Reality Bites
- Eu sei que é ruim... Mas vai fazer você se sentir melhor. – explicou Remus. Hermione franziu o cenho ao provar do frasco que o professor acabar de lhe entregar. Ajustando-se na cama, a garota devolveu o frasco vazio reprimindo um gemido de dor com o movimento. - Tente não mexer muito. – avisou ao recolher o objeto e colocá-lo na mesa.
- Eu não entendo... – murmurou Hermione sentindo- se lacrimejar. Respirando fundo e procurando ignorar o quão dolorido todo o seu corpo se encontrava Hermione continuou. – Como o meu corpo ainda está se ajustando...?
- A transformação causa um dano muito extenso no corpo Hermione. Seus órgãos são deslocados, suas estruturas ósseas e musculares se modificam... Leva um tempo. – disse ele tentando apaziguar a garota.
- Mas e a poção do Acônito? – retrucou Rony, aproximando-se até a poltrona na qual ele se encontrava. – Ela não ajuda? – ele fitou o rapaz por um instante, e não pode deixar de notar que Harry mantivera-se recostado na janela, apesar de sustentar-se absolutamente atento à conversa.
- A poção funciona, Rony... Mas assim como qualquer medicação, quanto mais você toma, mais os efeitos dela reduzem.
- Agora você precisa descansar. Sua febre ainda está um pouco alta... – um momento de silêncio seguiu-se no qual Hermione pareceu prestes a revidar, argumentando que ela queria simplesmente retornar ao castelo. Mas o tom no qual o professor lhe ordenara ficar era taxativo.
- Você pode ficar aqui! – avisou Hagrid, caminhando até a garota com uma caneca de chá. – Além do mais, é sábado, vocês estão livres hoje, não? - Sorrindo fracamente, Hermione deitou novamente nos travesseiros que ele havia colocado para ela. Observando a feição esperançosa do amigo ela aceitou a caneca, não ousando colocar o líquido na boca.
Afastando-se, Hagrid murmurou algo sobre biscoitos e seguiu para a cozinha, no que Rony aproximou-se e sentou-se ao lado da amiga. A poção que Remus havia lhe dado estava tornando-a sonolenta, ao que ela meramente sorriu, tentando parecer o mais saudável possível para o rapaz.
- Eu estou bem...
- Você estava vomitando há alguns minutos. – retrucou Rony simplesmente. Levantando-se, Remus despediu-se prometendo retornar no fim da tarde para checar a garota.
- Remus...
- Harry...? – voltando-se nos degraus da entrada da cabana, Lupin fitou o garoto. Notando a expressão tensa do rapaz ele adiantou-se. – Você quer conversar sobre algo?
- E-eu, er... – ele tateou por um momento, os olhos fixos no castelo e claramente evitando os seus. Do local onde ele estava podia ver Rony e Hermione conversando. Uma rajada de vento frio passou no local e Harry puxou o próprio casaco mais para si antes de continuar. – Ela vai ficar bem, certo?
- Claro. – respondeu ele automaticamente, deitando os olhos no rapaz à sua frente, e notando, que ele também fitava a cena dentro da cabana.
- Moony... – disse Harry simplesmente, notando o tom forçado com o qual ele lhe respondera. E voltando-se para ele novamente esperou a resposta verdadeira que viera buscar.
Uma pausa se seguiu na qual Remus hesitou antes de continuar:
- Ela vai se acostumar com a dor... Com tempo.
- Certo... – e aqui Remus sabia que Harry compreendia que ele falava aquilo em termos de anos. Voltando-se novamente para a janela novamente ele retrucou. – Mas isso não significa que a dor vai passar, não é? Quero dizer, ela vai sempre...
- Vai, sim. – o garoto assentiu fracamente com a cabeça. E voltando-se novamente para ele caminhou até os degraus que ele próprio acabara de descer e sentou-se em um deles.
Remus fitou-o em silêncio. E não pôde deixar de analisar a maneira com a qual ele havia recebido aquela informação – ou como ele estava lidando com toda aquela situação, melhor dizendo. Lembrando-se, involuntariamente de uma conversa que tivera com Sirius há alguns meses, ele caminhou até os degraus e sentou-se ao lado do rapaz.
Sirius havia comentado algo sobre o relacionamento dos dois, mais precisamente como este havia mudado. Na ocasião, Remus desfizera a preocupação do amigo como um exagero da parte dele. Claro, os dois haviam se tornado mais próximos e Remus podia facilmente compreender o motivo da preocupação do amigo com o afilhado. Era visível o atrelamento que os dois haviam desenvolvido, e envolver-se com alguém, tão profundamente e tão cedo – especialmente dentro daquelas circunstâncias... Era no mínimo perigoso, para Harry em particular.
Não que Hermione soubesse disso.
Mas Harry sabia. O que explicava grande parte do estado no qual ele se encontrava. O que Sirius havia mencionado. E que agora ele via em primeira mão.
Ele estava apaixonado.
E por isso ele se sentia culpado. Pois sabia que se envolver com alguém era tornar aquela pessoa potencialmente um alvo – por mais que ninguém, em momento nenhum houvesse lhe dito isso. Mas o que ele não conseguia enxergar era que a garota já estava envolvida naquilo tudo...
Ela estava apaixonada também.
E enquanto Remus compreendia o ponto de vista do amigo, não concordava com ele. Diferente de Sirius, ali, naquele momento, ele enxergava uma aceitação da parte de Harry que literalmente lhe pegara desprevenido.
Não era uma aceitação cega e ilusória. Afinal, ele próprio havia crescido com um lupino por perto, certamente ele sabia o que isso significaria... Era uma aceitação vinda de alguém que ama outra pessoa. Genuinamente.
- Como vai Tonks? – perguntou Harry após alguns momentos de silêncio.
- Bem... Ocupada, ultimamente... Mas, bem. – respondeu ele, satisfeito que o rapaz havia perguntado. – Obrigado...
- É melhor eu entrar... Você vai voltar mais tarde certo...? – Harry estava prestes a se levantar quando e Remus estendeu uma das mãos impedindo-o:
- Harry, espere. Senta aqui... Eu, bom na verdade eu queria falar com você e com Rony sobre isso, mas já que você está aqui...
- Sobre o que você quer conversar?
- Hermione.
- Como assim? Aconteceu alguma coisa? Você acabou de...
- Calma Harry! – cortou Remus, não sem antes voltar-se para a porta, ciente de que o rapaz elevara o tom de voz. – Certamente você sabe sobre o envio de propostas de trabalho para as avaliações dos N.I.E.M.S.
- Claro... – respondeu Harry, confusão agora lhe permeando a face. Currículos eram enviados e os testes dos alunos seriam avaliados de acordo com a área de interesse do estudante.
A depender dos seus scores, ele seria ou não aprovado. Todos os alunos do sétimo ano não falavam em nada mais, além disso. Ele próprio havia mandado seu currículo na semana anterior, junto com Rony.
- O prazo para o envio do currículo vence essa semana e Hermione ainda não enviou o dela.
- O que?!
- McGonnagall queria conversar com ela pessoalmente, mas eu pedi que ela me deixasse resolver isso. – continuou Remus, relembrando quão lívida Minerva estava. – Eu imaginei que seria melhor que você ou Rony conversassem com ela... Certamente que ela esqueceu do prazo... Ou... Só converse com ela, e mande que ela venha até a minha sala e eu mando as propostas dela, ok?
- Ok, eu... – tateou Harry, claramente surpreso – Ok. Eu falo com ela.
- Certo... – disse Remus erguendo-se – Eu volto mais tarde...
- Ahan... – respondeu Harry voltando-se para a cabana e entrando.
- Porque você demorou tanto? – Harry caminhou até o amigo, sentando-se em uma das poltronas próximas à cama. Hermione estava dormindo.
- Eu estava com Remus, ele disse que tinha algo pra conversar... – Harry tratou de contar logo o que o professor havia dito. E a sua surpresa foi espelhada pelo amigo:
- Ele acha que ela esqueceu? – retrucou Rony exasperado.
- Eu sei! Quero dizer, eu duvido muito que ela tenha esquecido... – de fato, Hermione era simplesmente muito organizada para esquecer qualquer coisa.
- Por que ela faria isso?
- Eu não sei, ela tem estado meio estranha ultimamente, sabe? – emendou Harry. No que Rony apenas observou o amigo atentamente, Harry mantinha o olhar fixo na garota que jazia dormindo. - Nas aulas e tal... – inconsciente do fato de que o rapaz o observava atentamente ele pediu a opinião do amigo frente a sua suposição voltando-se para ele. - Certo?
Harry pausou por um instante ao observar o amigo. Não era a primeira vez que pegava Rony encarando-o daquela forma, como se estivesse tentando compreender algo. Fazendo com que ele se sentisse de súbito exposto, particularmente considerando-se o silêncio que se seguiu:
- O que? – questionou ele. Houve um momento de pausa no qual Rony franziu o cenho antes de atirar-lhe outra pergunta:
- O que está acontecendo entre você e Hermione? – Rony sempre tivera uma maneira de ser incisivo assim. Mas usualmente, isso se devia a sua falta de tato mais que qualquer outra coisa. Agora, ao contrário, ele parecia cheio de determinação em questionar o status do relacionamento dos amigos.
Talvez ele estivesse crescendo... – ponderou Harry, sentindo-se repentinamente desconfortável com aquele Rony.
- Não me entenda mal! – continuou o rapaz erguendo ambas as mãos em defesa. – Não é que eu ache uma coisa ruim! É só que... Bom eu sabia que você iria cair na real, algum dia. É só que agora... É como se vocês estivessem “bem lá” e nós estivéssemos “aqui”... Sabe?
- Eu... – retrucou Harry franzindo o cenho, apesar de saber exatamente a que o amigo se referia. - Eu não sei o que você quer dizer... – desconversou Harry. Rony fitou o amigo em silêncio por um segundo antes de retrucar erguendo as sobrancelhas:
- Harry.
- O que?! – e para o seu desconforto ele notou que o amigo refreava um sorriso cúmplice que logo se transformou em uma risada. – Não é como se...! É só, que ela é tão...! Quero dizer, eu na... – Harry pausou respirando fundo ao deitar os olhos na garota que continuava a dormir.
Hermione moveu-se na cama, fazendo com que um dos cachos de seus cabelos que estavam soltos caísse por sobre o seu rosto. Uma urgência de estender a mão e afastar-lo surgiu nele. Fazendo com que ele esquecesse o amigo logo ao lado e o fato de que Hagrid estava na cozinha, e desejasse deitar ao lado da garota e simplesmente abraçá-la.
- Cara... – murmurou Rony ao perceber a gama de emoções que passavam pelo rosto do amigo. Harry voltou-se surpreso, ao perceber o amigo fitando-lhe e ao invés de insistir em uma forma de desviar a atenção do amigo ele fitou-o de volta. Como Rony esperava por uma confissão, e aparentemente não desistiria da mesma, Harry respirou fundo em retorno:
- É... – Rony apenas sorriu.
- Você é triste. E patético... Eu sinto muito por você, de verdade. – ao que Harry apenas sorriu a contragosto:
- Eu suponho que eu sou... – concordou ele. E após alguns segundos acrescentou – Não conte a Sirius. Ou Giny! Não conte a Giny! – aqui, Rony riu abertamente, ciente de que se essa notícia se espalhasse o amigo não veria o fim daquilo.
- Você devia dizer a ela, sabe? – ao dizer isso, Rony viu o sorriso do amigo desaparecer e ele voltou-se para a janela, um ar de sobriedade tomando-o novamente:
- Não é tão simples assim, Rony...
- Eu acho... Bom, se você diz... – retrucou em voz baixa, observando o amigo atentamente. Refreou-se em dizer qualquer outra coisa. Suspeitava que a mudança na atitude de Harry tinha haver com o que quer que ele estava escondendo esses últimos meses...
E agora eles haviam descoberto que Harry não era o único com segredos. Hermione, aparentemente estava passando por algo. Algo que se recusara em compartilhar - uma primeira vez para ele. Embora preferisse acreditar que os amigos se resolveriam com um pouco de tempo, receava que isso não fosse acontecer com tantos segredos...
***
Ele não tinha outra saída. Sabia disso.
Não depois do que havia feito, não depois da traição. James e Lílian Potter estavam mortos... Mas não o garoto. Quem poderia ter previsto isso? Não ele, certamente. Nunca acreditara muito naquela história de profecia. Não...
E agora, agora que Harry estava vivo, sabia que o rapaz buscaria vingança. Seguramente que buscaria reparação sobre ele. Peter, Rabicho... Um dos Marotos.
O traidor. – O pensamento lhe fez relembrar os outros dois amigos que havia deixado para trás. Eles também buscariam um acerto de contas. E mesmo que, estranhamente, temesse mais a represália do garoto, sabia que Remus Lupin e Sirius Black não perderiam a chance se ele lhes cruzasse o caminho. E por isso ele não podia voltar.
Essa era a sua única saída.
Havia sido fácil escapar da Inglaterra. O Ministério estava entre festejos. A própria Ordem da Fênix se encontrava num misto de alívio e estarrecimento, embora - graças a Dumbledore - nada negligente.
E esse foi o motivo pelo qual ele considerou o ataque aos Longbottom uma estupidez da parte dos Lestrange e de Antonin. Impulsivo, descuidado.
Algo que somente Bella faria.
Agora, muitos lhe consideravam covarde. Rabicho preferia acreditar que ele simplesmente pesava muito bem os prós e contras de suas ações. E enquanto Bella atacara os Longbottom em busca de informações, ele optara por desaparecer por um tempo. Razão pela qual seguira para o continente.
E qual não fora a sua surpresa ao ouvir os mais estranhos boatos ao por os pés naquele vilarejo... Não demorou muito para que logo ele começasse a ler nas entrelinhas o que acontecia no lugar.
Isso havia sido há quatro meses.
Rabicho não estava certo do que sentira ao reencontrar Lord Voldemort. Fraco, debilitado e utilizando-se de um corpo frágil e temporário, a idéia de que seu Mestre ainda estava vivo, mesmo que ainda sobrevivendo a custos, causava um misto de pavor e veneração dentro dele. A possibilidade de cair nas graças do Lord das Trevas era grande. Bastava que fizesse a coisa certa. Logo, seu Mestre poderia protegê-lo.
Afinal essa era a sua única saída.
***
Ao receber a notícia do ataque aos Longbottom, Voldemort deleitou-se em saber que ainda existiam aqueles que se mantinham fiéis. E não se surpreendeu ao tomar conhecimento que Bella estava entre os Comensais que não se curvaram à suposta vitória da Ordem da Fênix.
Lord Voldemort sabia que havia cometido um equívoco ao subestimar a proteção que a mãe colocara no garoto. Albus Dumbledore, aparentemente estivera um passo adiante dele. Mas ele não cometeria o mesmo erro, não...
Desta vez ele estava preparado, e mesmo tendo um verme como Rabicho por ajuda, Lord Voldemort cuidaria para que seu plano não falhasse novamente. Era estritamente necessário que retornasse à Inglaterra e reunisse seus seguidores novamente. Desta vez, atentando para que a sutileza que lhe faltara em outros momentos permeasse suas ações, Lord Voldemort iria retornar. E após concluir o que havia começado, nem mesmo Albus Dumbledore e sua Ordem ficariam em seu caminho.
E para isso, precisava do garoto.
***
Hermione caminhou a passos largos em direção à sala comunal da Grifinória. Embora tivesse sua própria comunal, nos aposentos de monitora-chefe, havia a sensação de conforto familiaridade na comunal da Grifinória que ela não encontrava em lugar algum. Particularmente quando se encontrava vazia de estudantes – o que era certo, considerando-se o fato de que todos se encontravam no salão principal em meio às refeições.
Ela própria estava a poucos minutos fazendo sua refeição quando ambos, Harry e Rony aproximaram-se sentando à sua frente. Normalmente isso não a afetaria de modo algum, entretanto, a conversa – ou melhor, interrogatório - que se seguiu incomodou-a ao ponto de largar o jantar e seguir irritadamente em busca de solitude.
Ela queria tranqüilidade e distancia das perguntas incisivas de Rony e do olhar analítico e empatia de Harry. Ela queria distância, o que ela queria... O que ela queria era que...
Que as coisas fossem diferentes. Que tudo fosse diferente... Porque ela entendia a preocupação dos amigos – por mais que esta servisse apenas de lembrança daquilo que ela fazia o possível para ignorar – a intenção dos dois era válida.
Ela era quem estava toda errada.
Não era que ela não quisesse um trabalho ao sair de Hogwarts. Hermione tinha plena consciência de que poderia conseguir uma vaga em qualquer emprego que escolhesse. Ela simplesmente não via uma razão em alimentar esperanças se no fim sabia que não daria certo, dadas as circunstâncias da sua... Situação.
E foi pura e simplesmente para aplacar Harry e Rony – e mais urgentemente – McGonnagall, que Hermione retrucou, pouco antes de se retirar da mesa, em um acesso de fúria, que iria enviar as malditas propostas até o fim do prazo. E que só não mandara até o momento, porque simplesmente esquecera.
Ok. Então ela mentiu sobre isso.
E mesmo que os dois não houvessem insistido, ela sabia que nenhum deles acreditara.
Assim que a Mulher Gorda afastou-se dando passagem para ela entrar, Hermione adiantou-se já em direção à sua poltrona favorita. Com sorte, os outros estudantes demorariam pelo menos umas duas horas para retornar. A poucos metros do local notou que a poltrona já estava ocupada por outra pessoa.
- Neville? – o rapaz voltou-se surpreso ao ouvir seu nome. Sua instância parecia cansada, visto que ele meramente olhou-a por um momento antes de retornar a fitar a lareira em silêncio.
Caminhando até o sofá, Hermione sentou-se também em silêncio.
- Eu não sabia que você tinha voltado.
- É. Eu voltei essa tarde. – ao ver a expressão de confusão na garota, acrescentou – Eu só queria aproveitar. Sabe, antes de todo mundo subir...
- Certo. – uma pausa se seguiu, antes que Hermione continuasse, em tom suave. – Como você está...?
- Não, bem. Mas podia ser pior... Eu suponho. – disse ele, ao que Hermione franziu o cenho. O garoto, ignorante à expressão dela continuou com um olhar distante, como se lembrasse de algo, um ar sombrio na voz. – Podia ser pior...
- Eu, eu sinto muito, Nev. Pelos seus pais, eu...
- Tudo bem. Eles estão vivos, e eu estou a salvo... Quero dizer, não é como se... – parando, Neville adquiriu novamente a mesma expressão sombria que adotara anteriormente. Hermione estava prestes a questionar se ele estava bem quando o rapaz continuou. - Você sabe, Harry, ele... – aqui ele pausou olhando de esguelha para ela, uma expressão estranha no rosto.
Hermione enrijeceu imediatamente ao ouvir o nome de Harry e voltando-se para o rapaz captou o que parecia ser desconforto na sua voz ao continuar:
- Só... Podia ser pior. Quero dizer, podia ter sido eu, e só a idéia é apavorante sabe...? – continuou o rapaz voltando-se para a garota. Acenando vagamente com a cabeça Hermione não atentou para mais nada, exceto para o fato de que Neville sabia. O que quer que fosse que Harry escondia dela, e de Rony, Neville sabia.
E o fato de que Harry havia contado ao rapaz o que lhe perturbava, e não a ela, magoava. Algo pareceu perpassar no seu semblante, visto que o rapaz acrescentou logo em seguida, um misto de curiosidade e desconcerto na voz:
- Desculpe. – tateou ele ao acreditar que obviamente havia dito demais. - Quero dizer pra você... – aqui o rapaz arregalou os olhos e acrescentou rapidamente. – E Rony!
- O que...? – questionou Hermione sem compreender o embaraço do amigo, e pouco ligando de qualquer forma. Neville, ao contrário, parecia querer remendar o erro e se mostrava cada vez mais desconfortável:
- É só que, bom... Eu pensei, que vocês... Bom é só que vocês têm estado mais você sabe...?
- Ok.
- Certo então, eu pensei...
- Nós não somos. Harry e eu, nós... Eu, eu não sou...
- Eu entendo. – concluiu ele, numa clara tentativa de encerrar o tópico. – Desculpe.
- Tudo bem. – retrucou Hermione, voltando o olhar para a lareira novamente. A vontade de isolar-se vindo à tona novamente. - Eu, er... Neville, eu vou subir ok? Boa noite.
Erguendo-se do sofá Hermione seguiu em direção à saída, em busca do isolamento do seu próprio dormitório. A conversa que tivera com o rapaz deixando-a ainda mais cansada. Uma sensação pesada tomando-lhe o estômago.
Não era como se ela houvesse dito alguma mentira, ela e Harry, não eram nada. Não oficialmente de qualquer forma. Não era como se ele lhe devesse nada, afinal ele nunca havia feito promessa alguma. Eles simplesmente haviam se aproximado.
Afinal eles haviam passado por muita coisa, certo? Não era como se eles fossem melhores amigos ou algo do tipo...
Ou algo mais...
Insistiu uma vozinha no fundo da sua mente. Cerrando os punhos Hermione acelerou o passo. Um nó subindo-lhe na garganta.
Ótimo...
Agora ela realmente precisava chorar um pouco.
<hr>
As cartas vieram dois dias depois do Natal.
Assim sendo, um poderia dizer que elas eram o presente perfeito. Buscando fugir da atmosfera pré- N.I.E.M.S. que permeava o castelo, Hermione sugerira que eles todos passassem o feriado na Toca, onde o barulho e agitação da casa cheia definitivamente desviariam o pensamento de todos dos testes. Inclusive os dela.
Claro que ela não contava com as cartas.
Como tradição, em Hogwarts, muitos alunos já definiam suas escolhas de profissão durante os N.O.M.S. Se estes fossem atingidos com marcas suficientes, uma vaga em um programa de treinamento era praticamente garantida. Particularmente se você conhece as pessoas certas...
Agora, não era surpresa para quem conhecia ambos Harry e Rony, que os dois ambicionavam uma carreira de auror no futuro. Dito isso, apesar dos bons resultados que ambos haviam obtido em seus N.O.M.S., a chegada de duas cartas de aceitação no programa de aurores foi recebida com surpresa e não menos que muita celebração. Especialmente em se considerando que Hermione não só recebera uma também, mas algumas outras propostas. Visto que o seu leque de supostas possibilidades era mais amplo – dado seu número de N.O.M.S.
Dito isso, não era necessário justificar o motivo pelo qual praticamente toda a Ordem da Fênix comparecera naquela noite para parabenizar o trio.
O terreno em trono da Toca estava coberto de branco. Uma neve fina caía, contrastando com o tom azul escuro que tomava o céu. Remus sempre gostou do Natal. Não o feriado propriamente dito, mas o período de inverno. De fato, ele preferia observar de longe, as festividades e os rituais do período. Troca de presentes, eggnog, lareira acesas e árvores decoradas...
Não que não participasse – ambos, ele e Sirius sempre se uniam aos Potter para as festividades, e várias vezes todos se reuniam com os Weasley em uma única celebração, especialmente agora, com Dora... Mas ele não conseguia evitar a sensação de alguém que observa de fora... Como se não pertencesse realmente àquilo tudo. E mesmo aquele Natal tendo uma nota de tristeza – o primeiro que Harry passava sem os pais – ainda sim era semana de Natal, e com os Weasley, isso significava todas as tradições que o feriado evocava.
Motivo pelo qual ele agora se encontrava na varanda. O que ele não esperava, entretanto, era que alguém já se encontrasse lá. Hermione estava sentada em uma das namoradeiras, balançando, aparentemente absorta em pensamentos e alheia a sua chegada. Remus tomou a liberdade de observar a garota por alguns instantes, ciente de que havia uma grande probabilidade de ela estar ali por motivos similares aos seus. Uma nesga de luz amarelada atravessava a cortina entreaberta e ele podia ouvir as risadas e conversas que vinha da sala onde os outros se encontravam. Ela mantinha os olhos fixos em um envelope que segurava nas mãos, em silêncio. Remus reconheceu de imediato o selo do Ministério, e optando por se aproximar e fazer sua presença notada comentou:
- Molly está servindo chocolate quente... – disse com um ar de sugestão – Estou certo de que os outros devem estar se perguntando onde você está... – acrescentou, procurando mascarar a preocupação que sentira ao deparar-se com a garota isolada na varanda enquanto os outros se divertiam. Algo certamente a perturbava.
- Tem muita gente lá dentro... Eu só precisava... – pausando e respirando fundo, ela continuou erguendo o olhar para a paisagem embranquecida pela neve. – Eu precisava sair um pouco. – completou. A resposta, claramente ensaiada nada fez para desanuviar sua preocupação. Uma pausa seguiu-se durante a qual seus olhos pousaram na carta que havia chegado do Ministério naquela manhã. A guisa de conversa ele acrescentou:
- Eu ainda não tive a chance de parabenizar você pela oferta... – disse ele e desta vez, uma nota de orgulho permeou-lhe a voz. O que Hermione pareceu notar, visto que sorriu uma risada seca. Mais um esgar cheio de rancor, em um tom que o surpreendeu, por nunca ter visto partir da garota, no que ela o interrompeu:
- É, eu suponho que isso seja... – ela fitou a carta novamente. – Ótimo! Quero dizer, quem não gostaria de receber uma proposta assim, certo? – Remus franziu o cenho, ao sarcasmo da garota, e estava prestes a questionar quando ela continuou, desta vez, com a voz travada – E eu estou feliz, sabe? Por Harry e Rony... Merlin sabe o quanto eles querem isso...! Mas eu, eu só... - Aqui ela pausou e por um breve movimento das cortinas, a nesga de luz movimentou-se e ele pode notar pela primeira vez que havia marcas de lágrimas no rosto da garota.
Remus sempre tomara Hermione com um carinho reservado, que ele não reservara para outros de seus estudantes. Em particular após a proximidade que ela e Harry desenvolveram em sua relação. Talvez fosse o fato de que ele se identificava com ela de uma maneira que não ocorrera com Harry. Enquanto o rapaz trazia muito da autoconfiança do pai. O jeito de Hermione, a necessidade de se auto-afirmar, que em realidade escondia insegurança e inadequação eram sentimentos com os quais ele conseguia se identificar... De fato, desde o episódio no qual Grayback a atacara, Remus temia que sua tendência ao isolamento e à solidão fosse uma característica que ela também compartilhasse com ele. Motivo pelo qual ao vê-la naquele estado, um sentimento de compaixão lhe assaltou, fazendo com que ele se aproximasse tateando sobre o que dizer:
- Hermione, o qu...? – erguendo uma das mãos, Hermione limpou o rosto e retrucou:
- Sabe por que, eu não mandei minhas propostas, Remus? – a pergunta o pegou de surpresa. De fato, a atitude da garota o havia surpreendido, a desculpa que ela dera para que ele, Harry, Rony e McGonnagall a deixassem em paz não era exatamente convincente. Qualquer um que conhecesse Hermione sabia que ela jamais esqueceria algo assim. Ou qualquer outra coisa. – Eu sabia... Eu sei que meus escores vão ser perfeitos. E eu não estou dizendo isso porque eu acho que eu sou melhor que ninguém, sabe...? Eu só sei disto, porque, eu passei anos da minha vida me preparando pra isso! E tudo pra quê? – Remus observou enquanto a garota extravasava o que parecia estar guardado já há bastante tempo. Um momento de silêncio se passou no qual apenas as vozes vindas de dentro da casa se fizeram ouvir.
Havia um misto de revolta e frustração no seu tom de voz que partia o coração, especialmente por ele saber exatamente o que era ter tudo pelo qual você sonhou tomado de assim, tão injustamente. E mesmo não acreditando piamente no que estava prestes a dizer, Remus não podia deixar de fazer um esforço frente ao estado da garota:
- Quando eu graduei, os tempos eram outros, Hermione, não há com ter certeza de... – mas mesmo enquanto professava aquelas palavras, sabia que as perspectivas de um lupino dentro de uma sociedade cheia de preconceitos como a deles, ainda mais em tempos de guerra, eram no mínimo parcas.
Um olhar da garota disse-lhe que ela também estava ciente do fato. Ao que ele simplesmente se calou, e respirando fundo, aproximou-se, sentando ao lado da menina em silêncio, ouvindo, pois sabia que havia algo mais que ela gostaria de dizer. E de fato, em um tom mais seguro e firme que o que ela mantivera até ali, ela retrucou simplesmente:
- Eu quero fazer parte da Ordem da Fênix. – aqui Remus voltou-se de supetão para a garota, prestes a revidar. – Este é o meu pedido oficial. Eu espero que você repasse para Dumbledore.
- Hermione...
- Não! Você, de todas as pessoas, você sabe por que eu tenho que fazer isso...! Você não pode me impedir, Remus... – havia um tom de pedido na voz dela ao tratar-lhe pelo seu nome. Estranhamente, foi o fato de ela ter-lhe chamado pelo nome e não “senhor” ou “professor” como sempre o fizera que lhe atentou para a verdade que de fato, ele não poderia impedi-la. Por mais que quisesse.
- Existem outras maneiras de você fazer a diferença... – havia a profecia para se pensar. Claro que a garota não sabia disso. Mas se o relacionamento dela e de Harry era tão sério quanto ele suspeitava talvez fosse essencial que ela fosse assistida de perto. Aquela decisão complicava as coisas.
- Foi por isso que você se juntou a Ordem quando tinha a minha idade? – Remus pausou, sabendo não ter uma resposta para isso.
- Harry e Rony já sabem da sua decisão? – conhecendo os dois, sabia que ambos iriam segui-la sem pestanejar, além de claro, fazer o possível para dissuadi-la de participar da Ordem da Fênix.
- Não. – respondeu simplesmente. - E eu não vou contar. Pelo menos não até que os dois comecem o treinamento. – Ela referia-se ao treinamento da Academia, ele sabia. De fato, o raciocínio da garota não diferia muito do dele, ou de Sirius. Ambos sabiam que assim que Harry graduasse, ele exigiria a sua entrada na Ordem, mas esta seria negada até que ele estivesse completamente treinado como auror. Remus duvidava que Molly e Arthur pensassem diferente com relação a Ronald...
- Eu vou falar com Albus. – respondeu em um tom que deixava claro o seu pesar frente à decisão da garota.
Comentários (4)
E uma otima fic, nao desista dela!!!
2013-05-09A fic é maravilhosa!!! Por favor, não demore para postar. Estou com uma super saudade dela.
2011-10-26MULHER, você não tem ideia do que fez comigo. Eu te persegui até por e-mail e assim, do nada você atualiza. Sofri ate um pico hipertensivo com a atualização. PORRA ainda não acredito que eu li o capitulo 32, quase nao acredito mesmo. Vou ler de novo, só pra conferir. E bem, o romance embutido ali está mais lindo se fosse escancarado. Estou louca pelo 33, mas sei e sinto que vai demorar. Meus parabéns, você já sabe, mas digo de novo, sua fic é show w sua criatividade é o melhor de tudo. XOXO e ate a próxima atualização
2011-03-26Um misto de sentimentos me toma agora. Estou ansiosa para ver o que ainda virá, mas ainda confusa por já não lembrar de todos os detalhes necessários.Depois que reler prometo um comentário digno. kk.p.s.: me emocionei muito ao reler o final do capítulo 31, pela milionésia vez... kkkkkkkkkkk
2011-03-11