Vítor Krum
Vítor Krum
— Meninas! Meninas, acordem! — disse a sra. Weasley. — O café já está pronto e vocês têm que sair cedo.
Quando Hermione abriu os olhos, bocejando, a sra. Weasley não estava mais ali e Gina continuava a roncar na cama ao lado. Levantou-se e começou a se vestir, depois acordou Gina e esperou que ela se vestisse, e só então as duas desceram, sonolentas, para o café da manhã.
O sr. Weasley, animado, falava sem parar. Enquanto Harry estava interessado nos casos que o sr. Weasley contava sobre pessoas que tinham sofrido acidentes na tentativa de aparatar, Rony parecia prestes a adormecer em cima da mesa. A sra. Weasley acabou encontrando caramelos incha-língua nos bolsos de Fred e Jorge, então houve também uma discussão sobre isso.
Logo depois da refeição, o sr. Weasley conduziu Hermione, Rony, Gina, Harry, Fred e Jorge por um longo caminho. Percy, Gui e Carlinhos viriam depois, pois por serem maiores de idade já podiam aparatar.
— Para onde estamos indo? — Rony perguntou, impaciente.
— Estamos indo para o topo do morro Stoatshead. — respondeu o sr. Weasley. — É lá que está a chave de portal que iremos usar.
— Chave de portal? — Harry perguntou.
— É uma maneira de transportar-se rapidamente sem chamar a atenção dos trouxas. Foram instaladas algumas em pontos estratégicos, que levam diretamente ao acampamento em que iremos ficar. Há lá também uma área para as pessoas que irão aparatar.
— E como é uma chave de portal?
— Qualquer coisa pode ser uma chave de portal, Harry, qualquer objeto. — continuou o sr. Weasley. — Em geral usamos objetos que os trouxas considerem lixo, para que eles não peguem por engano. Olhem lá, Amos Diggory!
Um senhor vinha chegando junto com um garoto. Hermione reconheceu-o logo, era Cedrico Diggory, aluno da Lufa-Lufa. Ela e Gina entreolharam-se; Cedrico era muito bonito. Amos e Cedrico Diggory cumprimentaram a todos e se juntaram a eles a caminho da chave de portal.
Chegando ao topo do morro, o sr. Weasley apontou uma bota velha de pano, e disse:
— Aí está; nossa chave de portal. Vocês só precisam tocar nela; vamos, todos.
Hermione olhou para Harry, que parecia estar achando absurda a idéia de que aquela bota velha poderia levá-los a algum lugar. Na verdade, se ela fosse partir de um raciocínio lógico, teria a mesma opinião; mas sabia que não podia pensar de maneira lógica em questões de magia.
Todos juntaram-se ao redor da bota, e parecia realmente estranho que oito pessoas estivessem disputando um espacinho daquela bota velha para tocar. Então, de repente, Hermione sentiu um puxão no umbigo e depois sentiu-se rodopiando em altíssima velocidade. Não chegou a precisar se preocupar em segurar-se na bota, porque ela agora parecia puxá-la para si com força. No instante seguinte, foi arremessada para o chão, e perto dela caíram Harry, Rony, Gina e os gêmeos. O sr. Weasley e os Diggory vinham tranqüilamente, como se estivessem andando no ar.
Hermione levantou-se e ajudou Gina, e tão logo estavam todos recompostos, o sr. Weasley disse:
— Venham por aqui.
Os Diggory separaram-se deles e o grupo seguiu a caminho da área onde montariam suas barracas. O local estava apinhado de bruxos e bruxas, inclusive crianças pequenas. Conforme o sr. Weasley explicara, os bruxos estavam tentando agir de maneira discreta, como se fossem trouxas. Hermione concluiu, porém, que os esforços deles eram frustrados, pois nas suas tentativas de serem discretos acabavam chamando mais atenção ainda.
Na hora de montar as duas barracas que o sr. Weasley trouxera, Hermione e Harry fizeram o trabalho, pois tinham mais experiência com objetos de trouxas.
— Muito bem, meninos, obrigado! — agradeceu o sr. Weasley. — Esta é a das meninas e esta a dos meninos.
Hermione franziu o cenho; as barracas eram muito pequenas. Quando entrou na das meninas com Gina, porém, viu que não se tratava realmente de uma barraca de trouxas. Por dentro, ela parecia um apartamento. Gina não parecia surpresa. Elas deixaram suas coisas lá dentro e voltaram para a rua.
O sr. Weasley pediu a Hermione, Rony e Harry que enchessem algumas vasilhas com água, indicando a direção da fila da torneira. Pelo caminho, eles puderam ouvir fragmentos de conversas em diversas línguas e ainda encontraram dois colegas da Grifinória: Simas Finnigan e Dino Thomas. Passaram ainda por uma porção de barracas que tinham todas o mesmo pôster pendurado: um rosto carrancudo, que possuía grossas sobrancelhas e se movia apenas para piscar os olhos e franzir a testa.
— As barracas dos búlgaros — comentou Rony.
— Quem é ele? — Harry perguntou, referindo-se ao rosto dos pôsteres.
— Vítor Krum! — respondeu o garoto, excitado. — O melhor apanhador do mundo!
— Ele parece rabugento — Hermione comentou, desinteressada.
— Quem se importa? — Rony retrucou, parecendo ofendido. — Ele é um gênio! E é bem novo, também. Deve ter uns dezoito anos.
Os três entraram na fila da torneira e depois retornaram às barracas, onde o sr. Weasley fazia repetidas tentativas frustradas de acender uma fogueira com fósforos.
— Por que ele simplesmente não conjura uma fogueira? — Rony perguntou, impaciente. — Chamaria menos atenção.
Hermione ajudou-o a riscar um fósforo, e ele agradeceu-lhe imensamente, embora parecesse estar se divertindo antes, de qualquer maneira. Com a fogueira acesa, enquanto preparava salsichas com ovos para o almoço, o sr. Weasley fazia comentários instrutivos a Hermione e Harry sobre os funcionários do ministério e o que faziam, conforme eles passavam apressados, indo e voltando do campo de quadribol, ocupados com os preparativos.
Carlinhos, Gui e Percy chegaram pouco depois. Quando todos já almoçavam, um homem muito corpulento aproximou-se.
— Ludo Bagman! — exclamou o sr. Weasley.
— Arthur!
O sr. Weasley apresentou Ludo Bagman a todos, e Hermione lembrou-se que ele já tinha comentado que Bagman tinha sido jogador profissional de quadribol e que agora trabalhava no ministério, no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Bagman estava em visível estado de euforia, e usava extravagantes vestes de quadribol.
Mais tarde, chegou também Bartô Crouch, o chefe de Percy sobre quem Rony comentara. Ao contrário de Bagman, Crouch era discreto, sério e pouco expansivo. Estava vestido como um legítimo trouxa, conforme a regra da discrição que tinha sido estabelecida. Ele ficou ali, conversando com Bagman e com o sr. Weasley a respeito de assuntos do ministério.
Durante a conversa, Bagman insinuou algo sobre um evento a se realizar em Hogwarts, mas Crouch não deixou que ele desse detalhes, e inclusive deu um jeito de levá-lo embora com uma desculpa qualquer.
— Que é que vai acontecer em Hogwarts, papai? — Fred perguntou, assim que os dois saíram de perto. — Do que eles estavam falando?
— Você saberá logo — respondeu o sr. Weasley, sorrindo.
— É informação privilegiada, — disse Percy, com o peito estufado. — até o ministério achar conveniente comunicá-la.
Ao cair da noite, a discrição desapareceu, e o ministério pareceu desistir de cobrá-la. Hermione passeou com Rony e Harry pelo acampamento, e havia agora uma infinidade de ambulantes vendendo todo tipo de mercadoria. Os três compraram rosetas luminosas verdes, para torcer pela Irlanda, mas Rony não resistiu a uma figurinha animada do apanhador búlgaro, Vítor Krum. O bonequinho andava para frente e para trás na mão dele, fazendo cara feia para a roseta verde.
Quando viram um vendedor de onióculos, uma espécie de binóculo com funções de rever o lance, passá-lo em câmara lenta, entre outras, Rony já não tinha mais dinheiro. Harry pagou um para ele, um para si e um para Hermione, e ela notou que Rony ficou constrangido. Harry também percebeu, pois disse:
— Não vou lhe dar nada no Natal pelos próximos dez anos.
— É justo... — Rony sorriu.
Os três retornaram às barracas. Gui, Carlinhos e Gina também tinham rosetas verdes, e o sr. Weasley carregava uma bandeira da Irlanda. Ouviram, então, um gongo grave e ensurdecedor bater em algum lugar, e lanternas verdes e vermelhas acenderam-se entre as árvores para iluminar o caminho até o campo.
— Está na hora! — o sr. Weasley exclamou.
Eles todos seguiram o caminho das lanternas até o campo, que era o maior lugar que Hermione já vira na vida. O sr. Weasley comentara que tinha capacidade para cem mil pessoas. O grupo subiu muitas escadas até chegar ao camarote de honra, onde iriam ficar. Exaustos, sentaram-se, observando as arquibancadas encherem-se.
— Dobby? — disse Harry, de repente. Ele olhava para trás.
Hermione e Rony viraram-se para ver; era um elfo doméstico sentado em uma cadeira, escondendo o rosto com as mãos. — Não é Dobby — Harry disse.
Dobby era um elfo doméstico que Harry libertara na época do segundo ano em Hogwarts. Ele pertencera à família Malfoy. A criatura que conversava com Harry parecia ser do sexo feminino. Hermione apiedou-se dela, que parecia assustada com alguma coisa.
— Não sou, mas o conheço! — disse o elfo, que tinha uma voz muito fina. — E o senhor é Harry Potter! Dobby fala muito do senhor, meu senhor.
— Verdade? E como ele está aproveitando a liberdade?
— Winky não quer faltar com o respeito, meu senhor, mas não sei se o que o senhor fez por Dobby foi realmente bom para ele! A liberdade subiu à cabeça dele, e agora ele não consegue mais achar um emprego, pois está pedindo salário!
— E por que ele não deveria receber um salário?
Winky pareceu ofendida.
— Elfos domésticos não nasceram para receber salários! Nasceram para servir famílias! O dono de Winky pediu que ela guardasse lugar para ele. Winky detesta, detesta muito alturas, mas como é bem mandada, veio guardar o lugar.
Hermione estava boquiaberta. Aquilo era uma atrocidade com a pobre criaturinha!
Aos poucos, o camarote foi se enchendo. Entre os que entravam, veio a família Malfoy: Lúcio, sua esposa, que Hermione nunca tinha visto, e Draco, colega em Hogwarts e inimigo dela, de Harry e de Rony desde o primeiro ano na escola. O ministro da magia, Cornélio Fudge, sugeriu que Lúcio Malfoy cumprimentasse o sr. Weasley, sem imaginar que o último encontro entre os dois acabara em uma luta corporal.
— Arthur... — murmurou Lúcio, baixinho, para que o ministro não o ouvisse. — O que você teve que vender para conseguir estes lugares no camarote? A sua casa não deve valer tanto...
O pai de Draco ainda lançou a Hermione seu olhar mais frio e desdenhoso, que ela retribuiu com determinação, mas sentindo as faces corarem. Ela sofria o preconceito deles por ser filha de trouxas ao invés de ter vindo de uma família bruxa e de tradição. Antes de se retirar com os pais, o próprio Draco lançou olhares desdenhosos a Hermione, Rony e Harry. Hermione sentiu a mão de Gina em seu ombro.
— Não ligue.
Pouco depois, Ludo Bagman anunciou o início do evento, e chamou os mascotes dos times. A Bulgária trouxe as veela, lindas mulheres de aparência sobre-humana que dançavam. Hermione e Gina ficaram furiosas com o fascínio de Rony e Harry, que pareciam dispostos a pular do camarote. Já a atração da Irlanda foram leprechauns, duendes irlandeses, que faziam um espetáculo parecido com fogos de artifício e atiravam moedas de ouro nas arquibancadas. Rony juntou um punhado e deu a Harry.
— Pelo onióculo; agora você vai ter que me dar presente de Natal!
A seguir, entraram em campo os dois times. Quando Vítor Krum apareceu, Rony apontou para ele, eufórico, olhando-o pelo onióculo. Hermione olhou-o também, e ele não parecia menos mal-encarado do que nos pôsteres que tinham visto mais cedo. Era magro, moreno e tinha um nariz grande, além das espessas sobrancelhas.
O jogo iniciou, e era muito diferente do que Hermione estava acostumada a ver em Hogwarts. Os jogadores moviam-se com ferocidade, apelando para truques desleais. A Irlanda logo abriu grande vantagem, mas no final quem apanhou o pomo de ouro foi Vítor Krum, para a Bulgária. Ele surgiu com o pomo na mão e o nariz sangrando, pois tinha sido atingido pouco antes por um balaço diretamente no rosto. Mesmo assim, a Irlanda venceu por dez pontos de vantagem.
Hermione observou que Krum, ao pousar, recusava-se a ser atendido pelos medibruxos, preferindo seguir com os companheiros de equipe, cabisbaixos. Bagman chamou o time ao camarote, e ela pôde ver que, de perto, a aparência do nariz dele ensangüentado estava ainda pior. Ela sentiu ímpetos de dirigir-se a ele para ajudá-lo, mas não o fez. Ele ainda segurava o pomo na mão, mas tinha no rosto uma expressão de desapontamento profundo. Hermione foi invadida por uma involuntária compaixão por ele, e lamentou quando ele se retirou junto com o resto do time.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!