Realidade x Sonho
O cheiro da sua casa o tomava por inteiro. O cheiro doce da sua casa. O cheiro de Hermione.
Tudo se encontrava no seu lugar, a sala parecia estranhamente desabitada há anos e o silêncio tomava conta de cada canto. E aquilo o deixava mais irritado.
Não ter alguém com quem gritar, alguém com quem pudesse explodir, extravasar sua raiva quanto ao egoísmo cego de Hermione. Hermione... Lá estava ela, parada.
Os dois se encararam, no meio da sala, estáticos.
- Você realmente não acredita no que a Gina acabou de me dizer, acredita? – ele perguntou, já não querendo ouvir a resposta. Desejando mais que tudo que ela dissesse que o amava, que ia ficar tudo bem, que a Gina era louca, que...
- Acreditar? Não...
- Que bom, Mione. Porq...
- Sabe Ron... Quando as pessoas dizem que acreditam em certas coisas, essas coisas podem ser irreais. Então eu não acredito no que a Gina disse, eu sinto o que ela disse. Eu sinto o que eu disse a ela que sentia. – seu tom de voz era frio, firme.
- Hermione... Mione... Me escuta... – Rony ria, como se estivesse presenciando a cena mais ridícula do mundo, como se estivesse a frente da criança mais mimada do mundo. – Mione, sua vida não está ficando para trás... Eu te amo, você me ama e a gente segue em frente, não?
- Só amor não basta, Ron... – ela disse abaixando a cabeça.
Rony gritou, com raiva e deu um soco na parede. Hermione pulou para trás, assustada com a reação do marido.
- Desde quando você deixa os outros se meterem no nosso casamento hein??? Desde quando você deixa minha mãe dizer o que quiser sobre nós??? – ele ia dizendo com raiva, se aproximando dela.
- Desde que ela é sua mãe! Se você não a respeita, eu a respeito! E muito!
- Respeito? Hermione, você nunca foi tão infantil... Isso é burrice! Você está carente, não sei por qual motivo e passa a acreditar em qualquer meia frase sentimental que digam! “Só amor não basta”... Essa é boa... Desde quando só amor não basta? Só se for desde agora, não é mesmo Granger? Pois você sempre disse que nos amávamos e sempre superaríamos todos os obstáculos da vida! – e ele gritou - Então deixa de ser burra e enxerga que você é o obstáculo dessa vez!!
- O que? Você não sabe o motivo por eu me sentir tão carente?? – ela o fuzilava com os olhos, que mesmo contra sua vontade, se enchiam d’água rapidamente. – Talvez seja porque eu não tenha mais uma marido!
- Eu sempre estive do seu lado, Mione! Não ouse falar que eu estive ausente, você sabe que não é verdade. Isso... Isso está ridículo. Você não enxerga?
- Ron!! Por Merlin! Você parou de enxergar! Parou de enxergar há anos! É você quem não percebe o que realmente está acontecendo!
- Hermione... Olha pra mim. – ele chegou perto dela, segurou seu rosto entre suas mãos grandes, trêmulas. – É claro que eu percebo o que está acontecendo. Você deve estar passando por uma daquelas fases que toda mulher que ainda não é mãe passa e...
- Não é nada disso! – ela disse sentida. – Não tem nada a ver com maternidade! Tem a ver comigo, com você, com nosso casamento, Ron! Esse desastre de casamento!
Ela a abraçou, com lágrimas nos olhos também. E disse ao seu ouvido:
- Mione, não fale assim... Você sempre foi meu porto seguro, meu santuário. Não perca as esperanças. Nós nos amamos e vamos superar isso. Você sempre acreditou na gente, não é mesmo? Vamos acabar com essa história de uma vez e viveremos felizes, não vamos?
Silêncio.
Silêncio que incomodava Rony. Ele buscava Hermione de novo, dentro dos seus olhos, mas ela parecia estar ausente. Olhava para o pequeno sofá no canto da sala escura que eles costumavam dividir em dias frios. Sorriu.
Mas aquilo não podia continuar.
- Nunca disse que superaríamos tudo como marido e mulher.
O silêncio que irritava, agora estava sufocando Ron. Ele sentiu um nó na garganta, sua barriga deu três loopings, seus olhos focaram os de Hermione. Medo.
- Você não faria isso... – disse ele, estranhamente calmo. Se afastando dela.
- Você não tem idéia do que eu sou capaz de fazer.
- Hermione, você está me ameaçando? – ele riu. Aquilo estava passando dos limites. As mulheres eram realmente, completamente, malucas.
- Não mais do que você ameaçou a minha vida.
- PÁRA COM ISSO! EU NÃO ESTRAGUEI A SUA VIDA! EU NÃO SOU CULPADO POR VOCÊ SER TÃO INFANTIL, MIMADA, IGNORANTE! NÃO É MINHA CULPA SE VOCÊ NÃO ENXERGA QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NOSSO CASAMENTO ACABAR COM ESSAS CENINHAS DE CARÊNCIA, ATAQUES DE EGOÍSMO! VOCÊ NÃO É A MULHER QUE EU CONHEÇO! A MULHER QUE EU AMO! VOCÊ NÃO É A MINHA HERMIONE GRANGER!!!
Hermione estava com lágrimas nos olhos. Sim, ela sempre soube que Rony era insensível. Ela não acreditava no que acabara de vivenciar, não acreditava que era ele mesmo dizendo essas coisas, não acreditava que seu melhor amigo, seu companheiro desde sempre estava acusando-a de estragar o casamento que ela tanto se esforçara para manter.
Com os gritos de Rony ela foi recuando, em direção à parede. Enquanto ele ia gritando, ela ia escorregando pela parede, chorando.
Extremamente infeliz.
O amigo que ela ainda queria preservar acabara de sair da sua vida, para nunca mais voltar.
Não satisfeito em ver Hermione naquele estado, Rony chegou bem perto dela, se abaixou e sussurrou em seu ouvido:
- E, que eu saiba, você aceitou se casar comigo. “Até que a morte nos separe.” Você não vai deixar de ser minha mulher, não vai sair dessa casa, mesmo que eu não te conheça mais, mesmo que a minha Hermione Granger tenha realmente morrido.
Ele se afastou dela, entrando no quarto e batendo a porta com uma força descomunal. E Hermione continuou onde estava, sentada no chão, imprensada contra a parede, chorando, magoada.
Levantando os olhos ela viu o que era a realidade de um sonho.
A sala. Com os móveis em carvalho, as cortinas pesadas e amarelas, que davam um clima de eterno entardecer ao cômodo. As fotos em cima da lareira e em cima da mesinha de centro mostravam um casal feliz, apaixonado, rodeado de amigos.
Mas tudo não passava de um sonho de realidade.
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