Na Florean Fortescue



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“Non siamo angeli in volo venuti dal cielo
Ma gente comune che ama davvero
Gente che vuole un mondo più vero
La gente che incontri per strada in città”


“Não somos anjos em vôo, vindos do céu,
Mas somos gente simples que ama de verdade
Gente que quer um mundo mais sincero
A gente que se encontra pela estrada da cidade”

Laura Pausini – Gente


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Sábado chegou com o sol brilhando intensamente, o céu azul sem nuvens e o calor crescente compunham o cenário de mais um típico dia de verão londrino. Apesar do clima, muitas pessoas andavam nas ruas da capital inglesa aquele dia, fazendo compras, indo visitar os amigos ou tomando uma cerveja em algum dos vários pubs do centro da cidade. O bar menos movimentado do centro de Londres era, aparentemente, um lugarzinho sujo e empoeirado, com uma placa torta à frente, onde se lia “O Caldeirão Furado”.

O olhar dos passantes não se demorava mais do que dois segundos na fachada escura e sombria do lugar, e os poucos que entravam no bar, contrariando anormalmente o clima quente, vestiam-se de capas longas com cores escuras. Algumas das estranhas figuras que entravam no pub paravam para conversar com o barman, pediam uma cerveja amanteigada ou um uísque de fogo. De tempos em tempos, alguém emergia da lareira, espanando as cinzas da roupa, ou entrava nela e desaparecia em meio a uma torrente de chamas verde-esmeralda.

No entanto, a maioria apenas cumprimentava o velho Tom e seguia direto para a porta dos fundos, que escondia um pequeno pátio com uma parede de tijolos e algumas latas de lixo ao fundo. Ao parar diante da parede, as estranhas figuras de capas contavam os tijolos e tocavam em um deles com suas varinhas, fazendo com que uma passagem se abrisse diante deles. Através da passagem chegava-se a uma rua sinuosa, cheia de lojas dos dois lados e centenas de pessoas, também de capas, fazendo compras.

Andando alguns metros pela rua, podia-se encontrar uma sorveteria, onde alguns adolescentes reuniam-se em seu último dia de férias.

-“Será que eles vão demorar muito?” – disse Helena, olhando impaciente para o relógio, ao que Lupin achou ser milionésima vez no mesmo meio minuto.

-“Acalme-se,” – disse ele, com seu jeito calmo de sempre - “eles devem chegar logo.”

-“Humpf!” – fez Helena – “Já perdi as contas de quantas vezes você me disse isso.” – e voltou a consultar seu relógio.

Remo revirou os olhos, rindo-se da impaciência da amiga que, por ser artilheira do time de quadribol da Grifinória, vivia querendo que tudo acontecesse em alta velocidade.

Algum tempo depois, eles ouviram alguém gritar seus nomes:

-“Helena, Remo, aqui!” – uma garota ruiva com brilhantes olhos verdes e um sorriso de orelha a orelha corria na direção da sorveteria, seguida por outra garota, mais ou menos da mesma altura, com cabelos castanhos ondulados caindo até cintura e olhos cor de mel.

-“Lílian! Giulia!” – exclamou Helena, feliz em finalmente rever suas melhores amigas.

As três se abraçaram de um jeito que parecia que não se viam há anos. De fato, as três eram muito unidas, faziam tudo juntas desde o primeiro ano, quando se conheceram.

-“Que bom que vocês chegaram, eu já estava começando a achar que vocês não vinham mais!”

-“Claro que vínhamos, sua boba!” – disse Giulia, enquanto Lílian cumprimentava Remo.

-“Helena já estava para ter um ataque cardíaco se vocês se atrasassem mais um minuto!” – comentou o garoto, em um de seus raros momentos descontraídos.

Giulia e Lílian riram, Helena se fez de ofendida. No entanto, antes que pudesse encontrar algo para dizer, dois garotos apareceram, conversando animadamente.

-“Já não era sem tempo!” – foi a vez de Lupin se empolgar.

-“Ora, ora, parece que alguém realmente não vive sem a gente, não é mesmo Pontas?” – disse um garoto pálido, de cabelos muito negros e lisos.

-“Não, decididamente não vive sem a gente!” – respondeu o outro garoto, este com os cabelos castanho-escuros extremamente bagunçados.

-“Tsc, tsc, nem parece que nos vimos semana passada!” – disse o garoto pálido.

Lupim fechou a cara, mas não se irritou de verdade, abrindo um sorriso logo em seguida, ao cumprimentar Sirius. Thiago, entretanto, não perdeu muito tempo zoando o amigo, já que alguém mais prendia sua atenção no momento.

-“Olá minha ruivinha, como se sentiu nessas férias longe de mim? Aposto que morreu de saudades!”

-“Não existe ‘minha ruivinha’, Potter! Você está cansado de saber que é EVANS para você!” – disse Lílian, revirando os olhos de impaciência.

-“É claro que é Evans para mim, Evans todinha e só para mim!” – disse o maroto, divertindo-se ao ver a expressão da garota, que apesar de enraivecida, corara um pouco.

Nesse meio tempo, Sirius virara-se para falar com as outras garotas.

-“Como passaram as férias?”

-“Bem, obrigada.” – respondeu Giulia –“Mas não vejo a hora de voltar à Hogwarts!”

-“Eu também! Quero que o campeonato de quadribol comece logo!” – falou Helena, sem tirar os olhos de Thiago, que naquele momento tentava conjurar um buquê de flores para Lílian.

Sirius, no entanto, mantinha o olhar fixo na garota, seu cérebro trabalhava para processar as mudanças que agora notava nela. Sinceramente não conseguia lembrar-se de jamais a ter visto tão bonita.

-“Você só podia mesmo estar ansiosa para voltar a voar!” – riu-se Giulia, mas desistiu de continuar falando, ao ver que nenhum dos dois amigos estava prestando atenção a ela.

Sirius estava vidrado em Helena, que por sua vez estava vidrada em Thiago, que tentava arrumar o buquê de rosas murchas que conjurara para Lílian. Suspirando, Giulia aproximou-se de Lupin dizendo:

-“Melhor entrarmos para conseguir uma mesa, esse lugar logo vai estar superlotado!” – ao que o garoto concordou e a seguiu.

Quando percebeu que ainda estava parada na porta da sorveteria como uma boba, Helena sacudiu a cabeça, tentando clarear as idéias. Ao olhar para o lado, viu que Sirius estava parado a sua frente, exatamente do mesmo jeito que ela estivera segundos atrás.

-“Black? BLACK!” – chamou ela, acenando com a mão diante do rosto do maroto, que demorou alguns segundos para começar a piscar e reagir.

-“O que foi?”

-“Giulia e Remo entraram, vamos também?” – disse Helena, mas ao ver que o garoto não fazia menção de querer se mexer, acrescentou, acenando com a cabeça na direção de Lílian e Thiago – “Se você puder chamar aqueles dois para mim, eu agradeço!” – e entrou na sorveteria.

Com uma certa dificuldade, Sirius voltou à realidade. Chamou Thiago e Lílian, que aproveitou a oportunidade para jogar o buquê de flores na lixeira da Florean Fortescue, fingindo não ver a expressão de desagrado no rosto de Potter. Assim, os três entraram e juntaram-se aos outros, que já haviam feito seus pedidos.

Enquanto a tarde ia passando por eles, colherada após colherada de sorvetes esplêndidos, os garotos conversaram animadamente. Os marotos haviam tido muito contato durante as férias, mas as garotas não se viam desde a última viagem de trem, voltando de Hogwarts para Londres.

Assuntos simples de adolescentes se misturavam com assuntos sérios, a mediada em que o tempo passava. Em pouco tempo, o grupo entrou em uma animada conversa sobre as carreiras profissionais que cada um pensava em seguir ao terminar a escola. Thiago, Sirius, Lupin e Giulia estavam decididos a se tornarem aurores, Helena queria ser jogadora profissional de quadribol e Lílian estava em dúvida entre ser curandeira ou professora.

-“Mas se você for professora vai ensinar o que, Evans? ‘Como nunca quebrar as regras da escola’, ou algo assim?” – disse Sirius, com seu jeito brincalhão de sempre.

-“Qualquer matéria que a Lily ensinar vai ser ótima!” – falou Thiago, piscando para a garota – “Eu voltaria a Hogwarts só para ter aulas com ela!”

Lílian esforçou-se para lançar um olhar irritado aos marotos, mas o prazer que sentia ao ser elogiada, mesmo que por Thiago Potter, quase superava sua repugnância pelo jeito arrogante do garoto.

Após mais alguns minutos de conversas profissionais, o rumo da discussão virou-se para as últimas notícias do mundo bruxo.

-“Minha mãe me mostra esses jornais todos os dias.” – disse Giulia, lançando um olhar desanimado ao exemplar do ‘Profeta Diário’ que Thiago tirara do bolso.

Helena, que passara o último meio minuto com o rosto apoiado nas mãos olhando fixamente para o restinho de sorvete no prato, ergueu os olhos para a amiga. Ela sabia que Giulia tivera muitos problemas em casa, por causa de sua vontade de ser aurora, e sabia também, ou sentia, que aquilo a devia estar deprimindo profundamente.

-“Realmente, essas mortes misteriosas são de preocupar a qualquer um!” – comentou Remo.

Um silêncio profundo caiu sobre o grupo, cada um preso a seus próprios pensamentos. De repente, Thiago falou:

-“Onde está o Pettigrew ?”

Lílian lançou-lhe um olhar do tipo “só-o-Potter-para-pensar-nisso-uma-hora-dessas”, mas em seguida percebeu que era a única que parecia irritada com a observação do garoto.

-“Realmente, ele nem ao menos apareceu!” – comentou Sirius.

-“Vocês o convidaram?” – disse Giulia, incrédula.

-“Hum...bom, sim.” – respondeu-lhe Sirius.

-“O que você tem contra ele?”

-“Nada, Remo, eu só... o acho um pouco estranho.” – concluiu a garota.

-“Ora gente, não há motivo para preocupação!” – disse Helena – “Vamos sair para comprar os nossos materiais?”

Todos concordaram e eles saíram da Florean Fortescue, piscando um pouco ante a claridade da rua. Já era fim de tarde, mas o dia continuava quase tão quente quanto no início e muitas pessoas ainda enchiam o Beco Diagonal, carregadas de sacolas e pacotes.

-“Aaahh!” – berrou Sirius. Subitamente, ele não via mais nada.

Duas mãos pequenas e geladas envolveram seus olhos, ele sentiu o peso da garota que se jogara sobre seus ombros, falando com uma voz que ela pretendia que fosse doce:

-“Adivinha quem é?”

-“Nataly, ficou maluca?” – protestou o maroto, desvencilhando-se das mãos garota, que fez beicinho e tentou, visivelmente, forçar o choro.

Sirius percebeu no mesmo instante como havia sido grosseiro. Puxando a menina pela cintura, murmurou um “desculpe-me” e a beijou na bochecha.

-“Vai ter que fazer melhor do que isso se quiser o meu perdão, Sirius Black.” – disse Nataly, provocativa.

O garoto sorriu, e se pensar duas vezes, beijou-a.

-“Olha o Almofadinhas!” – vibrou Thiago – “Isso é que é homem, faz na frente de todo mundo!”

As garotas reviraram os olhos ao ouvirem o comentário do garoto. Lupin forçou-se a olhar em qualquer outra direção, achava que demonstrações públicas daquele tipo eram totalmente desnecessárias.

-“Senti sua falta...” – murmurou Nataly, ao afastar-se do namorado.

-“Eu também senti sua falta.” – disse Sirius, embora não com a convicção que, durante as férias, tinha imaginado que diria.

Os dois haviam namorado durante os três últimos meses de Hogwarts, mas Sirius não imaginava que se sentiria tão pouco empolgado em rever a garota após as férias. Ele não entendia como os cabelos loiros e compridos, os brilhantes olhos azuis e a cintura fina de Nataly não o atraíam mais como antes.

A garota, por sua vez, não notou mudança alguma nele, parecia tão fascinada pelo namorado, que nada do mundo ao redor lhe despertava o menor interesse. Sem largar a mão de Sirius, ela juntou-se ao grupo, que continuou andando e conversando animadamente, até que outra inesperada - ou nem tanto – aparição os fez parar.

-“Pedro!” – disse Thiago, ao ver a figura redonda do amigo vindo em sua direção – “`Por onde você andou?”

-“Eu me atrasei, me desculpem.” – balbuciou ele, parecendo, de certa forma, um pouco nervoso.

-“Não tem problema, você só perdeu os melhores sorvetes que o Galeão pode pagar!” – falou Thiago, passando as mãos pela barriga e olhando para cima com um olhar sonhador.
Pettigrew pareceu desapontado. Forçando um sorriso tímido, cumprimentou as garotas, depois Sirius e Lupin.

-“Eu lamento não poder ficar mais, mas ainda não comprei nenhum dos meus livros para esse ano.” – disse ele – “Vejo vocês no Expresso de Hogwarts.”

-“Você realmente se atrasou!” – comentou Sirius, ao que Pedro corou.

Apressando-se, o garoto saiu andando o mais depressa que pôde.

-“Que garoto estranho!” – disse Nataly, que por ser dois anos mais nova do que o restante do grupo, convivia pouco com os marotos e só conhecia Pettigrew de vista.

-“Ele só é um pouco... tímido.” – Remo tentou justificar.

-“Tímido é pouco,” – falou Helena –“ele estava tremendo de tanto nervosismo!”

-“Talvez,” – Lílian entrou na conversa – “mas para mim pareceu o mesmo Pedro Pettigrew de sempre.”

Exatamente, pensava Giulia o mesmo estranho, desajeitado e pirado Pedro Pettigrew de sempre! Ela não conseguia simpatizar com o garoto nem por nada.

O grupo retomou o caminho do Caldeirão Furado. No entanto, entes de começara a andar, Thiago cutucou Remo e sussurrou:

-“Olha o seboso!”

Severo Snape saía de uma ruazinha lateral, carregando várias sacolas.

-“Aquela não é a Travessa do Tranco?” – perguntou Lupin, ao que Thiago confirmou com a cabeça.

Os dois se entreolharam significativamente.

-“Vamos garotos!” – Giulia virara-se para chamá-los, mais à frente, Sirius e Nataly andavam de mãos dadas, Lílian e Helena observavam a vitrine de uma loja de vestes.

Thiago e Remo juntaram-se novamente ao grupo, contariam para Sirius o que tinham visto quando as garotas estivessem longe.

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