"Even Angels Fall In Love"






Hermione fitou o pedaço de bolo na sua frente.

Harry observou-a em silêncio. Ela mantinha um garfo erguido e parecia ponderar se deveria ou não continuar com todo aquele processo (aparentemente difícil) de comer um pedaço de bolo.

- Você não vai comer? – Hermione pareceu despertar de um devaneio:

- Hãn? Eu... Vou. – disse erguendo os olhos ao notar que ele a observava com uma garrafa de cerveja amanteigada nas mãos.

- Certo... – murmurou ele. Hermione depositou o garfo na mesa, ainda sem tocar na comida.

Normalmente ela não costumava ser facilmente levada a fazer algo que não desejasse. E ainda sim ela estava ali... O que não só era estranho... Como deixava a pergunta de se ela realmente não queria estar ali. De uma forma ou de outra... Ela só... Aquilo não era normal.

Ela não estava fazendo sentido... Quando ela deixara de fazer sentido? Ela sempre fora bastante sensata, de modo geral pelo menos...

- Será que dá pra se alegrar um pouco...? – insistiu Harry. A garota ergueu os olhos novamente. – Eu achei que você gostasse dessa torta... – comentou vagamente.

- Bom, eu gost.... – ela parou considerando o comentário. Como ele sabia disso?

– Assim vão pensar que eu te forcei a vir...

- Bom você forçou. – soltou Hermione apanhando o garfo e comendo um pedaço da torta.

- Como? – questionou Harry, apesar de ao invés de irritação, ele apenas mantinha um sorriso na face.

- Você disse que agente ia comprar penas. – Harry sorriu ainda mais.

- Não. Você disse. – ponderou calmamente. – Eu só te chamei para vir. – Hermione analisou as palavras do rapaz. E mordendo mais um pedaço da torta murmurou em seguida:

- Mesma coisa. – devolveu em resposta.

- Porque você está reclamando...? Você comprou o que queria não foi? Agente já rodou esse vilarejo inteiro. Agora agente está comendo alguma coisa... Qual o problema...? – Harry parou, ele próprio também comia uma fatia de torta, e agora parara para observá-la.

Hermione ponderou. O que havia de errado... Ela sabia o que era. Nada. Não havia nada de errado. A verdade era que aquela tarde não havia sido exatamente desagradável. Pelo contrário... Estranhamente, absurdamente... Até que fora, bem... Com a súbita noção de que aquela tarde estava começando a se assemelhar a um encontro, ela respondeu vagamente:

- Nenhum... Eu só estou dizendo. – e desviando os olhos do garoto, voltou-se para o resto do pub.

Os dois estavam no Três vassouras. Particularmente cheio, diga-se de passagem. Mais de uma vez, ela considerou se seria realmente uma boa idéia ir para lá. Suas suspeitas se mostraram corretas ao notar que uma relativa quantidade de olhares se voltava para os dois.

- O que foi? – perguntou Harry observando o mesmo local que ela agora fitava. Um grupo de garotas estava sentado do outro lado do bar, próximo ao balcão. E julgando pelo modo com o qual observavam os dois e murmuravam algo umas para as outras, estava bastante óbvio que eles eram o tópico da conversa.

Verdade, agora se sentindo levemente desconfortável, ele voltou-se para o próprio prato. Geralmente não se incomodava com esse tipo de fofoca. Entretanto, Harry só agora considerava se o fato de que os dois estavam juntos pelo vilarejo não poderia fazer surgir alguns boatos. Levando em conta, claro, que a relação dos dois nunca fora das melhores...

- Nada... – murmurou Hermione, que notou ele parecia agora ligeiramente corada. Tentando ignorar o fato de que ele não se lembrava de tê-la visto corar antes. E esse pensamento, inadvertidamente desviou o seu raciocínio por vários segundos. Até que despertando, sugeriu também desejoso de sair dali:

- É melhor agente ir não? Quero dizer... Eu ainda vou levar umas coisas para Rony, então...

- Certo. – concordou Hermione levantando-se e fazendo menção em abrir a bolsa.

- Não, deixa que eu pago. – Hermione piscou, tentando com esforço não corar.

- Não, eu... Tudo bem, eu poss... – mas ele já havia atirado algumas moedas na mesa e se encaminhava para a saída. Meio sem ação, Hermione seguiu em silêncio.







Harry pôs as mãos nos bolsos e continuou caminhando, tentando ignorar o fato de que os olhos da garota estavam pousados nele com um ar analítico.

Hermione observou-o em silêncio. Os dois haviam atingido os limites do povoado, seguindo agora pela trilha que levava até a escola. Eles nunca tiveram muita oportunidade para conversas... O que significava que apesar da amizade com Rony em comum, ela não podia dizer que o conhecia muito bem...

Talvez esse fosse o motivo pelo qual sua cabeça agora se encontrava apinhada de perguntas... Ou então, porque ela estava tão desconfortável, apesar dele parecer completamente tranqüilo com a situação. Com um esgar de surpresa ela voltou-se para o garoto ao ouvi-lo comentar, quase como se adivinhasse seus pensamentos:

- Sabe qual o seu problema? Você é muito tensa. – comentou fitando-a de repente.

- Eu não sou tensa! – respondeu Hermione, sentindo-se ofendida. Ele continuou num tom ameno:

- Você devia relaxar mais... Aprender a se divertir.

- Eu sei me divertir! – insistiu Hermione. – E não me diga para relaxar, eu estou relaxada! – murmurou, soando para seu horror, nadinha relaxada. Harry sorriu.

- Ok então... – respondeu Harry com descrença.

- Eu estou! – rebateu ela. Ele riu abertamente, visto que ao tentar convence-lo de que estava calma, ela se irritava ainda mais. – Pare de rir! Eu... – mas ela própria podia sentir uma risada relutante surgir em seus lábios. E antes que ela pudesse se conter, também estava rindo.

- Você acha mesmo que eu sou toda “livros e estudo” não é?

- Não. Talvez, um pouco... – brincou Harry.

Os dois continuaram caminhando, até que as risadas aos poucos se esvaíram, e Hermione se pegou com vontade de perguntar algo, que ouvira e sempre quis confirmar, entretanto eles nunca realmente... Talvez, agora ela poderia...

- Posso te perguntar algo...? – tentou meio insegura. Harry voltou-se para ela surpreso. Mais pelo tom polido da garota que pela pergunta propriamente dita.

- Eu... – mas então ele parou mudando de idéia e retrucando em seguida. – Eu te digo algo, você me diz algo.

Hermione fitou-o por um momento, até que respondeu:

- Esquece...

- Ah vamos! – insistiu Harry. – Que tipo de segredo escabroso você tem que eu não posso saber?! – Hermione cruzou os braços, apesar de estar sorrindo.

- Eu... Que seja! – concordou após alguns segundos. Ele sorriu.

- Ok então, pode perguntar...

- É verdade que você consegue conjurar um patrono? Completo, eu quero dizer...

- Bom... Quem te contou isso? – interrompeu-se anotando mentalmente que ele teria uma conversa com Lupin.

- Você não respondeu a pergunta. – disse ela simplesmente.

- É sim. – disse Harry erguendo os olhos e observando os portões da propriedade ao longe. Hermione ainda o fitava:

- Isso é mágica bastante avançada sabe... – comentou, escondendo a pontada de admiração pelo feito. Ela não pareceu ser muito bem sucedida, visto que ele voltou-se:

- Isso foi um elogio?

- Claro que não. – respondeu curtamente, entretanto, Harry não pode deixar de notar que ela sorria. – O que ele é?

- Eu acho que é a minha vez agora. – Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa:

- Eu... Tudo bem. – aquiesceu ela levemente arrependida.

- Então eu posso perguntar qualquer coisa não é? Qualquer coisa mesmo? – Hermione observou-o desconfiada. – Certo. Então, você e Rony... Vocês nunca, tipo...

- Rony? – custaram-lhe alguns segundos para compreender o que ele estava perguntando ao final dos quais ela não pôde refrear a risada. – Não! – riu-se. - De onde você tirou isso?

- Bom, é só que por um tempo... Eu não sei! – tateou Harry também sorrindo. – Ele, bem, parecia que, você sabe...

- Que seja... – disse com um aceno vago. – Minha vez.

- Cho Chag...?

- Verdade. Infelizmente. – acrescentou com amargura.

- Certo... – murmurou Hermione a guisa de fim de assunto.

- Vitor Krum? – interrogou Harry erguendo as sobrancelhas. Ele se lembrava muito bem do amigo comentando algo sobre os dois alguns anos atrás... E aqui, Hermione sentiu seu rosto esquentar violentamente:

- Eu...! Depende do que você ouviu!

- Isso não é resposta!

- Oh... Ok, eu... Verdade. – Harry não conteve um sorriso ao notar que ela corara ainda mais.

- Aquela história de você e Giny...?

- Mentira. De muito mau gosto e que eu ainda estou pra descobrir quem começou, diga-se de passagem!

- Certo...

- Zacarias Smith...? – perguntou Harry. – Hermione voltou-se rapidamente:

- Verdade... – Harry fez uma careta involuntária. – Mas ele mereceu!

- Como alguém merece isso?

- Ele tentou passar a mão em mim na fila para Hogsmead! – explicou Hermione sorrindo.

- Então ele mereceu. – apoiou Harry gargalhando ainda mais.

- Mereceu sim! – ela confirmou.

- Ok... Onde você estava no último Halloween, porque eu sei que aquela história toda da banheira é mentira...

- Ah sabe? – ela fitou-o por um momento e então começou a rir.

- Você está brincando certo? Não... Sério.

Harry apenas sorriu e observou o lago, pelo qual ambos passavam em silêncio.

- Sério... Sério? – repetiu incrédula, visto que ele não negava o boato. – Oh...! Tão... Como...? Você usou alguma poção?

- O que? – rebateu Harry ofendido.

... Porque se você usou, como monitora-chefe eu tenho a obrigação de te colocar em suspensão!

- Eu não usei nada! – insistiu Harry. Mas ela ainda gargalhava num misto de choque e ao mesmo tempo divertimento. – E de qualquer forma... O que faz você pensar que a culpa é minha?

- Ah! Certo...

- Não, sério... Porque, tecnicamente... Estando em desvantagem numérica, eu era a vítima ali tá? Então que seja... – um momento de silêncio se seguiu, onde Hermione procurou se recuperar da ligeira falta de ar.

- Como você fez isso? Não, sério... – Harry voltou-se para ela. – Aliás, esquece... Eu não quero saber. – acrescentou com uma expressão de desagrado.

- Você está me julgando.

- Pode apostar que sim! – rebateu Hermione. – ele sorriu, apesar de não dizer nada. E após alguns minutos em silêncio, onde ele observou Hermione apanhar uma pedra pequena e atirar no lago. Comentou com uma pontada de divertimento:

- Nosso relacionamento está evoluindo por sinal... – Hermione sorriu e apanhou outra pedra. Ele sentou-se um pouco afastado em uma pedra maior e observou enquanto ela atirava outra pedra no lago.

- É...? Você acha? – ironizou o fazendo sorrir em resposta e argumentar:

- Você não? – brincou ele. – Da maneira que eu vejo... Tudo que agente precisava era se afastar um pouco de todo mundo. Você sabe... Só agente.

- Mesmo...? – respondeu ela ainda voltada para o lago e de costas para ele.

- E caso você não tenha notado, nós estamos voltando para Hogwarts... E você está ficando toda briguenta de novo... – aqui ela virou-se ligeiramente afetada. O vento seco e frio que atingia a orla do lago fazendo os cabelos dela cobrirem seu rosto. Harry observou enquanto ela se aproximou e apanhou a sacola que largara próximo a pedra onde ele estava, e com um sorriso no rosto replicou retirando algumas mechas de cabelo do rosto:

- Muito bem então! Já que eu estou tão briguenta não me deixe impedi-lo de ir embora!!

- O que? E deixar você aqui? E se McLaggen aparecer? Quem vai te impedir de quebrar a cara dele com seus pulsos fracos e magrelos?

- Bom, não seria uma perda muito grande! – e dando as costas para ele começou a caminhar em direção aos portões. Num salto, ele ergueu-se e acompanhou a garota relutante até o dormitório. Apesar de ela insistir que não era necessário.

Harry checou as horas em seu relógio ao parar no corredor. Anoitecia lá fora. E apesar de ter em uma das mãos alguns doces eu ficara de levar para Rony, duvidava que Madame Pomfrey o deixasse visitar o amigo àquela hora...

Hermione parou em frente ao retrato murmurou a senha. Voltando-se logo em seguida, murmurou:

- Sabe, essa tarde não foi de todo ruim...

- Não, não foi... – admitiu Harry sorrindo.

- E eu comprei minhas penas, então...

- Não foi tempo desperdiçado. – concluiu ele, no que ela sorriu ainda mais.

- Não! – ela calou-se por um momento, sentindo que ele ainda a observava. – E... – acrescentou com um outro sorriso, que notou Harry, era completamente diferente do anterior. – Você não é tão vil e superficial quanto eu pensei que fosse... Então...

- Você não é tão insuportável quanto eu achei que você fosse. – retorquiu Harry. Ela sorriu.

Mas então, um silêncio desconfortável caiu sobre os dois, no qual ela baixou os olhos e se manteve calada.

Harry fitou a por um momento, aproximando-se quase que involuntariamente. Ela pareceu notar a aproximação, visto que ergueu os olhos rapidamente e o encarou:

- Então... – tateou Hermione procurando vagamente por algum pensamento coerente, entretanto, sua mente ou estava em completa disparada ou simplesmente parara completamente de funcionar... Não importava realmente... O fato era que com ele ali tão próximo, ela não conseguia raciocinar direito, ou de modo algum...

- Eu... – murmurou Harry, mas parou por falta de palavras. Surpreendendo-se com uma súbita vontade de inclinar-se um pouco mais e beija-la. Ele poderia, ou melhor... Ele queria, realmente queria... Mas, algo lhe dizia que talvez... Talvez aquele não fosse...

Respirando fundo e procurando o máximo de autocontrole que podia encontrar nele mesmo, Harry desviou o rosto murmurando:

- Eu... Você devia entrar... Está tarde, e... Eu... Agente se vê amanhã, ok? – e completamente descrente de que ele estava fazendo aquilo... Deu alguns passos para trás, afastando-se de Hermione, que se encontrava num misto de exasperada e envergonhada. Sem dizer uma só palavra, ou mesmo sem nem olhar para ele, deu as costas e bateu a porta num baque que ecoou pelo corredor.

- Sabe... Se você estava esperando um momento... Era esse. – murmurou uma voz masculina e idosa, atrás dele. – E eu nem gosto dela.

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