Sofrimento
Harry nunca pensou que a viagem de volta fosse tão longa. Talvez o nervosismo fizesse com que a volta fosse mais longa, mas ele sabia que não era por isso.
Estava desesperado.
Só de imaginar sua Sarah, sua filhinhas, nas mãos de bandidos, faziam-no sentir que toda a sua força estava o abandonando, jogando num poço profundo e sem saída. E, de alguma forma, ele se sentia responsável. Responsável por deixá-la sozinha, por não ter lhe dando devida atenção.
- Droga! - bateu o punho fechado na pia do pequeno banheiro do avião. Estava ali alguns minutos, alegando que precisava se acalmar, respirar um pouco. A última coisa que queria era deixar Gina mais preocupada ainda.
- Senhor Potter, está tudo bem ai dentro? - A ruiva bateu na porta.
- Está... já estou saindo. - Harry respirou fundo e saiu do banheiro.
Ao sentarem nos seus lugares, Gina pediu um copo de água e um calmante - o que Harry recusou de imediato. Só de pensar em relaxar, fazia com que se sentisse ainda mais culpado.
Algumas horas depois, aterrissaram no aeroporto internacional de Londres. Não foi surpresa para ninguém quando viram o saguão lotado de jornalista. O seqüestro da filha do famoso Harry Potter já não era mais segredo para ninguém.
- Senhor Potter, é verdade que ameaçaram a sua filha?
- Senhor Potter, é verdade que os bandidos querem 100 milhões de libras para o resgate?
- Senhor Potter, o senhor já fez contato com os bandidos?
A polícia estava à espera deles e os escoltaram até a saída, tentando se afastar dos policiais. Gina percebeu que eles não iam sossegar se não falasse alguma coisa, então resolveu se manifestar.
- Olha, ainda não há contato com ninguém, porque acabamos de chegar. Mas estamos abalados com isso e a justiça será feita. - dito isso, Gina entrou no carro que partiu em alta velocidade. Para longe dos jornalistas.
- O Ministro Britânico deu uma declaração hoje de manhã, dando todo seu apoio à família Potter. E que ajudará no que for preciso. - A apresentadora do noticiário falava quase automaticamente, após passar a curta declaração de Gina. - Voltamos com mais notícias.
- Foi a Maureen, eu sei que foi. - Dona Glória desligou a TV e sentou-se no sofá, completamente exausta. Katherina havia dado calmantes, o que fizera a senhora dormir por algumas. Ela queria ficar acordada para conversar e consolar seu genro quando chegasse.
- Dona Glória, nós não temos certeza ainda. - Hermione deu um copo de água para ela.
- Você disse, Hermione. Você disse que a ouviu no telefone, falando que faria alguma coisa com Sarah, para prejudicá-la... não acha coincidência demais?
Maureen havia ligado cedo para prestar "condolências". Disse que havia visto a notícia mais cedo, no jornal matinal. Sua voz aparentava tristeza e preocupação. Aparentava.
- Só que nós não temos provas, dona Glória.
- Não precisa de provas, está na cara! - Dona Glória alterou-se. - Se aquela desgraçada fazer alguma coisa com a minha netinha eu... eu... - Não conseguira falar, devido ao bolo que formava em sua garganta.
Hermione também tinha suas desconfianças, mas era difícil acreditar que Maureen iria tão longe para isso. Ela sabia que Harry jamais acreditaria que "sua garota" fosse capaz de uma atrocidade daquelas.
A campanhia tocou. Era Maureen. Hermione convenceu dona Glória acalmar-se e não tomar nenhuma atitude precipitada, mas isso não foi o suficiente para que ela não fulminasse a namorada do seu genro com o olhar, o que foi ignorada "delicadamente" pela modelo.
- Harry, me ligou. Já está vindo pra cá. Queria ir ao aeroporto, mas tive um compromisso. – Falou aquilo como se nada tivesse importância. Como se não fosse seu namorado que estivesse sofrendo.
Hermione percebeu esse ato e não falou nada, apenas assentiu com a cabeça. Sua preocupação estava em dona Glória, que ignorou totalmente a presença de Maureen naquela sala.
Uma porta se abriu, fazendo com que um raio de luz atingisse os olhos de Sarah, que piscou várias vezes. Uma figura alta entrou no aposento e fechou a porta. Andou até a menina calmamente.
- Vejo que seu papaizinho já sabe das novidades. - Ironicamente, o homem usava uma máscara de "Pânico" (personagem que mais assustava Sarah, de acordo com suas fontes).
A menina choramingava. Aquela figura lhe causava arrepios. E como o personagem, ele tinha uma faca.
- Olha pra mim! - O homem puxou os cabelos da garota, fazendo com que ela o encarasse. A dor cruciante, fez com que Sarah soluçasse e o medo tomou conta de si quando ele segurou a faca na garganta da garota.
- Agora, preste atenção, sua pirralha idiota! Se seu maldito pai não fizer o que eu pedir... essa faquinha vai cortar esse seu lindo pescocinho e eu vou dar de bandeja para seu pai a sua cabeça... – apertou a faca. - ENTENDEU!!!
Sarah chorava intensamente, o que irritou ainda mais o homem.
- PÁRA DE CHORAR!! - esbofeteou a menina, que desmaiou. Ele olhou enojado para a garotinha, que parecia uma boneca de trapo antes de sair e fechar a porta.
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A campanhia tocou, anunciando a chegada de Harry e Gina. Enquanto entravam na casa, a polícia começou seu trabalho: grampeando telefones e fazendo a guarda da casa.
- Harry! - dona Glória aproximou-se a abraçou o genro. - Oh, meu querido!
Harry não tinha mais forças para agüentar e desabou nos braços daquela senhora que ele considerava uma segunda mãe.
Após alguns segundo, Harry soltou-se. Katherina ofereceu um copo da água com açúcar, que Harry tomou sem hesitar.
- Oh, meu amor. - Maureen abraçou o namorado como forma de consolação. - Eu sinto tanto... eu também estou chocada com tudo e... - Quão foi sua surpresa ao sentir a frieza do homem, que se desvencilhou dela. Maureen sentiu o sangue ferver. "Quem ele pensa que é para me tratar desse jeito? Só porque sua preciosa filhinha está ferrada".
Gina não pôde deixar de revirar os olhos com a demonstração de carinho de Maureen, mas ficou surpresa pela reação de Harry.
- Os filhos-da-mãe ligaram? - Harry perguntou com a voz entrecortada. Dona Glória balançou a cabeça.
- Não, eles só ligaram aquela vez, para dizer... que estava com a Sarah. - sufocou um soluço. - Depois disso, eles não deram nenhum sinal.
- Droga! - Harry bateu o punho na mesinha, que tremeu.
- Senhor Potter... - era o chefe d polícia. - Está tudo pronto. Estamos preparados quando os bandidos ligarem.
- Certo. - Harry respondeu Harry cansado, sentando-se na poltrona. Maureen sentou-se ao seu lado e afagou seus cabelos. Harry parecia nem sentir.
Katherina resolveu fazer um café para aliviar a atenção. Então aconteceu. Estava levando a bandeja para a sala, quando parou, seus olhos se arregalaram de repente e a bandeja caiu no chão, chamando a atenção de todos.
- Katherina, está tudo bem? - Hermione perguntou. Parecia que moça ia desmaiar.
Katherina permaneceu alguns minutos em transe, quando se aproximou de Harry e estendeu a mão e falou.
- Pai... - As lágrimas brotavam dos seus olhos. - Me ajuda...
Todos na sala estavam em estado de choque ao ver aquela cena. Harry recuou, parecendo não acreditar no que ouvia. Por um momento, achou que Katherina estava fazendo uma brincadeira de mau-gosto, mas conseguiu ler o desespero nos olhos da moça, como se fosse...
- Sarah? É você?
Os guardas que estavam prontos para socorrer Katherina pararam no ato ao ouvir as palavras de Harry. Eles e nem ninguém conseguiam acreditar no que estava acontecendo.
- Estou com tanto medo... está escuro... frio. Ele me maltrata.
- Ele? Ele quem? - Harry não queria saber se aquilo era invenção ou não. Apenas tinha certeza de que era sua filha pedindo ajuda. De alguma maneira.
- O homem... o homem mau... - Katherina ficou quieta de repente, quando seus olhos fecharam-se. Os guardas a acudiram quando ela desmaiou.
- Coloquem-na no sofá. - Os guardas estenderam Katherina no enorme sofá.
- O que aconteceu? - perguntou Hermione ao observar a fisionomia serena de Katherina.
- Ela entrou em transe. - respondeu Harry. - O que eu vou dizer pode ser meio inacreditável, mas... - encarou todos os presentes ali na sala. - O espírito de Sarah encarnou em Katherina.
Fizeram-se alguns segundos de silêncio. A polícia olhou cética para Harry e voltou aos seus afazeres.
- Meu deus... que dizer que... a Sarah... está... está... - dona Glória não conseguiu completar a frase e sentou-se.
- Não, não está morta, dona Glória. - Harry sentou-se a apoiou a cabeça entre as mãos. - Sarah está viva. - disse com a voz cansada.
"Por enquanto".
Maureen disse que precisava fazer uma ligação e pediu licença. Foi para a área e virou-se para garantir que ninguém ouviria a sua conversa.
- Alô?
- Tudo certo. A polícia está aqui.
- Ótimo. O que faço com a menina?
- Nada, por enquanto. - deu um sorriso maldoso e desligou o telefone e foi para o lado de Harry, bancar a namorada solidária.
Hermione não entendia porque, mas ao ver Maureen se afastando com o celular, sentia que havia alguma coisa estranha. Sem ninguém perceber, seguiu-a e ficou num canto para escutar a conversa.
Quando Maureen voltou para sala, Hermione estava com o coração aos pulos. Agora, tudo se encaixava.
Algumas horas se passaram. O sol sumiu no horizonte. Katherina havia recobrado a consciência e quando soube o que acontecera, sentiu envergonhada, pois os guarda ainda a olharam como se fosse louca. Era difícil que um espírito havia encarnado em uma mulher para pedir ajuda. Era complicado acreditar naquilo. Porém Gina, ao ouvir o relato de Harry sobre a natureza de Katherina, sabia que aquilo poderia ser possível.
Depois de vários minutos de silêncio, o telefone tocou, assustando-a todos. Antes que atendesse, a polícia ligou o grampo e autorizou que Harry atendesse. Sabiam que eram eles, os seqüestradores.
- Alô? – A voz de Harry era calma, mas suas mãos tremiam.
- Sr Potter?- Uma voz visivelmente alterada se fez ouvir do outro lado da linha. Harry consentiu e a voz continuou. - Preste atenção, se quer sua filha viva, você terá que nos pagar 10 milhões. Está entendendo??
- Sim, estou. - Harry observou os policiais atentos na conversa. - Não a machuquem, por favor! Eu vou dar o dinheiro.
- Isso dependerá de você. - Desligou.
- Alô? Alô? - Harry desligou o telefone, nervoso.
- Dez milhões? Eles querem dez milhões pela minha netinha?
- Exatamente, dez milhões.
Harry sentou-se na poltrona, esfregando o rosto. Maureen aproximou-se por atrás e massageou os ombros do namorado.
- E o que você pretende fazer?
- Não é óbvio? Vou pagar! Se minha filha vale dez milhões, faço tudo para tê-la de volta!
- Um momento, senhor Potter. - O chefe de polícia interveio. – Eles estão blefando. Dez milhões é muito dinheiro. - E o que o senhor sugere, então? - Harry perguntou alterado.
- Uma negociação! Eles sabem quem o senhor é, senão não estariam pedindo essa grana.
- Ele tem razão, Harry. Eles são capazes de pedirem mais.
- Mas é milha filha! Acha que eu vou ficar negociando enquanto ela corre perigo? Não, eu vou dar esse dinheiro!
Um sorriso maldoso formou-se nos lábios de uma certa pessoa. "Não vá com muita sede ao pote."
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- Tem certeza que quer fazer isso, Harry? - Hermione perguntou pela enésima vez, vendo Harry ajeitas as vestes.
- Tenho, eu preciso apelar.
- Mas e se os bandidos se enfurecerem e... - Harry a interrompeu com um gesto.
- Eu não tenho outra saída, Hermione. Eu já disse, eu vou ter a minha filha de volta, custe o que custar.
A porta bateu e Hermione abriu-a. Uma moça com uma prancheta entrou e dirigiu-se a Harry.
- Está na hora, senhor Potter.
- Certo. - Harry soltou o ar com força e levantou-se.
A sala estava cheia de gente. Gente que queria ver o famoso empresário falar,
gente que era apenas fã do programa.
Um homem de cabelos grisalhos entrou na sala e cumprimentou Harry amigavelmente.
- Senhor Potter, é uma prazer tê-lo conosco. Já vamos entrar no ar.
- Obrigado, senhor Stuart. - Harry começou a tremer. Sabia o que faria era arriscado, ele não tinha outra opção. Desde que assentira em negociar com os bandidos, eles não haviam entrado em contato. Aqueles idiotas precisavam saber que um pai faria tudo para a filha de volta.
A platéia silenciou. As câmaras foram ligadas e a luzes de acenderam. Estavam nos ar. Harry e o Senhor Stuart se ajeitaram nas poltronas. Hermione postou-se ao lado do cameraman, com o coração aos pulos.
- Boa noite, senhoras e senhores. Bem-vindos a mais um "Programa do Stuart". Hoje, tenho ao meu lado, o famoso empresário da rede de celulares, DEVON. O senhor: Harry James Potter. Bem-vindo, senhor Potter.
- Obrigado, Stuart.
- O que esse cara está fazendo na televisão??
- Bom, como todos sabem, o senhor Potter teve a filha, a senhorita Sarah Marie Washington Potter, seqüestrada há três dias, enquanto o pai viajava a negócios. Bom, a informações que os seqüestradores entraram em contato e pediram um resgate de dez milhões de libras e que Sarah ainda está viva.
- Ele vai dizer que não vai pagar o resgate... - O homem acariciou a arma presa na cintura da calça.
- Bom, boa noite, a todos, é um prazer estar aqui. É verdade que os bandidos já entraram em contato e deram o valor do resgate. Eles não ligaram mais, mas já tomei a minha decisão.
- Sua decisão não vai mudar merda nenhuma, seu imbecil!
- Eu gostaria de deixar claro a esses homens, que eu estou disposto negociar. Faço qualquer coisa para ter a minha filha de volta. Por favor, vamos negociar.
- Negociar? O senhor acaba de assinar a sentença de morte da sua filha. - Desligou a tevê.
Todos estavam emocionados com o discurso de Harry.. Ali não estava o megaempresário, o profissional, o responsável pelas decisões mais importantes. Ali estava apenas um pai desesperado, pedindo a filha a de volta.
O telefone de Maureen toca. Ela atende.
- Esse idiota dificultou as coisas. Vamos matá-la.
- Ainda não. Estou indo para ai. - Desligou o telefone.
- Pra onde você vai? - Dona Glória perguntou ao ver que Maureen iria sair. Harry ainda discursava na televisão.
- Eu... eu preciso ir ao estúdio. Fiquei de fazer umas fotos lá. Pegou as chaves do carro e saiu.
Já estava anoitecendo quando Harry saiu dos estúdios. Ele não sabia como se mantera firme até o fim do discurso, enquanto a platéia – inclusive Hermione chorava. Até o senhor Stuart limpou uma lágrima disfarçadamente.
- Acha que os bandidos vão negociar?– Perguntou Hermione enquanto entravam no carro. Harry suspirou.
- Agora, eles sabem que eu aceito negociar. Eu vou dar o dinheiro, em troca da minha filha! – Harry estava visivelmente cansado. Só esperava que seu plano surtisse efeito. Ledo engano.
O celular tocou e Harry atendeu. Era o chefe de polícia.
- Senhor Potter? – A voz do homem soava preocupada, o que o deixou em alerta. – Os bandidos ligaram.
- Eles aceitaram negociar? – O coração de Harry batia tão rápido que poderia explodir a qualquer momento.
- Não... eles... – O homem teve dificuldades para falar. – Eles aumentaram o preço!
Harry olhou desesperado para a Hermione, que ouvia toda a conversa, pois Harry tinha colocado o celular no viva-voz.
- Quan... quanto?
- Cem milhões.
Depoimento de Harry Potter irritam seqüestradores
O depoimento que o empresário deu para o programa de TV Stuart Show deixou os seqüestradores irritados, informa nosso correspondente. De acordo com ele, os bandidos aumentaram a proposta de 10 milhões para 100 milhões de libras, para o resgata da filha de Potter, Sarah Marie Washington Potter, de 6 anos.
Sarah foi seqüestrada na tarde de terça-feira quando saia da escola. Infelizmente, não havia testemunhas, pois o local estava completamente deserto. Os bandidos fizeram o primeiro contato horas depois, garantindo que a menina estava viva e pediram o resgate. Quando Potter foi fazer um pronunciamento na televisão, dizendo que negociariam, os bandidos aumentaram o preço do resgate, dificultando as negociações...
A DEVON nunca tivera tão tensa naquele dia. A notícia de que os bandidos tinham aumentaram as negociações causou uma tensão naquela empresa. Sabiam que a empresa lucrava isso em um ano, mas isso acarretaria seus salários. Mas eles não estavam preocupados. Harry era o tipo de chefe que todo empregado sonharia ter e não custava nada esse sacrifício por ele.
- Cem milhões. Esses bandidos enlouqueceram! – Hermione suspirou completamente cansada. Gina estava sentada na sua frente, tomando algumas notações. Apenas Harry não estava lá por não ter condições de trabalhar.
Gina havia voltado ao trabalho dois dias antes do pronunciamento de Harry na TV, há quatro dias. Quatro dias de silêncio e no escuro.
- O senhor Potter vai negociar? – Hermione colocou a cabeça entre as mãos.
- Eu não sei. Harry parece estar à beira de um colapso, esperando a ligação dos bandidos. Os médicos tiveram que sedar dona Glória, antes que ela tivesse um ataque. Aquela casa está um transtorno.
Gina podia imaginar. Há dois dias estivera na casa do chefe junto com Hermione, mas foi em vão. Harry parecia ter envelhecido cem anos, os policiais já estavam tensos com essa demora e Maureen tinha voltado ao trabalho e ignorava quando um jornalista lhe perguntava sobre o seqüestro de sua enteada.
Porém, algo não saia da cabeça de Hermione: aquela conversa suspeita de Maureen ao telefone, o jeito que ela havia falado... ela estava suspeitando de alguma. Se fosse verdade, que Deus ajudasse Harry, pois ele não merecia.
- Gina... eu preciso te contar uma coisa. – Torcia para que Gina acreditasse nela. – Mas você tem que me prometer que não contará nada a ninguém, nem mesmo ao senhor Potter.
Gina se inclinou na cadeira ao ver o semblante sério de Hermione. Sabia que a amiga estava tensa há alguns dias, mas esperava que ela se manifestasse primeiro. Acreditava que esse seqüestro havia mexido demais com ela.
Hermione levantou-se e abriu a porta para ver não ninguém espionando. Fechou e trancou-a. Sentou-se novamente, respirou fundo e começou a falar. À medida que falava, Gina não sabia se acreditava ou dava razão à amiga. Aquilo seria muito cruel. Cruel demais.
- Você... você tem certeza do que ouviu? – Hermione balançou a cabeça.
- As atitudes dela. Não acha que ela está calma demais? – Gina pensou um pouco.
- Acho que ela está tentando se fazer de forte para consolar o namorado, não é?
- Pois é, só que o Harry não está nem ai para Maureen. Fiquei sabendo que ela tem um desfile na Alemanha e já falou que não vai cancelar. Não era de se esperar!
- Ela vai deixar o Harry sozinho numa hora dessas? – Gina não estava acreditando em como uma pessoa poderia ser tão egoísta a esse ponto.
- Pra você ver como ela realmente se preocupa! – ironizou.
Passaram alguns segundos sem falarem nada. A mente de Gina vagava longe. Ela havia resistido a ele por causa da namorada dele... uma mulher fria e sem coração. Por outro lado, ela sabia que nada poderia ter com Harry. Se Hermione tivesse certa, seria um golpe certeiro para Harry.
- Hermione... se você tiver mesmo certa... Acha que Maureen vai ser condenada?
- Provavelmente, sim. Mas eu queria sabe uma coisa.
- O quê?
- Quem trabalha para ela.
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A porta se abriu e uma pessoa vestida com uma capa negra entrou sorrateiramente no aposento.
Observou a pequena figura na sua frente. Pálida, trêmula. Um sorriso maldoso se formou em seus lábios. Ela estava como ela queria.
- Oi mocinha... Como tem passado? – Se agachou e acariciou os cabelos da menina, que olhou para ela assustada. Ao ver quem era, gritou:
- BRUXA! ODEIO VOCÊ! ODEIO! ODEIO!
PAF!
Sarah calou-se imediatamente, sentindo uma das faces arder. Sufocou o soluço.
- Preste bem atenção... – apontou uma arma a ela. – Se gritar comigo, você nunca mais verá o seu pai, está me entendendo??? – a menina não disse nada. Maureen a puxou pelos cabelos e a fez encarar. – Eu vou me casar com o seu pai e você não vai me impedir! – Soltou-a e saiu. A porta fechou-se e a menina chorou silenciosamente.
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Harry não sabia quantas vezes olhara aquele retrato na sua mesa. A garrafa de uísque já estava quase vazia. Harry encheu o seu copo novamente e tomou num único gole.
Cem milhões! Era só nisso que pensava. Como alguém poderia exigir um resgate daquela proporção? Pelos jornais, Harry descobrira que nenhum seqüestrador pedira mais que um milhão.
Mas não era isso que o incomodava. Aliás, ele nem sabia como estava resistindo tudo aquilo. Ele não conseguia pensar em uma maneira de arranjar o dinheiro por um motivo: esse resgate havia sido há duas semanas! Duas semanas! Ele não era ingênuo de pensar que os bandidos queriam dar um tempo a ele para arranjar o dinheiro. Se eles queriam deixar Harry James Potter, totalmente desesperados, eles conseguiram com méritos!
Duas semanas de silêncio o estava corroendo por dentro. Não conseguia mais comer nem dormir. Quando fechava os olhos vinha a imagem de sua filha chorando, pedindo ajuda. Não queria falar com ninguém, nem mesmo com os policiais, que permaneciam incansáveis, já que haviam trabalhado em um seqüestro que durou 10 anos. Aquela demora não seria o motivo de eles desistissem.
- Senhor Potter? – Katherina bateu na porta. – Tudo bem?
- Está... – respondeu Harry, tomando mais um copo de uísque. – Está... tudo... bem... - O uísque fizera efeito e o homem já não tinha mais consciência de seus atos.
Katherina percebera que havia alguma coisa de errado, ao julgar pela voz do patrão.
- Senhor Potter, o senhor gostaria de um café?
- Café? – Harry abriu a porta abruptadamente e encarou a jovem babá a sua frente. – Não, Katherina. Eu quero a minha filha! EU QUERO A MINHA FILHA!
Alguns guardas correram para ver o que estavam acontecendo.
- Senhor Potter, o que pensa que está fazendo? – um deles tirou o copo de uísque da mão de Harry.
- Eu?? - Harry deu uma risada sarcástica. Tudo em sua volta começou a gira. – Eu... – Sentiu as pálpebras dormentes. – Eu... – Só conseguiu dois guardas correndo em sua direção antes de perder os sentidos.
Já fazia meia-hora que Harry estava naquele quarto. Dona Glória, Katherina e Maureen estavam na sala de espera. A babá havia feito com que a senhora tomasse uma água com açúcar e permanecesse sentada, mas o nervosismo era o mesmo.
Cinco minutos depois, o médico chegou e todas levantaram.
- Como ele está doutor. – Maureen perguntou. O médico suspirou.
- Ele está sob um forte stress. Foi uma sorte ele ser socorrido a tempo.
- O que o senhor quer dizer com isso? – Dona Glória perguntou com a voz alarmada.
- Que se ele não socorrido há tempo, ele poderia ter sofrido uma parada cardíaca. A pressão dele está nas alturas. E, a julgar pela quantidade de álcool no sangue, acelerou o processo.
- Ah, meu Deus... – dona Glória sufocou um soluço. Saber que Harry estava mal, com toda aquela situação, deixava qualquer um sem saber o que fazer.
- Tivemos que sedá-lo. A pressão dele diminuiu, assim como as chances de ter uma parada.
- Ele vai demorar a acordar? – Maureen perguntou, demonstrando preocupação.
- Ele vai dormir umas oito horas. Não acordará hoje. – O médico olhou no relógio, que marcava onze da noite.
- Podemos vê-lo?
O médico hesitou antes de responder.
- Podem, mas vocês têm cinco minutos.
As três entraram no quarto onde Harry estava. Ele parecia tão sereno, como se nada pudesse atingi-lo. Dona Glória sentiu um pesar ao ver o homem que considerava como um filho naquele estado.
- Oh, meu querido... – passou a mão nos cabelos dele. – Eu sei que a pressão é forte. Mas você tem que resistir. Pela Sarah. Ela vai precisar de você quando ela voltar.
Harry permanece imóvel. A respiração dele é tranqüila e dona Glória percebe que ele precisava disso. Sabia das noites de insônia que o genro passava desde que os bandidos fizeram o último contato. Ela não sabia de onde buscara forças para se manter em pé, mas sabia que precisava se agüentar pela sua família.
- Meu senhor... ajude o meu genro. Proteja-o e proteja a minha neta. O senhor já me tirou meu marido, minha filha. Por favor, não me tire a minha neta e o homem que eu considero como um filho para mim. Por favor.
Dona Glória beijou a têmpora de Harry, assim como Maureen. As três mulheres fecharam a porta silenciosamente. No dia seguinte, voltariam.
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Hermione sabia que não devia estar ali. Mas seria tolice ir ao Hospital. Katherina havia ligado para dizer que Harry estava em observação e que no dia seguinte, poderia receber visitas.
Estava no escritório de Harry. Ele havia permitido que Hermione usasse o aposento para cuidar dos negócios dele, organizar a agenda e enfim. Mas essa intimidade deixou os policiais um pouco desconfortáveis e Hermione prometera sair da sala quando dona Glória chegasse.
Havia chamado Gina para lhe fazer companhia, mas a amiga alegou que não havia cabimento trabalhar na casa de Harry, pois era apenas uma funcionária. Sendo assim, continuaria trabalhando no seu escritório da DEVON e qualquer coisa, Hermione ligava.
Um zumbido chamou a atenção de Hermione, que levantou a cabeça e olhou todos os lados, para ver de onde vinha. Conhecia aquele barulho. Do outro lado da mesa, uma luz piscava. Estranhando, Hermione pegou o objeto.
- De quem é esse celular? – Ta tela estava escrito: “Você tem uma mensagem de no correio de voz”. – Deve ser do Harry. – Deu de ombros e teclou para ouvir. Congelou. Não era o celular de Harry, ela tinha certeza.
“Está tudo certo. Quando aquele idiota pagar o resgate, ele terá a filhinha de volta dentro de um saco. Te amo.”
Com as mãos tremendo, Hermione desligou o celular. Ela não tinha mais dúvidas.
Não longe dali, Maureen havia dado falta do celular. Ela sabia onde estava, mas não se preocupou. Ela tinha dado ordens para que, quando o celular tocasse mais de quatro vezes, a pessoa teria que desligar. Mensagens de texto e de voz eram proibidas.
Alguém havia se esquecido do protocolo. E pagaria bem caro.
N/A: Eu prometi a mim mesma não fazer um texto, pedindo desculpas e tudo mais. Bom, mas sabe como é a vida de escritora: bloqueio, falta de tempo. Isso atrapalha. No meu caso é isso e mais a minha pasta de estágio que está emperrada. Fora isso, ok.
Espero que gostem e comentem. A próxima fic a ser atualizada será “Amor Cigano.” Aguardem.
Desculpas pela demora. De coração. Mais três capítulos e a fic chega ao fim.
Bjos da Juh
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