Here.
E lá vinha ele mais uma vez, para meu infortúnio. Vinha sorrateiro, com aquela cara de anjo pidão, mas eu sabia que aquilo era uma máscara; no fundo nem ao menos queria pedir algo. Seus olhos cinzas me examinaram cuidadosamente, enquanto os lábios finos de contraíam em um sorriso vitorioso. Mostrou seus dentes incrivelmente brancos e eu aguardei pelo pior. Como negaria algo àquele pecado loiro?
- Ginevra - uma terrível mania me chamar pelo nome de batismo! -, será que você poderia guardar isto aqui para mim? - pegou um embrulho pequeno, colocando-o na minha mão sem nem aguardar pela resposta.
- Ah, claro... - respondi um pouco avoada. Como falar com aquele homem era difícil!
Novamente ele deu o sorrisinho vitorioso que tanto o deixava sexy, indo embora, me deixando com o pacotinho misterioso. Tive que conter meus ímpetos de rasgar o embrulho; afinal, aquilo era do Malfoy, eu só o estava guardando.
Malfoy, Draco Malfoy. A tentação. E eu tinha que admitir que aquele loirinho não era uma tentação só para mim, mas para todas que cruzavam o seu caminho. Era um homem que podia-se afirmar que, se uma mulher resistisse aos seus encantos, ou gostava de mulheres, ou tinha sérios problemas psicológicos.
Eu não estava apaixonada por ele - diga-se de passagem - porém tinha uma pequena obsessão por aqueles olhos cinzas, por aquele corpo de deus e pelo sorrisinho de desdém habitual. Mas nunca poderia sentir nada mais que isso por ele, porque além de já ter Harry, Draco Malfoy nunca teria nada comigo; existiam melhores em questão de corpo e atitude.
Quem sou eu? Ginevra Weasley; namorada de Harry Potter; baixinha, ruiva de grandes olhos castanhos. Muita gente dizia que eu era linda, mas eu não levava muita fé a essas. Afinal, ele nunca tinha me dito isso, nem nunca tinha tido nada comigo! Eu devia esquecer de vez que o Malfoy existe. Senão, dali a pouco enlouqueceria!
Plim! O telefone tocou. Olhei o identificador de chamadas. Era Harry.
- Alô?
- Ginny, oi! - cumprimentou animado - Eu estava aqui pensando, que tal sairmos hoje à noite? Faz tempo que não nos vemos direito.
- Ah... - que mal havia em sair com ele? Achei que não tinha nada a perder - Certo! Onde e que horas?
- Às nove, no Lal Quila, pode ser?
- Claro, Harry!
- Então nos vemos mais tarde, meu amor - a excitação estava evidente em seu tom de voz. Ele me amava mais do que eu o amava, disso eu tinha certeza. Mas, como mamãe sempre me disse, que, para uma relação saudável, o homem sempre tinha que amar mais a mulher... - Beijos!
E ele desligou. Finalmente consegui pensar direito e... Nossa! O Lal Quila era um restaurante caríssimo! Será que ele tinha feito uma economia só para me levar a esse encontro? Que fofo seria se ele fizesse isso!
Voltei minha atenção para o embrulho que Malfoy havia me dado. O que faria com aquilo? Ele não dissera nada, e, além do mais, aquele negócio teria que ser devolvido, não é mesmo? Então eu faria o seguinte: antes de ir me encontrar com Harry, deixaria o pacotinho com a secretária de Draco. Excelente!
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Dez minutos para as oito. Eu já comecei a arrumar minhas coisas para sair daquele escritório enfadonho. Peguei o embrulho misterioso e rumei para o departamento de Malfoy. Deixei com a loira aguada que era sua secretária, Marylin, sem dar muitas explicações. Acho que ela compreendera.
Eu nunca tinha ido com a cara daquela falsa. E soube que ela teve um caso com ele; mais um de seus “affairs”. Aquele loiro já ficara com a metade do mundo, pelo visto. Mas eu nunca faria parte dessa metade. Orgulho? Talvez.
Fui para casa e me arrumei para o encontro com meu namorado. Às nove em ponto ouvi a campainha soar. Harry estava vestido elegantemente, e eu me senti corar ao perceber que estava simples - um vestido vermelho, combinando com meus cabelos, que estavam soltos, e uns sapatinhos baixos -, comparada a ele.
- Você está linda, Gin - gaguejou, chegando mais perto para me dar um beijo tímido. Era isso que eu gostava nele; essa timidez era tão fofa!
- Obrigada - agradeci, sabendo estar corada.
Ele me ofereceu o braço e entramos no carro. Enquanto Harry dirigia, eu percebi que tinha muita sorte. Não era qualquer uma que tinha um moreno de olhos verdes, educado, fiel, tímido e fofo como namorado. Mas, então, por que eu tinha aquela estranha obsessão por Malfoy? Não precisava de mais nada com Harry ao meu lado.
Chegamos no luxuoso Lal Quila e entramos, espantados com a beleza do lugar. Esperamos a comida, que não nos decepcionou, era maravilhosa! Tudo estava perfeito até... Espera aí! Quem estava entrando no restaurante acompanhado de uma morena bonita? Malfoy! Pronto, minha noite tinha acabado!
- O que foi, Gin? Algo a ver com a comida? - perguntou Harry, percebendo que havia algo de errado comigo. Provavelmente eu devo ter feito alguma cara.
- Ah, nada, está tudo ótimo! - tentei sorrir. Soara muito falso, mas ele se conformou.
Passei o resto da noite no restaurante assim, evitando encarar Malfoy e sua acompanhante. E eu sabia que ele tinha percebido minha presença.
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Uma semana se passou depois daquilo, e Draco só ousou me atormentar uma única vez, novamente pedindo para eu guardar um outro embrulho misterioso. Mas não tardei a devolvê-lo à Marylin.
Minha obsessão parecia ter piorado, eu simplesmente não conseguia parar de pensar nele! Peguei o jornal para tentar mudar o rumo de meus pensamentos, evitar a palavra “Malfoy”.
"DRACO MALFOY ENVOLVIDO NO TRÁFICO DE DROGAS"
O quê? Não podia ser! Li toda a notícia e percebi que o tempo todo ele só queria me fazer de idiota, me pedindo para guardar embrulhos misteriosos. Aquilo na verdade eram drogas! Ainda bem que eu tinha devolvido tudo, senão sobraria para mim!
No momento, ele deveria estar atrás das grades, junto de sua secretária arrogante. E minha obsessão teria que ir para o espaço. Joguei tudo o que já tinha escrito num diário sobre ele fora, assim me livrando do “encosto Malfoy”. Esperava nunca mais ter que ouvir esse nome na minha vida.
Agora seria só eu e Harry, como sempre foi.
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