As Artes das Trevas...
Capítulo 3: As Artes das Trevas em Essência
A primeira onda de surpresa que o atingiu foi causada pelo fato da garota estar *sacudindo* sua mão. As pessoas não o faziam de forma alguma, a não ser que ainda não soubessem... coisa que, mais cedo ou mais tarde, fatalmente mudaria. Então, a atitude delas também mudaria por completo, exceto em raríssimas exceções. Mas Lupin não teve muito tempo para divagar, porque logo surpreendia-se outra vez; agora, com a energia e a expansividade de Tonks. Ela irradiava tanta vivacidade que ele quase se sentia "contaminado", ainda que por um mínimo dela. Remus pigarreou a fim de limpar a garganta e então disse, ainda um pouco surpreso com aquela aparição que parecia tão fora do contexto melancólico e depressivo daquela sua tarde:
_ Sim, exatamente. Sou Remus Lupin. Posso ajudá-la em alguma coisa?
Tonks não tinha o que se poderia chamar de plano; afinal, tudo o que Scrimgeour lhe pedira fora para se certificar de algumas coisas e fazer algumas perguntas. E como provavelmente jamais veria Lupin outra vez, poderia perfeitamente continuar com aquele visual. Ela só se arrependia de ter deixado escapar seu nome verdadeiro, mas, que se danasse. Ninguém conhecia os Tonks, mesmo (uma das vantagens de se ter um pai nascido trouxa); e se conhecesse, não havia muitas chances de associar o sobrenome deles a um... nome.
_ O Professor Dumbledore me pediu pra te acompanhar, sabe, até sua nova casa. Pra ter certeza de que vai correr tudo bem _ ela concluiu, com um sorriso encantador, colocando as mãos para trás do corpo.
_ Ah, claro... suba _ ele educadamente ofereceu a ela a escolha do lugar. O rosto dela se iluminou.
_ Nossa, nunca andei num desses! _ ela comentou, enquanto se acomodava no macio banco forrado de veludo vermelho _ Opa! _ então, o pé dela enganchou-se no estribo e Tonks tropeçou. Lupin instintivamente adiantou-se para segurá-la, mas, por sorte, ela apenas caiu sentada sobre o assento. Suas bochechas pareceram tingir-se levemente de vermelho, mas talvez fosse apenas um reflexo das almofadas. Porque quando Remus finalmente sentou-se a seu lado, depois de ajudar o cocheiro a acomodar seus malões na parte de trás da carruagem, ela perguntou, sem um mínimo tom de embaraço na voz:
_ Então, está mesmo indo embora?
Ele não respondeu de imediato; antes suspirou, e deixou os olhos perderem-se por alguns instantes na estrada que começava a se movimentar; e em Hogwarts, ficando definitivamente para trás.
_ Às vezes _ ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela ouvir _ temos de tomar certas decisões, por mais difíceis que sejam _ e apesar de coberta por uma enorme dignidade, havia uma nota de dor em sua voz, tão indisfarçável, tão verdadeira e crua, que Tonks se calou em vez de dar prosseguimento à enxurrada de perguntas que faria usualmente. E mesmo que ele fosse, por ora, apenas a "caça", ela não pôde deixar de se sentir tocada pela situação dele.
Remus, da mesma forma, não parecia muito disposto a falar. Ele havia cerrado as pálpebras e apoiado a testa no vidro frio, provavelmente à procura de frescor. Mas Tonks precisava continuar:
_ E já sabe o que vai fazer agora?
Lupin endiretou-se, abrindo os olhos lentamente, e murmurou que Dumbledore o havia contratado para realizar algumas pesquisas particulares. Ele estava sendo bastante educado, mas ou estava cansado demais (hipótese mais provável dados os acontecimentos da noite anterior), ou escondendo alguma coisa, porque estava sendo igualmente reticente. O tempo estava quente e abafado, tornando aquele um começo de tarde preguiçoso; e o balanço suave do coche, somado ao perigo agora distante, fizeram todo o sono acumulado daquela semana desabar com tudo sobre Tonks. Antes que pudesse evitar, estava bocejando abertamente. Apressou-se a pedir desculpas, mas Lupin, aparentemente, não se sentira ofendido: ele deu-lhe um pequeno sorriso compreensivo. Ele parecia bem mais jovem visto assim de perto, aqueles cabelos começando a ficar grisalhos enganavam bem. Ela não o achou particularmente bonito naquele instante (mais morto do que vivo, extremamente pálido, com duas enormes olheiras marcando-lhe o rosto), mas descobriu que seus olhos possuíam um belo tom de azul. E Tonks gostou imediatamente da forma como ele sorria, um sorriso meio enviesado e bastante acolhedor, ainda que cansado. Notando que despertara o interesse dele, ela aproveitou a deixa, e continuou:
_ Desculpa, mas eu tô mesmo cansada. Fiquei acordada até de madrugada... _ e então, ela achou que seria melhor uma abordagem frontal, sem preparar terreno, para que ele não tivesse muito tempo para se prevenir com uma possível mentira _ por causa de Sirius Black. Você... você ficou sabendo de alguma coisa? _ ela perguntou, avaliando a expressão corporal dele com o canto do olho.
Lupin suspirou e seu rosto tornou-se preocupado.
_ Desculpe-me... Tonks? _ ela confirmou com um aceno de cabeça enquanto ele tentava vagamente lembrar-se de onde é que conhecia aquele nome; tinha quase certeza de já tê-lo ouvido em algum lugar _ Mas é um assunto confidencial; o Ministério me pediu silêncio...
_ Ah, mas eu sou uma auror! _ ela apressou-se em informar _ Bem, quase isso _ acrescentou, mostrando a ele a carteirinha de estagiária _ Não estará descumprindo nenhuma ordem e, sabe, isso nem é um interrogatório. Só umas perguntinhas... pra passar o tempo _ ela concluiu, com um movimento de ombros.
Lupin calou-se por um instante, pesando aquela nova informação enquanto estudava o documento que a garota apresentava. Estaria sendo deliberadamente seguido, ou seriam mesmo ordens de Dumbledore? Bem, talvez... se a garota o estivesse espionando, não revelaria sua indentidade assim tão facilmente. Relaxou. Já havia dado seu depoimento (bem, ao menos, o início dele) ao aurores em Hogwarts, não faria mal repetir a história; embora ele preferisse chegar logo a seu destino, engolir um bom cálice da Poção de Acônito e esforçar-se para dormir aquela noite. Curvando-se para o lado dela, ele sussurrou:
_ É uma história fantasiosa demais... se alguém me contasse, eu mesmo não acreditaria... _ ela o incentivou com um aceno de cabeça, os olhos atentos e interessados. Remus espiou o cocheiro; este parecia estar com a atenção completamente voltada à estrada. Então, deixou cair a bomba _ A verdade é que... Sirius esteve preso injustamente durante todo esse tempo. Não foi ele quem traiu os Potter, da mesma forma que não foi Sirius quem matou aqueles doze trouxas...
_ Mas quem....? _ Tonks sussurrou com a testa franzida.
_ Pedro Pettigrew _ Lupin suspirou; e agora, um tom eloqüente tomou conta de sua voz, de forma que nem parecia aquele mesmo homem pouco disposto a colaborar que havia sido até poucos minutos atrás _ Um colega nosso. A história é meio longa demais para ser contada agora...
_ Mas como ele ficou escondido durante todo esse tempo e...
_ Aí é que a história fica ainda mais inacreditável... ele é um animago. Assume a forma de um rato.
Os olhos dela se arregalaram por um instante, mas logo seu rosto estampava uma expressão de descrença.
_ Eu sei, eu sei. Difícil de acreditar _ ele compreendeu, num sussurro cansado. Mas agora, mais desperto do que de manhã, em boa parte, culpa de toda aquela energia dela, que o envolvia, o influenciava; e tendo uma ouvinte menos incisiva do que o chefe dos aurores, ele sentia-se impelido a contar toda a história _ Mas, entenda... nunca sequer pensamos em ir atrás dele... já que Sirius assumira a culpa e tudo o mais _ Lupin então ergueu os ombros e deixou-os cair, num movimento que demonstrava impotência diante da terrível verdade. Nunca sequer pensara em seguir os intintos mais profundos de seu coração e ir atrás de provas. Nunca sequer duvidara em aceitar a culpa de um dos melhores amigos. Simplesmente aceitara-o como o traidor.
Felizmente, haviam chegado a seu destino, fazendo-o afastar da mente, ainda que por alguns minutos, o que poderia ser considerada a sua traição pessoal a Sirius. Tonks saltou por um lado enquanto Lupin descia vagarosamente pelo outro, apoiando-se na parede da casa que era, na verdade, uma sobreloja, à qual se chegava por uma estreita escadinha localizada ao lado de uma loja de penas e pergaminhos, já nos limites da vila. O rapaz já retirava a bagagem, acomodando-a no chão e logo despediu-se, com um aceno de cabeça. Seus caminhos separavam-se ali, mas ainda havia algumas palavras que Remus queria acrescentar, como que para reforçar a inocência do agora amigo e diminuir sua culpa. Parou, então, na sombra que a casa lançava sobre os dois naquela tarde quente de começo de verão e disse:
_ Sei que é praticamente impossível provar, mas... tudo faz muito mais sentido agora _ baixou os olhos, assumindo a culpa _ Por mais que aceitasse Sirius como culpado... sempre havia aquela ponta de dúvida lá no fundo. Sempre. Traição não combinava em absoluto com o Sirius que conheci em Hogwarts.
Para sua surpresa, Tonks fez um muxoxo e concordou com um aceno de cabeça:
_ É, é. Sei disso. Cansei de ouvir a minha mãe dizendo praticamente a mesma coisa durante todos esses anos. Mas nunca consegui levar muito a sério... _ até agora. Mas guardou os pensamentos para si. Como conseguiria se formar se ela, uma simples estagiária, tivesse a petulância de duvidar de um fato tido como certo no Ministério, lugar ao qual devia fidelidade irrestrita? Quer dizer, ela até poderia estar começando a ter uma pontinha de dúvida, mas daí a assumir isso para um estranho havia uma enorme distância.
Mas Remus pareceu estar interessado em outra coisa:
_ Sua mãe?
_ Ah, é. Ela é prima do... Black, você sabe. Sempre foram bem chegados antes... antes dele ir preso.
_ Ah. Andrômeda?
_ Você conhece ela? _ e Remus gostou imediatamente da forma como os olhos da garota se arregalaram de surpresa.
_ Bem, não exatamente. Mas sei quem é. Me lembro bem do Sirius contando do escândalo que foi pra família quando ela se casou com seu pai...
_ Ai _ a garota fez uma careta divertida _ ela adora contar isso pra todo mundo. Você nem faz idéia da quantidade de vezes que eu tive que ouvir isso desde que me entendo por gente.
Ele sorriu outra vez; agora, não mais apenas um sorriso educado, mas amigável. E aquela troca de desabafo e sorriso; e mais a descoberta de que a garota era, afinal, filha da prima preferida de Sirius, fez alguma coisa mudar na postura entre os dois.
_ Posso te ajudar a levar isso lá pra cima, se você quiser _ ela apontou para a bagagem dele, esquecida sobre o chão.
Ele apressou-se a responder que não queria atrapalhar, mas Tonks insistiu (porque havia notado o quão cansado ele estava e lembrou-se, com uma pontinha de remorso, que uma boa parte das dores que ele sentia naquela tarde eram culpa dela. Pensou se não devia desculpas a ele, mas talvez, ele sequer se lembrasse de todo o ocorrido e fosse mlehor deixar tudo assim mesmo), e seguiu-o escada acima, comandando a bagagem flutuante com a varinha. Chegando ao segundo piso, encontraram um pequeno mas aconchegante apartamento. Ela acomodou a bagagem no chão, ele agradeceu e então, calaram-se por alguns instantes, ambos os pensamentos voltados na mesma direção. Tonks ainda não se dera por convencida; apesar disso, sentia que devia pelo menos averigüar aquela história do tal animago. Era o que aprendera no seu curso: investigar todas as pistas.
_ Escuta, Lupin. Não tem como provar essa história?
Ele fitou o chão empoeirado antes de suspirar e responder:
_ Difícil. Teríamos que encontrar Pettigrew... e as únicas testemunhas do que aconteceu ontem à noite, além de mim, são três garotos de treze anos... nos quais Fudge já deixou bem claro que não acreditou _ Remus concluiu, desabando em uma poltrona.
Ela apoiou o queixo em uma das mãos, tamborilando os dedos no rosto.
_ Nenhuma idéia de onde ele possa ter ido, o tal Pettigrew?
_ Nenhuma _ e o cansaço pareceu ter se abatido outra vez sobre ele.
Tonks achava pouco provável que Lupin, naquele estado, fosse colocar um malão debaixo de cada braço e perder-se no mundo. Ela podia apostar que ele não estava escondendo coisa alguma e que iria continuar ali, no conforto daquela casa, pelo tempo necessário às investigações. Decidindo que sua missão ali já estava terminada, ela disse:
_ Bem... acho melhor deixar você descansar, agora.
Ele apressou-se a acrescentar:
_ Quero ajudar, mas hoje...
_ Não, não, tudo bem. Ainda tem a lua cheia hoje, não?
E no instante seguinte em que as palavras deixaram seus lábios, ela se arrependeu. Toda a boa-vontade e interesse de Lupin pareciam ter se esvaído e ele tornou-se retraído, como se quisesse se fundir à poltrona. E ela se sentiu aliviada por não ter pedido desculpas; provavelmente, aquele pedido só complicaria tudo ainda mais.
_ Ah, droga, não falei por mal... _ ela ainda tentou consertar _ Essa é outra coisa que minha mãe sempre fala, que eu tenho a boca maior que o cérebro _ e Tonks parecia tão sinceramente desolada que Remus teve que murmurar que estava tudo bem.
Mas ela sabia que não. E estava ainda tão confusa quando se despediu e passou pela porta, que acabou tropeçando em um dos malões, que se abriu e espalhou metade do conteúdo pelo assoalho da sala. Ela apressou-se a se desculpar mais uma vez enquanto se ajoelhava e reunia apressadamente todos aqueles livros. Lupin, agora completamente esquecido do comentário sobre a Lua Cheia, ajoelhou-se ao lado dela, sentindo-se tomado por um misto de divertimento e compaixão. Mas Tonks logo esqueceu-se do embaraço: segurava com as duas mãos um dos livros, um antigo exemplar de A Magia das Trevas em Essência (hoje já fora de catálogo); e virou-se para ele com aqueles arregalados:
_ Posso dar uma olhada?
Remus assentiu enquanto colocava o restante do material de volta em seu lugar.
_ Ah, não acredito! É justamente o que eu preciso!
_ Para...?
_ Ai, é que eu tenho que escrever uma droga de disertação pra me formar. E tô tão sem tempo que nem na biblioteca consigo ir, e esse livro aqui... nunca tinha visto. E parece perfeito!
_ Ora, mas pode levar emprestado, se quiser.
_ Mesmo? _ ela sorriu.
_ Claro!
_ Ah, Lupin, muito, MUITO obrigada! Prometo que devolvo assim que terminar tudo!
_ Não se preocupe _ ele teve que sorrir de volta. Ela era tão aberta, tão sincera... tão cheia de vida que era impossível não se sentir influenciado por aquilo.
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como os meus personagens suspiram, pelamor! e reviram os olhos também, haha. mas enfim. pode ter ficado meio chato pra alguns; afinal, esse capítulo é só um grande diálogo, mas, é aquela história: capítulo de ligação, blablabla. e, convenhamos: a história do remus ter conhecido a tonks pequenininha numa festa e ótima e coisa e tal, mas meio distante da realidade, pra mim.
andei pensando numas coisas e resolvi que é melhor ser sincera: não sei quando volto a atualizar. sim, já fiz minha prova. mas o problema agora não é esse. nas últimas semanas, escrever/ler fics está sendo muito mais uma obrigação do que uma diversão, e... acho que tem algo MUITO errado aí. fic tem que ser um hobby; já chega as trocentas coisas que DEVEMOS fazer. então, não sei. pode ser que eu volte semana que vem, pode ser que só poste o próximo capítulo no próximo ano. tudo pode ser. por favor, sejam legais e tentem não me pressionar a atualizar, acho que isso só vai piorar tudo. preciso tirar umas férias dessa coisa toda (incluo o mundo potteriano nisso, cansei de n coisas mas melhor nem começar a desabafar), assimilar idéias novas, ler e ver filmes e observar pessoas e situações. do jeito que está não pode mais continuar, sento na frente do computador pensando "nossa, mas eu TENHO que escrever" e vou lá e escrevo sem vontade alguma. aí, acabo achando o capítulo uma porcaria, me sentindo frustrada, e ficando com menos vontade ainda de escrever. fora que ando achando meus títulos cada vez mais horrorosos, haha. e isso não ajuda em nada, tampouco.
já venho postar os agradecimentos individuais ;D
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