aí, ouviu? Não quero que ninguém
lhe faça mal! Me doeria muito lhe ver machucado... e tenho pavor só de pensar em
perder você! Comporte-se, por favor.
Crookshanks olhou muito surpreso para Hermione, com os olhos arregalados. Jamais
alguém havia lhe dito isso... sabia que a menina gostava de si, mas ouvir tais
palavras... tudo o que queria era abraçá-la com força neste momento, mas nem
isso podia...
Como se tivesse lido os pensamentos do gato, Hermione ergue Crookshanks no colo,
segurando-o como se fosse um bebê. O gato envolve como pode suas patinhas no
pescoço da menina e deita sua cabeça no ombro dela. Apesar de tudo, estava muito
feliz. Se era impossível mudar essa condição, ao menos tentaria vivê-la da
melhor forma cabível e, nisso, Hermione o estava ajudando e muito.
_Vamos voltar para a Torre da Grifinória... a nossa ronda já está no fim mesmo,
não há porque perambularmos por aí por mais alguns minutos. E você vai se
comportar, gato! Já lhe disse isso outras vezes: mantenha-se longe de outras
pessoas, é uma ordem!
Os dois rumaram para a Torre. Crookshanks ia aproveitando aquele momento tão
singular. Aquelas palavras da menina ditas de forma tão preocupada e tão sincera
ainda ecoavam em seu coração, preenchendo-lhe ainda mais. Talvez fosse essa a
força necessária de que precisava para, enfim, quebrar essa maldição. Se o ódio
não o fizera, talvez esse amor intenso o faria...
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Fim do Capítulo VI – continua...
By Snake Eyes – 2004
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