Capítulo IV

A noite estava fria, incomum para a época do ano. Hermione não conseguia pegar no sono, estava por demais inquieta. Levantou, esforçando-se para fazer o mínimo barulho possível. Olhou para o lado e viu as meninas dormindo tranqüilamente. Pegou uns pergaminhos, pena e tinteiro e resolveu fazer a lição de Aritmancia.

O salão comunal estava deserto, e com um simples balançar de varinha fez com que algumas velas e a lareira tornassem o ambiente acolhedor e confortável.

Pouco tinha feito até que ouviu um barulho vindo do estômago. Sabia que deveria ter jantado, mas não haveria problemas se fosse procurar alguma coisa na cozinha.

Tentando não ser descoberta em flagrante, foi em silêncio até a passagem secreta que levava ao quadro da pêra. Entrou e não demorou a encontrar suco de abóbora, torta de limão e outras delícias. Depois de se satisfazer, voltou rapidamente para o salão comunal, resolveu subir e tentar descansar.

Deitou e cobriu-se até o pescoço tentando tirar da cabeça os pensamentos que a confundiam. Aquela conversa havia sido muito estranha. O que será que estava acontecendo com Draco Malfoy?

FLASHBACK

Hermione estava enviando uma coruja aos seus pais, preocupada com a falta de notícias durante a viagem, eles haviam ido pro Canadá esquiar e demoravam a responder as cartas.

Quando ia em direção à saída, esbarrou em alguém um pouco maior que ela, e não demorou a reconhecer os olhos azulados, os cabelos lisos despenteados e o sorriso cínico no canto da boca.

- Granger, mandando um bilhetinho pro seu jogador preferido? – Draco estava parado à soleira da entrada do corujal, impedindo a passagem da garota.

- Não é da sua conta Malfoy! – rosnou, tentando em vão, passar por ele. – Que foi, algum problema? Ou prefere ser azarado pra sair da minha frente?

- Nossa como ela é nervosinha! Você não acha que eu tenho medo de você, né?! Pode ser até o contrário... – disse aproximando-se dela e rindo com desdém.

- Olha Malfoy, nem do seu pai que é seguidor de Você-Sabe-Quem eu tenho medo! Muito menos terei de você, aprendiz de comensal! – disse, quando foi encurralada numa das paredes.

- Eu não sou igual ao meu pai, ok?! Nunca mais repita isso. – falou
rispidamente, apontando o dedo na direção dela, afastando-se depois.

- Sinceramente, eu não entendo Malfoy. – ela disse fracamente. - De que lado afinal você está? – ela encarava as costas do rapaz enquanto falava. – Você diz que não é igual ao seu pai, mas também não está do nosso lado...

Ele virou encarando-a no fundo dos olhos castanhos.

- Você nunca me pediu pra ficar do seu lado! Sempre me julgou por eu ser filho de quem sou, por ser rico… - ele dizia, quando foi interrompido.

- ...rico, arrogante, insensível, ganancioso… - ela falava com ressentimento, sem medir as palavras.

- Eu fui criado desse jeito, não esperava que eu mudasse da noite para o dia, não é?! – ele disse abrindo os braços, atropelando as palavras que ela jogava contra ele.

- Não. – ela olhou para os sapatos. – Mas você nunca demonstrou querer mudar. Se eu te pedisse pra nos ajudar, como saberia que não iria trair nossa confiança? – ele havia feito menção de deixá-la sozinha, mas voltou-se no mesmo instante querendo ver a expressão no seu olhar.

- Por mais que eu quisesse, eu nunca conseguiria. – o que ele estava dizendo? Não estava acreditando no que havia dito... logo pra sangue-ruim sabe-tudo! Mas ela precisava saber que ele não era um traidor sem palavra, e isso causou uma angústia tremenda em seu peito. – Se você tivesse me dito que precisava de ajuda, eu não hesitaria em te socorrer. – Ela ainda sustentava o olhar que ele lhe enviava. Parecia não entender o que estava escutando. – Mas você sempre teve o Potter, o Weasley e até o Krum por perto, não é mesmo? Eu nunca fui uma opção na sua lista.

Ela estava atônita, não sabia o que dizer. Será que ele estava sendo sincero? Aquele olhar que demonstrava sofrimento era real? Será que, se ela pedisse, ele passaria para o lado deles?

- Olha Malfoy... eu sinto muito, mas se você quiser nos ajudar…

- Nos ajudar? Eu não quero que você peça pra que eu fique do lado de vocês agora, pra ser um coringa nas suas mãos contra o meu pai. Você nunca cogitou esta possibilidade antes de ouvir o que eu falei, não precisa mudar de idéia agora.

- Eu não disse isso Malfoy, você entendeu tudo errado. – ela tentava se explicar, mas ele estava indo embora.

- Não disse, mas pensou. Pensa que eu sou um idiota? – ele suspirou sem voltar-se para fitá-la. - Eu também tenho amor próprio... orgulho… sentimentos. – ela ficou muda, enquanto ele suspirava e deixava-a sozinha com seus pensamentos e olhos marejados.

FIM DO FLASHBACK

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