O Começo

Sirius Black, James Potter, Remus Lupin e Peter Pettigrew estudavam na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, dirigida por Albus Dumbledore, um dos maiores feiticeiros de todos os tempos.

Quando andavam no segundo ano, três deles, descobriram um grande segredo. Todos os meses, Remus Lupin, ausentava-se da escola. Por mais desculpas que desse, não conseguiu esconder a verdade por muito tempo. James e Sirius começaram a reparar que Remus ausentava-se durante o período da lua cheia.

Por isso, numa noite, depois de todos se recolherem aos dormitórios, ficando apenas os quatro na Sala Comum dos Gryffindor, decidiram enfrentar Remus.

— Não acredito que tenhas escondido isso de nós! — disse Sirius.

— Somos teus amigos, Remus! — retorquiu Peter.

— Não podia dizer! — justificou-se Remus — Dumbledore proibiu-me...

— Podias confiar em nós! — insistiu Sirius.

— Foi a condição imposta para estudar. Pela segurança dos alunos... — e, baixando a cabeça, continuou. — Já estou farto de me sentir inferior. Você não sabe como é, ir a qualquer lado e todo o mundo apontar o dedo porque você é diferente. Fui imprudente, eu sei, se não tivesse desobedecido aos meus pais não teria sido mordido...

— Nós compreendemos — disse James, olhando de modo reprovador para Sirius e Peter. — Não precisa dar explicações, Remus.

— Eles precisam compreender, não pode haver mais segredos entre nós... — disse Remus.

— Caso não tenha reparado, Remus — insinuou Sirius —, o único que tinha segredos, era você!

— Chega de acusações! — exaltou-se James. — Não se preocupe, continuamos a ser seus amigos. — depois, olhando com ar ameaçador para os amigos, concluiu. — Não continuamos?

— Claro que continuamos — respondeu Peter.

Mas Sirius permaneceu calado. Não queria acreditar que um dos seus amigos tinha-lhe ocultado algo. Que raios! Eles sempre o ajudaram com as matérias atrasadas, sempre o defenderam dos outros alunos que o gozavam por mostrar um ar fraco.

Desde que Remus chegou à escola, que era gozado por alguns alunos, principalmente, da parte dos Slytherin. Realmente, sempre mostrou um ar cansado, aparentando ter mais idade do que tinha na realidade. Mas, mesmo assim, mostrou a todos que era um aluno inteligente, principalmente na aula de Defesa Contra as Artes Negras; uma matéria importante, já que o lado das trevas se alastrava rapidamente e era necessário que todos estivessem preparados.

Voldemort conseguiu reunir alguns seguidores começando, assim, a lançar o pânico no mundo mágico e nem mesmo os não mágicos, Muggles, escapavam à sua sede de poder. Começou, assim, um mundo de trevas, onde todos os feiticeiros começaram a temer o nome Voldemort, passando a usar termos como: Aquele Cujo o Nome Não Deve Ser Prenunciado; Você Sabe Quem,...

Mas, para Sirius, nada disso importava. Não queria saber do que se passava fora das paredes de Hogwarts. Só não admitia que um amigo lhe mentisse.

— Deixa de ser teimoso! — disse Peter. — Não ouviu o que ele disse? Dumbledore o proibiu!

— Anda Sirius, vamos por as desavenças de lado. Ou você quer perder a preciosa ajuda que tem na aula de Defesa Contra as Artes Negras! — disse James rindo.

— Está bem...— disse finalmente Sirius. — Vamos por as desavenças de lado.

E, dito isto, abraçou Remus. Deixando-o um pouco embaraçado com essa atitude, já que Sirius não era muito dado a essas coisas.

— Foi bom desabafar, não aguentava guardar mais este segredo.

— Posso fazer uma pergunta, Remus? — questionou Sirius.

— Claro que pode! — respondeu.

— Como é que tudo começou? Que condições impôs Dumbledore para você poder estudar?

— Eu era ainda pequeno quando foi mordido. Os meus pais ficaram assustados e, ainda por cima, não havia, e não há, cura. O problema era quando se aproximava a lua cheia.

— Mas... mas, não é da natureza dos Lobisomens morder pessoas? — interrogou Peter.

— Meus pais me prendiam num quarto e só saía quando a lua passasse a quarto minguante.

— E aqui na escola? Onde ficas fechado? Nessas alturas você é perigoso! — salientou James.

— Eu não fico na escola. Uma das condições impostas por Dumbledore, para a segurança de todos, era que ficasse longe. Por isso, todos os meses, saio de noite com a Madam Pomfrey e vamos para a vila, para Hogsmeade...

— Para Hogsmeade!? Mas... mas assim podem te ver das janelas do castelo! Não é lá muito prudente... — admirou-se Sirius.

Remus sorriu, como já não sorria há muito tempo. — Não... Há uma passagem secreta que vai dos campos da escola até a uma cabana em Hogsmeade...

— Passagem secreta!? — disseram os três em coro.

Remus sorriu novamente. — Sim. E acredito que deve haver muitas como esta espalhadas pelo castelo e pelos campos de Hogwarts. Mas esta foi construída de propósito para mim, para que pudesse estudar. Tudo graças a Dumbledore que decidiu dar uma oportunidade a todos, sem exepção.

— Passagens secretas... — murmurou Sirius. — Tenho que descobri-las...

Ignorando os comentários de Sirius, James perguntou-lhe: — E onde fica essa passagem?

— Fica à vista de todo mundo...

— Mas... como é que ninguém a descobriu? — interrompeu James.

— Porque é impossível entrar nela.

— Não estou percebendo! — retorquiu James.

— Por causa do Salgueiro Zurzidor — e, reparando no ar confuso dos amigos, continuou. — A passagem secreta fica entre as raízes da árvore. Ora, como todo mundo sabe, ninguém pode se aproximar sem que ele dê umas valentes chicotadas com os ramos. Aliás, o Salgueiro Zurzidor foi plantado de propósito, para que pudesse vir para a escola.

— Mas, como é que você consegue entrar? — perguntou Peter.

— Basta tocar com um ramo no nó certo, entre as raízes, que ele fica quieto como uma árvore normal.

Sirius, que parecia estar noutro planeta, continuou a murmurar: — Passagens secretas... As portas que podem abrir-se para aventuras... Tenho que descobri-las...

— Não acredito! Ainda agora discutia comigo, como já está fazendo planos para descobrir passagens secretas? — ironizou Remus.

Começaram todos a rir. James, entretanto, olhou para o relógio e comentou:

— Pois bem amigos, esses planos podem ficar para amanhã. Já é tarde e temos logo cedo Transfiguração com a McGonagall, e ela já anda de olho em nós.

Dirigiram-se para os dormitórios. Tinham ficado no mesmo dormitório. Deitaram-se e, depois de cerradas as cortinas, adormeceram.

O único que continuava acordado era Remus, sentia demasiada felicidade para poder dormir. Apesar de ter discutido, estava feliz: pela primeira vez sabia o que era ter amigos. Não tinha que guardar mais um segredo que o consumia, acabaram-se as desculpas — pelo menos para eles —, já não se importava com a proximidade da lua cheia e tinha a certeza que iria mais feliz para o seu refúgio. Se bem que depois de transformado em lobisomem não teria noção das coisas. Por fim, acabou por adormecer.

Já tinha tocado para o inicio da aula à cinco minutos quando os quatro entraram na sala numa correria desalmada. Tinham acordado mais tarde do que o habitual. Mas, para seu espanto, a professora McGonagall ainda não tinha chegado.

— Não acredito, hoje não ouvimos bronca... — suspirou Sirius.

Mas de repente, salta uma gata de cima da mesa. Vem para junto deles e, sem aviso prévio, transforma-se na professora McGonagall.

— Não vou dar bronca, Mr. Black. Parece que o senhor e os seus amigos querem ficar de castigo, por chegarem atrasados e por entrarem na sala correndo!

— Desculpe, professora McGonagall — disse Peter. — Ontem, deitamos tarde. Conversamos com Remus sobre...

— Sobre a Aula de Defesa Contra as Artes Negras — interrompeu James, olhando-o de modo reprovador. E, reparando que a professora ficou a olha-los desconfiada, continuou. — Tínhamos dúvidas com os Sem Forma que estamos estudando.

— Desta vez estão perdoados. Mas não pensem que isto voltará a acontecer! — disse a professora ao dirigir-se para a mesa.

Os quatro sentaram-se nos seus devidos lugares e começaram a tirar apontamentos sobre a aula, que foi de longe a mais interessante, pelo menos para Sirius.

— Como mostrava antes de ser interrompida, — disse, olhando para os quatro — hoje vamos estudar a arte Animagi. Feiticeiros que podem transformar-se em animais, conforme a sua personalidade.

A aula correu sem mais nenhum contratempo. Ficaram a saber que apenas existiam sete Animagi no momento. Que quem pretendia tornar-se Animagus tinha que se registrar no Ministério da Magia, onde apontavam todas as características para um melhor controle. Ser Animagi era uma grande responsabilidade e era isso que levava o Ministério a ter um controle rigoroso sobre esses feiticeiros.

No final, dirigiram-se para a aula da História da Magia. A aula mais chata que existia em Hogwarts. História da Magia era a única matéria dada por um fantasma. O Professor Binns já era muito velhinho quando numa manhã se levantou para dar aulas deixando o corpo para trás.

O professor Binns continuava a falar sobre a Convenção Internacional de Feiticeiros de 1289. E, como sempre, toda a turma já estava entrando na habitual sonolência. Mas, no fundo da sala, onde sempre ficavam, James discutia com Peter.

— Percebesse o que ias fazer? És sempre um cabeça no ar. Ias meter o Remus em encrencas!

— Desculpa James! Foi sem querer. Eu não queria contar o que havia se passado na noite anterior.

— Na próxima, pensa antes de abrir a boca — resmungou Sirius.

Os meses passaram sem grandes acontecimentos. Todos os meses, Remus ia com a Madam Pomfrey para a cabana. Mas agora ia mais contente, já podia dizer aos seus amigos para onde ia, já não precisava de esconder a verdade. Durante o resto do ano, nunca ninguém desconfiou que Remus traíra a confiança de Dumbledore.

*

Para o começo do terceiro ano, Sirius, trazia uma ideia. E com essa ideia, se fosse bem concretizada, poderiam acompanhar Remus para que ele não se sentisse sozinho quando se ausentava.

As palavras da professora McGonagall sobre Animagi não lhe saiam da cabeça. Por isso, durante as férias, pesquisou nos livros que seus pais possuíam para tentar descobrir o que era preciso para realizar a transformação. Mas, a procura foi inglória. Não conseguiu encontrar muita coisa, apenas leu num livro uma pequena referência sobre Animagi:

"Uma vez transformado em Animagus, o feiticeiro, deixa de ter noção do eu, para se comportar como o animal em que se transformou."

O que ele precisava era da biblioteca da escola. Lá encontraria os livros que precisasse para usar na sua pesquisa.

Contudo, não contou nada aos seus amigos. Precisava antes ter a certeza de que eram capazes de o fazer. O Ministério não faria um controle rigoroso, se não fosse necessário.

O terceiro ano trouxe também novas matérias. Entre elas: Cuidados com as Criaturas Mágicas e Adivinhação. E, como uma novidade nunca vem só, iriam ter Cuidados com as Criaturas Mágicas juntamente com os Slytherin.

Quando, na primeira aula do terceiro ano, chegaram junto da cerca onde teriam a aula de Cuidados com as Criaturas Mágicas, os Slytherin já se encontravam lá.

— Ora, ora! Lá vem o quarteto Gryffindor! — ironizou um aluno Slytherin, Severus Snape.

— Cala essa boca nojenta, Snape! — ordenou Remus.

— Olhem só para isto! O esquisito me mandando calar! — disse rindo, juntamente com os colegas Slytherin. — Não está doente hoje...

— Olhem só! O oleoso está preocupado com a saúde de um Gryffindor. Que comovedor! — dramatizou Sirius.

— Não estou nada preocupado! — resmungou Snape. — Ele até pode morrer, que não me importo.

James agarrou-o pelo manto e disse: — Não volte a dizer isso, seu palerma! Tomara você fosse como ele. O que tens é inveja!

— EU NÃO TENHO INVEJA! — gritou Snape ao afastar-se de James.

— Pois, não parece! — disse Peter. — Ele, ao contrario de você, tem amigos. E você, o que tem? Nada! Só manias.

— Repete o que disse! — ameaçou Snape apontando a varinha a Peter. — Repete, se for capaz!

— PAREM! — alguém gritou. — O professor está se aproximando.

O velho professor Kettleburn aproximava-se da cerca desconfiado, como se tivesse percebido que alguma coisa estava acontecia.

— O que se passa aqui? — perguntou.

Ninguém respondeu. Toda a turma permaneceu calada. Ninguém queria ganhar castigo logo no primeiro dia de aulas, muito menos perder pontos.

— O que se passa aqui? — voltou a perguntar. — Estou à espera de uma resposta.
Então, a aluna que gritou, aproximou-se do professor e disse: — Desculpe professor, mas não aconteceu nada. Apenas estávamos conversando...

— Tem certeza, Miss Grant? — perguntou o professor desconfiado.

— Sim professor, tenho a certeza — respondeu.

Os rapazes não queriam acreditar. Uma Slytherin os defendia. Isto não podia ser verdade. havia muitos anos que, os Slytherin e os Gryffindor, eram inimigos e faziam tudo para prejudicar a equipa adversária.

— Acredito em você, Miss Grant — disse o professor. — Aproximem-se da cerca. Hoje vamos estudar os unicórnios.

Aproximaram-se e ficaram maravilhados com a beleza daqueles seres brancos. Mais brancos que a neve, de uma pureza sem igual.

— A primeira coisa que devem saber: é que os unicórnios só se deixam tocar pelas mulheres. Por isso, rapazes, mantenham-se longe. Se não querem acabar na ala hospitalar.

As garotas das duas casas aproximaram-se e começaram a fazer-lhes festas, enquanto o professor Kettleburn enumerava em voz alta as inúmeras propriedades mágicas para que os rapazes pudessem, também, ouvir.

Grant, aliás Mary Grant, que além de ser uma Slytherin, juntou-se a Lily Evans dos Gryffindor e estudaram juntas as propriedades dos unicórnios.

Remus ficou pensando como podia uma garota simpática e inteligente — pelos menos, era o que parecia —, pertencer aos Slytherin. Estava perplexo com o que acabava de assistir. Uma Slytherin defendendo um Gryffindor.

A partir daquele dia, Lily e Mary tornaram-se amigas. Sempre que tinham aulas em conjunto faziam parceria. Principalmente em Poções, já que o professor Kent preferia o trabalho em grupo, para que se ajudassem uns aos outros.

Mas, o terceiro ano estava cheio de emoções. James tornou-se seeker na equipe de Quidditch dos Gryffindor. Tinha uma grande habilidade para voar e, por isso mesmo, foi escolhido. Sirius, por sua vez, continuava a sua pesquisa na biblioteca, sempre que podia. Peter, que dos três era o que tinha mais dificuldades nas matérias, pedia ajuda a Remus, e este sempre que podia o ajudava.

Snape andava cada vez mais insuportável, não suportava ver Mary junto de Lily. Não admitia que um Slytherin falasse com um Gryffindor.

Mas, Mary não se importava. Achou esquisito que o Chapéu Seleccionador a tivesse colocado na equipe dos Slytherin. Era filha de Muggles, e nunca teve conhecimento da escola até ao dia em que recebeu a carta. A partir desse dia, o que mais queria era estudar magia na escola de Hogwarts.

A matéria que quase toda a escola detestava era Adivinhação, que ficava na torre mais alta de Hogwarts. Muitas vezes, era difícil dar com o alçapão circular onde estava escrito: Sibyll Trelawney, professora de Adivinhação.

Depois de, durante o primeiro período, estudarem as folhas do chá, iam iniciar o estudo da Quiromancia.

— A Quiromancia — começou a professora —, é o estudo das linhas das mãos. As mãos podem revelar muita coisa sobre o seu futuro. Para darmos início ao estudo, juntem-se em pares, por favor. Abram o seu livro, Aclarando o Futuro, nas páginas 74 e 75. E tentem ler a mão do seu companheiro.

Abriram o livro na páginas correspondentes a Quiromancia, e começaram a tentar interpretar o futuro do colega. Sirius fez dupla com James, enquanto Peter ficava com Remus. Estavam divertindo-se imensamente, quando a professora exclamou, na sua habitual voz mística:

— Oh! Minha querida!... O seu futuro não é nada feliz. Terá momentos felizes, mas irá sofrer muito... — e olhando melhor para a sua mão, continuou. — a sua vida vai se cruzar com a de um rapaz forte e destemido. Mas mesmo assim...

A professora largou a mão e foi-se sentar na sua cadeira com a mão sobre o peito.

Perante tal premonição, a turma ficou em silêncio. Ficaram todos a olhar para Lily, cujo o futuro acabava de ser desvendado. Com um ar assustado olhou para os quatro, principalmente para James por quem já nutria alguma simpatia. De repente, o silêncio foi interrompido pelo riso de Peter.

— Está enganado, Remus! Não podes ter visto isso na minha mão... Eu... eu nunca trairia os meus amigos... Parece a professora, sempre prevendo desgraça...

A professora, que escutou a conversa, aproximou-se de Remus e Peter. Pegou na mão de Peter e confirmou o que Remus tinha dito.

— Ele está certo, Mr. Pettigrew. Dois dos seus amigos irão sofrer por sua causa. — e, depois de olhar melhor, concluiu: — E um deles acabará por morrer, por causa dessa traição.

Peter continuou a negar. Remus, que tinha inventado a leitura ficou admirado. A professora só poderia ser uma fraude. Não havia motivo para se preocupar.

Depois da aula, foram jantar. Lily continuava preocupada. Todos os alunos do terceiro ano, que se encontravam na mesa, olhavam para ela.

Quando Remus chegou, aproximou-se e a sossegou:

— Esquece o que ela disse! A leitura que fiz de Peter foi inventada. Por isso, o que ela confirmou só pode ter sido, também, inventado ou, então, foi uma grande coincidência. Eu não percebo nada de adivinhação! — mas ao reparar que Lily continuava céptica concluiu: — Você será feliz. E, quem sabe, não irá ser com um Gryffindor, forte e destemido, como eu...

Essa fora demais, toda a mesa estava rindo. Assim como as mesas dos Ravenclaw e Hufflepuff. Remus também ria, afinal a sua piada tinha resultado. Lily já não estava preocupada. Já tinha esquecido por completo a premunição da professora Trelawney.

Durante todo o ano, Sirius, sempre que podia, ia à biblioteca fazer a sua pesquisa. Uma vez ou outra, era abordado por Snape que continuava a dizer piadas sobre os quatro. Mas, como a vingança é um prato que se serve frio, no final do ano deram o troco aos Slytherin. Vencendo a taça das equipes e o campeonato de Quidditch. Snape parou de implicar com eles, mas a sua raiva cresceu ainda mais.

*

Durante as férias do Verão Sirius, com o material que recolheu durante o ano, começou a fazer as primeiras tentativas na transformação em Animagus. Por mais fracas que elas fossem, ficou contente.

Numa tarde, depois da centésima tentativa, pegou a pena e um pergaminho, que estavam no meio dos seus apontamentos, e escreveu a James contando o que estava fazendo.

“Caro James,

Como tem passado? As férias estão quase terminando, mas isso agora não interessa. Estou escrevendo para, finalmente, contar o que andei fazendo durante o ano, enfiado na biblioteca da escola.

Acho que consegui o que queria. Lembra da aula de Transfiguração, no segundo ano, quando a professora McGonagall nos falou sobre Animagi? Pois bem, foi o que eu andei fazendo. Pesquisei muito sobre o assunto e, durante as férias, fiz as primeiras tentativas. Não resultaram lá muito bem mas, mesmo assim, fiz progressos.

Deves estar pensando o porquê desta pesquisa. É muito simples! Transformados em Animagus podemos acompanhar Remus nas noites de lua cheia. Com a aparência de animais, não seremos atacados por ele. Ninguém saberá, e Remus será muito mais feliz.

Quando começar o ano eu, tu e o Peter temos muito que fazer para conseguir a transformação. Por favor não conte nada ao Remus, será uma surpresa para ele.

Do teu amigo

Sirius Black”

Levantou-se, atou a carta à pata da coruja, mandou-a pela janela do quarto e ficou vendo-a desaparecer no horizonte. Como já estava anoitecendo, desceu para jantar com os pais.

Quando James leu a carta não queria acreditar. Então era isso que ele andava fazendo, sempre enfiado na biblioteca, pensou. Nunca imaginou que Sirius andasse tramando alguma coisa. Sempre que comentava com Remus ou Peter, sobre o súbito interesse de Sirius pela biblioteca, ambos respondiam que deveria estar estudando.

Durante o primeiro período do quarto ano, os três analisaram o material recolhido por Sirius. James e Peter começaram a fazer as primeiras tentativas supervisionados por Sirius, que já tentara durante as férias.

Nas férias do Natal, não adiantaram nada. Remus também tinha ficado na escola. Como ficaram apenas os quatro e Lily na torre dos Gryffindor, divertiam-se nos jardins do castelo fazendo batalhas com bolas de neve.

Foi numa dessas batalhas, mesmo no dia de Natal, que aconteceu o inevitável. Numa tentativa de atingir Sirius, Remus acertou com uma bola em Snape, que naquele momento estava atravessando os jardins na companhia de Mary e de um grupo de Slytherin. Cheio de raiva, começou a olhar para tentar descobrir de onde tinha vindo o projéctil de neve. Quando encontrou Remus, não teve dúvidas. Dirigiu-se para ele, com os outros atrás.

— Você vai pagar caro pelo que acabou de fazer — ameaçou com a varinha na mão.

— O que aconteceu? — perguntou James que se aproximava de Remus.

— O que aconteceu... o que aconteceu? — ironizou Snape olhando para James. — Foi o teu amiguinho que deve ter achado piada me acertar com uma bola de neve...

— Foi bem dirigida, sem dúvida! — acentuou Sirius que tinha saído do seu esconderijo e aproximava-se juntamente com Peter e Lily.

— Foi bem dirigida! — exaltou-se Snape dirigindo-se, agora, para Sirius e apontando-lhe a varinha.

— Acalmem-se, foi sem intenção. Eu não queria atingi-lo, Snape — disse Remus se metendo entre os dois.

— E VOCÊ QUER QUE EU ACREDITE NISSO! — gritou. — QUANDO OS QUATRO ESTÃO SEMPRE PRONTOS A ME PREJUDICAR.

— Não é bem assim... — disse Mary.

— QUIETA! — gritou novamente. — DESDE QUANDO DEFENDE OS GRYFFINDOR?

— Desde que percebi que são boas pessoas. E, que são pessoas como você, que fazem perdurar esta estúpida rivalidade entre as equipes — e dito isto, afastou-se. Lily seguiu-a para lhe fazer companhia.

Snape ficou sem palavras. Dando um último olhar afastou-se em direcção ao castelo.

— Um dia há de levar o troco por ser... por ser... — começou Remus.

— Um grande estúpido sem miolos! — completou Sirius a rir.

— Só não entendo como é que Mary foi parar nos Slytherin? — interrogou Peter.

— Tem razão. Dava uma óptima Gryffindor! — comentou Remus. — Deve haver algo nela que fez com que o Chapéu Seleccionador a colocasse nos Slytherin...

Já tinha anoitecido, quando decidiram entrar. Estava um frio insuportável. Foram para o Salão Principal, onde iria ser servida a ceia de Natal.

Havia uma grande variedade de pratos, todos eles suculentos. Como a brincadeira tinha aberto o apetite, serviram-se com um pouco de tudo.

Na mesa dos Slytherin, Mary mantinha-se afastada do grupo de Snape. O que ele disse-lhe durante a tarde a tinha magoado. Aliás, se não fossem as dificuldades que tinha em Poções... Mary já estava habituada a lutar por aquilo que queria. Se tirar boas notas, implicava andar com alguém tão insuportável, teria que aguentar.

Houve um tempo em que gostou de acompanhar Snape. Era um rapaz que lutava pelos seus ideais. Mas, aquela rivalidade entre Slytherin e Gryffindor estava tornando-o rancoroso, assim como a influência dos amigos.

Terminado o jantar, dirigiram-se para a torre. Disseram a senha a Dama Gorda, bola de neve, e entraram. O ambiente estava agradável. A lareira estava acesa, em cima de uma das mesas, da sala comum, estava um jarro com sumo de abóbora e alguns doces da época festiva.

Ficaram na sala comum por algum tempo. Sirius e Peter jogavam xadrez dos feiticeiros, sendo o último derrotado com uma forte pancada do bispo adversário. James, Remus e Lily jogavam cartas com um baralho de Explosão Súbita (uma espécie de baralho de cartas Muggle que explode quando alguém perde). Passado algum tempo pararam de jogar e ficaram conversando sentados nas poltronas, que ficavam de frente para a lareira. Remus, que ainda estava cansado da última lua cheia, foi para o dormitório. Lily, que começava a adormecer no seu cadeirão, seguiu-o. James, Sirius e Peter continuaram a conversar.

James e Sirius jogavam uma partida de xadrez, já que Peter alegou que chegava de derrotas. A meio do jogo, Peter, que afazia algum tempo permanecia calado, perguntou:

— Estava pensando... Sirius, no que é que podemos ajudar Remus tornando-nos Animagus?

— Às vezes, você é mesmo estúpido! — respondeu. — Agora quem faz as perguntas sou eu: o que é um Lobisomem?

— Pessoas, que depois de mordidas, se transformam em grandes lobos capazes de voar uma vez por mês. Sempre na lua cheia.

— Afinal, não é tão estúpido... — ironizou Sirius, James ria. — Até sabe alguma coisa. Agora me diga, se lembrar, o que é ser Animagi?

— Feiticeiros e feiticeiras que se transformam em animais, conforme a sua personalidade e características.

— Ora, veja! Agora já você deve saber, porque estamos tentando a transformação! — concluiu Sirius.

— Mesmo assim, continuo a não perceber...

— Peter, junta dois mais dois — interveio James. — O Remus se transforma em lobo e nós, depois de transfigurados, em animais.

— Agora, já percebeu? — perguntou Sirius. — Só podemos fazer-lhe companhia como animais. Caso contrario, ele nos atacaria.

— Assim, podemos o acompanhar quando se ausentar, para que não se sinta só — completou James. — Xeque-mate!

Sirius assustou-se, tinha perdido, e ficou olhando para James e Peter que estavam perdidos com o riso.

Durante o resto do ano, continuaram tentando a transformação. Sirius e James já conseguiam transformar-se, mas Peter continuava a ter dificuldades.

James andava ocupado com a final de Quidditch, Gryffindor versus Slytherin. A equipe Slytherin era mais forte este ano, iria ser difícil derrotá-la. Enquanto tinha treinos, Sirius permanecia com Peter numa sala de aula vazia, onde continuavam a tentar a transformação. Só no final do ano é que Peter fez alguns progressos.

Gryffindor venceu, novamente, o campeonato de Quidditch. Assim, como a taça das equipes.

Durante a viagem de regresso no Expresso de Hogwarts, Peter prometeu que durante as férias iria fazer o possível para que a sua transformação fosse perfeita. Quando conseguisse, escreveria uma carta a Sirius e James.

Quando chegaram a estação de King's Cross, em Londres, despediram-se com a esperança, que no quinto ano, podessem fazer companhia a Remus.