Capítulo 10 (falta revisar)



"Mas é claro que eu não ia simplesmente abaixar a cabeça e aceitar."

"Esse é o nosso Almofadinhas!", adiantou-se James Potter, batendo nas costas do amigo, no que foi logo seguido por Pedro Pettigrew.

Remus limitou-se a sorrir:

"Não seríamos nós sem você, Sirius."

Naquele primeiro de setembro, a plataforma nove e 3/4 da estação King's Cross, como sempre, fervilhava de estudantes apressados e ansiosos e saudosos de rever os amigos, seus malões e animais de estimação. Grupos de pessoas se formavam e logo se desfaziam, mas aqueles quatro se encontravam reunidos há uma boa meia hora, posicionados em um lugar estratégico, que lhes permitia ver imediatamente quem chegava - e, da mesma forma, serem vistos logo de cara.

"O filhinho de papai do Regulus, por outro lado..."

"Durmstrang, é?", Pedro perguntou, os olhinhos ardendo de curiosidade.

"Durmstrang, Pedrinho", Sirius respondeu com ar de enfado e desprezo, colocando as mãos no bolso e sacudindo a cabeça a fim de afastar uma mecha da franja negra que lhe caía sobre os olhos. "Quase molhou as calças de tão excitado. Não duvido nada que ele vá aprontar alguma só pro nosso pai parar de ameaçar e realmente mandar a gente pra lá."

"Bem", Remus suspirou, "como bom Sonserino que é... ele deve ter ficado feliz com a hipótese."

"Mas vou ter que me comportar. Sabem, parar de atacar mestiços", Sirius disse com um sorriso cínico. "Claro, por que outro motivo eu atacaria o Ranhoso? Pensando bem, talvez a gente devesse arrumar uma passagem pra ele, só de ida, pra Durmstrang... ele ia gostar, não ia? E Pontas... Pontas? Pontas!", Sirius cutucou o amigo com um dedo estendido. James havia dado alguns passos para o lado e espichava o pescoço, tentando ver melhor sobre o mar de cabeças.

"Acho que a gente não precisa nem perguntar quem o Pontas tá procurando...", insinuou Pettigrew.

"Esse ano, vai", James ergueu o queixo, confiante. "Esse ano, Lily Evans vai ser minha!"

"Tenho sérias dúvidas quanto a isso...", murmurou Remus, erguendo as sobrancelhas.

"E depois do que a gente fez com ele no ano passado, duvido que o Ranhoso vá sequer precisar de uma passagem pra Durmstrang. Aposto como nem olhar na cara dela ele vai ter coragem, agora", então, James começou subitamente a gargalhar alto e de forma descontrolada. "Ah, eu não acredito! Falando nele... olhem só", ele apontou para um canto mais afastado da estação, onde um rapaz magro e pálido, com uma expressão bastante aborrecida, tentava passar despercebido - principalmente da mulher igualmente magra e de ar deprimido que o acompanhava. "Ranhoso e mamãe!"

"Quer apostar quanto que é medo de mostrar seus dotes pra escola toda, outra vez?", Sirius perguntou, e todos riram, exceto Remus.

"Não é só o Almofadinhas quem vai ter de se comportar esse ano, lembrem-se", ele disse.

"Ah, só as velhas denteçõezinhas de sempre, Aluado. Quem se preocupa com isso?", James respondeu, com um arzinho de desprezo. "Cara, como é que a Lily pode querer qualquer coisa com o Ranhoso, agora? Que perdedor", ele concluiu, sacudindo a cabeça.

E pela primeira vez em muito tempo, James sentia-se realmente aliviado e otimista. Sempre tivera tudo para estar anos-luz à frente de Snape na preferência de Lily, mas, por algum motivo que ele não conseguia compreender, havia sido o outro até então havia levado vantagem. Toda aquela proximidade, os abraços, as mãos dadas, o enojava. O possuía de ciúme e raiva intensos, irracionais. Notava a forma como Ranhoso olhava para ela, cheio de adoração, desejo. Repetia para si mesmo que não devia se preocupar, que Lily jamais sentiria por Snape outra coisa que não fosse pena. Mas, no fundo, tinha medo. Se era tão improvável que ela se aproximasse do outro, e ainda assim eram tão íntimos, por que deveria confiar na falta de outros interesses por parte dela? Ou melhor... tivera medo. Depois do ridículo do final do último ano, era ainda surpreendente que Snape sequer retornasse a Hogwarts. Havia retornado, era claro. Mas todo mundo sabia que Snape e Lily haviam brigado feio nos últimos dias, e rompido, definitivamente.

Ele colocou as duas mãos no bolso e assobiou, muito satisfeito. Era só questão de tempo. E como ele não era de esperar muito... Ignorando risadinhas e indiretas dos outros marotos, empertigou-se ainda mais quando ela finalmente chegou à estação. Observou-a sendo logo cercada pelo costumeiro grupo de amigos - exceto Severus, que continuava exatamente onde estava, do outro lado da estação, ainda junto da mãe. James sorriu. Mas logo seu rosto adquiriu uma expressão contrariada, quando as onze horas soaram e todos se dirigiram ao Expresso Hogwarts. Os amigos não quiserem nem saber de Lily e simplesmente o arrastaram consigo - precisavam de uma cabine só para os quatro, e não podia ser de outra forma. A mais isolada, quase no final do trem, era a ideal. James não conseguiu ficar mal-humorado por muito tempo, com os amigos que reencontrava e planos que faziam para aquele ano - principalmente seus próprios planos secretos para Lily. O tempo pareceu deslizar com a mesma velocidade do trem sobre montanhas e vales. Remus logo teve de deixá-los, para cumprir suas funções de monitor, não sem antes ter de prometer a James que daria um jeito de enviar Lily para a cabine deles. E se Remus cumpriu ou não a promessa, o fato é que algum tempo depois Lily Evans em pessoa abria a porta da cabine. James teve tempo apenas para se ajeitar em seu banco, torcendo para que parecesse tão relaxado e cool quanto gostaria, e a cumprimentou

"Olá, Evans. Como foram as férias? Espero que..."

"Ótimas", ela o cortou, enquanto passava os olhos pela cabine, à procura de alguma, qualquer, infração. Ele continuou impassível, como se a frieza dela não o afetasse de forma alguma. "Estou de olho em vocês", ela disse, três segundos depois, se despedindo.

Peter segurou uma risadinha enquanto Sirius fazia um muxoxo e olhava significativamente para James, como se dissesse "viu, eu disse, vá procurar outra garota". James, cruzando os braços, pôs-se a fitar a paisagem do lado de fora como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Tudo bem, já estava acostumado àquele tratamento. Tudo bem. Mas simplesmente não podia esperar mais. E agora o caminho estava completamente livre... e ela estava ali, tão próxima... por que não tentar alguma coisa? Seguiu o conselho de Sirius: foi procurar uma garota. Mas não outra. A única que lhe interessava.


*


"O que foi?", ela perguntou, fitando o garoto pálido e sério sentado à sua frente, com ambos os pés sobre o assento e os braços passados em torno dos joelhos. Completamente impenetrável, indecifrável.

Severus sacudiu a cabeça, murmurou algo incompreensível, tornou a fixar os olhos nela. Minutos depois, deitou a cabeça sobre o encosto do banco, estendeu um dedo, com o qual apanhou uma mecha de cabelos vermelhos, e sussurrou:

"Você está viva."

Ela riu, fez uma expressão descrente e divertida, "estou", mas então, tornou-se muito séria.

"Sev, ainda não entendi o que foi que aconteceu com você. Você estava tão... angustiado. Dava até pra dizer que alguém tinha morrido e..."

"Nada. Não aconteceu nada", ele a interrompeu, sacudindo a cabeça.

"Mesmo?", ela perguntou, analisando-o longamente com o olhar. "Olha, juro que tô preocupada."

"Não precisa ficar", ele murmurou, tornando-se impenetrável outra vez.

Bolas, um pesadelo. Ela quase não acreditava naquilo. Mas o que mais poderia perturbar tanto uma pessoa? Porque Severus andava perturbado, além de mudado. Ela não sabia o que, exatamente, havia de diferente, agora. E nem acreditava totalmente na promessa dele, de finalmente esquecer Magia Negra. Ele já havia contado aquela mesma mentira tantas vezes... por que agora seria diferente? Então ela via, ali, diante de seus olhos, uma pessoa aterrorizada, que estremecia só de ouvir o nome "Artes das Trevas". Era por isso que ela acreditara, e estava lhe dando aquela chance. A última. Mas ele ainda precisava provar que era digno dela.

"Apenas... não me deixa", ele pediu pelo que devia ser a milésima vez, enrolando a mecha de cabelo no dedo.

"Sev, você sabe..."

"Eu sei, eu sei. E já disse: não quero nunca mais nem ouvir falar em Artes... nisso."

"Então eu não vou deixar você", ela disse, revirando os olhos porque era uma conclusão extremamente lógica. Então, segurou ambas as mãos dele, para que ele se animasse um pouco e, num ímpeto, beijou-o no rosto.


*


Remus Lupin precisou usar toda a pouca força que possuía para segurar James, e evitar que ele fizesse uma besteira. Lembrou-o de que estava sob observação, de que ele, Remus, era um monitor, e que se James, entrasse naquela cabine, Remus teria de buscar o Monitor-chefe, e James estaria seriamente encrencando antes mesmo de chegar a Hogwarts para o início do ano letivo. Mas foi só quando Sirius, que pareceu adivinhar as intenções do amigo, surgiu, é que James foi arrastado de volta para sua cabine. Tão furioso que não conseguia dizer nada coerente. O rosto vermelho, punhos cerrados. Remus tentou dar-lhe água para beber, mas James recusou, atirando longe o copo. Sirius tentou aplacar a fúria do amigo prometendo-lhe que iam pensar num jeito de se vingar, e só então a respiração de James foi, finalmente, se acalmando aos poucos e ele foi colocando em ordem seus pensamentos. Remus olhou de forma significativa para Sirius, que piscou-lhe de volta. Remus conhecia bem demais o amigo para acreditar que aquela piscadela significasse uma mentira, mas, desde que não tomasse conhecimento real de plano algum, não podia incriminar os amigos. E Sirius também sabia daquilo. Assim como James. Sombrio, ele fitava outra vez a paisagem, sob um céu que escurecia rapidamente. Ainda trazia os punhos fechados, embora respirasse normalmente. Não havia nada definitivo, ainda, quanto a Lily. Ele poderia ter perdido, naquele dia. Mas a guerra estava declarada. Não teria mais piedade alguma e seria capaz de ir além do pesadelo... ele e Sirius haviam de pensar em algo, ainda naquela noite... Ranhoso ia desejar jamais ter nascido.



*


Somente três dias haviam se passado desde a terrível descoberta, mas parecia fazer toda uma vida. Vários anos, pelo menos. A sensação de se envolver com as Artes das Trevas, de desejá-las, de se vingar da própria mediocridade buscando o poder, tudo parecia encoberto por um borrão nebuloso. Havia sido mesmo ele quem almejara todas aquelas coisas? Parecia tudo tão insignificante, agora, que um único desejo ardia dentro dele e o consumia. Agora que havia descoberto o que era essencial em sua vida. Suspirou, aborrecido e com um certo medo que não podia controlar. Lily havia prometido jamais deixá-lo, era fato. Mas três dias era um tempo curto demais para que ele realmente acreditasse e se sentisse seguro. Até o fim, tanta coisa poderia acontecer, separá-los... Ainda tinha pesadelos com o que sentira em sua versão adulta, e o mais assustador era que não precisava adormecer para que eles acontecessem. Bastava desviar a atenção, devanear um pouco e lá estava outra vez a sensação de perda, de remorso e culpa, de vazio absoluto e morte, aterradora como da primeira vez que a sentira. Havia matado Lily. Porque ela o abandonara.

Tinha sido o suficiente para fazê-lo realmente querer, pela primeira vez em sua vida, mudar.

Mas então... ele pensou, e deixou escapar um suspiro dolorido enquanto a via se afastar, virar-se para trás uma ou duas vezes e acenar, e então, desaparecer no meio da multidão, deixando-o só, no vento fresco da noite, na estação de Hogsmeade. O quanto aquela vontade resistiria em Hogwarts? Amaldiçoou a escola e a rivalidade das casas pela milésima vez. A veria poucos minutos por dia, e temia que não fossem suficientes para mantê-lo firme sua resolução. Isso, e mais a companhia dos velhos amigos, delineava um futuro nem um pouco otimista.

Estremeceu.

Caiu em si e apanhou o malão, esquecido sobre a plataforma. Havia ficado completamente sozinho ali. Não que se importasse. Tomou a direção das carruagens sem cavalos, enquanto se dava conta de que havia se precipitado ao sentir-se otimista e seguro antes de embarcar. Não seria nada fácil, pensou sombriamente. Mas, deus, como poderia permitir que a história se repetisse?


*


Severus estava realmente mudado. Não era apenas seu desejo pelas Artes das Trevas que parecia insignificante, agora, mas todas as preocupações banais e superficiais de praticamente todos no castelo. Exames, matéria, namorados, penteados, Voldemort; até mesmo todo o receio que ele possuía de se envolver com alguém, herança das constantes brigas de seus pais, parecia ter perdido toda a intensidade. Não que ele estivesse pensando outra vez em se envolver com ela. Estranhamente, até esse desejo havia diminuído radicalmente, até quase desaparecer. Queria apenas que ela permanecesse ao lado dele, e não se importava em absoluto que fosse apenas como amigo.

Tivera alguma sorte: seus antigos amigos, aspirantes a Comensais, ainda sentiam receio de serem vistos com ele depois do fiasco no final do último ano. Ignoravam-no solenemente. Tanto melhor, Severus pensava, dando de ombros. E cerrava as cortinas de sua cama, agarrando-se à promessa que ela fizera mas, ao mesmo tempo, não podendo evitar que toda uma angúsita e pessimismo tomassem conta dele, e de seus sonhos daquela noite.


*


"Tome."

"O que é isso?", Lily perguntou, estreitando os olhos, desconfiada.

"Um... presente", ele respondeu.

"Um presente?", os olhos se arregalaram. "Ah, não, não posso aceitar", ela disse, empurrando o pacote de volta para as mãos dele.

"Não... não é o que você está pensando, Lily", Severus disse, meio tenso. "Abre. Por favor", ele insistiu, notando a resistência dela.

"Severus", ela bufou. Ele cruzou os braços e se manteve impassível. Ela revirou os olhos e acabou obedecendo e desfazendo o enorme embrulho de papel pardo.

Eram livros. Uns sete ou oito, pelo que ela pôde contar rapidamente. Usados, antigos livros de Artes das Trevas.

"Devia ter pensado nisso antes", ele anunciou.

Ela ergueu os olhos para ele, ainda levemente boquiaberta.

"Pra mim, Sev?"

Ele afirmou com um aceno de cabeça.

"Faça o que quiser com eles, Lily. Não vou usá-los nunca mais, mesmo", ele deu de ombros, então, fitou-a intensamente, sem piscar, com os olhos muito negros: "Uma prova de que realmente mudei."

"Hm", ela tornou a olhar para os livros.

"Você pode até queimá-los, se quiser", ele disse, olhando com indiferença para os volumes.

"E se eu quiser encontrar um desses na biblioteca...", ela insinuou.

"Não existe nenhuma cópia destes na biblioteca. São antigos, da família da minha mãe."

"Ah, mas então nem pensar em queimar. Você podia doá-los pra escola, por que não?"

Ele deu uma pequena risada irônica.

"Não acho que Dumbledore gostaria de ver esse tipo de coisa na biblioteca dele."

Ela ergueu ambas as sobrancelhas. Então, pensou um pouco mais, embrulhou os livros de volta e disse:

"Muito bem, vou ficar com eles, por enquanto", colocou-os debaixo do braço.

Seu estranho presente. Surpreendentemente, havia sido um dos melhores que ele poderia ter lhe dado.


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capítulo meio inútil, de ligação. e ainda gosto muito dessa cena dos marotos. me matem =P peço perdão pela frase extremamente clichê, "ranhoso ia desejar jamais ter nascido", mas acontece com (quase) todo mundo.

desculpem a demora, é que a esganada aqui teve a capacidade de começar mais 2 fics novas =P o próximo capítulo dessa deve demorar um pouco, porque ainda quero dar uma revisada/aparada na história antes de continuar (inclusive já dei uma mexida no capítulo 1, ficou lindão, tão mais realista! *___*) . mas NÃO vou abandoná-la, nem reescrever tudo de novo, só dar uma acertadinha numas coisas.

respostas:

morg iih, vc não viu nada, ainda. e eu tamém adoro a eileen e a relação dela com o sev... se vou escrever alguma coisa só com ela, não sei, mas ela vai aparecer mais algumas vezes no decorrer da fic ;D

hm, e tenho mais dois pontos dessa história pra discutir com vc =P

lois bom, depois me fala das suas suspeitas... e espero que goste dos outros capítulos, tb. e se vc quiser esperar mais um pouquinho pra ler, até estar tudo revisado... melhor ;)

beca que bom que vc gostou, tava devendo um desses ;D beijo!

bizinha well. não sei se vc leu ou se lembra, mas ele implora pro dumbledore salvar a lily no livro sete. as situações são bem parecidas, a lily correndo risco de vida, etc ;)

mas, se não deu pra engolir, paciência.

obrigada, também, a todo mundo que gastou seu tempo lendo o último capítulo. e então é isso, se alguém além de mim se interessar pelas mudanças na fic, venham dar uma espiada de vez em quando ;D

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