Capitulo único!





A ruiva, estendida no chão, abanava-se com um pedaço de pergaminho que fora um dever de casa. Primeira tarde de verão e o calor já era maçante. Todos no jardim da escola pareciam tão entediados que nem ligavam para o fato de ser o ultimo fim de semana do ano letivo.
- Gina, você está entediada? – Perguntou a morena ao seu lado.
- O que você acha Sophia?
- Ai, não precisa ser grossa... eu só queria sugerir uma coisa pra gente fazer...
- Ta certo, desculpa – disse Gina em tom culposo. – O que você quer sugerir?
- Eu estou vendo logo ali as meninas do nosso dormitório... nós poderíamos jogar verdade ou mentira com elas..
- Verdade ou mentira? Eu não jogo isso desde os meus onze anos!
- E daí, Gina? Só porque você tem dezesseis anos não quer dizer que não pode se divertir...
A ruivinha bufou devido ao tom de superior que a amiga usava para falar. Acabou pensando melhor e decidiu que seria mais divertido jogar do que ficar ali deitada olhando para o nada. As duas levantaram-se e convidaram outras amigas para jogarem. Uma roda de nove garotas formou-se no chão.
- Eu começo – disse Mary, uma loira da qual Gina não gostava muito. – Deixa-me ver uma história... ta, vou contar. Quando eu era pequena meu pai tinha um cachorro gigante. Esse cachorro ficava numa sala especial da nossa casa. Mas um dia eu abri a porta da sala e entrei, porque eu queria ver o tal cachorro que meu pai nunca deixava eu chegar nem perto. O cachorro estava dormindo, de boca aberta. Eu era tão pequena que engatinhei pra dentro da boca dele e resolvi brincar lá. Claro, o cachorrão acordou e fechou a boca, mas eu comecei a gritar. Então meu pai entrou na sala e matou o cachorro com um feitiço, me tirando da boca dele logo depois. Só que eu saí dessa aventura sem nem um arranhãozinho! Verdade ou mentira?
Todas na roda riram e levantaram a mão ao mesmo tempo, certas de que aquilo era mentira. Mas Mary escolheu Gina, que também tinha a mão levantada, para responder.
- É verdade – disse a ruiva, convicta.
As presentes estavam boquiabertas com a resposta, mas Mary parecia a mais chocada de todas. Gaguejando respondeu:
- É... é, verda... de.
- Que? – As garotas perguntaram.
- Não pode ser, Mary, você está mentindo... – Alguém disse de um lado.
- É impossível uma criança pequena sair inteira de uma aventura assim – disseram do outro.
- Não, não, é verdade sim – disse a loira, chateada. – Se quiserem, perguntem para o meu irmão.Mas agora diz, Gina, qual é a prenda que eu vou ter que pagar?
Quem prestasse atenção, veria nos olhos da ruiva uma satisfação prazerosa no momento em que começou a falar:
- Eu vou te fazer um feitiço e transformar seus braços em asas. Depois você vai ter que correr pelo jardim inteiro por um minuto, batendo as asas e gritando: cocó, cocó, eu sou uma galinha!
Sem poder reclamar, Mary fez tudo que havia sido imposto a ela. Gina tinha escolhido aquilo por achar a loira extremamente galinha, desde o dia em que um namorado seu a havia traído com ela. Era a vingança perfeita.
Todos os alunos riram bastante com o show, mas depois de um minuto correndo por aí, Mary voltou para que o jogo continuasse. Algumas rodadas depois e várias prendas pagas, chegou a vez de Gina contar sua história.
- Muito bem... – começou -... quando eu tinha cinco anos meus irmãos fizeram uma experiência e acharam que seria bom experimentar em mim. Eles me deram um pirulito que me fez ficar com sardas azuis por todo o rosto. Ninguém conseguiu tirar as sardas e o jeito foi me levar no hospital para resolver aquilo. Verdade ou mentira?
Como todos conheciam a fama de Fred e Jorge, achava que diriam que a história era verdade, apesar de ter inventado tudo, do começo ao fim. Mary foi a primeira a levantar o braço e, portanto, respondeu.
- Eu acho que é mentira.
O rosto da ruiva ficou mais branco que o normal. Mordendo os lábios ela respondeu.
- Ta certo... é mentira.
Um sorriso de vitória ocupou os lábios da loira. Ela olhou em volta pensando um pouco. De repente seu rosto se iluminou com uma idéia.
- Você vai ter que beijar, de língua, um garoto, mas eu vou escolher qual. Só que você não pode falar nada pra ele, tem que chegar em silencio, beijar de surpresa e voltar pra cá em silencio! O seu alvo será... Draco Malfoy.
Gina foi obrigada a ver a loira apontando para o garoto que ela mais odiava no mundo. Não tinha remédio se não cumprir a prenda, ou ninguém falaria com ela durante cinco meses, esse era o castigo pra quem não cumprisse o que fosse dito.
Levantou-se diante dos olhares atentos das amigas. Recebeu palavras de encorajamento de quase todas enquanto se afastava da roda. Aproximou-se sorrateiramente de Malfoy, prendeu a respiração, olhou mais uma vez para as garotas e finalmente o agarrou. Foi fácil no começo, pois ele ficou paralisado e ela pode forçá-lo a beijá-la. Teve nojo de sentir a boca dele contra a sua, mas a tortura durou apenas um segundo. Ele finalmente tomou consciência de quem o estava beijando e a empurrou bruscamente para longe. Gina fechou os olhos ao sentir o chão ir contra si. Algumas lágrimas brotaram no momento em que se deu conta da dor e da humilhação que passava.
Levantou-se e correu para o castelo, passando pela rodinha e dizendo em alto e bom som que não queria mais jogar.

:::TEMPO:::

Fazia dois dias que beijara o Malfoy por causa do maldito jogo. Seu irmão se recusava a falar com ela, pois achava ridículo que uma Weasley se rebaixasse a beijar um garoto inimigo de toda a sua família só por causa de um jogo. Harry o acompanhava nisso e Mione servia apenas para repreendê-la. A escola inteira já sabia do acontecido e muitos a olhavam o tempo todo com desprezo. Em sua própria casa ela ouvia piadinhas sobre o episódio.
As únicas que falavam com ela eram as amigas do jogo e, mesmo assim, ela se sentia um tanto quanto indignada por ninguém ter protestado com Mary sobre a prenda. Por isso Gina Weasley estava andando sozinha nos corredores do castelo naquela noite onde acontecia o jantar de encerramento do ano.
Virando pensativa em um corretor, não prestava atenção no caminho que ela achava estar vazio. Provavelmente por isso foi de encontro com o corpo maciço de alguém. Ela e a outra pessoa foi ao chão.
Levantou-se olhando o próprio pé, que parecia torcido, enquanto se desculpava. Quem dera não tivesse se desculpado...
- Weasley, quer dizer que além de beijar garotos a força agora você também é cega?
- Ok, Malfoy. Desculpa por ter esbarrado em você e desculpa por ter te beijado a força. Acho que você já sabe que eu nunca te beijaria de livre e espontânea vontade, foi tudo por um jogo. Então por favor sai da minha frente e me deixa passar.
- Nossa, além de pobre, cega e beijadora de garotos a força, é também muito sem classe e mal educada. E devo frisar o cega, afinal, qualquer garota em sã consciência quer me beijar.
- Malfoy, sai da frente!
Gina tentou passar por ele a força, mas foi impossível. Ele a segurou firme e fez algo totalmente inesperado. A encostou à parede e sussurrou muito próximo ao seu rosto.
- Weasley quer beijar Malfoy, verdade ou mentira?
- Mentira! Me larga!
- Resposta errada. Sua prenda é me beijar.
Ele encostou os lábios nos da ruiva e forçou sua língua para dentro da boca dela. Gina tentou se debater, gritar, esmurrar ele, mas nada deu certo. Então um flash passou por sua cabeça: o cara mais gato da escola estava tentando beijá-la. O que havia de mal nisso? Ela o odiava, certo, mas isso não era empecilho. Relaxou o corpo e deixou o beijo acontecer.
Os boatos de que Draco Malfoy tinha o melhor beijo do mundo foram comprovados naquele momento. O beijo, de mais de dois minutos, foi interrompido para que os dois recuperassem o fôlego.
- Eu disse que qualquer garota em sã consciência quer me beijar.
- Você tem razão, verdade ou mentira?
- Claro que é verdade.
- Mentira. Sua prenda agora é me beijar.
O resto foram beijos, verdade ou mentira?

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