Eterno Amor
(Far Away, Nickelback)
“Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.”
(Fernando Pessoa)
Marlene o encarou, com o bilhete em suas mãos agora sendo molhado por finas gotas que escorriam daqueles olhos amendoados, e sustentou aquele momento por mais alguns instantes.
Aproximou-se mais um pouco de Sirius, ergueu seu braço fino e agora trêmulo, e acertou-lhe um forte tapa no rosto. O barulho daqueles dedos delicados encostando naquela pele agora rubra do maroto propagou-se com eco por toda a casa. Sirius levou uma das mãos ao rosto, como que sem acreditar que Marlene realmente havia feito aquilo.
- COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO? – ela vociferou, descontrolada. Avançou novamente em cima do moreno e começou a acertá-lo onde quer que suas mãos trêmulas conseguissem atingir, com a maior força que ela conseguia reunir. – Eu fiz tudo por você, Sirius, TUDO! Eu fui contra a minha família, que pensava que fosse igual a todos os outros Black, só por você. Eu sempre estive aqui, ao seu lado, te apoiando, te ajudando, te amando... Eu te amei com a força de cada batida do meu coração. E é isso que você faz comigo?
A morena o encarou novamente, enquanto Sirius simplesmente deixava-a bater nele, sem tentar segurá-la, sem tentar impedi-la. Ele apenas a olhava, sem dizer nada, com um ar triste e cansado que Marlene nunca o vira usar.
- Diga alguma coisa, seu cafajeste! – esbravejou ela, sacudindo-o pela gola da camisa.
- Eu não te traí, Marlene. – Sirius pronunciou-se, finalmente. Olhava-a com mágoa, como se estivesse mais ferido por dentro do que ela. – Você precisa confiar em mim, eu não te traí!
- É mentira! – a mulher disse, largando-se na cama de casal em que os dois passaram inúmeras e inesquecíveis noites. Escorou o rosto com as mãos, sem tentar evitar que lágrimas de raiva escorressem. – Como você ainda tem coragem de mentir assim? Depois de tudo, Sirius, tudo que nós vivemos...
- Marlene, por favor... – ele falou, com um tom de súplica, aproximando-se dela.
Sentou-se ao lado dela e pousou delicadamente uma das mãos em seu ombro. Aquele corpo quente, aquela pele macia, aquele perfume inebriante; era incrível o modo como ela era sempre a mesma, e ao mesmo tempo tão imprevisível.
- Não toque em mim! – Marlene o interrompeu, sem mais encará-lo. – Quem é essa mulher que você tem encontrado?
- Eu não posso te responder, mas você tem que acreditar em mim! Eu juro, Lene, nunca seria capaz de fazer qualquer coisa para te machucar, eu...
- Não quero ouvir mais mentiras! – ela exclamou, pondo-se de pé novamente e olhando-o com raiva, com impaciência, com mágoa, não mais com aquele olhar maroto e apaixonado. – Sempre me disseram que você não valia nada, mas eu sempre te defendi. Não sei onde estava com a cabeça quando pensei que a sua fase de mulherengo havia acabado.
- Você não confia em mim, é isso?! – perguntou Sirius, levantando-se também. Estava quase gritando, um tom de voz que ele jamais usara com ela, e isso a assustou um pouco. – Eu achei que você fosse diferente, Marlene, e foi por isso que eu deixei aquela fase para trás.
Ele atravessou o quarto, batendo o pé com firmeza por aquele chão gélido, até alcançar a porta. Girou a maçaneta quase como se fosse arrancá-la, e saiu. Antes de irromper pelo corredor, porém, virou-se mais uma vez para trás – a última vez.
- Era a Andrômeda. – ele disse, sem mais encarar Marlene. – A minha prima foi expulsa da família por ficar noiva de um trouxa, e estava precisando de mim.
Sem esperar uma resposta, o moreno bateu com força a porta atrás de si e desceu correndo as grandes escadas. Saiu daquela mansão o mais rápido que pôde, e passou o resto da madrugada caminhando pelas ruas, pensando, remoendo, sofrendo.
[...]
Uma semana havia se passado, todos os membros da Ordem da Fênix já estavam sabendo da briga feia que Sirius e Marlene haviam tido. Fizeram de tudo para tentar reconciliá-los, mas ambos pareciam irredutíveis. Sirius estava evitando sua própria casa, como sempre fazia na adolescência, apenas para não encontrá-la. Mas agora não poderia evitar mais. Havia recebido um chamado importantíssimo da Ordem, estava planejada uma grande carnificina dos Comensais da Morte para aquela noite, e Sirius deveria mais do que nunca estar lá para ajudar a combatê-los.
E ele estava lá, no hall da mansão Black, ouvindo Tiago falar, enquanto permanecia alheio as palavras que qualquer um dissesse. Só se preocupava com uma coisa: ela. Em como seria quando eles se olhassem, quando se vissem, quando saíssem juntos para mais uma missão, mas dessa vez não seria igual as anteriores, porque eles não estavam mais unidos. Enquanto isso, Marlene estava sentada em uma cama, pensando exatamente na mesma coisa e rabiscando algumas palavras.
- Marlene, nós estamos saindo! – a mulher escutou uma voz feminina exclamar do corredor do segundo andar, enquanto se aproximava do quarto onde ela estava.
Assim que sua amiga adentrou o quarto, foi impossível não perceber as inúmeras lágrimas que percorriam ferozmente o contorno delicado de seu rosto.
- Ah, Lene... – disse Lílian, abraçando-a com força. – Você quer ficar aqui hoje? Aviso aos outros, digo que você não estava bem e...
- Não. – Marlene a interrompeu, fechando o caderno que estava em seu colo. – Só estava terminando de escrever no meu diário.
- Alguns hábitos de adolescente, nós nunca perdemos. – comentou Lily, sorrindo de um jeito doce, no que sua amiga assentiu.
Marlene guardou o diário embaixo do travesseiro, passou rapidamente as mãos pelo seu rosto, secando-o, e desceu com Lílian.
Ao aparecer no início das escadas, sentiu um involuntário arrepio percorrer todo o seu corpo, e não pôde evitar descer aqueles degraus procurando o dono do par de olhos azuis mais lindo que ela já vira. E não demorou a encontrá-lo. Lá estava Sirius, encarando-a, sustentando aquele olhar como se eles duelassem; um duelo silencioso, magoado, apaixonado.
- Vamos? – Tiago perguntou, para encerrar aquele clima tenso que se instalara no local. A maioria assentiu, e com um piscar de olhos, todos aparataram.
[...]
A batalha já havia começado, e parecia estar pior do qualquer uma que ambos os lados já tinham enfrentado ou imaginado. O número de Comensais era assombroso, mas igualava o nível com os aurores graças ao excelente e rigoroso treinamento que estes receberam. Se aquele lugar mergulhado na escuridão em que todos estavam agora explodisse, com certeza o mundo bruxo ficaria apenas habitado por pessoas muito pouco capazes, porque ali, naquele local onde todos duelavam há horas e mal conseguiam distinguir mais quem era de que lado da guerra, estavam simplesmente os melhores.
- Isso é o melhor que pode fazer? – Sirius perguntou, com um tom ameaçadoramente sarcástico, para um dos homens com a máscara negra já rachada, o Comensal Avery. Poderia estar cansado, quase caindo no chão, mas não perdia o sorriso irônico em seus lábios.
- Cale a boca e duele, Black. – o homem falou, lançando um feitiço de sua varinha, no que Sirius rapidamente contra-atacou com outro.
E, com mais um excelente feitiço não-verbal, cujo Avery nem teve o tempo de ver de onde saíra, Sirius enfim desarmou-o, fazendo o Comensal tombar imóvel no chão gélido daquele lugar.
Em seguida, virou-se para se ocupar com outro Comensal, ou ajudar algum auror em apuros. Seus olhos azul-escuros mergulhados na escuridão que pairava por ali encontrou rapidamente Lílian sendo encurralada por dois homens de vestes pretas, e o moreno correu para ajudá-la.
- Obrigada, Sirius. – Lily murmurou, caindo ferida nos braços do amigo, enquanto ele afugentava habilmente os Comensais.
Ele olhou-a de um jeito desesperado, como se sentisse que a estava perdendo, mas antes que pudesse pensar em fazer algo, sentiu alguém tirá-la de seus braços, ainda mais preocupado.
- Lílian! – gritou Tiago, com os olhos marejando de um modo impiedoso. – Agüente firme, meu amor, eu vou te tirar daqui, você vai ficar bem, por favor não desista... – ele começou a falar, passando as mãos desesperadamente pelo rosto fino de sua mulher.
- Fique calmo, Tiago. – a ruiva disse, com um tom tranqüilo, para acalmá-lo. – Mas acho que tem alguém precisando mais de ajuda do que eu. – completou, olhando agora com urgência por cima do ombro de Sirius.
O moreno virou-se para trás rapidamente, com um péssimo pressentimento invadindo sua mente, e a única coisa que ele desejou com toda força para não estar acontecendo, foi o que ele viu: Marlene tombava no chão, atingida pelas costas por um feitiço que Sirius nunca havia presenciado antes, fazendo-a começar a perder muito sangue.
- MARLENE! – ele gritou, correndo desesperadamente na direção da mulher.
Empurrou todos que estavam em seu caminho, ignorando se eram do seu lado não. Ela era a única que importava. Não poderia perdê-la, não conseguiria prosseguir sem a presença de Marlene ao seu lado, e ele sabia disso.
- Não, NÃO! – ele continuou gritando, enquanto a colocava sem seus braços, o sangue da mulher manchando toda sua veste. – Lene, não faz isso, não me deixa aqui sem você...
- Sirius, por favor, só me ouça. – pediu Marlene, tirando forças de algum lugar que ela nem sabia que existia e passando uma das mãos pelo rosto agora molhado de lágrimas do homem, enquanto ele tentava inutilmente estacar o sangue que escorria do frágil corpo dela. Marlene sabia que sua hora havia chegado, e nada poderia mudar isso. – Perdoe-me por ter desconfiado de você, por ter te acusado injustamente, por todas aquelas coisas horríveis que eu te falei...
- Não, foi culpa minha, nunca deveria ter escondido nada de você! – Sirius começou a dizer, mas a mulher colocou um dos dedos sobre seus lábios, impedindo-o de continuar.
- Eu te amei desde o nosso primeiro beijo, até o último. Eu te amei durante cada dia do nosso namoro, te amo hoje como nunca pensei que seria capaz amar alguém, te amarei amanhã ainda mais, e vou continuar te amando, para sempre, não importa onde eu esteja. – ela disse, enquanto seu rosto era pincelado por finas lágrimas que caíam insistentemente. – Você me entendeu? – perguntou, com um tom de desespero, de urgência na voz.
Ele assentiu, com aqueles olhos azuis marejados encarando-a. Abriu a boca para falar, mas Marlene novamente o impediu.
- Apenas me abrace. – murmurou, no que ele imediatamente o fez. – Porque foi exatamente assim que eu esperei passar o resto da minha vida.
Sirius sentiu o corpo da mulher que tanto amava inundar-se cada vez mais de sangue, e ele não podia fazer nada. Sentiu a pele de Marlene ficando fria, seu corpo já estava completamente largado nos braços de Sirius, seu olhar, outrora tão doce e ao mesmo tempo firme, agora desfocara-se por completo. Ela não estava mais ali.
Sirius não olhou mais para aqueles olhos castanhos, não teve coragem para tanto. Não queria encarar a realidade, não queria acreditar que havia perdido Marlene para sempre. Aparatou imediatamente na porta da mansão Black, e adentrou sua casa. Pouco se importava com o duelo que ainda acontecia onde ele estava há alguns momentos atrás, pouco se importava com qualquer coisa agora. Foi chutando tudo o que se encontrava em seu caminho, na tentativa de extravasar seus sentimentos, mas nada adiantava. Subiu as escadas pulando de três em três degraus, e adentrou o quarto em que ela costumava ficar. Queria sentir o cheiro de Marlene, sua presença ali, na tentativa de amenizar sua dor, de fingir que a qualquer momento ela passaria por aquela porta, o beijaria, e tudo voltaria a ser como era antes. Mas nada volta a ser, nada.
Largou-se na cama que havia no quarto, com o corpo cansado, exausto. Quando deitou a cabeça no travesseiro, porém, sentiu algo um tanto duro por baixo. Colocou a mão para ver o que era, e acabou puxando um caderno vermelho.
Sirius folheou-o, e reconheceu imediatamente aquela caligrafia fina: era a letra de Marlene. Passou o olho rapidamente pelas páginas, e abriu no último dia em que ela havia escrito – há poucas horas atrás, ele pôde constatar. Recostou-se no travesseiro, e começou a ler para tentar matar a saudade; as lágrimas escorrendo daqueles olhos azuis que ela tanto amava.
“Nós ainda estamos brigados, e a cada segundo que passa, me arrependo mais por não ter feito logo as pazes com ele. Fui muito tola em não ter confiado nele, até porque Sirius nunca me deu nenhum motivo para isso. Mas agora não adianta ficar remoendo essa história, eu tenho que fazer alguma coisa. Sirius é o homem que eu mais amei em toda a minha vida, e simplesmente não posso imaginar minha vida sem ele. Recebi um chamado da Ordem agora a pouco, vamos ter que sair em uma missão contra os Comensais, e suponho que Sirius esteja lá. Depois do duelo, cujo tenho certeza que nós ganharemos, vou falar com ele, me desculpar, acabar logo com todo esse sofrimento. Sei que Sirius me ama tanto quanto eu o amo, por isso espero que ele me perdoe. Então, vou convidá-lo para sair, e nós vamos dançar e nos divertir, como sempre. Esta noite, está decidido, porei um fim nisso. A vida é muito curta para não vivermos cada instante como se fosse o último. Porque, afinal, é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã.”
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N/A: E fim da fic! O capítulo pode ter ficado um tanto rápido e curto, mas o motivo disso foi a tentativa de não deixá-lo arrastado. Essa pequena fic foi uma experiência nova para mim, mais puxada para o drama e com um final triste, mas espero que o resultado final tenha ficado pelo menos aceitável, e que vocês tenham gostado. Ah, e eu não resisti em colocar essa música de fundo, porque a tradução tem simplesmente tudo.a.ver :)
Então, me despeço aqui, e não deixem de comentar deixando a opinião de vocês!
Beijos, e obrigada por tudo!
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