Rato, Cão e... Veado?!

Rato, Cão e... Veado?!



A professora McGonagall guiou-os pelos corredores do castelo até à sua sala. Já dentro da sala, acendeu várias velas com um movimento de varinha. Dirigiu-se para a secretária e sentou-se.

James e Sirius seguiram-na, mas permaneceram de pé, de frente para a professora McGonagall.

— Sentem-se — indicou, apontando para as cadeiras que estavam à frente de James e Sirius.

Obedeceram de imediato. Já estavam em maus lençóis para contrariar também a professora McGonagall

— Estão cientes da gravidade do vosso acto?

— Sim, Professora! — responderam em uníssono.

— Portanto, ficam já a saber que, e por muito que me custe, serão retirados aos Gryffindor cinquenta pontos. Cada um — acrescentou. — Os dois irão cumprir um castigo que ainda vou decidir; serão avisados mais tarde.

— Sim, Professora! — responderam novamente em uníssono.

A professora encostou-se na cadeira, cruzou os braços e pôs-se a olha-los, por cima dos seus óculos quadrados, um de cada vez. Respirou profundamente, endireitou-se na cadeira e colocou as mãos sobre o tampo da secretária.

Sirius e James, não se atreveram sequer a sair do lugar, nem a olhar para a professora McGonagall.

— Gostei de saber — Os dois deram um salto. — que, na minha equipa, não existem preconceitos estúpidos face aos descendentes de Muggles. Mas não era o caso tão forte, que vos fizesse atacar um colega! — acrescentou ao ver o sorriso de James e Sirius —, mesmo que ele pertença aos Slytherin. Quer que, daqui em diante, seja avisada sempre que um vosso colega seja insultado.

— Sim, Professora!

— Podem ir. Estão dispensados. Amanha ser-vos-ão entregues os castigos.

Sirius e James, depressa saíram da sala de Transfiguração. Sem dirigirem a palavra um ao outro, dirigiram-se de imediato para a torre dos Gryffindor. Entraram no corredor da Dama Gorda e aceleraram o passo para entrar pelo buraco na sala comum.

Sentada num dos cadeirões, que estavam em frente da lareira, estava Lily que, mal os viu se levantou para ir ao encontro deles.

James e Sirius passaram por ela e foram sentar-se. Cada um afundou-se num cadeirão, de olhos fixos nas chamas que devoravam os troncos de madeira.

— Então? — arriscou Lily qu voltou a sentar-se.
Nenhum dos dois respondeu; apenas encolheram os ombros, sem sequer olhar para Lily. Continuaram totalmente afundados nos cadeirões.

— Aposto que eles não serão castigados — disse por fim Sirius.

— Dumbledore não deixará. Foi ele que nos aplicou o castigo, apenas entregou aos chefes de equipa a escolha da punição — assegurou James.

— Mesmo assim, perdemos cem pontos de uma vez. E tu sabes que o Kent nunca tira pontoa à própria equipa.

— Castigo?! Mas… mas foi o Malfoy que começou! — interrompeu Lily que se sentara perto deles.

— O James deu o troco. Lançou um feitiço e atingiu a Crabbe em cheio no nariz.

— Estava a pedi-las! — arrematou James

— Não o viste na enfermaria? — inquiriu Sirius.

— Não. Deixei lá o Peter e saí para ir ao vosso encontro mas não os encontrei. Cruzei-ma com Mary no corredor, mas ela também não me disse nada. — disse Lily.

— Foi tudo por causa dela. Lembra-me para que de hoje em diante nunca mais me meter entre ela e os Slytherin — resmungou Sirius. — são da mesma equipa que se entendam.

— Ela não o fez por mal… — defendeu-a Lily.

— Ela não o fez por mal! — gozou James. — Por acaso já repares-te que sempre que ela esta por perto os Slytherin acabam por nos insultar? E eu já tenho a minha cota de insultos. Se alguma vez mais for insultado por alguém dos Slytherin, não respondo pelos meus actos; perca pontos ou não, não os deixarei a rir,

— Concordo contigo, James! — apoiou Sirius.
Lily deu aos ombros, pegou num livro que estava esquecido na mesa ao lado e começou-o a ler.

Ao fim da tarde, Peter regressou à Torre, totalmente restabelecido. Todas as borbulhas de mau aspecto que lhe tinham coberto o rosto tinham desaparecido, sem deixar marcas.


Remus não apareceu na escola durante uma semana. Elementos das outras equipas, abordavam Sirius ou James a perguntar por ele. A notícia que saíra n'O Profeta Diário percorrera a escola como um rastilho de pólvora, por isso era do conhecimento de todos os alunos que o pai de Remus falecera.

Os Slytherin lançavam sorrisos de gozo sempre que passavam por James, Sirius ou Peter. Este passou a ser a chacota principal dos sarcasmos dos Slytherin, principalmente daqueles que assistiram ao conflito com os Gryffindor, no último dia de férias.

Mary, cada dia que passava, ficava mais preocupada com Remus. Afastara-se definitivamente de Lily e dos restantes companheiros, e por isso não conseguia saber o que se passava. Todas as manhãs, olhava instintivamente para a entrada do Salão, mas Remus não atravessava as portas.

Porém, no início da segunda semana de aulas, depois das férias de Natal, Remus entrou de cabeça baixa no Salão e foi sentar-se entre Sirius e James. Eles olharam para ele mas não lhe dirigiram a palavra continuando a tomar o pequeno almoço.

Mary arriscou olhar para Remus, mas este não reparou; estava rodeado pelos colegas que o tentavam animar sem êxito. Mary precisava falar-lhe, de saber como se sentia mas não sabia como fazer.

Os Gryffindor do quinto ano levantaram-se para irem assistir à primeira aula do dia, levando Remus quase que empurrado para fora do Salão. Mary ficou a vê-los a afastarem-se sem saber o que fazer.

A hora do almoço chegou com grande rapidez. Na última aula, Mary escreveu um bilhete para Remus, só não sabia como o entregar. Mal deu o toque de saída, arrumou as suas coisas no saco e saiu da sala quase a correr.

Só havia uma maneira de o conseguir sem levantar suspeitas da parte dos Slytherin, que começaram a segui-la por todo o lado; tinham jurado vingança contra Mary e os Gryffindor pelo o que acontecera no último dia de férias.

Mary caminhava rapidamente pelo corredor que a levava ao Salão para o almoço. Do lado oposto vinha Remus isolado dos restantes companheiros que caminhavam mais à frente. É agora! Pensou. Apressou o passo e bateu de frente contra Remus, que fez com que ela caísse de costas no chão.

— Vê por onde andas, esquisito! — disse em voz alta para que todos aqueles que os rodeavam escutassem.

— Mas… — Remus ficou confuso com aquela reacção, não fora nada parecida com a daquele dia na biblioteca. Estendeu o braço e ofereceu-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.

— Não preciso da tua ajuda! — Mary continuava a falar em voz alta.

Remus olhava com espanto para Mary, ainda de braço estendido na sua direcção. Mesmo antes de baixar o braço, Mary agarrou-lhe a mão e levantou-se. De olhos postos em Remus sussurrou de modo que só ele escutasse:

— Desculpa! Agarra o que tenho na mão.

Remus confirmou com um aceno de cabeça.

Com grande brusquidão, Mary largou-lhe a mão e dirigiu-se para o Salão. O seu plano tinha resultado, melhor do que esperava. Ao dirigir-se para a mesa dos Slytherin não conseguiu evitar um ligeiro sorriso de satisfação.

— Que palhaçada foi aquela? — perguntou Sirius que voltara para junto de Remus com os outros.

— E eu é que sei! — respondeu enquanto escondia o que Mary lhe tinha entregado no bolço. — Vamos almoçar, estou cheio de fome!

Entraram no Salão, enquanto se dirigiam para o lugar, Remus olhou para a mesa dos Slytherin à procura do olhar de Mary, mas esta estava de costas para a entrada.

Além de ter dito que tinha fome, praticamente não tocou na comida. Com os pensamentos na bilhete que Mary lhe entregara, mexia sem interesse na comida que tinha no prato.

Os amigos conversavam alegremente, alheios ao que estava a sentir naquele momento. A morte do pai, os sentimentos que cresciam por Mary, a morte do pai… A sua imagem frágil deitado sobre a cama… O seu último pedido: "Sê feliz, Remus.". Arrumou de uma vez o prato e levantou-se para sair da mesa.

— A onde vais? — perguntou James.

— Não estou a sentir-me bem! Vou até aos dormitórios descansar um pouco antes das aulas da tarde — e, sem esperar a compreensão ou reacção dos amigos, saiu do Salão cabisbaixo.

James levantou-se para o seguir mas Lily agarrou-o pelo braço. — Deixa-o, ele precisa de estar sozinho. — James, contra a vontade, voltou a sentar-se.

Remus encontravas no vestíbulo de entrada parado, indeciso para onde haveria de ir: se Subiria para os dormitórios, como dissera, ou se sairia para o exterior do castelo? Decididamente o exterior era mais convidativo. Abriu as grandes portas de madeira e deparou-se com um lindo céu azul; o sol brilhava e os raios que lançava batiam na fina camada de neve, ofuscando-o com o brilho.

Desceu os degraus de pedra e dirigiu-se para a margem do lago. Sentou-se por detrás de um grande arbusto, escondendo-se de tudo e de todos. Sentia uma pequena irritação no canto dos olhos, uma pressão no peito que teimava em se libertar. Abraçou os joelhos e deixou as emoções surgirem à flor da pele.

Quando Mary acabou de almoçar saiu do Salão para assistir à primeira aula da tarde. Mas antes de atravessar as portas, arriscou olhar para a mesa dos Gryffindor. Remus não estava entre os amigos, nem em nenhum outro lugar da mesa. Onde estará? Pensou. Sem se preocupar mais saiu para o vestíbulo: — Talvez esteja a ler o que lhe escrevi? — murmurou e afastou-se para o exterior do castelo, caminhando na direcção das estufas onde iria ter Herbologia com a professora Sprout.

Remus não apareceu durante as aulas da tarde. Sirius e James procuraram por ele nos dormitórios do quinto ano mas não o encontraram. Peter procurou-o na enfermaria e Lily pela biblioteca, ambos sem excito.

Porém, Remus continuava junto do lago, oculto pelo arbusto, longe dos olhares dos amigos que o procuravam. Limpou as lágrimas dos olhos com as mangas do manto e continuou sentado a olhar para a superfície do lago que começava a adquirir os tons avermelhados do entardecer.

Sirius, James, Peter e Lily continuavam desesperados à procura dele. Começavam a temer o pior. Dos quatro, o único que parecia ter bom senso era Lily.

— Ele deve estar escondido em algum lugar! Se ainda não apareceu é porque quer estar sozinho.

— Mas procuramos por todo o lado! — exaltou-se James. Mas de repente o seu olhar ganhou um brilho de triunfo e de dúvida. — Ele pode estar…

— Não procuramos junto do lago? — questionou Lily.

— Está demasiado frio para estar lá fora — Sirius pôs de parte a ideia de Lily. Depois olhou para James e concluiu: — E não acredito que ele tenha ido para lá, James.

— Acho que tens razão — James compreendeu o que Sirius quis dizer.

— Talvez, ele esteja na cabana… — começou Peter.

— Ele não costuma visitar o Hagrid! — interrompeu-o de imediato Sirius, lançando-lhe um olhar a avisá-lo que, mais uma vez, estava a falar de mais.

— Bem, vamos jantar. Ele acabará por aparecer — concluiu James.

Entraram no Salão logo atrás de alguns elementos dos Ravenclaw.

Mary, que se encontrava perto deles, escutou toda a conversa. O lago era uma possibilidade para estar em sossego. O dia estivera bonito, mas era mais agradável estar no interior do castelo do que no ambiente gelado que pairava sobe o recinto. Por isso, poucas pessoas usufruíram do primeiro dia de sol de janeiro. Entrou no Salão, mas desta vez teve o cuidado de se sentar de frente para a entrada; talvez Remus ainda aparecesse para o jantar. Mas as suas expectativas foram em vão. Remus não aparecera durante o jantar.

Mesmo antes da sobremesa, saiu do Salão. Sem que ninguém a visse, saiu para o ar frio da noite. Os olhos percorreram a imensidão negra do lago, sem o ver em parte alguma.

Caminhou durante algum tempo pela margem do lago. Estava quase a desistir quando ouviu alguém a suspirar, por de trás do arbusto que estava a seu lado. Aproximou-se mais um pouco e voltou a escutar o mesmo som.

Silenciosamente, contornou o arbusto e encontrou Remus, totalmente encolhido, abraçado aos joelhos, alheio a tudo aquilo que acontecia à sua volta. Aproximou-se de Remus colocou a mão sobre o ombro e fez uma ligeira pressão. Remus retribui-lhe o gesto ao colocar a mão sobre a dela.

— Os teus amigos procuram-te — disse Mary ao sentar-se a seu lado. — mas, definitivamente, não se lembraram de procurar aqui!

Remus não lhe respondeu, continuou a acariciar-lhe a mão em silêncio. Mas, de repente, algo o faz despertar, na sua mente surge a cena que Mary provocou na hora do almoço; largou-lhe a mão e olhou para ela com repulsa.

Mary retirou a mão do seu ombro e corou. Sentiu uma pequena pressão no peito que a fez desconfiar o motivo da reacção e do olhar que Remus lhe dava nesse momento.

— Desculpa, pelo o que aconteceu na hora do almoço. Foi o único modo que encontrei para te entregar o bilhete — justificou-se Mary.

— Não o li.

— Oh! Não tem importância. Só perguntava como é que te sentias…

— Por que não fizes-te isso pessoalmente?

— Não podia! — respondeu tristemente. — Sirius e James apanharam outro castigo, só por me defenderem. O Malfoy e o Snape juraram vingança se eu me aproximasse de vocês.

— Não deves ligar ao que esses palermas dizem!

— Eu… eu só não quero arranjar mais confusões.

O silêncio da noite instalou-se entre os dois. As estrelas projectavam a sua fraca luz na superfície negra do lago. Ao longe, por detrás de uma montanha, espreitava ume tímida lua, ainda crescente, dando à noite um tom prateado.

— Como é que te sentes? — perguntou Mary.

— Bem…

Voltaram a ficar em silêncio. Mary sabia, ou melhor, notara que Remus não estava bem. Como é que ele poderia estar bem se acabou de perder o pai? Se estivesse bem não evitava os amigos, escondendo-se. Se estivesse não estaria daquele jeito, triste a amargurado com a vida.

— Remus… — disse Mary ao colocar-lhe novamente a mão sobre o ombro.

Então, Remus abraçou-a e desabou nos seus braços. Poisou a cabeça no ombro dela e chorou, chorou, chorou…

Mary ficou sem reacção. No principio deixou-se estar quieta, mas depois deu-se conta que o abraçava com carinho. Sentiu nos seus braços a fragilidade do homem que o seu coração começou a desejar há muito tempo. A fragilidade de um adolescente que teve de crescer de repente, de um momento para o outro. A fragilidade de um ser que se viu privado do apoio moral do seu pai, do seu confidente… Sobre os seus braços estava agora um trapo velho que precisava de ser remendado para continuar a sua caminhada.

— Remus… — chamou docemente. — Remus…

— Sinto a falta dele — disse num tom quase sumido. — nunca pensei que perdê-lo iria marcar-me tão profundamente. Eu já sabia que um dia tudo iria acabar, que haveria de ter um fim. Mas… Eu não estava preparado! Acho… acho que nunca estive preparado!

— Eu sei o que sentes! — tentou acalma-lo. — Bem… Imagino o que sentes! É muito difícil perder alguém de quem gostamos muito. Mas, como eu te disse naquela noite junto do lago: "Lembra-ta que ainda tens a tua mãe.".

— Eu sei! Só que…

— Reage Remus, não mostres a tua fraqueza ou ela… deve-lhe ter custado tanto a ela como a ti, ou ainda mais. Ela perdeu o seu companheiro, a sua outra metade… De um momento para o outro viu-se sozinha — Mary afastou e olhou-o nos olhos, agarrando-o pelos ombros. — Ela precisa de ti, agora mais do que nunca!

O silêncio da noite caiu de uma vez sobre a escola, sobre os campos… Sobre tudo o que os rodeava. Permaneceram por algum tempo de olhos postos um no outro. Cada um tentava ver a alma do outro através do olhar.

Remus, muito lentamente, aproximou o seu rosto do de Mary. Queria tanto beijá-la. Mary entreabriu a boca e ficou à espera de ser beijado pela segunda vez, num espaço de um mês. Mas, Remus acordou daquele sonho, limpou as lágrimas e levantou-se. Todo o encanto do momento tinha sido quebrado. Estendeu a mão e ajudou Mary a levantar-se.

— O que eu preciso é de uma boa noite de sono — comentou para afastar os pensamentos do que quase aconteceu. — Não durmo bem desde… desde que o meu pai…

— Tens razão. E eu tenho a certeza que, depois de uma noite bem dormida, acordarás muito melhor!

— Sim… Provavelmente. — respondeu ao dirigir-se para o castelo.

Entraram no castelo o mais silenciosamente possível; já era demasiado tarde e não queriam correr o risco de serem apanhados por alguém. Remus parou, no meio do vestíbulo de entrada, e olhou para Mary.

— Obrigado pelas tuas palavras.

— Ora! Não foi nada. Tu farias o mesmo por mim. Aliás, já o fizeste!

— É… tens razão.

— Até amanhã, Remus.

— Até amanhã — Respondeu ao dar-lhe um beijo na face.

Remus foi directo para a torre norte, a Torre dos Gryffindor. Já não esperava encontrar alguém na sala comum. Enquanto caminhava, pensava em tudo o que lhe acontecera nas últimas semanas: a carta da mãe a pedir a sua comparência em casa, nas férias do Natal; o beijo que dera a Mary, o seu primeiro beijo; os últimos momentos, carinhos, sorrisos do pai; a morte… a morte do pai.

Sem se dar conta do percurso que fizera, já se encontrava de frente com o retracto da Dama Gorda. Ficou por um tempo parado com um olhar perdido.

— Então! Decidis-te dormir no corredor e de pé? — perguntou a Dama Gorda.

— Desculpe, Jiggery Pokery! — respondeu Remus.

A Dama Gorda afastou-se, mostrando atrás de si a entrada da Torre. Remus entrou no silêncio enganador da sala comum. A um canto, junto da lareira, estavam sentados Sirius, James, Lily e Peter em silêncio a olhar para as labaredas do fogo. As suas sombras eram projectadas fantasgoricamente na paredes da sala.

— Por onde é que ele andará? — questionou Sirius sem se mover do lugar.

— Isso queria eu saber! — replicou James. — Como é que ele estará? Aconteceram-lhe tantas coisas…

— Eu estou bem!

— REMUS! — gritaram os quatro em uníssono, saltando no lugar.

— A onde é que tu te enfias-te? — ripostou James. — Procuramos por todo o castelo e nem sinal de ti em lugar nenhum!

— Bem, acho que não procuraram bem. Esteve sempre ao pé do lago — respondeu Remus.

— Eu sabia! — exclamou Lily. — Eu disse que ele podia lá estar! Mas, o Mr. Black pôs a ideia de lado e por sua causa revirámos o castelo à tua procura — resmungou de braços cruzados sobre o peito.

— Mas aqui, o Mr. Black pensou que o Mr. Lupin não era suficientemente maluco para estar no exterior do castelo! Afinal, estava demasiado frio — respondeu irritado à acusação de Lily.

— PAREM os dois! — interrompeu Remus. — Por acaso, já vos ocorreu que eu queria ficar sozinho? Por acaso, já vos ocorreu que se eu precisasse de ajuda tinha ficado convosco? É bom ter amigos, mas às vezes sinto-me sufocado com vosso exagerado zelo. Agradeço, de todo o coração, a vossa preocupação.

Os quatro escutavam-no em silêncio. Remus sentou-se entre eles e continuou:

— Só que às vezes, eu quero estar sozinho. A minha vida é solitária. Desde de há muito tempo que comecei a afastar-me, a isolar-me de todos aqueles que me rodeavam. Eu sou assim…

— Remus! — murmurou Lily com os olhos húmidos.

— É bom ter amigos — afirmou. — Mas às vezes prefiro ficar sozinho. Preciso de pensar, de reflectir, de estar só…
— Não estás só! Tens-nos a nós e estaremos ao teu lado, sempre que precisares — disse Sirius.

— Eu sei. Só quero que respeitem a minha vontade, como ela a respeita…

— Ela?! — perguntou Sirius. — De quem estás falar?

— Não é ninguém — respondeu encabulado. — Vou deitar-me, boa noite.

— Boa noite — responderam em uníssono.

Remus levantou-se cabisbaixo e dirigiu-se para os dormitórios. O que me passou pela cabeça para falar de Mary, assim sem mais nem menos? Porque é que ela não me saí do pensamento? Porque é que ela insiste em ajudar-me? Porquê?! Remus, entrou no dormitório e fechou a porta atrás de si. Os seus sentimentos estavam todos baralhados.

— Porque é que me sinto tão bem junto dela? — desabafou.

— De quem é que ele estava a falar? — perguntou Peter.

— Não sei! — respondeu James ao olhar para o ponto onde Remus desaparecera.
Depois, olhou para a lareira e suspirou. James sabia muito bem a quem é que Remus se referia: Mary Grant. Só podia ser ela! Não o vira a olhar para outra colega. Mas aquela reacção dela ao embater em Remus, na hora do almoço, deixara-o confuso. Estaria a falar de outra? Não, James já o vira muitas vezes a suspirar por causa dela.


A lua cheira aproximava-se rapidamente. James, Sirius e Peter, um pouco arrastado pelos outros dois, começaram a ficar eufóricos. Agora, tinham tudo o que precisavam para dar certo. Tinham o manto da invisibilidade de James, que os protegeria contra os olhares indesejáveis do Filch, do Hagrid, de todos aqueles que podessem atravessar o seu caminho, até de Peeves que gostava de andar pelos corredores à noite.

Depois daquela noite, afastaram-se um pouco de Remus; deram-lhe espaço para que ele superasse os seus problemas. E, Remus agradecia esse afastamento. Eles não o incomodavam, mas a morte do pai fez com que ele amadurecesse e havia certas brincadeiras, de Sirius e James, que já não lhe provocavam a mesma reacção que provocavam antes.

Mary continuava com o seu afastamento. Sempre que os seus olhares se cruzavam nos corredores, no salão ou durante as aulas que tinham em conjunto, não dirigiam uma única palavra, apenas sorriam. Um sorriso sincero que queria dizer tudo aquilo que os seus corações ainda não queriam aceitar.

Na noite anterior à da lua cheia, Remus despediu-se dos amigos e saiu da sala comum. Só que desta vez, custou-lhe mais a ir para o seu refugio em Hogsmeade. Remus não conseguia explicar o porquê, mas de uma coisa estava certo: estava farto daquela situação; estava farto de todos os meses repetir a mesma rotina; de todos os meses se isolar do mundo para se transformar num monstro, capaz de destruir tudo o que o rodeava.

Entretanto, na sala comum, James, Sirius e Peter aguardavam que todos os colegas se recolhessem para os dormitórios. Muito lentamente, a sala comum ia ficando vazia. James subiu até ao dormitório e trouxe consigo o manto da invisibilidade escondido debaixo do manto que tinha vestido. Sentou-se mo mesmo lugar, entre o Sirius e o Peter, e aguardou com eles que a sala ficasse de uma vez vazia Um a um, à excepção deles os três, todos os Gryffindor se recolheram para os dormitórios.

— Prontos? — perguntou Sirius.

— Pronto! — respondeu James.

— Sirius, achas… Sirius, achas que isto… que isto vai dar certo? — perguntou Peter medrosamente. — Será que Remus… Será que Remus não nos vai atacar, mesmo transformados em animais?

— Estás com medo? — questionou Sirius.

— Não é medo… É preocupação! — defendeu-se Peter.

— Olha, Peter, já estamos fartos de te explicar que: uma vez transformados em animais, começamos a agir como tal e Remus não nos atacará — disse James.

— Mas se estás com medo, sempre podes ficar no dormitório para não atrapalhar! — concluiu Sirius.

James e Sirius começaram a cobrir-se com o manto, completamente ocultos dirigiram-se a Peter.

— Vens? — perguntou Sirius firmemente.

— Peter, põe esse teu medo de lado e vamos surpreender um amigo, que a esta hora está sozinho. Temos que animar Remus! — pediu James.

— Está bem, eu vou — disse por fim Peter. — Mas, se alguma coisa corre mal, nunca mais vos dou ouvidos.

— Descansa, não vais haver problema — sossegou James ao abrir o manto para que Peter ficasse também oculto.

Começaram a caminhar para a saída da torre um pouco aos encontrões. Deram um tropeção ao sair da torre, fazendo com que a Dama Gorda acordasse com o barulho. Mas, mesmo com os olhos esbugalhados, não conseguiu ver quem fora o causador daquele estrondo.

Mais à frente, já longe da entrada da Torre dos Gryffindor, voltaram a tropeçar. Sirius, que fora pisado por Peter, começou a resmungar.

— Sht! Temos que fazer pouco barulho — disse James — O manto só nos encobre não abafa os sons!

— Foi este palerma que me calcou — rosnou Sirius.

— Então, vamos andar mais devagar e sincronizados. Senão, ainda seremos apanhados! — suplicou James.

Um pouco mais acertados com o andamento, percorreram os corredores escuros de Hogwarts. Passaram, certa altura, pela Mrs. Norris, e ficaram na dúvida se o manto os tornaria invisíveis aos olhos dos animais. A gata apenas miou e ficou sentada, no mesmo lugar, a olhar para o local onde eles estavam.

— Será que ela nos vê? — questionou Peter.

— Está calado! — sussurrou Sirius.

— Calem-se os dois! — ordenou James no momento em que Mrs. Norris se levanta e começa a caminhar pelo corredor. — Vamos embora, antes que ela chame o Filch.

Começaram a correr pelo corredor sem ter o mínimo cuidado com o barulho que faziam ou se estavam devidamente cobertos pelo manto. Contornaram e correram por vários corredores, desceram várias escadas sempre a correr com medo que Filch aparecesse a qualquer momento. Só pararam no fundo da grande escadaria de mármore. Bastante ofegantes, por causa daquela correria, sentaram-se no último degrau a recuperar o fôlego.

No meio do vestíbulo, Peeves jogava ténis contra a parede, perto da porta de entrada.

— James, pega no manto. Ele pode ver-nos! — disse de repente Sirius.

James obedeceu de imediato à ordem Sirius. Pegou no manto e cobriu-os mesmo a tempo. Peeves parou com a diversão. Provavelmente ouvira algum murmurinho ou alguma agitação perto da escadaria.

Muito lentamente, aproximou-se. Sobrevoou o lugar onde eles estavam, os seus olhos varriam o vestíbulo à procura do causador da agitação de à pouco.

— Ainda vamos ser apanhados outra vez — choramingou Peter.

— Sth! Está calado! — resmungou Sirius.

Peeves parou de repente. Desta vez teve a certeza de que andava ali alguém a fazer barulho; alguém estava escondido algures.

— Andam por aqui coisas invisíveis! Andam, andam…! Acho que o Filch não vai gostar. Não vai não…

Ficaram estáticos. Se começassem a correr seriam descobertos; se fizessem o mínimo movimento Peeves os ouviria, sem sombra de dúvida. Estavam num impasse sem saída.

Entretanto, Peeves continuava a fazer movimentos circulares por cima das suas cabeças. Mas acabou por desistir na sua busca, por mais que procurasse não encontrava nada. Irritado, subiu para o andar de cima a cacarejar.

Esperaram um pouco não fosse ele voltar para trás. Quando constataram que Peeves voltou a aparecer, seguiram o seu caminho sempre atentos a qualquer roído.

O exterior do castelo estava no calmaria medonha. Repararam que havia luz na cabana do Hagrid, desta vez não corriam o risco de serem apanhados. Sem perder mais tempo, atravessaram os campos na direcção do Salgueiro Zurzidor. Começaram a ficar esperançados, desta vez nada os deteria. Pararam por um momento. Como se aproximariam da árvore sem tirar o manto?

— Peter, transforma-te! — disse de repente Sirius.

— Porquê?! — questionou.

— Porque és o único que pode aproximar-se da árvore sem ser atingido pelos ramos — respondeu James ao entender o plano de Sirius.

— Como assim?! Em… em que animal me transformo? — perguntou receoso.

— Isso não importa agora. Só te digo que, dos três, tu és o único que tem a capacidade de tocar no nó das raiz sem a árvore atacar — disse Sirius.

— Mas eu quero saber! Tenho o direito de saber! Se não mo disserem, recuso-me a fazer o que me pedes — concluiu cruzando os braços sobre o peito.

— Peter, estou a perder a paciência — disse Sirius entre os dentes.

— Já disse que não vou sem saber…

— Um rato! És um rato — disse de repente James para ver se terminava com aquela discussão sem fundamento. — Satisfeito? És um rato com esses mesmos olhos pequenos e negros.

— Agora que já sabes, faz o que te pedi! — ordenou Sirius.

— Um rato!! — Peter estava incrédulo com o que ouvira.

— Anda lá, Peter! — pediu James. — O tempo urge. Daqui a pouco encontramos o Remus a dormir.

Então, num pequeno estalido, Peter transformou-se num rato e desapareceu pelo meio da erva que circundava a árvore. James e Sirius esperavam ansiosos por algum sinal. Viram Peter a serpentear pelo meio dos ramos e das raízes na busca do nó onde deveria tocar. O Salgueiro contorcia-se como se Peter estivesse a fazer-lhe cócegas. De um momento para o outro, a árvore ficou quieta, era o sinal que James e Sirius aguardavam.

Muito devagar aproximaram-se da entrada. Enfiaram-se de cabeça e escorregaram por um declive térreo que conduzia a um túnel muito baixo. James dobrou o manto e escondeu-o numa saliência. Atrás dele ouviu a voz de Sirius.

Lumus!

Na extremidade da varinha ficou iluminada. James e Peter seguiram-lhe o exemplo. O túnel ficou iluminado.

Curvados começaram a percorrer o túnel. Avançavam o mais depressa que lhes foi possível. Na sua frente a passagem nunca mais acabava. Respiravam com dificuldade, correndo dobrados.

E então o túnel começou a elevar-se. Momentos depois viraram e começaram a ver uma mancha de luz indistinta por uma pequena abertura.

Pararam um pouco, tentando respirar e seguiram em frente, com as varinhas na mão para ver o que se lhes deparava.

Era uma sala. Uma sala toda desarrumada. O papel das paredes estava arranhado e a descascar. Havia nódoas por todo o lado no chão, alguma mobília estava partida. As janelas estavam bloqueadas.

Saíram do buraco, olhando em volta. A sala estava vazia mas havia uma porta aberta do lado direito que dava para um corredor sombrio.

— Como é que vamos aparecer? Quer dizer… Ele pode estar violento com a proximidade da lua cheia. — questionou Peter medrosamente.

— É verdade! Não tinha pensado nisso! — disse James.

— A única solução é aparecermos na forma Animagus — disse Sirius. — Depois, de vermos a sua reacção, voltamos ao normal.

Nesse momento, ouviu-se qualquer coisa ranger. Algo se movera no andar de cima. Olharam para o tecto. O mais silenciosamente possível, esgueiraram-se para o hall e subiram a escada decrépita.

Chegaram ao patamar escuro.

Nox! — disseram ao mesmo tempo, e as luzes na extremidade das varinhas apagaram-se. Só havia uma porta aberta. Espreitaram e viram Remus sentado, cabisbaixo, na ponta da cama de dossel. Trocaram um último olhar, um último aceno e transformaram-se. Quando passaram pela porta, ouviram um gemido baixo.

Remus estava entediado, não tinha nada para fazer a não ser esperar que o seu corpo reagisse à lua cheia. Ouviu um roído junto à porta. Quando olhou, viu um rato a correr a toda a velocidade para debaixo da cama.

— Pelo menos, esta noite, terei companhia. Mesmo sendo a de um rato. — comentou.

Mas, havia mais movimento junto à entrada do quarto. Um enorme cão preto entrou seguido, logo atrás, por um veado.

Se o espanto de Remus já fora algum quando viu o rato entrar. Na altura que o cão e o veado entraram ficou de boca aberta

— Mas…! Mas por onde é que eles entraram?!

Os três animais começaram a circundá-lo. O rato subiu pelas suas costas e desceu pelo braço direito para o chão; o cão sentou-se aos seus pés e o veado pôs-se a olhar para ele. Um a um, voltaram ao normal sob o olhar de espanto de Remus.

— Peter, Sirius e… James?!

— Olá, Remus — disseram em uníssono.




N.A.: Bem, estes capitulos são o meu presente para aqueles que me pediram que editasse mais alguns. Por isso, aqui estão mais quatro de uma vez.

Mais surpresas vem por aí. Será que Remus vai deixar de parte o seu problema e agarra o amor de Mary? E quem é Mary Grant afinal? Não percam os próximos capitulos.

Um aviso: ainda vai demorar um pouco para actualizar. o meu PC anda meio marado e neste momento para aceder à internet uso o PC de uma colega. E como é de esperar não posso estar sempre a ocupa-lo.

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