Capítulo 3



Harry agora dormia desajeitado. Os óculos permaneciam tortos em seu rosto, deixando duas marquinhas vermelhas no nariz, que no dia seguinte possivelmente incomodariam. O cabelo estava em pé, parecendo que havia levado um choque, e o cobertor enrolava-se pelo seu corpo impedindo-o de se movimentar.

...

Instantes depois, mesmo dormindo Harry pôde ouvir uns rangidos estranhos. Levantou-se sonolento e torto. Ficou sentado na cama, tentando ficar em equilíbrio.

- É só a minha imaginação... – disse ele, deitando-se novamente, mas no instante que encosta sua cabeça no macio travesseiro de penas, escuta os arranhões novamente. – Ou não!

O sono havia se dissipado, dando lugar ao mistério e à preocupação. Pôs sua orelha na parede para ver se vinha do quarto ao lado, o do de Ron. O barulho não havia cessado, mas não vinha do quarto de seu amigo. Foi à parede oposta e repetiu o ato.

- Esse quarto?! – disse ele. Era estranho, já que não havia quarto algum do outro lado.

O barulho se intensificava. Arranhões, rasgões parecendo rabiscos. Parecia também papel sendo rasgado. Começou a se sentir meio assustado, embora não quisesse admitir. Afastou-se da parede e ficou ali olhando aquele espaço vazio, pintado de verde-claro.

Abriu a porta de seu quarto e visualizou a prova nua e crua: havia uma parede ali. Correu, abriu a porta de sua varandinha e novamente comprovou a triste realidade: a parede era contínua, sem janelas. Ficava até uma coisa esquisita, pois a casa era tão linda e bem decorada.

“É como se houvesse um outro quarto.” – pensou ele. Logo, ouviu os arranhões novamente. Finalmente, admitiu seu medo recorrendo à cama e pegando a varinha. – “Será um fantasma? Está parecendo. ... Não!E se estiver atrás de alguém daqui?Hermione!”

Preparou sua varinha e fechou seu outro punho e seguiu à saída do quarto. Bem devagar. Observou a parede que terminava o corredor e as portas dos quartos vizinhos. Imaginou Hermione dormindo calmamente em sua cama quentinha. ... “Não preciso da ajuda dele!” – pensou Harry ao passar os olhos na porta que localizava-se ao lado da sua, ou seja, do quarto de Rony. – “Vou lidar com isso sozinho!”

Seguiu para perto da parede. Nenhuma porta secreta. Tirando os pequenos montinhos de mofo no canto extremo esquerdo, estava tudo em ordem. O que poderia fazer aquele barulho de arranhar? Aproximou-se para poder ouvir mais e quando ia encostar sua orelha à parede...

PUQ!

Harry permaneceu com sua face no piso de madeira, emburrado. Os óculos ficaram tortos (novamente). Alguém deveria estar brincando com ele. Devia ser coisa de Rony ou Luna. Hermione era tão meiga, linda e inteligente para uma coisa dessas.

- Como... Esse corredor não termina? – disse ele, levantando-se.

Já de pé, notou a grande porta “observando-o”. Aquele barulho novamente! Vinha lá de dentro. Tinha certeza! Tentou olhar pela fechadura, mas estava tudo tão escuro que não houve jeito. Retornou seu olhar para trás e não avistou ninguém.

Pôde ver também que o encanto da parede havia desaparecido, já que agora não havia mais parede nenhuma ali. Agora Harry notara um grande defeito daquela mansão: lâmpadas. Ou pelo menos a falta delas. Gostaria muito de dar os parabéns ao gênio que construíra a planta daquilo e que havia se esquecido das luzes!
Lentamente, a coragem foi acendendo-se dentro de seu peito, fazendo-o abrir a maçaneta. A porta podia ser muito bonita, porém era antiga e fez muito barulho quando Harry a abriu. O ambiente era escuro e abafado, já que não havia nenhuma janela ali.

Adentrou lentamente ao cômodo. Pressionou os olhos, ajeitou os óculos, mas nada via. O triste é que havia esquecido sua varinha, e com ela poderia iluminar todo o local, mas como estava escuro demais para encontrar a saída e como a curiosidade pairava sobre sua mente, deixou a idéia de lado.

Assustou-se ao ouvir o rangido. O já conhecido som de quando se arranca papel de parede, ou quando você rasga papel... Ou quando você arranha a parede, fortemente. Assustado, virou-se para trás e aos poucos pôde ver uma parede.

Como um zumbi, foi tateando o ar de encontro à parede. ... Obtendo o demorado sucesso, foi tateando a fria parede para obter alguma pista ou pelo menos algo que acendesse a luz. A parede, além de fria, estava totalmente empoeirada e era isso que deixava a dúvida de se a parede era escura ou se era toda aquela poeira (excluindo, obviamente, o fato de estarmos num ambiente sem luz).

- Hã? – soltou Harry, ao perceber uma pequena falha no meio daquela poeira toda.

Forçou a vista para ver o que era. Era alguma espécie de escrita... Era o que parecia! No momento que se seguiu, letras começaram a brilhar fortemente um azul chamativo, fazendo Harry cambalear para trás. O brilho atingiu apenas o lugar onde Harry permanecia, fazendo todo o resto do cômodo parecer um simples vazio.

Na parede, as letras, meio tortas e brilhantes, formavam várias frases, parecendo um texto gigante. Porém, quando encontrava-se algum rastro de ortografia, era possível distinguir uma frase da outra.

No meio daquilo tudo, Harry podia ler:

“Tire-me daqui. Tire-me daqui. Tire-me daqui.” – e de novo, e de novo, e de novo e de novo até cobrir o teto. Harry olhou para cima mas rapidamente desviou sua atenção pois as letras brilhavam num azul forte, e sem contar que o anormal e a incerteza agora faziam-no ficar inseguro.

Novamente, o mesmo barulho de arranhado voltou a ecoar. Harry permaneceu parado e fixo. Lentamente, foi movendo seus olhos para trás. Pôde ver um trapo velho e azul (quanto azul, não?). O tal trapo começou a se mexer.

Quando Harry observou melhor, era um vestido azul bem longo. Observando mais atentamente, viu que era uma mulher, uma mulher de cabelos brancos e meio compridos. Movimentava-se numa agonia retorcida, dando para ouvir alguns estalos. Estalos esses que lembravam a ossos sendo quebrados.

Harry agora sabia que era uma mulher, já que ela havia levantado-se! Ficou de frente para Harry, com os cabelos tapando seu rosto. Não podendo sustentar-se, caiu de joelhos fazendo mais ossos serem quebrados. Foi indo de encontro a Harry pelo chão, arrastando-se.

Harry observava tudo boquiaberto. Numa ocasião típica, iria ajudar a pobre coitada, mas aqui não havia nenhuma coitada! Havia alguma espécie de morta-viva arrastando-se pelo chão até pegar a perna de Harry! A mão que segurava a perna direita de Harry apertava fortemente.

O amontoado de fios brancos foi se inclinando para cima, e Harry pôde ver um olho, somente, encarando-o. Era frio, amedrontador e de que cor? Azul!

Não agüentando o desequilíbrio, caiu no chão. Tentou gritar para a zumbi largá-lo mas não saía nenhum som de sua garganta. Chutava a mão coisa, e no meio desses chutes, seu pé afastou um pouco a manga comprida do braço que lhe aprisionava, e então não viu nada além do rádio e do cúbito(os ossos que constituem a parte anterior ao pulso).

Isso o fez ficar mais assustado. Imitando o cadáver, foi se arrastando e tentando gritar por socorro.

- Harry... – disse uma voz. Harry não respondeu, apenas aguardou o momento de sua....

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.