Capítulo II
Eles estavam parados no salão comunal da Sonserina, ele estava deserto. Ela observou o local, e até atreveu-se a andar pelo ambiente à procura de alguém, mas ficou imóvel quando ouviu passos. Havia esquecido que ninguém poderia vê-la ali, parada em frente à lareira, como Harry já havia explicado. Quando os passos cessaram, ela pôde ver um Malfoy impecavelmente arrumado, colocando sua capa e vindo em sua direção. Ele passou por ela, como se ela fosse um fantasma, e abaixou-se em frente as brasas acesas. Parecia estar tentando uma comunicação como Sirius havia feito também no ano anterior. O outro Malfoy assistia a tudo sentado no sofá, como se aquilo fosse um programa chato demais da TV. Ela, no entanto, ficava atenta a cada movimento do Malfoy e abaixou-se também para ouvir melhor a conversa que se iniciava.
- Quem está aí? – perguntava o Malfoy na lareira.
- Lestrange. – respondeu uma voz rouca, antes de aparecer o rosto do homem nas brasas. – Demorou garoto, pensei que houvesse desistido.
- Não, nem se eu quisesse, não é?! – perguntou seriamente. - O que vai acontecer agora?
- Bom... Você tinha razão quanto ao portal na sala precisa, aquele que faz ligação na Travessa do Tranco. Vou aparecer aí em instantes. Já estou indo pra lá. – explicava o comensal, que tinha o rosto um pouco coberto por um capuz.
- Ok. Vou esperar aqui no salão comunal mesmo. Todos estão jantando agora. Cuidado pra não ser visto.
- Pensa que eu nasci ontem, garoto? – ele riu com desdém. - Seu pai não deve ter lhe dito que sou muito bom no que faço. Espere aí. Não me demoro. – e o rosto sumiu nas chamas da lareira.
Hermione procurava se manter calma, mas olhava para Malfoy sentado no sofá com o ressentimento estampado no rosto. Ele estava tão tranqüilo, parecia não se importar com o que tinha feito. Como ele poderia ter ajudado um comensal a entrar na escola? Será que ele não tinha noção do que ele poderia fazer? Provavelmente ele também já tinha se tornado um seguidor de Voldemort.
Malfoy estava desinquieto, esfregava uma mão na outra e passava repetidamente as mãos nos cabelos. Parecia estar indeciso, inseguro ou com medo, talvez. De repente, a porta abriu e por ela passou Rodolfo Lestrange, um dos mais fiéis ao Lord das Trevas, como ele mesmo afirmava. Hermione prendeu a respiração ao se ver no meio dos dois, até que Rodolfo tomou a palavra.
- Vamos logo acabar com isso. Dê-me seu braço! – o homem havia pegado sua varinha e o garoto ao invés de esticar o braço, escondeu-o atrás de si.
- Eu não vou me tornar um de vocês! – ele dizia com determinação, nem parecia que estava tão transtornado há pouco.
- Como assim? Você está ficando louco, vai trair o Lord das Trevas, seu pai? Pare de brincadeira, não é hora pra isso moleque! Ande logo, estou com pressa. – falou o homem sem paciência.
Malfoy pegou sua varinha antes mesmo que o homem pudesse revidar ao feitiço. – Crucio! – o homem agora rolava no chão, parecia uma criança grande gemendo de dor. – Eu vou destruir aquele portal e ninguém mais vai passar por lá. Eu não vou deixar você me transformar nisso. Eu não vou servir Lord de coisa alguma, não quero ser igual meu pai, pra ser descartado como um lixo qualquer. E se for preciso te matar pra isso, eu matarei!
Hermione não sabia se acreditava no que estava ouvindo. Malfoy havia feito uma armadilha pra um comensal? Recusava-se a seguir Voldemort? Parecia que sim, pelo que estava presenciando. Malfoy saiu correndo em direção à saída, e os dois seguiram ele. Lestrange se recuperava, mas não demorou a ir atrás dele.
Malfoy chegou à sala precisa, e sem esperar lançou um feitiço que fez com que o portal se quebrasse em pedaços. Ele havia cumprido o que dissera. Quando ele voltou ao corredor, encontrou Lestrange recomposto e com a varinha apontada para seu peito. – Estupefaça! – Draco estava muito concentrado e conseguiu se defender. Ele correu o mais que pode, desviando dos feitiços que o homem lhe lançava. Hermione e Draco seguiam-no sem perdê-lo de vista. Ele conseguiu chegar no hall do castelo e virou-se para enviar um último feitiço contra o homem que o seguia. – Sectusempra! – ele usou o mesmo feitiço que Harry havia usado contra ele dias antes. Ele sabia que só Snape conseguiria reverter o feitiço há tempo. E ele não estava por perto. Porém, antes que pudesse tomar qualquer iniciativa, alunos começavam a sair do salão principal. A gritaria foi ensurdecedora! Pessoas correndo pra todos os lados, gritando que um comensal havia entrado no castelo, que algum traidor deixara isso acontecer. Ele não pensou duas vezes, e correu em direção à saída, não sabia porque estava fugindo, mas não poderia ficar ali com todos os olhares de acusação em cima de si, caso alguém o visse. Sabia que achariam que ele era culpado. Ele deixou a capa pra trás e assim que cruzou a porta, transformou-se num lobo, sua forma animaga, ele tinha demorado muito tempo pra conseguir tal façanha.
Hermione e Draco já não o seguiam mais, já sabiam onde ele iria parar. Voltaram então para a floresta, onde Draco fez com que a Penseira sumisse num gesto rápido.
- Onde você aprendeu a fazer isso? – ela perguntou curiosa.
- Você conhece meu pai. Eu tenho que ser o melhor em tudo lembra? – ele disse com um sorrisinho cínico. Sua perna estava sangrando e doendo ainda mais agora, depois da corrida que eles deram. – Por isso eu te detestava tanto, você sempre tirava as melhores notas, e se mostrava superior até no modo de falar.
- Nunca pensei que me odiasse por isso. Sempre achei que fosse por eu ser trouxa. – ela disfarçou o ressentimento olhando ao redor à procura de alguém, mas não via nenhum sinal de humano ou animal por perto.
- No começo também, mas depois vi que você era mais bruxa que muito sangue-puro. Eu te invejei depois disso. Você parece nunca precisar da ajuda de alguém, e nem se importa se os outros vão te odiar ou não.
- A gente acostuma. – voltou-se para a perna do garoto. – Deixe-me dar uma olhada nisso. Talvez algum feitiço temporário funcione. Precisamos voltar ao castelo, Madame Pomfrey precisa cuidar disto. – disse dando um meio-sorriso para ele.
- Quer dizer, que vai aceitar a minha proposta? – dizia ele esperançoso ao vê-la murmurar um feitiço qualquer, e sua perna cicatrizar instantaneamente.
- Bom... Você fez sua parte, agora eu tenho que fazer a minha. Mas isso não nos torna bons amigos, afinal, você disse pra ele como poderia entrar no castelo.
- Eu pensei que aquilo não era realmente um portal, mas quando ele disse que conseguiria entrar por ele, eu me odiei. Por isso estava tão nervoso. Eu achei que ele não chegaria tão perto. E ainda queria me fazer virar um... deixa pra lá. É melhor irmos, já devem estar preocupados com a sua demora. – ele disse, porém continuou parado.
- Vamos? – ela disse, voltando-se pra ele. – O que está esperando?
- Eu só queria te agradecer. – ele disse, ficando ao seu lado.
- Não precisa. Afinal, é uma troca de favores, não é?! – ela disse, já voltando a caminhar.
- É claro que precisa. – ele segurou a mão da garota, fazendo-a ficar de frente pra ele. – Obrigado.
Antes que ela pudesse responder um “não tem de quê” ele encostou os lábios nos dela. Não sabia porque, mas precisava fazer aquilo. Ela não retribuiu o beijo, e permaneceu imóvel até que ele se afastasse. Foi uma experiência estranha, afinal, qualquer garota estaria se derretendo em seus braços numa ocasião dessas.
Mas ela simplesmente falou: - Por nada.
Eles voltaram em silêncio até o castelo, foram para a ala hospitalar, onde Draco recebeu os cuidados necessários. Hermione foi até a sala do Professor Dumbledore a fim de explicar tudo o que aconteceu. Ele imaginava que teria acontecido algo assim e decidiu não castigá-lo. Mais tarde, ela encontrou Harry e Rony no salão comunal, que encheram-na de perguntas. Ela contou o que havia acontecido, ocultando, é claro, que não havia utilizado poção nenhuma e que Malfoy a tinha beijado. Não demorou a subir ao dormitório, mas não conseguiu dormir tão bem quanto desejava.
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