Acidente



Acidente


Disclaimer:
Exceto Carolyn, nenhum dos personagens dessa fic me pertence.




Noite fria e chuvosa do dia 29 de agosto. Um carro solitário corria pela rodovia que ligava um vilarejo calmo à corrida cidade de Londres, a borracha dos pneus escorregando levemente. Não que o condutor fosse ruim, longe disso, mas não havia carro que não escorregasse numa noite de chuva forte como aquela. Aliás, não havia carro que saísse numa noite de chuva forte como aquela. Mas os Evans deveriam voltar para Londres pois, dois dias depois, sua filha, Lílian, estaria embarcando para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Por menos que Petúnia Evans, irmã de Lílian, aceitasse, a garota era sim uma bruxa. Petúnia sempre invejou Lílian. A irmã sempre fora mais bonita que ela; enquanto Petúnia tinha cabelos loiros que mais pareciam ter sido toscamente descoloridos e uma feia e grosseira cara de cavalo, Lílian, ou Lily, como a chamavam os amigos, era uma ruivinha de feições delicadas e que carregava duas belas esmeraldas no lugar dos olhos. Mas, o que mais irritava Petúnia era o fato de que Lílian era uma bruxa. Ela não conseguia – ou não queria – admitir esse fato.

Dentro daquele carro se encontravam Herbert Evans, o pai de Lily, Kelly Evans, a mãe da garota, e a própria Lílian, os três voltando das férias que haviam passado num pequeno chalé naquele vilarejo parado, para fugir da correria de Londres.

Enquanto espremia os olhos para tentar ver mais à frente, Herbert Evans não percebeu os faróis fracos do carro em frente na escuridão.




A manhã do dia primeiro de setembro raiou nublada. Na Estação de King’s Cross, um garoto apressado empurrava seu carrinho, que continha uma mala enorme e uma gaiola com uma coruja, contra a coluna que separava as plataformas nove e dez. Se as pessoas na estação não estivessem tão apressadas e prestassem atenção à cena, teriam a dolorosa impressão de que o garoto daria com a testa no pilar, mas ele passou, com toda a facilidade, para o outro lado da coluna, onde vários alunos que carregavam o mesmo carrinho que ele.

O garoto, que era moreno e tinha os cabelos extremamente bagunçados, apontando para todos os lados, e óculos redondos que circundavam os olhos castanho-esverdeados, parou atrás de outro garoto, com cabelos negros que iam até os ombros e olhos azuis. Ambos tinham a aparência charmosa, e o segundo murmurava para si mesmo:

— Sempre atrasado... Sempre atrasado... Nós vamos perder o trem... James, seu...

O primeiro garoto revirou os olhos e respondeu aos murmúrios do segundo:

— Pads, eu estou aqui. Pronto pra embarcar.

O primeiro garoto, Sirius, olhou para James, com um misto de espanto e fúria nos olhos.

— Achei que iria nos fazer perder o trem esse ano.

James deu um muxoxo, e começou a procurar alguém com o olhar.

— Onde está a Lily?

— Quem deveria saber dela é você — retrucou Sirius. — Não sou eu quem está perdidamente apaixonado.

— Ela não está aqui...

— Então deve estar no trem.

James encarou Sirius e saiu, desesperado, em direção ao trem, entrando nele como se fosse salvar Lílian da morte. Procurou com os olhos pela ruiva nas cabines, mas encontrou apenas os cabelos negros ondulados de sua prima, e abriu a porta da cabine com força.

— Carol! — ele disse. — Você viu a Lily?

Carolyn Potter era a melhor amiga de Lílian, apesar de ser a prima de James. Lílian tinha implicância com ele, já que este lhe perseguia desde o quarto ano.

— Não — respondeu Carolyn, preocupada. — Ela já deveria estar aqui, eu estou desesperada!

Nesse momento, um apito do trem tirou os três de sua conversa, fazendo-os adentrar a cabine e largarem-se nos macios bancos do trem, observando a paisagem da King’s Cross desaparecer, sem que eles tivessem nenhum sinal de Lílian.




Os três dias seguintes à chegada dos alunos a Hogwarts se passaram como o flash de uma máquina fotográfica. Lílian ainda não aparecera, James já pensava que talvez ela tivesse sido capturada pelo bruxo das trevas e sua “gangue”, que se formara há pouco tempo; mas logo Carolyn, Remus e Sirius desconsideravam a idéia e o acalmavam um pouco, embora no coração da outra Potter ela tivesse a mesma idéia.

Na primeira terça-feira em Hogwarts, James e Carolyn entraram no Salão Principal juntos para o café, como começaram a fazer depois do “sumiço” de Lílian. Os murmúrios ininteligíveis encheram os ouvidos deles, mas James pôde ouvir uma única palavra de algum primeiranista. “Evans.” Ele juraria a qualquer pessoa que ouvira aquela palavra.

Mesmo pensando no que aquele murmúrio podia significar, ele andou até Sirius, encontrando-o parado, olhando chocado para a porta de entrada.

— Pads, o que... — a pergunta morreu nos lábios dele quando ele a encarou. Os cabelos rubros caindo pelos ombros, as orbes verdes um pouco opacas e os olhos inchados e vermelhos, como se tivesse chorado muito. Lílian Evans adentrava o Salão Principal. Numa cadeira de rodas.

Chocado, James engoliu em seco. Ele não conseguia fitar os amigos, mas mesmo assim lançou a pergunta a Remus, que estava a seu lado:

— O... O que... O que aconteceu... Aconteceu com ela?

Remus apenas balançou a cabeça negativamente.

— Só sei que foi um acidente.

— E como você sabe? — James fitou o amigo, uma das sobrancelhas levantada.

— Os monitores foram avisados antes de ela chegar.

James abriu a boca para retrucar, mas sentiu a mão de Sirius pousar sobre seu ombro, e resolveu ficar quieto, apenas observando enquanto sua prima se aproximava de Lílian.




Lílian fechou os olhos e comprimiu os lábios pela milésima vez desde que chegara em Hogwarts. Isso já se tornara hábito toda vez em que riam dela. Sua vontade era a de gritar a plenos pulmões o quanto aquilo era idiota, o quanto ela queria estapear quem ria dela.

James observava, de longe, um grupo de garotas do sexto ano abafar risadas enquanto Lílian passava. Todos os músculos do rapaz se contraíram; ele queria dizer umas verdades para aquelas garotas, mas a ruiva não aceitava – pelo menos não antes das férias – nem que ele chegasse perto dela, muito menos que a defendesse.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, relaxando progressivamente, até que um perfume doce de lírios se fez presente perto dele.

— Bom dia, Lil — cumprimentou Carolyn, que estava lendo um livro quando Lílian aproximou-se

— Seria mil vezes melhor se essas frescas não importunassem, Carol — retrucou Lílian. — Bom dia, James.

James respirou fundo novamente, engolindo todo o impulso de agarrar a ruivinha. Ela tinha mesmo desejado bom dia para ele? E, melhor, o havia chamado de James?

— Do que você me chamou? — ele perguntou, sem nem perceber sobre o que falava.

— De James. Não é esse o seu nome?

— Oh, claro, é que...

— Resolvi rever os meus conceitos durante as férias — explicou Lílian. — E cheguei à conclusão de que você é mil vezes melhor do que eu pintava.

James já havia ajudado bastante a ruiva durante todos aqueles anos. Mesmo que ela não quisesse, James chegava e a tirava de situações difíceis pelas quais ela passara algumas vezes.

— Lil, é melhor nós descermos para o café — recomendou Carolyn, recebendo um sorriso de Lílian, e saiu com ela, deixando James sozinho com seus pensamentos.

Agora que Lílian havia “revisto os conceitos”, com certeza não iria querer nada de mais com ele além de uma amizade. Porque todos os seus amigos, exceto Carolyn, haviam se afastado quando ela voltara... daquele jeito. E, agora, ela provavelmente queria ter amigos. Seria um jeito de se aproximar de Lílian, se James fosse esperto. Para que ela não desconfiasse de que ele queria algo mais, ele teria que arranjar um modo bem explícito de demonstrar isso.




— Ficou sabendo? O Potter e a Yanssem estão juntos!

Por todo lugar onde passavam, Carolyn e Lílian ouviam esse tipo de comentário. Era incrível como as coisas corriam rápido por Hogwarts, principalmente quando se tratava dos Marotos. Parecia que todos já haviam esquecido de que Lílian estava numa cadeira de rodas. As únicas que ainda faziam questão de ressaltar esse fato eram as irmãs Kelsen, que odiavam Lílian desde o dia que a haviam visto.

— Lily! Carolyn! — as duas viraram a cabeça para a direção ao garoto que corria em direção a elas. Era moreno e tinha os olhos castanhos. — Vocês souberam?

— Claro, quem não sabe que o James e a Julliet estão namorando? — Carolyn retrucou, com as mãos na cintura.

Julliet Yanssem, a nova namorada de James, era uma garota loira, de lábios carnudos, olhos azuis. Muito bonita. A maioria dos garotos da escola queria namorá-la.

— É, né... — disse o garoto, Frank Longbotton, sem jeito.

— Tudo bem, Frank — disse Lílian, sorrindo. — É a notícia do dia, a gente ouve umas mil vezes.

Frank sorriu sem graça e saiu de perto delas, devagar. Lílian e Carolyn, então, continuaram seus caminhos. Carolyn caminhava ao lado de Lílian, que guiava sua cadeira de rodas elétrica.




— Lily!

Lílian virou rapidamente a cabeça para fitar James, que vinha correndo no começo do corredor.

— Oi James — ela sorriu, quando ele chegou perto.

— Precisa de ajuda?

— Não, consigo guiar sozinha. Como vai seu namoro com Julliet?

James sentiu uma pontada de decepção ao ouvir o tom de naturalidade que Lílian usara para se referir a Julliet, mas não deixara que isso ficasse evidente.

— Vai bem... Vai bem — ele disse, acenando com a cabeça. Já fazia uma semana que eles estavam namorando, mas James não se sentia bem com ela.

— Jimmyzinho! — ambos, James e Lílian, viraram a cabeça para ver Julliet, que vinha apressada do começo do corredor, com os saltos dos sapatos batendo no chão e fazendo um barulho irritante. Quando ela alcançou o namorado, agarrou seu braço e lhe deu um beijo. Então, encarou Lílian com expressão de nojo. — Eu não sei como você suporta ficar perto de alguém tão... Imperfeito.

James encarou Julliet e chacoalhou o braço com força, desvencilhando-se dela, enquanto Lílian a fitava com expressão magoada. A ruiva colocou a mão sobre o controle da cadeira de rodas e murmurou que os deixaria em paz, saindo do corredor. James observou Lílian saindo e depois voltou-se para Julliet, que se equilibrava na ponta dos pés para beijá-lo. Ele colocou a mão na barriga dela e a empurrou de leve, saindo dali também, e deixando para trás uma Julliet muito indignada.




Quando o sinal tocou, James recolheu seus materiais e saiu da sala de Transfiguração para o jantar. Ele andava por um corredor deserto, pensando no que seria dele dali para frente. Levantou rapidamente a cabeça quando ouviu algo parecido com um choro e viu um vulto sentado, encolhido contra a parede. Era um vulto até bem alto, por estar sentado. Andou até lá e sentou-se ao lado daquele vulto.

— Com licença... Posso te aju... — ele parou de falar assim que o vulto revelou sua face para ele. — Lily? Merlin, o que aconteceu? Você está com os olhos vermelhos!

Lílian passou os braços pelo pescoço de James.

— Estou cansada, James... Todo mundo ri de mim. Só a Carol sabe de verdade o meu valor.

— Não é verdade, Lily. Tem muita gente que gosta de você, é você quem não percebe.

Lílian fitou James, e ele pôde ver o quanto os olhos dela estavam inchados. Assim, pôde deduzir que ela tenha passado bastante tempo chorando.

— Quem vai querer ser amigo de alguém assim... Como eu?

James abraçou Lílian com mais força, e uma lágrima rolou dos olhos dele também. Quando se separaram, ele a limpou.

— Eu vou querer, Lily. Eu vou querer.

Eles voltaram a se abraçar, desta vez por impulso de Lílian.

— Obrigada, James... Obrigada mesmo.

James sorriu, mesmo que Lílian não pudesse ver seu sorriso. Agora ela passaria a confiar mais nele, ele esperava.

— Sou eu quem agradece, Lily. Eu.




Depois de mais uma noite de lua cheia, James, Sirius e Peter chegaram à Sala Comunal esperando que todos estivessem dormindo e pudessem escapar das perguntas facilmente. Mas, quando o quadro da Mulher Gorda girou, eles encontraram apenas duas pessoas por lá.

— Lily? Carol? — indagou Sirius. — O que vocês fazem aqui?

Carolyn olhou para Sirius, e ele leu a resposta nos olhos dela. Pegou no braço de Peter e começou a arrastá-lo para o dormitório.

— Bom... A gente já vai indo, não é, Wormtail? Boa noite, meninas, boa noite, Prongs! — e então subiram para o dormitório masculino, mesmo que Peter protestasse, dizendo que queria ficar.

— O que houve? — James perguntou para Carolyn, baixinho.

— Chamaram ela de um monte de coisa hoje. Vou deixar vocês dois conversando. — ela ergueu um pouco a voz e sorriu para Lílian. — Boa noite, Lily.

Lílian e James observaram enquanto Carolyn subia as escadas. Então o silêncio reinou entre eles. James pensava no que poderia dizer à ruivinha. Fazia bastante tempo que não conversavam assim.

— E então, Lily... — ele começou, sem graça. — O que aconteceu?

Ela olhou para James, uma expressão profundamente ofendida e magoada no olhar.

— Me xingaram por aí.

James já sabia disso, mas quando ouviu da boca de Lílian, com aquela voz triste e ofendida, uma estranha raiva percorreu seu corpo.

— Me chamaram de travada. Por que elas não vêem que isso não as leva a nada?

— Quem foi? — James indagou, com a voz alterada pela raiva.

— Um grupo de garotas. Não adianta ir tirar satisfações com elas, James. Se acalme.

Aos poucos, James foi atendendo ao pedido de Lily. Afrouxou um pouco a gravata e respirou fundo. Estava se acalmando. Mas tinha um desejo enorme de dar uma lição naquelas garotas. Mesmo elas sendo garotas.

— Ninguém me merece, mesmo. Chata, CDF... E “travada”. Agora eu tenho certeza de que vou morrer solteira... — ela sorriu fracamente. Seu sorriso se tornara muito triste desde que aquilo acontecera, James reparara.

Ele olhou para Lílian com uma expressão de quem não concordava. Desde quando ela era tudo aquilo? Estavam colocando coisas na cabeça dela. E ele tinha que tirar, antes que ela entrasse em depressão definitivamente.

— Você não é chata — começou James. — E ser CDF não é ruim, é até bem legal. E quanto a ser... Assim, não tem cabimento tudo isso que eles falam pra você. Todos gostavam de você antes de isso acontecer e você ficar assim, não é? Porque eles não podem gostar agora? E, se depender de mim, você não morre solteira.

James olhou para cima, tentando disfarçar. Ele não deveria ter dito aquilo. E, se estivesse olhando para Lílian, veria que ela estava olhando para ele. E sorrindo.

— Sério?

— Ah... Sério.

Lílian abriu um sorriso, que rapidamente se transformou numa gargalhada. James apenas a observava, atônito. Ela estava debochando dele? Duvidando?

— James, você é demais. Obrigada por tentar me animar, mas eu não consigo acreditar.

— É verdade, droga!

Agora, era Lílian quem olhava, espantada, para James. Ele tinha levantado da poltrona e erguido a voz, praticamente gritando. A garota mordia o lábio, enquanto algumas lágrimas marejavam seus olhos.

— Desculpa.

Aquela palavra foi a última que Lílian disse; deu as costas a James e, ao chegar ao pé da escada do dormitório e dizer algo, esta se transformou numa rampa, permitindo a Lílian subir. Enquanto ela subia, olhava de vez em quando para James, que tentava, num pedido mudo, fazer com que ela voltasse, mas era inútil.




Quando Lílian adentrou o Salão Principal, na manhã seguinte, e conduziu-se ao final da mesa da Grifinória – o lado oposto de James –, este levantou-se e foi até ela, mas ela fugia dele. Até que ele lançou um feitiço em uma das rodas da cadeira de Lílian, e esta parou.

— Preciso falar com você.

Ela o fitou com mágoa, mas o seguiu até um corredor vazio, onde ele agachou-se à sua frente.

— Desculpa, eu não...

— Precisava gritar? Você sempre gostou de me atazanar, não era depois disso que eu ia acreditar que podia ser de verdade!

— Mas é. Me desculpa, eu não pensei na hora de falar.

Eles calaram-se por o que pareceu ser um minuto. Um minuto bem constrangedor. Quando Lílian abriu a boca para falar, James o fez, também. Eles riram e ele conseguiu falar.

— Eu gosto muito de você, mesmo.

Ela passou os braços pelos ombros dele, abraçando-o. Aproveitando a oportunidade, James roubou um beijo de Lílian.

— Sabe, eu acho que isso acabou aproximando a gente — ele disse, apontando para a cadeira de rodas, enquanto Lílian sorria e eles se beijavam novamente.




N/A: Depois de uma pequenina demora, cá estou eu e minha "grandiosa" fic. Malvada, eu? Imagina! Leiam as fics da Silverghost (www.fanfiction.net/~silverghost) e verão como eu sou boazinha!

Gente, passem nas minhas outras fics! COMENTEM! Ah, e olha, eu vou postar mais uma daqui a alguns dias, acho. Muitos beijos pra vocês!

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