Choque e angústia
Harry o encarou em silêncio. O grupo que o acompanhava na sala seguiu sua
reação. Estava sem palavras. O medo de imaginar o que acontecera para ele estar
ali o tomou por dentro. Logo veio a coragem de tomar uma iniciativa de
conversa.
- Duda... - começou com um tom baixo e arrastado.
Duda tinha um olhar que misturava ódio e angústia. Seu rosto estava inchado e com
marca de olheiras, o que dava a Harry a impressão de que tinha chorado muito. O
barulho de seus punhos se contorcendo ecoaram pela sala.
- Você... - sussurrou Duda mais para si do que para Harry - POR QUÊ VOCÊ
EXISTE?- desatou a chorar.
- Duda o que aconteceu?? - perguntou Harry caminhando para trás devagar. Os
membros da Ordem e os garotos os assistiam. - Duda, o que eu fiz?
- VOCÊ... VOCÊ OS MATOU! COMO TEVE CORAGEM??? COMO HARRY? VOCÊ QUE FOI
CRIADO POR ELES. DEVERIA TER SIDO INTERNADO! VOCÊ VAI PAGAR POR TUDO QUE
FEZ! - Duda inesperadamente correu até Harry e pulou em cima dele imobilizando-o.
Fechou um dos punhos e acertou-lhe um soco no nariz.
- Petrificus Totallus! - berrou Lupin que assistia a tudo e Duda foi paralizado. O nariz
de Harry sangrava como nunca.
Moody ajudou Harry a se levantar e conjurou um lenço. Harry o pressionou contra o
nariz tentando parar o sangramento. Hermione, Gina e Rony continuavam olhando
hipnotizados para Duda, paralizado na mesma posição que estava ao dar o soco em
Harry. Pareceu a Harry que os membros da Ordem esperavam uma reação
semelhante.
A sra.Weasley conduziu o grupo à cozinha e os mandaram sentar. Mundungo
Fletcher e a sra.Figg se encontravam à mesa.
- Espertos como são, acredito que desde a chamada da Ordem devem estar
imaginando o porque. - falou Lupin sério.
- Prof...
- Sem interrupções agora srta.Granger...
Hermione se mexeu desconfortável na cadeira.
- Foi uma surpresa para todos nós... Principalmente para Dumbledore - pausou
encarando todos na cozinha.
-Voldemort...- recomeçou sem hesitar com a reação dos outros - cavou um buraco
bem fundo em nossa estratégia... - Lupin olhou para Harry - Creio que você Harry,
esteja deduzindo o que ocorreu - completou Lupin sorrindo nervosamente.
- Tem a ver com meus tios, professor? - perguntou Harry temendo que suas
conclusões óbvias estivessem corretas.
- Chegamos ao ponto Harry. Dumbledore deve ter lhe contado sobre a proteção que
sua mãe lhe dera antes de morrer...
- Sim, já sei disso. - cortou Harry ansioso.
- E a importância do ritual que é realizado para essa proteção ser mantida... Ou
seja, passar alguns dias junto a sua tia a cada ano que passa. A parente de sangue mais próxima de sua
mãe. - Lupin passou a mão nervosa pelos cabelos.
- Também tenho conhecimento, professor. - respondeu Harry.
- Muito bem Harry... Na noite em que você presenciou o retorno de Voldemort,
contou a Dumbledore que seu sangue agora está fluindo no corpo dele.
Harry confirmou com a cabeça.
- Apesar de Dumbledore ter tomado um susto inicial ele percebeu que Voldemort
tinha errado ao jogar as cartas.
- Não entendi... - Murmurou Harry pensativo tentando assimilar as palavras de
Lupin.
- Some dois mais dois Harry. Voldemort calculou que se tivesse o sangue do "Menino
que sobreviveu" correndo no seu novo corpo, anularia a proteção criada por Lílian.
Mas a única vantagem que obteve foi a capacidade de lhe tocar.
- O que quer dizer?
"Harry, só há dois lugares em que você está seguro de Voldemort. Hogwarts e a
casa de seus tios. E é na casa de seus tios que a cada ano você se torna mais
forte. A proteção que sua mãe lhe concedeu está igualando suas capacidades
mágicas à de seu maior inimigo, Voldemort, Harry você não entende?"
Harry permaneceu calado.
- Estando junto a sua tia, essa proteção se fortifica! - concluiu Lupin.
- Infelizmente Voldemort descobriu o segredo de manter a proteção em você garoto.
- resmungou Moody - Enviou um de seus seguidores à casa de seus tios.Quem quer
que seja, matou sua tia com o Avada Kedavra e torturou seu tio até a morte por
tentar protegê-la.
Harry tomou um choque. Seus tios... mortos? Por mais que os odiasse, não
mereciam morrer. Afundou na cadeira largando o lenço já encharcado de sangue sob
o olhar de todos.
- Eu ouvi os gritos de seu tio, Harry. Chamei Mundungo pra ver o que estava
acontecendo. Por sorte seu primo estava fora quando seus tios foram mortos. -
adicionou a sra.Figg - Dumbledore fez questão de trazê-lo pra cá assim que foi
avisado.
Agora entendia a reação de Duda. Aliás se perguntava como ainda existiam amigos
para apoiá-lo. Talvez por ele ser uma arma para vencer Voldemort. Mas... seria
mesmo uma boa arma? Muitas pessoas próximas a ele foram vítimas. Primeiramente
seus pais. Se não fosse aquela profecia eles não estariam mortos por sua causa.
Depois Cedrico por estar ao seu lado. E Sirius?? Graças a sua burrice de acreditar
em visões praticamente matou o padrinho. E agora os Dursley. Os Dursley... Simples
trouxas.
- Harry querido, não vamos deixar que isso sobressaia pra você... - reiniciou a
conversa a sra.Weasley.
- É tudo minha culpa... - lamentou-se Harry com os olhos em foco, parecidos com
os de Luna quando sonha acordada.
- Não Harry! Você está sendo nobre demais em tomar para si essa
responsabi...
- NOBRE? NÃO ME VENHAM COM ESSA CONVERSA DE NOBRE!
- Calma Harry... - tentou Hermione.
- COMO TER CALMA MIONE? COMO? - Harry se levantou bruscamente assustando a
todos. - SER NOBRE... SABEM O QUE ACONTECEU POR EU SER NOBRE? TENHO
CERTEZA QUE SABEM! MAS FAÇO QUESTÃO DE REPETIR! - Harry deu um sorriso
débil e prosseguiu - PRIMEIRO.... CEDRICO MORREU!! SEGUNDO... DEIXEI RABICHO
VIVER! E QUAL A CONSEQUENCIA DISSO?? V-O-L-D-E-M-O-R-T
RESSURGIU!
- Harry... nós já sabemos essa história cara. Não se machuque mais.. - Rony fez
mais uma tentativa em pará-lo, mas em vão.
- TERCEIRO!!! - falou ignorando as palavras do amigo - MINHA SEDE DE NOBREZA É
TÃO GRANDE QUE FUI ATRAÍDO PARA UMA EMBOSCADA! O QUE DEU NISSO? MEUS
COLEGAS QUASE MORRERAM E MEU PADRINHO FOI ASSASSINADO!
Com a cara roxa de gritar Harry olhou para cada um que o assistia. Já estava
acostumado a ser o centro das atenções. Não faria grande diferença se desse mais
um "espetáculo". Atravessou a cozinha e subiu até seu antigo quarto da casa dos
Black. Seu malão estava junto ao criado. Edwiges estava na gaiola dormindo. Deitou
na cama com a cicatriz ardendo. Não acreditava que horas atrás estava tranquilo na
Toca. A voz de Gina ecoou na sua cabeça. "Seria tão mais fácil se Você-Sabe-Quem
não existisse..."
Harry fechou os olhos. Já estava acostumado com o sentimento de perda. Se
imaginava no lugar de Duda. Um trouxa órfão perdido no mundo dos bruxos.
Como era esperado, logo Rony e Hermione subiram para lhe fazer companhia. Sabia
que estavam hesitantes em lhe dirigir a palavra, como sempre fizeram quando Harry
se descontrolava.
- Não queria ter gritado daquele jeito Mione... - falou em tom de desculpa se
virando para observar os amigos.
- Eu entendo Harry... também estou assustada com o que aconteceu...
- Sinto muito pelos seus tios cara - falou Rony dando tapinhas no braço de
Harry.
- Valeu a força Rony - disse Harry se sentando.
- Todos estão preocupados com você - retomou Hermione com um olhar de pena
Harry engoliu seco.
- Eu preciso contar uma coisa... Sobre a profecia.
- A profecia não foi quebrada por Neville? - perguntou Rony.
- Sim... Mas Dumbledore sabe exatamente o que ela diz. E me contou antes de
voltarmos para Londres. - Harry fechou os olhos novamente. - Meu destino... É
matar ou morrer.
- Matar ou morrer?? Como assim cara?
- Eu terei que voltar a me encontrar com Voldemort querendo ou não. Só um de nós pode continuar
vivo. Quem sair vencedor decidirá o futuro. Se eu vencer... a tranquilidade voltará...
mas se eu morrer...
- Voldemort tomará o poder... - concluiu Mione.
- Isso. Eu sou a única pessoa que pode derrotá-lo segundo a profecia. Por isso
tenho que estar preparado para um duelo o mais rápido possível. Preciso conseguir
alguma forma de derrotar Voldemort ou mais pessoas irão morrer.
- Tem que ser uma forma muito eficaz Harry - falou Hermione temerosa.
- Eu já estou pensando nisso a algum tempo... Numa estratégia. Ele deve ter algum
ponto fraco e eu vou descobrir! - respondeu confiante.
- Cara... Qualquer coisa que aconteça, estaremos com você! - continuou Rony não disfarçando a voz tremida.
A reação dos amigos surpreendeu a Harry. Depois das provas que tinham superado nos anos anteriores, tanto ele como Rony e Hermione amadureceram. Esperava uma reação mais dramática por parte dos dois e até agradeceu em silêncio pelas respostas. Talvez se tornarsse um covarde passando a acreditar que não tem poderes suficientes para superar Voldemort.
Passado algum tempo conversando, a sra.Weasley apareceu com três xícaras de
café. Harry pegou sua xícara e a levaria até a boca se sua memória não o
impedisse.
- Esse brasão!!! - Harry colocou a xícara na altura dos olhos e agora estava
examinando o desenho cravado na mesma com atenção - Sra Weasley! Esse é o
brasão dos Black certo??
- Sim querido - ouviu a voz da sra.Weasley soar de longe.
- O brasão dos Black! Esse é o mesmo brasão que está estampado na caixa que
você me deu Rony! - exclamou ofegante - Aliás, eu esqueci de perguntar. Onde
você a conseguiu???
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