Molhados
Capítulo 32 – Molhados
Harry ficou parado, estupefato, olhando para a silhueta da moça que sumiu ao entrar no castelo. Ficou estático. Ela sussurrara seu nome. Sabia quem ele era. Harry tinha absoluta certeza de que não dissera seu nome à garota e ela não poderia ter descoberto pela aparência dele. Checou a franja comprida e ela continuava a esconder a cicatriz em forma de raio. Pensando com mais calma, parecia bem estranho que uma garota tão atraente como ela se dirigisse exatamente para o lugar onde Harry ficara sentado, por coincidência. Ela se dirigira para aquele lado, por causa dele. Harry recostou no banco de pedra, suspirando. O que foi que ocorrera ali? Por que ela fizera tudo aquilo se sabia quem ele era? E ele, sabia quem ela era? Não, Harry não imaginava quem ela poderia ser, embora uma vozinha em sua cabeça insistisse que poderia, deveria e era Hermione. Ele estranhara a ausência da amiga no baile desde o início. E aquilo explicava tudo. Ela se ausentara como Hermione para estar presente como Lust, a mulher de vermelho.
-Na verdade Harry, o termo é dama de vermelho. – disse uma voz.
-O quê? – sobressaltou-se Harry erguendo a cabeça e vendo Guilherme à sua frente.
-Dama de vermelho, Harry. – repetiu o garoto e vendo a cara de interrogação de Harry, o rapaz se sentou e explicou: - Você estava pensando tão alto que e ouvi dali... – e apontou para a margem do lago, a vários metros de distância do banco em que estavam sentados.
-Eu estava...
-Estava pensando em voz alta. Acho que estava tão concentrado e perdido em pensamentos que nem notou. – respondeu Guilherme à pergunta incompleta do garoto.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, onde Harry voltou a pensar em Lust ou Hermione ou quem fosse. Os trejeitos e os modos da moça lembravam vagamente alguém a Harry e ele tinha quase certeza de que era Hermione.
-Por que você não considera a hipótese de que ela simplesmente não quis vir ao baile?
-Ah? – perguntou um perdido Harry erguendo novamente a cabeça.
-Você estava pensando em voz alta de novo. – disse Guilherme revirando os olhos e sorrindo.
-É... pelo jeito eu estou fazendo muito disso ultimamente. – disse Harry se levantando bufando.
Assim que o moreno de olhos verdes se levantou, um pequeno objeto brilhante caiu de sua roupa, coisa que não passou despercebida por Guilherme que logo o avisou. Harry se abaixou rapidamente a apanhou o objeto, trazendo-o para perto dos olhos. Utilizando um pouco da luz encantada do jardim, pôde constatar que era um brinco. Um brinco de Lust.
-O que é? – perguntou Guilherme curioso.
-Nada demais. – mentiu Harry embolsando o pequeno objeto. – E então... o que faz por aqui? Por que não está com a Susan?
-Ah... ela já foi se deitar. – respondeu o garoto, sorrindo e se lembrando do que acontecera minutos atrás.
Flashback
Guilherme e Susan caminhavam pelo jardim calmamente. Estavam andando pelo caminho que fora enfeitiçado para ficar iluminado. Não havia conversa entre ambos, apenas andavam silenciosamente, de mãos dadas, apreciando a companhia do outro. Quando se aproximavam de uma árvore onde havia uma lixeira encostada, Susan puxou assunto:
-E então, por que você escolheu essa fantasia de Robin Hood?
-Eu não sei... por que você escolheu essa fantasia de Lady Mary?
Ambos sorriram levemente.
-Vamos fazer um jogo... – propôs a moça. Ela caminhou até a lata de lixo encostada à árvore e pegou uma latinha de refrigerante trouxa que estava no chão ao lado da lata de lixo. Colocou a latinha sobre a tampa da lata de lixo e voltou para o lado do namorado.
-O que você quer que eu faça? – perguntou ele sorrindo.
-Acerte a latinha de refrigerante... – disse ela simplesmente.
-E qual é o meu prêmio se eu acertar? O que eu ganho? – perguntou ele tirando o arco das costas e apoiando uma ponta no chão e o rosto na outra ponta.
-Se você acertar, eu termino a minha greve dos seus beijos. – disse ela fazendo cara de boa moça. - O que você acha?
-É. É um bom prêmio. – concordou o rapaz. – Certo. Acordo fechado, mas faça silêncio, eu preciso me concentrar.
-Certo. – riu ela passando dois dedos pela boca, fingindo que a trancou.
-Segure aqui. – disse o rapaz lhe estendendo o arco. Quando a moça segurou a arma, percebeu que era de verdade e não um simples adereço como ela pensava de início. Depois que passou o arco para a garota, Guilherme puxou uma das flechas do suporte em suas costas e a analisou. Checou se as três penas estavam retas e posicionas a cada 120 graus, checou o peso da flecha, a estabilidade e se a mesma estava retilínea. Por fim pegou seu arco de volta e se preparou. Testou a corda, puxando-a uma vez. Quando a soltou, ela fez um som melodioso como uma harpa, de tão esticada que a corda estava. Sorriu brevemente. Aquilo seria extremamente fácil, visto que estava apenas a uns 7 metros do alvo. Passou o dedo de leve pela ponta da flecha para ver se estava afiada. Estava ligeiramente cega, mas daria para um tiro simples à curta distância. Aquelas flechas que Guilherme estava carregando não tinham ponta triangular como grande parte das flechas, apenas a ponta da haste era afiada, como a ponta de um lápis. O rapaz olhou para a namorada e sorriu. Ambos adoravam fazer joguinhos um com o outro. Ele adorava aquilo mais do que ela podia imaginar. Postou-se com o arco em posição e esticou a corda, deixando a flecha preparada para atingir o alvo. Seu rosto sério de concentração se desfez por um milésimo de segundo quando ele lançou um olhar de soslaio para a namorada. Voltou a olhar para o alvo e dando um ligeiro sorriso, moveu propositalmente sua mão de apoio um centímetro para cima, para depois soltar a corda e fazer a flecha voar.
-Uh... que pena. Essa foi quase Robin Hood... quem sabe de uma próxima vez. – disse ela rindo e lhe dando um beijo na bochecha, para depois se afastar, rumo ao castelo, rindo e acenando.
Guilherme riu um pouco e se aproximou de seu alvo. A latinha de refrigerante continuava imóvel onde a garota a colocara. Se a flecha tivesse batido um centímetro abaixo, teria acertado. O rapaz puxou a flecha do tronco da árvore, arrancando-a. Olhou por fim para a haste da mesma onde havia um anel de metal preso. A ponta da flecha passara por dentro do círculo do minúsculo anel de metal. Um daqueles anéis que ficam presos sobre as latas de refrigerantes, e são usados para abrir a latinha. O rapaz deixou o pequeno anel brilhante cair sobre a palma de sua mão e antes de jogá-lo na lata do lixo murmurou para si mesmo, com um sorriso:
-Na mosca.
Fim do Flashback
-Entendo... – murmurou Harry chutando uma pedra que voou até o lago.
-Bem... acho que está na hora de irmos para dentro, não?
-É... acho que sim... – concordou o rapaz de olhos verdes, achando que aquela noite já devia ter terminado.
-Ótimo. Vamos. – concordou Guilherme caminhando ao lado de Harry e começando a discutir sobre banalidades.
Harry só se deu conta do quanto estava cansado, quando finalmente se deitou em sua cama, pronto para dormir.
Sentia que aquela noite fora bastante longa e tudo o que ele queria naquele momento era descansar. E embalado pelos hipnotizantes roncos de Rony, Harry adormeceu, pensando em Lust.
***
-Ainda está muito longe? – perguntou Rony, reclamando pela milésima vez da dor nos pés que aquela caminhada estava lhe causando.
-Não, Weasley. – respondeu um Guilherme já sem paciência. – Estamos quase lá.
-Ótimo. – murmurou Gina, ofegante. – Essas coisas estão pesadas.
A ruiva se referia à grande mochila que todos carregavam. Ninguém sabia ao certo o que havia nelas, pois Guilherme entregara-as fechadas e lacradas com feitiços. Tudo o que era visível de seu conteúdo eram as espadas presas à parte de trás de cada mochila.
O caminho não facilitava. Seguiam por uma íngreme ladeira rochosa, embrenhada em uma clara e úmida floresta. O cascalho e a terra deslizavam facilmente, por isso a caminhada exigia cuidado redobrado. Naquele dia, ao contrário da Primeira expedição, eles não usavam casacos e sim roupas leves e frescas, pois pareciam estar em um lugar tropical. À sua volta podiam ter uma visão de relance, de altas montanhas de pedra, por entre a copa das árvores.
O dia estava claro e quente, o que dificultava mais ainda a caminhada, devido ao calor excessivo. Harry estava ofegante, seus ombros doíam pelo peso da mochila, sua testa gotejava de suor e sua camisa estava grudando na pele, visto que estava molhada pelo suor.
Finalmente saíram em uma clareira plana onde havia uma grande tenda armada. A tenda estava a vários metros da margem de um lago, que parecia ser maior e mais profundo que o lago de Hogwarts. Dentro da tenda estavam Lupin, Quim, Tonks e Moody. Eles estavam sérios e conversavam apontando para um mapa que estava sobre uma mesa de armar. Assim que Guilherme chegou, liderando o pequeno grupo, ele próprio tirou a mochila das costas e a jogou no chão, levantando poeira, devido ao peso da mesma. Aquele ato chamou a atenção dos adultos que os olharam interrogativamente enquanto os outros garotos o imitavam, jogando suas mochilas com alívio no chão.
-O que tem nessas mochilas? Eu não falei para trazerem pouca coisa para chegarem mais rápido? – perguntou Moody olhando para cada um.
-Mas... mas o Guilherme disse... que devíamos traze-las... – resmungou uma Hermione sem fôlego.
-O que há nessas mochilas, afinal? – perguntou um Harry cansado e suado. Todos os olhares se concentraram em Guilherme que havia se sentado no chão e parecia contente.
-Pedras... – respondeu ele simplesmente enquanto bebia água de seu cantil.
-Pedras? Como assim pedras? – perguntou Rony corando nervoso e fazendo cara de raiva.
-Pedras ora... Pedras. – disse Guilherme óbvio. Estalou os dedos e as mochilas dos garotos no chão se abriram, fazendo inúmeras pedras acinzentadas e pesadas rolarem para fora, se espalhando pelo chão de areia.
-O que significa isso? – perguntou Gina, pondo as mãos na cintura, a fúria reprimida na voz.
-Ora vamos... não foi tão ruim assim. Uma curta caminhada de três horas, carregando uma mochila com 10 quilos de pedras por uma trilha íngreme e escorregadia em um quente dia, cuja temperatura é de 35 graus. Foi um bom aquecimento para o que viemos fazer. – disse ele simplesmente, ignorando as caras de incredulidade de Harry, Rony, Hermione e Gina. Susan, que os acompanhava, não disse nada, apenas balançou a cabeça negativamente e revirou os olhos em sinal de desaprovação, enquanto Moody e Lupin riam acompanhados de Quim e Tonks.
Guilherme foi até sua mochila e a abriu. Tirou um punhado de pedras acinzentadas do caminho e pegou um pacote embrulhado em papel pardo. Abriu-o e distribuiu várias vestes para cada um deles, inclusive Lupin e os outros. Harry abriu as vestes e descobriu que era uma espécie de roupa de mergulho. Junto com a roupa, havia uma correia de couro para prender a varinha ao tornozelo.
-Vamos lá, pessoal, vamos nos aprontar... – disse Lupin batendo palmas no que Harry suspirou e se encaminhou para se arrumar.
***
-Fiquem juntos. Não dispensem, entenderam? – instruía Lupin para eles. Lupin, Tonks e Quim estavam vestindo roupas de mergulho de corpo inteiro, deixando apenas as mãos, os pés e a cabeça de fora. Gina, Hermione e Susan também usavam roupas nesse estilo. Já Harry, Guilherme e Rony, usavam bermudas justas até os joelhos, com bolsos fechados por zíperes. As varinhas iam presas aos seus tornozelos e as espadas às cinturas. Da cintura para cima, os rapazes estavam nus e Harry agradecia mentalmente por isso, visto que podia ver o suor escorrer pela testa das garotas. Uma sensação que estranhara era a aparência de Guilherme. Fazia tempo que não via o rapaz sem camisa e ficou ligeiramente surpreso com o que viu. O corpo do rapaz era bem parecido com o de Harry, magro e com músculos definidos, os de Harry pelo Quadribol e os de Guilherme pelo treinamento físico e com espadas, a diferença era que o peitoral e as costas do rapaz estavam cheias de cicatrizes, resultado da tortura de Voldemort. As marcas estavam escuras e cicatrizadas, mas ainda bem visíveis.
Notou que Moody estava com uma veste de bruxo normal, o que significava que não iria com eles. Minutos antes de entrarem no lago, ouviram vozes e mais três membros da ordem apareceram: Fred e Jorge Weasley e Maximus Clapham. Estavam armados de espadas e pareciam bem sérios. Cumprimentaram a todos com simples acenos de cabeça.
-Verifiquem suas varinhas e espadas e preparem-se. – disse Quim com sua voz lenta e profunda. Harry se baixou e verificou se sua varinha estava bem presa à correia de couro e depois se seu cinto prendia firmemente a bainha da espada. Quando voltou a se levantar, Quim estava oferecendo à Rony, ao seu lado, uma vasilha cheia de algo que o garoto não pôde ver. Rony pegou um bocado do que quer que fosse e levou ao nariz para examinar o cheiro. Quando Quim lhe ofereceu a vasilha, Harry reconheceu imediatamente o guelricho, planta que utilizara em seu 4º Ano para cumprir a segunda tarefa do Torneio Tribruxo. Colocou a mão sobre a erva e pegou certa quantidade, sendo repreendido por Moody, que estava perto.
-Pare de frescuras, Potter. Você não sabe quanto tempo ficará lá embaixo, pegue mais.
Harry, a contragosto, pegou mais um pouco da raiz e colocou em um bolso da bermuda, para depois fechar o zíper do mesmo. Pegou certa quantidade da erva e colocou rapidamente na boca, mastigando rapidamente e se lembrando com certa precisão que da última vez a erva também tinha a consistência borrachenta de lula. Observou que da última vez, a erva não tinha aquele estranho gosto amargo que tomou conta de sua boca. Viu Rony engolindo a erva a alguns metros de Harry, assim como Hermione, Gina, Susan, Guilherme, Tonks, Lupin e Quim. Em um instante, Lupin, Tonks e Quim mergulharam na água do lago, pois a erva fizera efeito. Guilherme conduziu as garotas até ficarem com a água do lago na cintura, e assim que a erva fez efeito, todos entraram na água. Harry respirou fundo uma última vez, antes de sentir a conhecida sensação de ter uma almofada invisível cobrindo sua boca e nariz, impedindo-o de respirar. Estava se preparando para entrar na água, quando notou que Rony estava de joelhos, na areia, com as mãos na garganta, em pânico. Olhou à volta e viu que Moody, Fred, Jorge e Clapham estavam discutindo concentrados na tenda. Podia sentir suas guelras tentando bombear oxigênio para seus pulmões, sem sucesso. Desesperado, pois estava ficando sem ar, Harry correu até o amigo e agarrou-o pelo pulso, arrastando-o até a água. Jogou o amigo com força dentro do lago e depois mergulhou.
Uma sensação de extraordinário alívio invadiu o corpo de Harry. Sentia que o oxigênio era bombeado novamente para todo o seu corpo. Deu uma braçada mais para o fundo da água e achou os companheiros esperando-os.
-Por que demoraram tanto? – perguntou Lupin, fazendo várias bolhas saírem de sua boca e sua voz soar distorcida dentro da água.
-Nada demais. – mentiu Harry olhando de soslaio para Rony.
-Certo, então vamos. Fiquem juntos. – disse Quim, sua voz soando estranha embaixo d'água.
Harry lançou um último olhar à superfície, pensando que aquela poderia ser a última vez que veria a luz do sol. Ainda podia ver os raios solares se infiltrando timidamente na água.
***
Assim que começaram a nadar para o fundo, Rony se aproximou de Harry e disse em voz baixa:
-Desculpe por aquilo lá em cima. É que é tão estranho... entrei em pânico.
-Não há problema. Quando eu provei guelricho pela primeira vez, senti o mesmo.
-Ah... é verdade, você o usou no Torneio Tribruxo, não é?
-É... – concordou Harry.
-Façam silêncio. – pediu Tonks na frente deles. – Pode haver criaturas hostis aqui.
-Certo. – concordaram ambos.
Harry sentia que a água estava agradavelmente calma, e isso era estranho. Não havia um peixe ou criatura marinha à vista em qualquer direção que se olhasse. O único movimento visível era o movimento repetitivo e hipnotizante das algas, no chão alguns metros abaixo do lugar em que nadavam. Depois de muitos silenciosos minutos nadando no total vazio, Quim fez um movimento para pararem e começou a cochichar com Lupin e Tonks. Harry estava com um estranho pressentimento. Nenhum lago poderia ser tão vazio. Olhou para os amigos e não se espantou ao ver que alguns já seguravam as varinhas, cautelosamente.
Gina e Hermione estavam ao lado de Susan, ambas segurando as varinhas em uma das mãos, e a outra mão sobre o cabo da espada. Rony estava segurando a varinha, mas mantinha os ouvidos atentos à conversa dos aurores. Guilherme olhava para os lados, o olhar alerta se destacando no rosto, segurando duas varinhas, uma em cada mão.
Harry olhou à própria volta, temeroso. Levou a mão lentamente ao tornozelo e abriu a correia de couro, puxando a varinha.
Estavam em uma espécie de clareira submarina. Era uma parte plana do terreno, onde não haviam algas se movimentando naquela dança silenciosa e hipnotizante. Harry se aproximou de Guilherme e abriu a boca para falar, mas foi interrompido pelo garoto. Olhou-o interrogativamente, sem entender, até que ouviu a voz do amigo soar alta e clara em sua mente: "Use legilimência".
Harry não entendeu de imediato até que se lembrou da explicação de Hermione sobre telepatia na Sede da Ordem. Concentrou-se encarando o moreno de olhos cor de mel, e sequer precisou murmurar a fórmula do feitiço, quando ouviu novamente sua voz na própria cabeça, dizendo "Não quebre o contato visual".
"Certo" pensou Harry. A sensação era muito parecida com a sensação de usar Legilimência, mas era ainda mais bizarra. Mesmo que quisesse desviar os olhos, não achou que seria capaz. "Não sei o que fazer" pensou Harry novamente. "Não tem que fazer mais nada Harry, posso te ouvir perfeitamente", murmurou a voz de Guilherme em sua cabeça. "Já estamos usando telepatia?" indagou o moreno em pensamentos no que foi respondido do mesmo modo com um simples "Sim". "Então, por que nós..." perguntou Harry, no que foi interrompido por Guilherme novamente: "...paramos? Paramos pois há algumas criaturas naquelas algas ali na frente, talvez grindylows" explicou Guilherme. "Entendo" pensou Harry, desviando os olhos e quebrando a ligação mental.
Não demorou muito e todos já estavam nadando novamente, mas ainda segurando as varinhas em punho. Assim que passaram a nadar sobre as grandes moitas de algas, as criaturas verde-claras saltaram do meio das folhagens, os dentes pontiagudos à mostra, juntamente com os chifres pontudos. Alguns grindylows seguravam cipós e os lançaram, tentando laçar algum dos bruxos nadadores, mas não obtiveram êxito visto que os mesmos estavam preparados para um ataque.
-Todos comigo: Relaxo! – disse Lupin à todos. Todos o imitaram nessa ação, fazendo grandes marcas vermelhas de queimaduras surgirem na pele dos grindylows. Eles soltaram gritos estridentes e nadaram de volta para suas moitas de algas.
Voltaram a nadar pela água calma, mas Harry tinha a impressão de que as coisas só iam ficar piores dali para a frente.
***
À medida que avançavam no percurso, o silêncio pesava cada vez mais. Pararam por alguns momentos para comerem mais guelricho, pois já fazia quase uma hora que estavam nadando. Todos reabastecido, voltaram a nadar. Harry notou que depois que passaram a área dos grindylows, os peixes voltaram a aparecer. Inclusive espécimes bruxas.
-Epa... – estacou Lupin, puxando a varinha e a espada. Todos procuraram o que ele estava olhando e Quim apontou para um cardume que se aproximava deles, no que Lupin explicou o que eram: - É um cardume de Reques.
-Ah não... – exclamaram Guilherme e Hermione em uníssono, puxando as varinha e espadas ao mesmo tempo.
-O que seriam...? – começou a perguntar Rony, mas ninguém precisou responder à sua pergunta incompleta, pois o cardume estava poucos metros à frente deles e ele entendeu.
O restante dos garotos puxou as espadas e as posicionaram em frente ao corpo no exato instante em que um enorme cardume cheio de peixes prateados os alcançava. O pior era que os peixes tinham o corpo todo recoberto por incontáveis espinhos. O número de peixes espinhosos era tão grande que parecia uma massa única se movimentando em direção a eles. Eles estavam tão próximos uns dos outros que Harry duvidava que qualquer coisa que ficasse no meio do cardume não fosse perfurada ou retalhada pelo menos uma dúzia de vezes.
-Ai, ai... – suspirou Guilherme, resignado. – O pior é que eu nem gosto de sushi.
Harry sorriu brevemente ao ouvir o que o colega falara, enquanto firmava a espada nas mãos e se preparava para fatiar os peixes espinhosos.
***
-Estou ligeiramente entediada. – murmurou uma alegre Gina, enquanto nadavam.
Os garotos pareciam satisfeitos com a "vitória" sobre os Reques, embora Guilherme insistisse que aquilo sequer fora um batalha, estava mais para uma "aula de culinária", segundo as palavras do próprio.
Em determinado momento, os bruxos pararam de nadar e pousaram suavemente no chão de areia do fundo do lago. Pareciam ter chegado ao seu destino.
Em frente à eles estava um enorme arco grego de mármore. Devia ter uns três metros de altura e estava marcando o início de uma estrada feita de pedras. Os dois pilares de base quadrada sustentavam uma placa de mármore branco com gravações ilegíveis.
-É melhor seguirmos a pé daqui. – murmurou Tonks para Lupin e os outros.
-Por quê? – perguntou Gina.
-Não queremos despertar a ira de ninguém, não é? – murmurou a jovem mulher, com uma piscadela. Ao ver a cara de desentendido dos garotos, Lupin explicou, apontando o arco de mármore:
-A partir daqui, é território dos sereianos.
-Há sereianos aqui? – perguntou uma alarmada Hermione.
-Sim, uma colônia inteira. Se não adentrarmos seu território por este caminho, seremos vistos como inimigos.
-Então é bom que ninguém saia do caminho, não é? – murmurou Guilherme olhando para os outros que sorriram.
-Exatamente. – murmurou Quim. – É melhor irmos.
E assim caminharam. A estrada de pedra era bastante longa e rústica, e de cada lado da estrada estavam postos a intervalo de alguns metros, outros pilares de mármore branco com bases quadradas. Em alguns desses, haviam carcaças de grindylows penduradas ou ossadas que pareciam ser humanas.
À medida que caminhavam, podiam ver surgir ao longe a silhueta de uma cidade. As rústicas casas de pedras se erguiam de modo impressionante no horizonte vazio e pouco movimentado do lago.
Não demorou muito tempo e os bruxos já podiam distinguir as silhuetas que cercavam a cidade, inclusive, podiam ver as sombras de inúmeros sereianos, armados com tridentes e lanças rústicas, os esperando para uma calorosa "recepção".
Quanto mais se aproximavam, mais Harry podia notar o quão selvagens eles pareciam. Suas peles eram verde-claras e seus dentes amarelos e pontiagudos. Seus olhos eram escuros, miúdos e desconfiados. Usavam colares com dentes e seus cabelos eram desgrenhados e parecidos com algas. Tinham fortes rabos de peixe e caras nada amigáveis. Seus braços musculosos seguravam lanças e tridentes de metal enferrujado, mas ainda assim, de aspecto letal; usavam cintos de pele escamosa na cintura e estes prendiam facas, adagas e uma criatura cilíndrica e comprida, que parecia ter um líquido esverdeado dentro. Alguns eram musculosos e quase tão grandes quanto Hagrid. Vários deles ostentavam elmos negros e protetores de peito, feitos de cobre com um símbolo de tridente marcado. No total, pareciam ser cerca de 50 sereianos bem armados, apenas na entrada da cidade, prontos para a recepção.
Assim que Harry e os outros se aproximaram o suficiente, vários sereianos saltaram velozmente sobre Lupin, Quim e Tonks, que sequer tiveram tempo de reagir. Houve uma pequena balburdia em que os sereianos lutaram bravamente e instantes depois, Lupin, Quim e Tonks estavam amarrados por grossos cipós. Os sereianos comemoraram, balançando as lanças no alto, gritando. Levaram os bruxos amarrados para dentro da multidão, que ainda comemorava. Só se deram conta da presença dos garotos quando Guilherme pigarreou em alto e bom som. Os sereianos pararam um instante, encarando os garotos, como se estivessem surpresos por eles estarem ali.
Todos os garotos, sem exceção, estavam com cara de tédio esperando que as criaturas os notassem. Não haviam se movido do lugar, mesmo quando os bruxos foram capturados.
-São só crianças. – riu uma das criaturas, um macho grande e musculoso, apontando para eles.
-Só... crianças? – perguntou Guilherme apertando os olhos. Levantou a mão para que todos pudessem ver e estalou os dedos, apontando para o homem.
-ESTUPEFAÇA! – o raio estuporante acertou em cheio a cara verde do sereiano, fazendo-o tombar no chão, levantando uma nuvem de areia. Os sereianos ficaram imóveis os encarando, estupefatos pela sua ousadia. No mesmo instante, Susan saiu de trás de Guilherme, a varinha na mão, e bateu na mão levantada do garoto, como se comemorassem.
-E crianças conseguem fazer isso? – perguntou a garota, cínica, apontando o grandalhão caído no chão.
-Peguem eles. – murmurou um dos sereianos, que aparentava ser o líder, por causa de suas vestimentas e de seu elmo, todo negro, com bordas douradas.
E ele era mesmo um dos líderes, pois assim que ele terminou de falar, inúmeros soldados avançaram contra os garotos. Dessa vez, no entanto, os bruxos estavam preparados. Antes mesmo que os sereianos se aproximassem, os garotos já estavam com varinhas e espadas em punho.
Harry não ficou parado. Assim que os homens-peixe se aproximaram o suficiente, ele lançou todos os feitiços que conhecia, imobilizando muitos deles. Utilizou a espada apenas para desviar as lanças dos oponentes, e se surpreendeu com a facilidade com que conseguia fazer isso.
-Mande-os parar de atacarem meus amigos. AGORA! – berrou a voz de Guilherme de algum ponto à frente de Harry.
-Parem. PAREM! – berrou novamente o líder.
Todos os guerreiros, sereianos ou bruxos, estacaram no lugar e olharam para o ponto de onde vieram os gritos. Lá estava Guilherme com Elizabeth na mão, e a lâmina dessa, no pescoço musculoso e longo do líder dos sereianos.
-Mande seus homens recuarem. Agora. – ordenou Guilherme pressionando a ponta da espada contra a garganta do imponente sereiano.
-Obedeçam. – falou o ameaçado sereiano, em voz baixa, mas mesmo assim, todos os homens-peixe recuaram até ficar alguns metros atrás de seu líder.
-Ótimo. – murmurou Guilherme com um sorriso, olhando nos olhos da criatura, muito mais alta do que ele próprio. – Você sabe muito bem que apesar de você ser bem rápido, eu posso decapitá-lo antes que possa ordenar qualquer coisa ou puxar qualquer arma, não é?
-Sim. – murmurou o homem, ainda tentando manter a pose de líder destemido, embora sua voz tremesse ligeiramente.
-Que bom. Então eu vou abaixar a minha arma. No entanto, se houver qualquer movimento de sua parte ou de seus homens, você morrerá antes que possa pronunciar a palavra "Morra". Estamos entendidos? – indagou o garoto, pressionando a ponta dourada da lâmina contra a garganta do sereiano e fazendo com que uma pequena nuvem de sangue esverdeado se dissipasse lentamente pela água à sua volta.
-Sim, sim... entendido. – resmungou o homem, fechando os olhos de desagrado.
-Que bom. – murmurou Guilherme novamente, enquanto abaixava a lâmina da espada lentamente. – Agora... tenho algumas coisas a dizer, e espero que me ouçam atentamente, todos vocês. – e vendo que toda a atenção estava concentrada em si próprio, sorriu. – Em primeiro lugar, não estamos aqui para guerrear com vocês...
-Não estão aqui para guerrear? – perguntou o general sereiano erguendo a voz, tornando-a mandona como a de um verdadeiro comandante. – Não é o que parece! – terminou apontando os garotos atrás de Guilherme, que ainda seguravam as espadas e varinhas, prontos para uma possível batalha. Um deles, Rony, estava sentado no chão, com um corte bastante profundo na testa.
-Mas é a verdade. E tem mais, não fomos nós que atacamos vocês. Vocês é que nos atacaram antes que pudéssemos nos pronunciar sobre nossa missão aqui. – tais palavras calaram o comandante dos sereianos. – E em segundo lugar, não podemos comunicar nossa missão à vocês, apenas ao seu grande líder.
-Ao nosso líder? – perguntou o comandante, para depois gargalhar. – E você acha que é fácil assim. Você acha que é só chegar aqui e dizer que quer vê-lo que nó o levaremos à ele?
-Bem... é. – confirmou Guilherme, com a cabeça.
-Pois se enganou garoto. Para ver nosso líder, vocês têm que provar que são dignos em uma prova de coragem e honra.
-Certo. Aceitamos qualquer prova que vocês nos dêem, mas sobre o que estamos falando, exatamente? – indagou o bruxo de olhos cor de mel.
-Normalmente são batalhas entre os melhores guerreiros de cada grupo.
-Batalhas, é? – perguntou Guilherme em dúvida. – Que tipo de batalhas?
-Batalhas de um contra um, sem interferência externa, na qual, o guerreiro que vence em uma batalha permanece para outra, até perder ou desistir ou...
-Ou... o que?
-Ou morrer. – sorriu o comandante.
-Para mim parece bom. Um dos meus amigos se machucou por isso apenas cinco de nós lutaremos. Escolha seus cinco melhores guerreiros e me avise quando estiver pronto. As regras das batalhas serão decididas antes que a primeira aconteça. Estaremos à sua espera. – finalizou o moreno se afastando.
-GUILHERME... NÃO FAÇA ISSO! – berrou Lupin, ao longe, sendo amarrado à uma estaca na praça da cidade, à poucos metros da entrada onde estavam.
-LUPIN, NÃO SE META. ESSA ESCOLHA É MINHA. E ALGUÉM FAÇA O FAVOR DE CALAR ESSE CARA AÍ...
Guilherme continuou a caminhar em direção aos amigos e ao passar direto murmurou apenas quatro palavras:
-Isso vai ser divertido! – e se afastou, com a cicatriz horizontal faiscando à pouca luz fluvial.
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N/A: E aqui está o mais novo e inédito capítulo, recém saido do forno da minha imaginativa e fantasiante mente... Ele sequer foi betado, e isso ocorreu mais pelo fenômeno denominado preguiça, do que pela falta de tempo, por isso desculpem... Como sou um péssimo vestibulando, não tenho estudado muito, o que quer dizer que me dedicarei um pouco menos à escrever fics para poder passar no bendito vestibular, mas isso não quer dizer que abandonarei minha criação... O processo de postagem é que será mais lento devido ao fato de eu sequer ter começado o novo cap... xD
E eu quero me explicar tbm qnto ao fato desse enorme e longíssimo cap (espero q gostem), pq eu nunca escrevi um cap com 9 páginas no Word... Isso aconteceu pq eu me recuso terminantemente a parar um cap sem um fim marcante, seja ele, engraçado, emocionante, romântico, ou pelo menos, com uma frase de impacto...
Obrigado à todo mundo que lê e num comenta tbm... Vcs gostando da fic e acompanhando, já me dou por satisfeito...
Até a proxima...
Abs
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